• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.5 Os Docentes do Curso

3.5.4 Professor Danilo

O professor Danilo é casado, tem 45 anos, fez curso de Ciências em 1994 na UNG, Licenciatura em Matemática na PUC SP em 1998, e é mestre em Educação Matemática desde 2003 pela PUC SP.

Como docente atua há 20 anos, sendo 14 anos no ensino fundamental, 15 anos no ensino médio e cinco anos no ensino superior, licenciatura. Tem experiência anterior na área de Contabilidade Fiscal.

Ele não pensava em ser professor; primeiro fez Química, desanimou, foi fazer Engenharia Química, e no 3º ano ficou muito desiludido ao saber que era difícil a inserção no mercado de trabalho; foi para a área de Direito, estava na área fiscal, área tributária, e também se desiludiu rapidamente com o curso de Direito. Foi para o comércio, montou uma loja de roupas, depois montou uma mini-transportadora, até que decidiu ter estabilidade financeira.

Como já possuía a licenciatura curta em Ciências, que permitia dar aulas de Ciências e Matemática para o primeiro grau, e tinha vontade de ter um vínculo empregatício, pensou em trabalhar à noite como professor e exercer durante o dia outras atividades. Assim conseguiu uma escola para trabalhar, lecionando Ciências de 5ª à 8ª série; foi gostando e com o tempo começou a envolver-se bastante na educação, mas ainda não tinha decidido que era educação a profissão em que deveria investir. Montou um restaurante, depois resolveu fazer licenciatura e mestrado.

Trabalha em escola particular e no Estado como professor da educação básica, e em 2003 recebeu um convite para trabalhar nesta instituição de ensino superior. Leciona Geometria tanto na graduação como na pós-graduação.

Considera o trabalho difícil porque a grande maioria dos alunos não tem os requisitos necessários para trabalhar com Geometria. Ressalta que eles têm muita dificuldade, além dos próprios conceitos internos, conceitos de Aritmética e de Álgebra. Os alunos vêm da periferia, 99,9% são da rede pública, com uma defasagem de conhecimento. No entanto, ele procura de uma certa maneira no desenvolvimento do trabalho estabelecer com eles uma relação humana, motivando-os a aprender Geometria e criar oficinas. Usam os laboratórios para que eles possam ir construindo o conhecimento com várias atividades sequenciais.

Avalia todo o processo e o grau de envolvimento, se o aluno está questionando, se está participando. Propõe várias atividades na aula e eles constroem o portfólio. Valoriza tudo o que os alunos puderem fazer no sentido de estar construindo o conhecimento deles.

Em suas aulas utiliza livros, apostilas, recursos manipuláveis do Laboratório de Matemática, no Laboratório de Informática eles exploram o software Cabri-Géomètre, e o acesso à internet para buscar informações.

Considera que para ser um bom professor de licenciatura é necessário gostar da profissão, ser uma pessoa que esteja em constante busca do aprendizado de novas formas de abordagem, sempre estar participando de congressos, se atualizando cada vez mais, saber respeitar as limitações das pessoas e tentar conduzi-las para um caminho de evolução.

O amadurecimento dos alunos é um dos seus principais desafios. Os alunos são muito imaturos, muitas vezes ele os submete a certa pressão, como entrega de trabalho, elaboração de portfólio, gerando um desconforto muito grande. O que ele acha bom é que quando eles terminam não querem doar para a faculdade o portfólio, que tratam como a um filho, é um

material que segue uma sequência didática, é rico em sugestões de atividades práticas, jogos, desafios, artigos que refletem sobre o ensino de Geometria e elaboração com uso do software Cabri-Géomètre.

Acredita que eles querem ser professores e cita que realizaram uma pesquisa e 99% colocaram sim, visam à ascensão profissional, social e ao status.

Houve vários alunos que o marcaram, ele considera como uma experiência importante para sua atuação, alunos que o auxiliavam como monitores de Cabri-Géomètre, ajudavam o pessoal que tinha dificuldade, voluntários para tentar ajudar esses professores; eram alunos que se envolviam muito, era um grupo muito forte. Eles se formaram e alguns estão na pós, são pessoas que terminaram o curso e conseguiram emprego em escola particular apresentando o portfólio de Geometria e o da Prática de Ensino da professora Sueli; ele considera essas pessoas marcantes.

Como leciona Geometria, recorre primeiro a livros didáticos; constantemente está buscando artigos, vários autores de Educação Matemática, para observar o que está acontecendo no mundo atualmente.

Participa ativamente de congressos, o último foi o ENEM em BH. Está participando de um grupo de formação de professores; ele tem um grupo de estudo para elaborar as atividades desde o ciclo I fundamental até ensino médio. Discutem vários artigos, sequências didáticas, é um grupo de pesquisa voltado à formação de professores para atuar em projetos de formação com os professores desta instituição.

Tem apoio da instituição para participar de eventos científicos e ressalta que consegue até ajuda financeira para pagar uma inscrição, ajuda de custo desde que negociada com antecedência.

Normalmente eles têm duas reuniões para discutir as questões da licenciatura. Tem autonomia para decidir sobre o programa de ensino, discute e articula com a coordenação como vai ser o seu trabalho e ressalta que o bom desta instituição é que o professor tem essa liberdade. Procuram fazer um trabalho de forma que os alunos percebam que os professores articulam as disciplinas e percebam que o conteúdo não está desvinculado, que não está solto, e sim que está tudo vinculado e interligado. Ressalta que eles são um grupo bastante unido, discutem juntos a respeito da avaliação, os pontos a serem trabalhados, como vão avaliar.

Não gostaria de mudar nada na instituição; embora entenda que o ideal seriam quatro anos para formar os futuros professores com um bom embasamento.

O contrato de trabalho é CLT, trabalha 16 horas com quatro turmas, duas do primeiro ano e duas do segundo, com uma média de 48 alunos. O espaço de que dispõe para atender os alunos é o Laboratório de Matemática, mas geralmente atende na sala de aula.

A avaliação institucional tem peso sete e os trabalhos peso três, e diz que os professores têm liberdade de trabalhar com os alunos da forma que acharem adequada.

Acredita que os conhecimentos do professor formador possam ser adquiridos da experiência que ele tem da vida, de algumas situações vivenciadas; na graduação ele vai organizar e sistematizar esse conhecimento, aprende o rigor e como fazer aplicações; depois, numa especialização, aperfeiçoamento, extensão, mestrado ou doutorado ele vai cada vez mais se aprofundando, mas depende também do empenho do professor, da motivação que ele tem. É o prazer de ser professor que faz com que ele no dia-a-dia vá buscando alternativas, formas diferenciadas para trabalhar e aprofundar seus conhecimentos, é um conjunto. Considera que a experiência na educação básica é importante, pois é na rede pública que de fato se aprende a atuar, a lidar com as dificuldades extremas, com pessoas diferentes que não estão a fim de aprender e que não têm expectativas nenhuma de vida e profissional. A experiência de trabalhar no fundamental ciclo II e ensino médio vai permitir ao professor que quando estiver na graduação traga isso para os alunos.

Adora trabalhar com educação, principalmente com adultos e ensino médio, está se realizando como docente.

Na situação de entrevistador, leva-se em consideração que os entrevistados expõem sua vida profissional a alguém que não conheciam, e constata-se através das entrevistas que houve uma interação, uma aproximação entre quem pergunta e quem responde. Desta forma, ao terminar as entrevistas, os formadores sempre perguntavam se já haviam sido entrevistados outros, e acabavam apresentando seus pares antes mesmo de o coordenador fazê-lo, dispondo- se a marcar um horário com os que não estavam naquele determinado dia na instituição. Este dado é revelador do grau de interação, colaboração e interesse mostrado pelos professores formadores dessa instituição.

CAPÍTULO 4. DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E SABERES MOBILIZADOS