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Profissionais de Saúde na Sociedade de Uberlândia MG

3. TRAJETÓRIA DA PESQUISA

3.1. Profissionais de Saúde na Sociedade de Uberlândia MG

A cidade de Uberlândia - MG, situada no Triângulo Mineiro, apresentou um crescimento urbano acelerado a partir da década de 70 do século XX, devido ao intenso processo migratório proveniente tanto de outras cidades da região e do Estado como também de vários outros Estados da União, ultrapassando hoje os 500.000 mil habitantes. (Andrade & Ribeiro,1995)

A economia da cidade de Uberlândia - MG é calcada em três pilares econômicos: produção, distribuição e consumo, apresentando os mesmos problemas dos demais pólos regionais brasileiros, tais como violência, carência de habitação entre outros, (Andrade & Ribeiro,1995).

Para compreendermos a inserção da mulher na sociedade de Uberlândia atual, devemos recorrer à história das mulheres como uma fonte para o estudo das relações humanas, para que tenhamos uma visão menos estereotipada do sexo feminino (Rodrigues,1997). Até meados do ano de 1960, na região do Triângulo Mineiro, o mercado de trabalho formal era desempenhado quase que exclusivamente pelo sexo masculino, enquanto as mulheres exerciam profissões consideradas femininas, como professora, enfermeira, parteira, cabeleireira, entre outras. Enfatizava-se, principalmente, o papel da mulher como esteio moral do lar, de modo que o homem era legalmente considerado na sociedade o cabeça do casal, devendo, portanto, suprir todas as necessidades da família.

Desde a infância, esse comportamento é reforçado pelo tipo de brincadeiras que estimulava a agressividade para meninos e a docilidade às meninas (Castro, 2000). Para Borges (2000), é através das brincadeiras que as crianças constroem no imaginário o mundo que as esperam no amanhã. Segundo França & Dias (2002) é também na infância que as crianças recebem informações, através da convivência com adultos e com outras crianças, sobre os valores, os quais serão absorvidos e repetidos a novas gerações. Estas autoras entrevistaram crianças de ambos os sexos, com 6 anos de idade, e lhes perguntaram se outra criança do sexo oposto ao seu poderia fazer o que ela faziam; 90% responderam que não podiam. Os meninos falaram que as meninas deveriam brincar de bonecas, casinha e escola e as meninas responderam que os meninos deveriam brincar de bola, carrinhos, games. Isto coincide com o pensamento de Beauvoir (1967), que afirma que não há homens nem mulheres acabados, mas em construção.

Também Andrade & Ribeiro (1999) desenvolveram uma pesquisa qualitativa onde analisaram as tendências ocupacionais, segundo o sexo, para conhecerem as atividades econômicas e as formas de inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho, na cidade de Uberlândia. Inicialmente, aplicaram entrevistas abertas aos sujeitos residentes em 24 bairros periféricos de Uberlândia, concluindo que, na década de 80, a crise econômica,

“abriu uma fenda social, econômica e cultural entre miseráveis, pobres e ricos; entre trabalhadores desqualificados; entre estilos de vida, padrões de consumo e visões de mundo, que passaram a coexistir no cotidiano urbano”, mostrando que a maior parte das ocupações surgia no ramo de serviços domésticos.

Outro dado referente ao trabalho, diz respeito à posição do homem como chefe de família. O casamento aparece na vida das entrevistadas como um espaço material e simbólico que lhes permite viver a condição inerente ao sexo feminino, mas está também associado às funções de mãe, esposa e dona de casa.

O modelo tradicional de família é uma constante nas falas dos entrevistados, porém este modelo não se sustenta, pois as práticas cotidianas mostram a impossibilidade de atingir aquele ideal. As circunstâncias econômicas levam as mulheres a procurar um trabalho remunerado e esta ocupação torna-se pesada, quando somada às tarefas domésticas. Um dado interessante desse trabalho é demonstrado pelas contradições entre o discurso e a prática dos entrevistados, pois o homem nem sempre é o provedor da família dependendo do trabalho da mulher, para complementar o orçamento familiar. Porém, no imaginário ideal, o homem deveria assumir o papel de provedor da família e o trabalho da mulher deveria ser apenas uma complementação do orçamento familiar. As autoras mostram que apesar de algumas mulheres entrevistadas ganharem mais do que seus companheiros, elas não assumiam a condição de provedoras do lar. Entendem que esta negação tenta evitar conflitos e rompimentos de modelos estabelecidos, tanto que os discursos mantêm os tradicionais papéis de homens e mulheres, consolidando o modelo de relação hierarquizado entre os sexos.

Para Rodrigues (1995), a imprensa de Uberlândia veiculou, ao longo dos anos, uma imagem ideal da mulher cujas conquistas eram vistas como geradoras de problemas, embora publicasse quase tudo sobre a emancipação feminina em todo o mundo. Os responsáveis pelos artigos não só emitiam juízos de valores, como procuravam enfatizar

uma imagem idealizada da mulher, como esposa e mãe. Assim, no início do século XX, essa forma de divulgar notícias sobre a mulher era comum tanto em nível nacional como local, e valores como honestidade, virtude e trabalho eram exaltados como sinônimos da integridade física e espiritual da mulher, que se tornou símbolo da ternura e da bondade, na visão de alguns escritores da referida cidade.

Os artigos, entre as décadas de 20 e 50 do século XX, ressaltavam que a mulher jamais deveria se parecer com um homem, indicando que, para a formação da personalidade feminina, o importante era diferenciar- se do homem, até mesmo em um simples gesto. O reconhecimento do papel desempenhado pela mulher na sociedade foi tímido, uma vez que o policiamento da imprensa foi levado às raias da intolerância: combatiam- se os vestidos transparentes, decotes e a maneira como se comportavam e assim elas (enfrentaram o conflito entre a idealização da imagem dos deveres de mãe e esposa e os ditames da moda). (Rodrigues, 1995).

Na perspectiva de Rodrigues (1995), à medida que novos espaços foram sendo conquistados pela mulher, no mercado de trabalho e na política, aumentou a quantidade de artigos enfatizando sua imagem como esposa-mãe. Ainda assim, mulheres que desafiaram as normas e padrões vigentes abriram espaço no mercado de trabalho, demonstrando que a diferença biológica não deveria ser motivo de exclusão social e política.

Esta autora chama a atenção, também, para a silenciosa presença de mulheres-mães, donas de casa, trabalhadoras, arrimos de família, profissionais, que mostrando sua força, participaram das transformações sociais e culturais da cidade.

A inserção das mulheres como profissionais de saúde em Uberlândia, ocorreu inicialmente com profissionais vindas de outros municípios de Minas Gerais e de outros estados, em busca de um espaço profissional na já progressista cidade de Uberlândia, nas décadas de 60 e 70, especialmente com a inauguração do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, mais precisamente na década de 70 do século XX, o que possibilitou o incremento de várias categorias de profissionais de saúde, especialmente a da Enfermagem.

De acordo com Kauchakje Pedrosa (1999), o aumento da escolaridade do sexo feminino tem possibilitado às mulheres brasileiras participarem cada vez mais do mercado de trabalho e já são maiorias nas escolas de saúde.

Esta autora ao entrevistar vinte (20) mulheres-trabalhadoras- enfermeiras que atuam nas cidades de Uberaba – MG e Uberlândia – MG, com objetivo de conhecer suas crenças em saúde evidenciam que esta população vivenciam um sofrimento “invencível”. O seu desgaste físico e mental é fruto de seu adequar ao mundo – masculino do trabalho, isto é, devido aos horários rígidos, jornadas dupla onde acumula papéis tradicionais de “mulher-dona-de-casa” com os de “Mulher-trabalhadora- fora-do-lar; à falta de auto-cuidado; insatisfatória com o salário de profissional de saúde e doenças próprias do trabalho de enfermagem entre outros fatores.

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