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4 EDUCADORES DA PAZ [ ]

4.5 PROFESSOR FRANCISCO

A história do Professor Francisco revela uma caminhada com posicionamentos políticos e militantes. Oriundo de uma família com 10 irmãos, do interior do Estado do Rio Grande do Sul, o professor decidiu seguir a vida religiosa ainda jovem, por volta dos 20 anos de idade.

Hoje, professor da Faculdade de Filosofia da PUCRS, é padre e se dedica à vida religiosa também como educador atuante. Viveu em Roma e na Alemanha por cerca de 10 anos (passava um tempo em cada país, onde fez o Mestrado e o Doutorado em Teologia).

É um dos fundadores do GEPAZ, e sua caminhada para os estudos nesta área iniciou desde a sua juventude, quando ainda fazia a graduação na PUCRS, no ano de 76, o que oportonizou sua entrada mais tarde para o movimento estudantil. Sua vocação para problematizar melhorias e avanços na Universidade é decorrente de um posicionamento político nato, como vamos perceber ao longo de sua história. Embora, este ímpeto para discutir questões pudesse estar ligado ao contexto juvenil que geralmente abarca uma série de indignações e de solicitação pelos direitos que lhe são cabíveis. Mais tarde, na Pastoral Universitária, conheceu o professor Albano, pessoa crítica que trabalhava com Gandhi, o qual, segundo professor Francisco, foi seu referencial teórico inicial nesta linha da Paz.

Nesta sucessão de fatos e acontecimentos podemos ver duas direções importantes: primeiro, uma via singular de interesse, pessoal, que pode estar ligada à fase juvenil, e que corrobora a escolha pela carreira confessional de ajuda ao outro, portanto de uma singularidade em busca do auxílio ao próximo. Por outro lado, existiu uma pessoa-charneira, que problematiza esta escolha teoricamente, levando-o a uma perspectiva política mais ampla, inclusive iluminando a possibilidade de conseguir a garantia de direitos por meio do coletivo, no grupo.

Aqui há uma significação importante de aprendizagem pela via da experiência na discussão com o coletivo, na convivência com o diferente, há uma abertura para a discussão na pluralidade, que pressupõe escuta para conviver. Neste caso, ainda é a Pastoral seu grupo de discussão, o qual, anos mais tarde, vem a ser o GEPAZ. Além de uma juventude ligada a movimentos universitários, veio um convite para se candidatar à presidência do diretório acadêmico da universidade. Francisco ponderou que participaria somente como chapa de oposição.

Trabalhando no sindicato e passando a ler Marx, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Freire, teóricos políticos que lhe ajudavam a compreender os movimentos sociais e ter argumentos para compor os grupos do qual fazia parte, decide candidatar-se a presidente do Diretório acadêmico, vencendo a eleição.

Aqui vemos o ponto de construção de identidade ligada às experiências que oportunizavam o diálogo com grupos e com entidades diretivas, inclusive dentro da Universidade.

A outra memória importante, como direção de significação, foi a residência de 10 anos na Europa, durante a realização do Mestrado em Roma e o Doutorado, tendo realizado uma parte em Roma e a outra na Alemanha. A oportunidade-charneira, da pós-graduação no exterior, na direção da concordância da narrativa como um desejo na ordem dos fatos e

acontecimentos ocorridos que ligam as condições de ação do homem, que deseja e quer ir nesta direção de estudo pelas causas da Paz.

Como um dos aspectos de sucessão de acontecimentos na narrativa, ocorre a vivência durante a queda do muro de Berlim, a convivência com os movimentos pacifistas na Alemanha. Narrou, inclusive, a lembrança de ter visto o surgimento do movimento dos verdes, ligada às primeiras iniciativas de conscientização para a Educação Ambiental.

Os processos sociais e culturais que circundam as vivências de Francisco vão nos mostrando a rede de significados que alertam para a importância de pensar a Paz. Vivendo em um dos países que experimentou a violência de maneira cruel e avassaladora, a convivência com estas pessoas deu a ele a possibilidade da interculturalidade e da sensibilidade para causas, vivenciadas e sentidas na própria pele.

Por exemplo, em 1989, era Natal na Alemanha tinha acabado de cair o Muro de Berlim, e tinha a missa de Natal. Havia um texto do livro do profeta Isaías: “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz, a bota dos opressores foi derrubada...” e daí faz toda uma projeção bíblica dos tempos de Paz. Tomei este texto, e foi absolutamente porque eu não consegui nos dias que fiquei refletindo pensar no que na hora da liturgia eu iria falar. Ou seja, o que significa o Natal diante da queda do muro de Berlim, e obviamente foi o tema daquele Natal para mim. Juntar as duas coisas e estar num contexto de ansiedade de paz. Desde os anos 50 que o muro estava construído, e ele acabara de cair. Portanto, mais de 40 anos as pessoas, famílias divididas, comunidades divididas. Pela primeira vez poderiam passar o Natal juntas. O que significa isso agora em termos de Paz mundial? (Professor Francisco).

Inicio a compreensão de sua história pela via da escolha profissional, alinhada à forte identificação com o pai, que no interior do RS assumia postura coerente e digna. Sua escolha pela Teologia estava ligada à vontade e ao desejo de ser padre. Sua entrega ao curso de graduação denota um desejo de aprender e fazer algo com conhecimento e consciência crítica.

Uma coisa é você fazer um curso por exigência da profissão, outra coisa é fazer um curso com alma. Eu fiz com alma. Me lembro no dia que eu entrei na Universidade, estava passando pela Bento Gonçalves e entrei pelo Champagnat, e era aqui neste prédio, este edifício já existia. E eu me perguntei o que eu vim fazer na universidade. Não só vim fazer teologia na universidade, era para mim o mundo. Fiz essa reflexão para mim mesmo (Professor Francisco).

Ainda complementa: “Não é só como o sujeito que vem aqui e pega a disciplina e vai

para a casa. E tudo isso foi decisivo para entrar na pastoral universitária” (Professor

Francisco).

Vivenciar o Natal diante da tensão da vida na Alemanha, refletir sobre o que significa isso agora em termos de Paz mundial! No tecer da intriga vemos muitos acontecimentos discordantes que vão possibilitando esse professor formar-se enquanto estudioso na área da

paz, a partir de experiências significativas em campo onde a Paz era um desejo profundo, como ausência de guerra. Sua especialização veio com a vida em consonância com vivências que lhe ajudaram a refletir. Citou também o conflito na Iugoslávia, como um conflito racial, assistindo às mobilizações dos povos para a paz.

Professor Francisco, apesar de dizer não se lembrar de nenhuma situação direta na infância ou adolescência que o tenha levado às questões da paz, no que o vincula à família, cita uma situação curiosa, relacionada ao seu pai, quando cita uma fala que lhe marcou: “E

uma frase para mim lapidada de meu pai era: ‘Arma é coisa de covarde, quem tem medo tem

arma’” (Professor Francisco).

Numa realidade em que arma era um objeto comum, no interior as armas tinham muitas funcionalidades, inclusive para a caça e para a defesa. A adoção de uma política familiar de diálogo marca a história de professor Francisco, que, inspirado em uma referência de paz, segue sendo a postura vista na referência familiar.

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