• Nenhum resultado encontrado

Professores e pais face ao envolvimento /participação das famílias no processo educativo 133

1- DEFINIÇÃO DE CONCEITOS 25

2.8 Professores e pais face ao envolvimento /participação das famílias no processo educativo 133

“O homem só pode tornar-se homem pela educação. A educação é o maior e o mais difícil problema que pode ser proposto ao homem.” I. Kant 123

A relação entre a escola e a família tem vindo a alterar-se, sobretudo a partir da década de sessenta. Esta nova realidade no campo da relação escola - família não deixou de se reflectir nas atitudes dos professores face à tendência crescente dos pais em se envolverem e participarem na vida escolar. Como já dissemos, a publicação de Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n°46/86, de 14 de Outubro, abriu um processo de profundas e complexas mudanças, habitualmente designada por Reforma do Sistema Educativo.

Pais, alunos, professores, comunidades, todos são chamados a partilhar, em espírito de confiança, o Projecto Educativo. O êxito de qualquer reforma passa pela mudança de atitudes de todos os agentes da comunidade educativa, principalmente dos professores. Requer-se dos professores um elevado grau de capacidade de adaptabilidade à mudança na escola e no contexto social. Serão os professores que "(...) têm de ser agentes dessa mudança, capazes de responder às exigências do nosso tempo e do que há-de vir. É-lhes exigida uma nova postura, uma nova identidade - saber ser, assumindo-se como educadores, como docentes, como cidadãos" (Pires124).

Contudo, como refere Muel125, se numerosos professores se esforçam ainda por manter “uma proximidade distante” em relação às famílias, por outro, eles vêem-se obrigados a recorrer ao diálogo para obter informações que lhes permitam ajustar a sua prática pedagógica às características duma população escolar diversificada e para encorajar a coerência entre a acção educativa da família e da escola. Dois estudos realizados no nosso país abordaram a problemática das atitudes dos professores perante as famílias e a sua intervenção na educação. Referimo-nos ao estudo de Benavente et al (1991) sobre

123 Citado em Justino (2005:13)

124 Autor citado em Lei de Bases do Sistema Edcativo (2000) 125 Citado por Van Zanten (1988)

os obstáculos ao sucesso na Escola Primária, e ao realizado sob a direcção de Davies (1989), relativo ao estado das relações Escola / Família em Portugal. Ambos mostraram que, no que toca ao papel dos pais na Escola, as opiniões dos professores entrevistados iam no sentido de lhes negar um papel activo e de protagonismo no processo educativo. Hoje as relações entre a escola e a família continuam a pautar-se por serem relações com um único sentido (de dentro para fora). A instituição omnipotente distribui os papéis, delimita e controla o seu desempenho, embora se queixe por vezes do desinteresse do colaborador, como realçam Benavente et al (1991).

Isto mesmo concluem outras investigações, por exemplo Assunção126: “A negação deste protagonismo dos pais, para a grande maioria das professoras entrevistadas não significa que estas não reconheçam que os pais podem desempenhar um papel na educação dos filhos; no entanto, este reconhecimento parece assentar num pressuposto e implicar uma consequência: o pressuposto consiste em que o papel dos pais é aquele que lhes é atribuído pela escola, que é a verdadeira protagonista no processo; a consequência consiste em que, para algumas professoras, o insucesso e os problemas escolares dos alunos são atribuídos à família e ao mau desempenho dos seus papéis”. Parece existir, subjacente a esta atitude, como o estudo aliás revelou, uma visão desvalorizadora do papel das famílias no processo educativo e, mais especificamente, das famílias oriundas dos meios populares. Os professores apenas reconhecem aos pais um papel de “enquadramento e apoio dos filhos”, de “prolongamento do trabalho do professor, sempre que esta o solicite, sempre que ela ache necessário”. Contudo, esta atitude mais favorável a um certo envolvimento dos pais surge, por outro lado, associada ao desejo dos professores de que os pais não interfiram no trabalho docente.

Não se trata de uma especificidade portuguesa. Mais recentemente, uma investigação europeia (Macbeth e Ravn,)127 conclui que os professores não desejam a participação dos pais nas aulas e suspeitam do envolvimento dos pais na tomada de decisões. Os professores esperam que os pais apenas vigiem os trabalhos de casa, ajudem a resolver problemas de organização de festas, acompanhem as viagens escolares, façam donativos. Mas sempre que existem dificuldades de aprendizagem e problemas

126 Citado por Canário & D´Espiney (1994) 127 Autores referenciados por Marques (1997)

educacionais na família ou na escola, os professores tendem a culpar os pais, considerando a família desinteressada. Podemos, então, concluir que é urgente uma mudança positiva dos professores face ao envolvimento da família no processo educativo. São necessários programas de formação de professores, de forma que todos eles sejam capazes, não apenas de introduzir programas de envolvimento familiar na escola, mas também de cooperar com os representantes dos pais no conselho pedagógico e no conselho escolar.

No que diz respeito aos encarregados de educação, quais serão as suas atitudes e expectativas face ao seu envolvimento e participação no processo educativos? Todos sabemos que entre a família e a instituição escolar deverá existir uma sólida relação de cooperação, já que ambas, longe de serem opostos, são antes complementares. Nesta perspectiva, como temos vindo a dizer, o envolvimento das famílias no processo educativo traz benefícios para as escolas e para as próprias crianças.

Como refere Marques (1991), “as crianças cujos pais se envolvem na escola e na educação têm vantagens em relação às restantes”. Contudo, a participação parental varia de acordo com o estatuto económico e cultural das famílias. Normalmente, as relações entre os pais desfavorecidos e a instituição escolar são difíceis. Como diz Muñiz (1989), aos “filhos de trabalhadores não qualificados (...) falta-lhes o apoio familiar como estímulo contínuo porque os pais, por sua vez, não compreendem as tarefas dos filhos e não sentem interesse pela cultura”. As suas competências profissionais são poucas e a disponibilidade para intervirem na escola dos filhos é também diminuta. Dispõem de menor confiança, menos tempo, menos motivação, para se empenharem em ajudar os filhos em casa ou na escola.

Pais e professores atribuem a ausência de envolvimento dos primeiros na vida escolar às condições de vida. Os pais de baixo rendimento e estatuto trabalham muito e resta-lhes pouco tempo e energia para se envolverem. Para mais parte significativa destes pais tiveram uma experiência negativa da escola e muitos deles não passaram da 4a classe. São pais para quem a escola pós-primária representa um espaço físico e social desconhecido, onde desconhecem a forma de ajudar os filhos.

Estas práticas de co-produção abrangem todo o tipo de actividades, na escola ou no lar, que contribuem para melhorar a aprendizagem dos alunos. Vários estudos têm sido realizados neste campo. Um deles foi efectuado em 1987, em escolas da pré-primária, primária e preparatória e versava o papel dos pais no quadro da reforma do sistema Educativo. As suas conclusões demonstraram que “uma larga maioria de pais se diz satisfeita com as escolas dos seus filhos e de um modo geral, atribuem-lhes uma boa classificação. A classificação média, numa escala de l a 5 foi de 3,3” (Davies 1989).

Há, porém, que provocar a mudança de atitudes da escola, de modo a que os pais sejam apoiantes da inovação e defensores da reforma. A escola deve aceitá-los como seus parceiros fundamentais na educação das crianças e da comunidade envolvente, de modo a oferecer-lhe a oportunidade de participarem. Para que tal aconteça, é necessário que as escolas conduzam o processo do contacto com os pais, não apenas para falar do progresso académico das crianças, mas também para os ajudar a desenvolver o conhecimento e a capacidade de que necessitam para compreender os filhos em cada nível educativo.