• Nenhum resultado encontrado

A taxa de mortalidade da SAAF Catastrófica diminui de 53%, em doentes diagnosticados antes do ano 2000, para 33,3%, em doentes com diagnóstico entre 2001 e 2005. Esta redução está relacionada com a administração mais frequente da

32

combinação de anticoagulantes, glicocorticoides e plasmaferese e/ou imunoglobulinas.[18]

A presença de LES está relacionada com uma maior taxa de mortalidade nos doentes com SAAF Catastrófica, principalmente se houver envolvimento da glândula supra-renal.[14][18] No entanto, existem outros factores que podem influenciar o prognóstico, nomeadamente a idade superior a 36 anos, envolvimento renal e pulmonar e os títulos dos anticorpos antinucleares positivos.[45]

A principal causa isolada de morte na SAAF Catastrófica está relacionada com o envolvimento cerebral, principalmente através de AVCs (27,1%), porém a conjugação de patologias cardíacas e pulmonares é o principal motivo de morte nestes doentes (29,6%).[18] A afecção cardíaca isolada, nomeadamente por microtrombos miocárdicos

que provocam insuficiência cardíaca, enfarte agudo do miocárdio e paragem cardíaca, é também uma importante causa de morte.[18]

Estudos da evolução a longo prazo revelam que 66% dos doentes que sobrevivem a um evento inicial de SAAF Catastrófica permanecem assintomáticos com anticoagulação, porém 26% apresentam manifestações de SAAF clássica, numa fase não muito distante do episódio agudo, e a taxa de mortalidade associada a estes doentes é cerca de 25%.[6][44] Dos doentes que desenvolveram novos eventos trombóticos, 40% ocorreram no período peri-operatório, o que enfatiza o facto de os doentes com SAAF apresentarem risco adicional de trombose quando submetidos a procedimentos cirúrgicos. A estase, a lesão da túnica íntima e a hipercoagulabilidade são os três principais factores que contribuem para os eventos tromboembólicos pós-operatórios. Estes estudos demonstraram ainda que a recorrência de SAAF Catastrófica é extremamente rara, próxima de 0%.[44]

Conclusão

SAAF Catastrófica é uma condição rara, mas potencialmente fatal, que pode ser revertida com início precoce de terapêutica eficaz adequada. Caracteriza-se por ser uma microangiopatia trombótica aguda. Como tal, é de máxima importância distingui-la de outras formas de microangiopatia trombótica, como Síndrome Hemolítica Urémica, Púrpura Trombótica Trombocitopénica, Coagulação Intravascular Disseminada ou Trombocitopénia induzida pela heparina.

33

O principal desafio enfrentado pelos médicos é precisamente na identificação desta patologia, pela variabilidade da sua apresentação clínica e pela rápida progressão até à falência multiorgânica.

A relevância desta síndrome prende-se não com a sua frequência, mas sim com a sua elevada mortalidade, principalmente quando não é introduzida terapêutica adequada atempadamente.

A incerteza relativamente ao tratamento ideal de SAAF Catastrófico prende-se com a falta de estudos prospectivos cegos e aleatorizados, que não são possíveis de realizar devido à baixa incidência e imprevisibilidade desta patologia.

Em termos de investigação futura sobre esta síndrome, o objectivo será colectar amostras de sangue e plasma de doentes durante um episódio agudo de SAAF Catastrófica, de forma a que possam ser realizados estudos mecanizados, para compreender melhor a fisiopatologia e o papel de cada molécula na sequência de eventos que contribuem para esta condição catastrófica. Para além disso, este tipo de estudos pode revelar novos alvos terapêuticos e a partir daí o melhor tratamento a aplicar uma vez identificada a síndrome.

Agradecimentos

Gostaria de fazer um especial agradecimento à Drª Susana Marques pela disponibilidade, orientação e apoio num esforço conjunto que foi a concretização e aperfeiçoamento deste Trabalho Final de Mestrado.

Bibliografia

[1] R. Asherson and R. Cervera, “The catastrophic antiphospholipid antibody syndrome,” J Rheumatol, vol. 19, pp. 508 – 12, 1992.

[2] R. Cervera et al., “Catastrophic antiphospholipid syndrome (CAPS): Descriptive analysis of a series of 280 patients from the ‘CAPS Registry,’” J. Autoimmun., vol. 32, no. 3–4, pp. 240–245, 2009.

34

manifestations and patterns of disease expression in a cohort of 1,000 patients,” Arthritis Rheum., vol. 46, no. 4, pp. 1019–1027, 2002.

[4] A. Nayer and L. M. Ortega, “Catastrophic antiphospholipid syndrome: a clinical review.,” J. Nephropathol., vol. 3, no. 1, pp. 9–17, 2014.

[5] R. A. et all Asherson, “Catastrophic antiphospholipid syndrome : international consensus statement on classication criteria and treatment guidelines,” Lupus, pp. 530–534, 2003.

[6] R. Cervera, “Update on the diagnosis, treatment, and prognosis of the

catastrophic antiphospholipid syndrome,” Curr. Rheumatol. Rep., vol. 12, no. 1, pp. 70–76, 2010.

[7] R. Cervera et al., “14th International Congress on Antiphospholipid Antibodies Task Force Report on Catastrophic Antiphospholipid Syndrome,” Autoimmun. Rev., vol. 13, no. 7, pp. 699–707, 2014.

[8] B. Routy, T. Huynh, R. Fraser, and C. Séguin, “Vascular endothelial cell function in catastrophic antiphospholipid syndrome: a case report and review of the

literature.,” Case Rep. Hematol., vol. 2013, p. 710365, 2013.

[9] P. G. De Groot and R. T. Urbanus, “The significance of autoantibodies against B2 -glycoprotein I,” vol. 120, no. 2, pp. 266–275, 2016.

[10] N. Agmon-Levin et al., “Ferritin in the antiphospholipid syndrome and its catastrophic variant (cAPS),” Lupus, vol. 22, pp. 1327–1335, 2013.

[11] D. Titeca-beauport, V. Salle, L. Kontar, J. Maizel, G. Choukroun, and C. Report, “Plasma Exchange in the Management of Catastrophic Antiphospholipid

Syndrome,” pp. 10–13, 2016.

[12] I. Rodríguez-Pintó, A. Soriano, G. Espinosa, Y. Shoenfeld, and R. Cervera, “Catastrophic antiphospholipid syndrome: An orchestra with several musicians,” Isr. Med. Assoc. J., vol. 16, no. 9, pp. 585–586, 2014.

[13] C. Rosário, G. Zandman-goddard, E. G. Meyron-holtz, D. P. D. Cruz, and Y. Shoenfeld, “The Hyperferritinemic Syndrome : macrophage activation syndrome , Still ’ s disease , septic shock and catastrophic antiphospholipid syndrome,” 2013.

[14] N. M. Kazzaz, W. J. Mccune, and J. S. Knight, “Treatment of catastrophic antiphospholipid syndrome,” vol. 28, no. 3, pp. 218–227, 2016.

[15] E. Gharavi, E. Cucurull, H. Tang, C. Celli, W. Wilson, and A. Gharavi,

35

and bacterial peptides,” Lupus, vol. 8, no. 6, pp. 449 – 455, 1999.

[16] A. E. Gharavi, S. S. Pierangeli, and E. N. Harris, “New developments in viral peptides and APL induction,” J Autoimmun, vol. 15, no. 2, pp. 227–230, 2000. [17] R. a Asherson et al., “Catastrophic antiphospholipid syndrome: clues to the

pathogenesis from a series of 80 patients.,” Medicine (Baltimore)., vol. 80, no. 6, pp. 355–377, 2001.

[18] S. Bucciarelli et al., “Mortality in the catastrophic antiphospholipid syndrome: Causes of death and prognostic factors in a series of 250 patients,” Arthritis Rheum., vol. 54, no. 8, pp. 2568–2576, 2006.

[19] R. A. Asherson et al., “Catastrophic antiphospholipid syndrome. Clinical and laboratory features of 50 patients,” Med., vol. 77, no. 3, pp. 195–207, 1998. [20] M. L. Rangel et al., “Catastrophic antiphospholipid syndrome with concurrent

thrombotic and hemorrhagic manifestations.,” Lupus, vol. 22, no. 8, pp. 855–64, 2013.

[21] C. Gabay and I. Kushner, “Acute-phase proteins and other systemic responses to inflammation.,” N. Engl. J. Med., vol. 340, no. 6, pp. 448–454, 1999.

[22] G. B. Vieregge, T. J. Harrington, D. M. Andrews, M. F. Carpintero, D. F. Green, and A. Nayer, “Catastrophic Antiphospholipid Syndrome with Severe Acute Thrombotic Microangiopathy and Hemorrhagic Complications,” Case Reports Med., vol. 2013, pp. 1–6, 2013.

[23] R. Cervera and R. A. Asherson, “Multiorgan failure due to rapid occlusive vascular disease in antiphospholipid syndrome: The ‘catastrophic’

antiphospholipid syndrome,” APLAR J. Rheumatol., vol. 7, no. 3, pp. 254–262, 2004.

[24] E. D. Aguiar CL, “Catastrophic antiphospholipid syndrome: how to diagnose a rare but highly fatal disease.,” Ther. Adv. Musculoskelet. Dis., vol. 5, no. 6, pp. 305–314, 2013.

[25] S. Miyakis et al., “International consensus statement on an update of the

classification criteria for definite antiphospholipid syndrome (APS),” J. Thromb. Haemost., vol. 4, no. 2, pp. 295–306, 2006.

[26] M. Galli, D. Luciani, G. Bertolini, and T. Barbui, “Lupus anticoagulants are stronger risk factors for thrombosis than anticardiolipin antibodies in the antiphospholipid syndrome: A systematic review of the literature,” Blood, vol. 101, no. 5, pp. 1827–1832, 2003.

36

[27] M. Samarkos, A. Davies, C. Gordon, and S. Loizou, “Clinical significance of IgA anticardiolipin and anti- 2-GP1 antibodies in patients with systemic lupus

erythematosus and primary antiphospholipid syndrome,” Clin. Rheumatol., vol. 25, pp. 199–204, 2006.

[28] S. Kumar, E. Papalardo, P. Sunkureddi, S. Najam, E. B. González, and S. S. Pierangeli, “Isolated elevation of IgA anti-beta2glycoprotein I antibodies with manifestations of antiphospholipid syndrome: a case series of five patients.,” Lupus, vol. 18, no. 11, pp. 1011–4, 2009.

[29] D. Erkan, G. Espinosa, and R. Cervera, “Catastrophic antiphospholipid

syndrome: Updated diagnostic algorithms,” Autoimmun. Rev., vol. 10, no. 2, pp. 74–79, 2010.

[30] V. Pengo et al., “Update of the guidelines for lupus anticoagulant detection,” J. Thromb. Haemost., vol. 7, no. 10, pp. 1737–1740, 2009.

[31] T. L. Ortel, D. Erkan, and C. S. Kitchens, “How I treat catastrophic thrombotic syndromes,” Blood, vol. 126, no. 11, pp. 1285–1293, 2015.

[32] I. Uthman, A. Shamseddine, and A. Taher, “The role of therapeutic plasma exchange in the catastrophic antiphospholipid syndrome,” Transfus. Apher. Sci., vol. 33, no. 1, pp. 11–17, 2005.

[33] R. El-Shereef et al., “Catastrophic Antiphospholipid Syndrome,” 2016. [34] P. et al. Marson, “Plasma exchange for the management of the catastrophic

antiphospholipid syndrome : importance of the type of fluid replacement,” pp. 201–203, 2008.

[35] H. Orbach, U. Katz, Y. Sherer, and Y. Shoenfeld, “Intravenous immunoglobulin: adverse effects and safe administration.,” Clin. Rev. Allergy Immunol., vol. 29, no. 3, pp. 173–184, 2005.

[36] G. Espinosa, H. Berman, and R. Cervera, “Management of refractory cases of catastrophic antiphospholipid syndrome,” Autoimmun. Rev., vol. 10, no. 11, pp. 664–668, 2011.

[37] U. D. Bayraktar, D. Erkan, S. Bucciarelli, G. Espinosa, and R. Asherson, “The clinical spectrum of catastrophic antiphospholipid syndrome in the absence and presence of lupus.,” J. Rheumatol., vol. 34, no. 2, pp. 346–52, 2007.

[38] G. Sukara, M. Baresic, M. Sentic, L. Brcic, and B. Anic, “Catastrophic

antiphospholipid syndrome associated with systemic lupus erythematosus treated with rituximab : case report and a review of the literature,” pp. 169–176, 2015.

37

[39] H. Berman et al., “Autoimmunity Reviews Rituximab use in the catastrophic antiphospholipid syndrome : Descriptive analysis of the CAPS registry patients receiving rituximab,” Autoimmun. Rev., vol. 12, no. 11, pp. 1085–1090, 2013. [40] A. Kronbichler et al., “Efficacy of Eculizumab in a Patient With

Immunoadsorption-Dependent Catastrophic Antiphospholipid Syndrome: A Case Report.,” Medicine (Baltimore)., vol. 93, no. 26, p. e143, 2014.

[41] K. Hadaya et al., “Eculizumab in Acute Recurrence of Thrombotic

Microangiopathy After Renal Transplantation,” Am. J. Transplant., pp. 2523– 2527, 2011.

[42] L. H. . Yang, D. A. . Hoppensteadt, O. . Iqbal, and J. . Fareed, “Defibrotide mediated inhibition of serotonin, endothelin-1, thromboxane, and serum induced contraction of canine femoral and pulmonary arterial rings,” vol. 84, no. 3, pp. 167–177, 1996.

[43] S. Praprotnik, D. Ferluga, A. Vizjak, A. Hvala, T. Avčin, and B. Rozman, “Microthrombotic/microangiopathic manifestations of the antiphospholipid syndrome,” Clin. Rev. Allergy Immunol., vol. 36, no. 2–3, pp. 109–125, 2009. [44] D. Erkan et al., “Long term outcome of catastrophic antiphospholipid syndrome

survivors,” vol. 62, pp. 530–534, 2003.

[45] S. Bucciarelli, D. Erkan, G. Espinosa, and R. Cervera, “Catastrophic

Antiphospholipid Syndrome : Treatment , Prognosis , and the Risk of Relapse,” pp. 80–84, 2009.

Documentos relacionados