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Professor crítico reflexivo

No documento Professor em Situações Multilingues (páginas 36-38)

Capítulo 1 Enquadramento teórico

1.6 O professor: da formação à Prática

1.6.1 Professor crítico reflexivo

O conceito de professor reflexivo é um dos termos mais abordados no âmbito do ensino. Hoje, exige-se dos professores a reflexibilidade. Baseando-nos em Isabel Alarcão, este conceito tem como grandes teóricos Donald Schön e J. Dewey. Este filósofo, segundo Maria C. Lalanda & Maria M. Abrantes, discorre sobre pensamento reflexivo, apresentando algumas fases desse pensamento, dentre as quais destacam:

Situação problema como primeira fase da indagação em que vagamente surge uma solução, uma ideia de como sair dela; a segunda fase, intelectualização do problema que é o desenvolvimento da ideia mediante o raciocínio; a terceira fase, a observação e experiência que consiste em provar as várias hipóteses formuladas; reelaboração intelectual que remete para sugestões ou hipóteses de partida, e finalmente; essa reelaboração permitirá formular novas ideias que encontrarão na quinta fase da indagação a sua verificação97.

Ora, a nossa abordagem sobre “o professor reflexivo” vai basear-se nos modelos de formação de profissional apresentados por Wallace (apud Maria J. do Amaral et alii) nos quais pautam “o modelo de mestria, o modelo de ciência aplicada e o modelo reflexivo”98. Segundo

essas autoras (sustentadas em Wallace), no primeiro modelo, o formando aprende imitando as técnicas empregues pelo professor mais velho, mais velho e perito […] A mestria no ofício é passada de geração em geração. Este modelo de formação parte de princípios rígidos da imutabilidade da sociedade. Para nós, este modelo continua a representar o tipo de formação antiga em que o professor-mestre é o detentor do saber, e o aluno deve sujeitar-se a todas as informações do professor. No segundo modelo preconiza-se a resolução dos problemas de ensino através da aplicação direta da investigação […] Os resultados do conhecimento científico são apresentados, ao formando, pelos peritos nessas áreas e espera-se que este aplique os resultados da investigação. Já no terceiro modelo está presente a conceção do papel do

95 Cf. João Formosinho – “A Academização de professores”. In João Formosinho − op. cit., p. 75. O autor

usa a expressão academização para designar o processo de uma construção lógica predominantemente académica numa instituição de formação profissional. Processo que transformou a formação inicial de professores numa formação teórica e afastada das preocupações dos práticos no terreno.

96 Cf. João Formosinho − A Academização de professores. In idem, ibid., p. 82.

97 Maria C. Lalanda & Maria M. Abrantes – “O conceito de reflexão em J. Dewey”. In Isabel Alarcão (org.)

− Formação Reflexiva de Professores: Estratégias de Supervisão. Porto: Porto Editora, 1996, pp. 41-59.

98 Wallace apud Maria J. do Amaral et alii − O Papel do Supervisor no desenvolvimento do professor

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supervisor enquanto alguém que tem por objetivo principal ajudar o professor em formação, de modo a melhorar o seu ensino através do seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Optámos por este “modelo reflexivo”, para abordarmos o conceito de professor reflexivo, porque permite que o aluno (formando) seja ele próprio o construtor da sua profissionalidade, e sendo simplesmente o “professor-supervisor como facilitador da sua aprendizagem, ao levá-lo a tomar consciência das características do seu agir em situação e ao assumir responsabilidade pelas decisões tomadas”99. Revemo-nos no modelo, pelo facto de as

sociedades serem, hoje, cada vez mais multiculturais e multilingues, exigindo do professor a capacidade de reflexão em “como” agir num determinado contexto. Assim, segundo Maria J. do Amaral et alii (supracitada) “consideram professores reflexivos aqueles que são capazes de criticar e desenvolver as suas teorias sobre a prática, ao refletirem, sozinhos ou em conjunto, na ação e sobre ela, assim como sobre as condições que a modelam”. Essa capacidade reflexiva, treinada desde a formação inicial, possibilita a abertura do pensamento e o estudo de meios para melhorar a atividade do docente. Assim sendo, combinar todas as fases de uma prática podem contribuir numa competência profissional.

Um dos principais autores desta teoria, Donald Schön, apresenta as noções de prática profissional como reflexiva:

O Conhecimento na ação é o conhecimento que os professores manifestam no momento em que executam a ação; a reflexão na ação ocorre quando o professor reflete no decorrer da própria ação e a vai formulando, ajustando-a assim a situações novas que vão surgindo; a reflexão sobre ação acontece quando o professor reconstrói mentalmente a ação para analisar retrospetivamente. O olhar a seguir sobre o momento da ação ajuda o professor a perceber melhor o que aconteceu durante a ação e como resolveu os imprevistos ocorridos; já a reflexão sobre a reflexão na ação é um processo que fomenta a evolução e o desenvolvimento profissional do professor, levando-o a construir a sua própria forma de conhecer100.

O conjunto de noções de práticas profissionais defendidas por Donald Schön forma uma estratégia para a formação, dando ao professor métodos para desenvolver os seus alunos e desenvolver-se a si mesmo, evitando, assim, as práticas repetitivas que cansam os alunos e contribuem para o desgosto da formação. Para o professor de Português, é importante, cada vez mais, seguir estes parâmetros, porquanto a si se exige adaptação às condições dos alunos, e também se exige por ser a língua o principal elemento de comunicação dentro do processo de ensino-aprendizagem. Num contexto em que os alunos são multilingues, constituindo turmas heterogéneas, torna-se necessário que o professor reflita sempre a sua ação. Tal aspeto só é possível quando lhe é desenvolvido a competência reflexiva durante a formação inicial, apesar de Maria J. do Amaral et alii sustentarem que “os formandos em ano de estágio, regra geral, não têm ainda um número significativo de experiências que possam usar para refletir, de modo a alterar as suas práticas pela reconstrução/reconceptualização das experiências e

99 Idem, ibidem, p. 96.

100 Isabel Alarcão – “Reflexão Crítica sobre o Pensamento de D. Schön e os Programas de Formação de

Professores”. In Isabel Alarcão (org.) − Formação Reflexiva de Professores: Estratégias de Supervisão. Porto: Porto Editora, 1996, pp. 9-39.

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conhecimentos anteriores”101. Ainda sim, tendo em conta o contexto multilingue, cremos ser

imperioso o contacto do formando com o meio com o qual trabalhará, isto é, torna-se vantajoso que ele conheça a sua profissão, o que o espera e como poderá agir em eventuais situações na sala de aula ou fora dela para que não haja muito estranhamento nos primeiros anos de exercício da docência.

No documento Professor em Situações Multilingues (páginas 36-38)

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