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O PROFESSOR COMO ACTOR POTENCIADOR DE ACTOS DE INDISCIPLINA 30

CAPÍTULO 1 INDISCIPLINA ESCOLAR: CONCEITOS E RELAÇÕES COM OUTRAS

1.13. O PROFESSOR COMO ACTOR POTENCIADOR DE ACTOS DE INDISCIPLINA 30

Vamos analisar outra perspectiva, outra forma de abordagem desta temática que incide sobre o Professor enquanto actor privilegiado no seio da Escola e o seu papel, uma vez que este pode ser ou não promotor de Indisciplina Escolar.

Temos consciência de que é uma abordagem algo controversa. No entanto, na revisão da literatura realizada, encontrámos várias referências sobre este assunto.

A este propósito descortinámos fundamentalmente duas correntes de opinião que se relacionam com duas perspectivas de análise desta problemática.

Assim, uma corrente sociológica privilegia as interacções sociais e uma outra privilegia a corrente pedagógica, realçando de alguma forma a organização do espaço aula, (Alonso, 1987; Estrela, 1985). Por conseguinte, através da sua conduta o Professor pode desempenhar um papel gerador de indisciplina. Um certo relacionamento impessoal de distanciamento, uma certa indiferença face ao Aluno, em que o mesmo não se reveja, uma certa brandura numa dada situação quando esta eventualmente poderia impor uma actuação mais determinada por parte do Professor, são procedimentos passíveis de originar uma reacção capaz de ser considerada potenciadora de indisciplina.

Esta relação de distanciamento a que nos referimos poderá significar uma afirmação de uma certa superioridade por parte do Professor em relação ao Aluno, provocando assim uma relação assimétrica que tem fundamentalmente por objectivo demonstrar ao Aluno que o Professor detém mais poder e goza de outro estatuto na Escola.

Por outro lado, uma relação de proximidade poderá significar uma relação mais igualitária, isto é, uma relação mais simétrica.

Por conseguinte, quando um Professor impõe um certo distanciamento impõe também a maior parte das vezes a coacção para fazer prevalecer as suas exigências.

Assim, são designadas “estratégias severas” quando nos referimos ao uso do distanciamento pessoal cujo objectivo é coagir os Alunos, e “estratégias suaves” quando o Professor usa uma certa proximidade com os Alunos (Nizet e Hiernaux, 1987).

Outro aspecto em que o posicionamento do Professor poderá ter um papel determinante em relação à indisciplina é a forma como organiza a sua actividade no espaço. Assim o demonstram as investigações suscitadas pelo trabalho de Kounin, a que faz referência Estrela (1995, p. 81), que evidencia a importância que os aspectos organizativos por parte do Professor exercem na prevenção da indisciplina.

Com efeito, os Professores são categorizados em “bons ou maus organizadores” das actividades. Isto é, os Professores categorizados como bons organizadores são aqueles que definem bem as regras (o que se pode ou não fazer e como), que dão directrizes claras quanto à forma como os Alunos se devem comportar e que, em caso de se verificar algum comportamento contrário ao que está determinado, actuam de uma forma pronta e determinada.

Como maus organizadores, são categorizados os Professores que não definem claramente e sem ambiguidades as regras quanto à forma de comportamento dos Alunos (o que

ignoram completamente. Deste modo, podemos considerar que a indisciplina surge como resposta por parte dos Alunos à actuação do Professor.

Também nos parece, que o facto de não se verificar um diálogo construtivo em relação a este tema pode ser em si mesmo um factor que pode contribuir para a eclosão de situações de indisciplina.

Como já ficou dito anteriormente, é frequente ouvirmos em situações informais troca de impressões entre os Professores no sentido de recriminação dos Alunos motivados por actos de indisciplina. No entanto, é raríssimo o diálogo preventivo sobre o tema em apreço. Esse diálogo poderia ser importante não só pela troca de experiências e vivências mas também pelo confronto de formas de actuação e pela procura de uma certa uniformização em relação a alguns procedimentos, sem pôr em causa uma certa personalização que está subjacente a qualquer acto pedagógico.

A este propósito, Burns é de opinião que nas escolas que apresentam baixos níveis de disciplina se verifica falta de acordo entre os Professores no que se refere à implementação das mais simples regras. Há falta de consistência na sua aplicação e mesmo falta de comunicação das mesmas, que se espera sejam cumpridas Estrela (1995, p. 82).

Por conseguinte e tendo em conta o que ficou dito, a opinião de Torode “a disciplina na escola e na sala de aula é para os Professores um problema mais prático do que teórico” citado por Afonso (1991, p. 125) parece apropriada à influência que os Professores poderão ter na Indisciplina Escolar.

Na perspectiva de Amado e Freire (2002, p. 21), não há Professores que escapem a este tipo de problemas. Assentam esta ideia centrada em estudos baseados na observação de aulas. (Amado, 1998; Brito, 1986; Estrela, 1986; Freire, 2001; Mendes, 1994; Oliveira, 2002) que concluem que a indisciplina entendida como o não cumprimento por parte dos Alunos de regras se verifica com todos os Professores.

Na verdade, vários estudos têm também verificado que este problema é mais pertinente quando o Professor está no início de carreira (Alves, 1997; Cavaco, 1990; Rodrigues e Esteves, 1993; Silva, M.E., 1997; Silva, L., 1997).

Na verdade, os Professores enquanto profissionais são muito diferentes relativamente à sua posição no exercício da sua função. Uns são mais flexíveis do que outros e o entusiasmo com que ensinam, o modo como perspectivam o Aluno, a experiência que possuem e ainda as diferenças de personalidade de motivação e das atitudes marcam de uma forma geral a sua acção.

Como afirma Estrela (1995), os Professores manifestam diferentes sensibilidades e maneiras de encarar o processo pedagógico.

Esta questão da Indisciplina Escolar é sem dúvida um problema para o qual não há respostas únicas e abstractas, uma vez que o problema é complexo e tem um contexto específico em que ocorre. Mas a principal chave para esta questão poderá estar na sua prevenção e esta talvez se faça através de uma adequada gestão da sala de aula. A diferença na condição de uma aula poderá ficar a dever-se mais à capacidade de prevenir situações de indisciplina do que à forma como estas se resolvem depois de ocorridas.

Assim, a formação inicial de Professores deve ser um vector a ter em conta na prevenção da Indisciplina Escolar. Também é certo que uma formação contínua orientada para o reforço de aquisições e aperfeiçoamento de competência na gestão da sala de aula virada para a prevenção da Indisciplina a Escolar tem um caminho a percorrer por forma a dar resposta às dificuldades que no dia-a-dia vão surgindo.

Na verdade, não podemos nem devemos ter uma perspectiva ingénua relativamente a este assunto e é claro para nós que não queremos nem nos parece muito lícito defender uma postura de relações simétricas na escola entre Alunos e Professores. Como já referimos, na Escola como em qualquer organização as lideranças são determinantes, uma vez que alguém tem de liderar o processo educativo. Embora a Escola deva estar centrada no Aluno, tem de haver autoridade, pois esta acompanha-nos ao longo de toda a nossa vida. O Professor como mais velho, no sentido africano da expressão, como cita Zink (2001, p. 37), “é alguém que é detentor de um saber e de uma benevolência que merecem respeito, deve saber ser flexível em relação à agressividade pontual dos Alunos quer entre eles quer contra si”.

No entanto, ter este espírito interiorizado não significa, quando se justifica não ser assertivo, mostrar quem manda em quem e em quê. Demonstrá-lo em muitos casos é fundamental para os Alunos. Não agir desta forma é que nos parece ser desrespeitador com eles, porque respeitar é também acima de tudo não querer converter os outros à nossa imagem e semelhança. Numa relação pedagógica, parece-nos muito importante tomar todas as medidas apropriadas para evitar que um Professor possa de alguma forma ficar em desequilíbrio vantajoso face ao Aluno. Um Professor que cai não é útil a ninguém, muito menos ao Aluno.

Portanto, cabe ao Professor saber dosear esta relação assimétrica, uma vez que o mesmo deve estar preparado com conhecimentos técnicos e sociais que lhe permitam agir.

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