• Nenhum resultado encontrado

A escrita seja qual gênero for, literário, científico por exemplo, demanda um certo letramento. Isto é, demanda conhecimento das formas de expressão e de conteúdo do gê- nero. Sabendo que, desde o nascimento e até antes, estamos imersos, a maioria de nós, na linguagem oral, esta se torna o ponto referencial para nossas trocas comunicativas e assim, por observação e exercício, nos tornamos mais proficientes nessa modalidade da língua materna, considerando as suas variantes, ou seja, o português brasileiro. Com a escrita, o processo não é tão acessível assim.

A escrita é um construto social e, por isso, adquirido mais tarde, apresentando al- guns obstáculos a serem transpostos, embora hoje vejamos crianças se relacionarem cada vez mais cedo com ela por meio das Tecnologias da Informação, o que pode nos fazer pensar que essa geração não terá os mesmos impasses, talvez, na hora de construir seus textos. Além da aquisição da escrita ser um processo menos favorecido pelo uso cotidiano (falamos muito mais que escrevemos) temos nos diferentes eventos sociais gêneros que são determinados pela esfera de circulação. Não podemos fazer uma receita de bolo em um Fórum, bem como uma petição não caberia em uma cozinha. Exageros à parte, os gêneros textuais têm lugares onde são mais ou menos requisitados e com objetivos mais claros tanto quanto a esfera de circulação esteja organizada e reconhecida socialmente.

Isto é o que acontece com o gênero acadêmico projeto de pesquisa. Embora em última instância todos façamos projetos cotidianamente, muitos deles não são escritos (fazer compras, passear, visitar um amigo no hospital) e quando o são, estes não exigem mui- to do nosso conhecimento gramatical (uma lista de compras ou planejamento de uma viagem, por exemplo).

O gênero acadêmico projeto de pesquisa demanda conhecimentos da escrita em diferentes medidas: é preciso saber gramática (ortografia, sintaxe e concordância), coesão e coerência textual e a forma de dizer o que se sabe para aquele que sabe. Noutros termos, é preciso estabelecer a comunicação entre um enunciador e um enun- ciatário que estão em um espaço específico: a universidade, e esta exige a escrita na Norma Padrão dentro de uma área específica. Para o estudante da área de Saúde, as especificidades descritas podem não estar bem explicitadas e, a depender da sua inserção na esfera acadêmica, esses traços podem ser uma barreira mais do que uma demarcação da área de conhecimento.

A minha participação no projeto Abdias Nascimento foi o de apresentar o gêne- ro projeto acadêmico para seus participantes com todas as considerações feitas logo acima. E para isso contei com o auxílio (muitas vezes luxuoso) de uma equipe de pro- fessores auxiliares, da coordenadora e da secretária. Essas pessoas, com suas particu- laridades, constituiu uma rede intersubjetiva de saberes e de um querer transformador, aquele que podemos fazer muito mais do que nos propomos a fazer quando queremos juntos fazer. E foi nesse espírito de equipe que alunas (em sua maioria!) e alunos, e nós professores e idealizadores, passamos horas de muito trabalho cognitivo e pragmático. E muitas conversas sobre futuro, sobre projetos pessoais e acadêmicos foram ditos e tomaram formas de um gênero que à primeira vista seria fruto de leituras, pesqui- sas, exercícios, correções e, no entanto, tinha, e tem, suas raízes na vontade de fazer mais e melhor a cada encontro. Expectativas foram colocadas às claras e dificuldades também…e na medida em que o cansaço buscou nos tirar da rota, os cafés, as con- versas, as risadas e até as lágrimas nos faziam retomar o caminho e tentar uma, duas e outras tantas vezes necessárias para expressar ideias, esclarecer pontos de vistas, retomar leituras, pensar estratégias de estudos para que pudéssemos entender, viver e escrever… projetos!

De minha parte, posso dizer que foi uma experiência de vida na qual exercitei es- peranças e apreços que deixaram minha lida de pesquisadora e professora de discurso e de língua materna mais forte, na crença que a linguagem é forma da expressão e mui- to conteúdo nas afirmações que nosso país precisa ainda ter, para que todos possam sonhar com um futuro melhor para si e melhor para o país. Quando se estuda, se estuda para o coletivo, embora o efeito imediato, aparente ser apenas para aquele que estuda. Um futuro no qual a saúde seja escrita com S maiúsculo por aqueles que vivem realida- des diferentes daquelas que os discursos vazios nos impõem como sendo a realidade. A realidade que vi, vivi e senti foi a, da esperança, da luta, da superação do cansaço, das limitações que as contigências da vida joga aos pés de quem constrói de si e para si um futuro. Um futuro no qual o conhecimento está para o coletivo porque as pessoas com quem trabalhei, alunas, alunos, coordenadora, secretária e professores, sabem, vivem e desejam o coletivo.

38

Dizer que fico feliz por ter participado deste projeto é pouco diante das inten- sidades emotivas que senti em um momento tão delicado para nosso país. Assim, gos- taria de escrever meu obrigada a Gabriela, Yara, Charles, Daiana, Débora, Maria José, Jaílson e Nani. E obrigada Alunas e Alunos queridos pelas perguntas, pelo interesse, pe- las risadas e pelas horas de intenso trabalho. Que o Projeto de Pesquisa de vocês possa promover a Saúde de muitos e alimentar a Esperança em Outros. Por fim, que todos nós possamos nos encontrar daqui algum tempo para nos lembrarmos desse percurso das nossas vidas.

Unidade 10 – Docente

do eixo temático em

Documentos relacionados