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4. Crenças de Futuros Professores sobre Ensino de Pronúncia na Aula de

4.4 O professor como Modelo de Pronúncia

Passando para as crenças identificadas nas respostas dos participantes sobre o papel do professor enquanto um modelo para o ensino de pronúncia, verifica-se que P1 entende e coloca o professor na posição de “alvo” ou ponto de referência para a reprodução, por parte do aprendiz, do que o professor diz, ou da variante que ele utiliza em sala de aula. Dessa forma, P1 deposita na figura do professor a preocupação com as escolhas a serem feitas com relação ao ensino de pronúncia, tendo em vista que essas servirão de influência para a aprendizagem dos alunos, como também uma restrição quanto à ser visto e se enxergar como um modelo de pronúncia, o único, muito provavelmente.

P2, por sua vez, mobiliza a crença de que o professor não deva servir de modelo, e sim, compreender sua figura como “um terceiro partido” ou mediador nas aulas de pronúncia, visto que, esse profissional talvez não tenha, como afirmado pelo participante, “a melhor pronúncia do mundo”, evidenciando assim, mais uma vez, a crença de que o ideal de pronúncia perfeita ainda está fundamentado na figura do falante nativo de uma variante hegemônica que continua a ser posto em uma posição de superioridade.

Ao refletir sobre o papel do professor como modelo em sala de aula para o ensino do componente fonético-fonológico, P3 ressalva que o profissional docente necessita considerar os conhecimentos prévios dos alunos, que segundo o participante, já possuem a própria “bagagem” devido aos avanços tecnológicos resultantes da globalização.

Em vista disso, P3 declara que os alunos não podem se ver restritos à enxergar o professor como única referência, desconsiderando o fato de que o processo de globalização pode surtir o efeito de influenciar as crenças dos aprendizes também, e construir a ideia de um padrão que perpetue essa restrição ou dificuldade de professor e alunos dialogarem sobre a própria variante sem terem de continuar a reproduzir discursos colonizadores através do uso exclusivo das variantes hegemônicas, como apontado por Shin e Kubota (2008).

P4 acredita que o profissional docente seja o único modelo no contexto de sala de aula, principalmente na escola pública, e pontua que cursos de idiomas podem oferecer uma alternativa para que aprendizes de inglês possam

conhecer ou entrar em contato com outra variante da língua, porém tal afirmação se volta para a crença de P4 de que o foco do ensino de língua inglesa, não somente no que diz respeito à pronúncia, mas de maneira geral, ainda está centrado na disputa entre as variantes hegemônicas.

Analisando a fala de P6, percebe-se que o entrevistado expressa um sentimento contraditório entre o posicionamento sobre o quê e como se deve aplicar na prática e o seu conhecimento sobre a língua, manifestando de maneira enfática a crença de que professores de língua inglesa não devem servir ou serem vistos como modelo de pronúncia, conforma a fala abaixo:

Não, principalmente se for eu dando aula... Eu acho assim, que... eu iria trazer tanto o que eu conheço de inglês, mas também iria trazer, é... outros falantes, para também servirem de modelo, e até para chamar a atenção em relação à essa questão da variedade (variação) (P6)

Observamos ainda, que P6 se utiliza como exemplo, dando ênfase à essa dúvida sobre a capacidade profissional de professores não nativos. Ao tratar a variação linguística no inglês, o participante, de modo semelhante aos outros, concentra sua crença de que para “chamar a atenção” dos alunos, com o objetivo de apresentar-lhes outras variantes da língua, deve-se atentar para variantes de outros contextos, sem refletir sobre a variante falada por ele mesmo ou por seus alunos.

Em consequência disso, P8 manifesta sua crença sobre o professor ser ou não um modelo de ensino de pronúncia pensando outros profissionais docentes, não sobre só si mesmo, a, a partir da experiência de observação da prática de outros professores, que muitos se sentem envergonhados ou inseguros para ensinar pronúncia por não possuírem “domínio da língua”, por isso os próprios docentes não se veem como um modelo. Mas ainda assim acredita que o professor deva ser o ponto principal de referência dos alunos, por este, ser, talvez, o único com o qual o aluno possa ter contato pessoal e direto.

Baseando-se em suas próprias experiências de aprendizagem, que conforme discutido no capítulo 1 a partir dos trabalhos de autores como Sigel (1985) e Garbuio (2006, apud VILLANI 2008) fundamentam e dão origem às nossas crenças, P7 não concorda que o professor deva servir de modelo nas

aulas de pronuncia, pois os alunos precisam entender o professor como não sendo um “detentor de todo conhecimento” e que o aluno também teu seu conhecimento próprio. Sobre isso P7 afirma: “se eu fosse me prender somente ao professor, eu também estou sujeita à aprender muita coisa errada”, pautando ainda sua crença sobre erro na construção do nativo como falante ideal da língua inglesa, o que acarreta em uma inferiorização da figura da professor de inglês não nativo.

Essa inferiorização, reside também no não reconhecimento da própria variante e por consequência resulta no sentimento de vulnerabilidade ou até mesmo de incapacidade do profissional docente que acredita que professores não nativos costumam possuir pouco ou mínimo conhecimento sobre a língua inglesa, o que pode levar à uma possível exclusão do ensino de pronúncia.

Após termos discutido os principais achados da nossa coleta de dados à luz das teorias apresentadas nesse trabalho, iremos às nossas considerações finais.

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