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6 PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS NA PESCA

6.2 Incentivos diretos para a conservação no Brasil: experiências em torno do

6.2.1 Programa de apoio à conservação ambiental Bolsa Verde

6.2.1.1 Programa Bolsa Verde

de regulação ambiental. Desde 2000, o uso do comando e controle do desmatamento se intensificou no país, dando continuidade à política de criação de áreas protegidas e outras unidades de uso sustentável, como as RESEX. Estes prevêem em si mesmos uma restrição de uso ou manejo sustentável de seus recursos naturais, razão pela qual os PSAs constituem um incentivo direto à conservação e garantia da presença das comunidades nessas áreas.

O programa Bolsa Verde surge, então, como uma alternativa à falta de regulamentação do PSA em nível nacional e à necessidade de apoiar comunidades estabelecidas em Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Ou seja, afasta-se da visão dominante do tipo de mercado PSA e faz parte de um subsídio do tipo PSA ou piguviano. O programa Bolsa Verde Federal aproveita a possibilidade de um PSA diferente, do tipo "valorização das práticas tradicionais".

6.2.1.1 Programa Bolsa Verde

O programa de apoio à conservação ambiental comumente denominado Bolsa Verde foi criado em 2011 no âmbito do Plano Brasil Sem Miséria do governo Dilma Rousseff (Lei 12.512 / 11) e tem dois objetivos: um social e outro ambiental. “O incentivo à conservação dos ecossistemas, a melhoria das condições de vida e a elevação da renda da população em situação de extrema pobreza que exerça atividades de conservação dos recursos naturais no meio rural em áreas prioritárias” EMI nº 01/2011 - MDS/MMA/MDA/MF/MPOG2.

Pretende-se como transferência de renda para Unidades de Conservação e assentamentos diferenciados, e pode-se dizer que é um complemento da política de transferência monetária condicional do Bolsa Família, estabelecida com o governo Inácio Lula da Silva no programa Fome Zero de 2003. A justificativa para o incentivo é que o 15,6%3 da população que vive em extrema pobreza reside em áreas rurais; por isso, busca apoiar famílias que compartilham florestas públicas, ou seja, aquelas que habitam as "Unidades de Conservação de Uso Sustentável, projetos de assimilação ambientalmente diferenciados, terras indígenas, áreas tituladas em favor de comunidades remanescentes de quilombos e áreas ribeirinhas agroextrativistas".

2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Exm/EMI-1-MDS-MMA-MDA-MF-MPOG-

Mpv535.htm

3 legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC 7.572-2011?OpenDocument 3 O

Decreto no7572, de 28 de setembro de 2011, que “Regulamenta dispositivos da Medida Provisória no 535, de 2 de junho de 2011, que tratam do Programa de Apoio à Conservação Ambiental – Programa Bolsa Verde”.

Pode-se dizer que o principal motivo do programa é lutar contra a pobreza extrema, mas que estar em florestas públicas também deve garantir sua conservação. Outra razão é que, segundo Viana (2014), em 2008 o MMA constatou que seis assentamentos do INCRA seriam os maiores desmatadores da Amazônia (FATORELLI; MERTENS, 2010). Um último motivo é que em 2012 o Ministério Público Federal apontou para assentamentos de reforma agrária como responsáveis por um terço do desmatamento na região.

É interessante notar, finalmente, que, embora 76% das florestas públicas sejam ocupadas por terras indígenas, o Decreto 7.572, que regulamenta a lei, não inclui explicitamente as terras indígenas. Em conclusão, este Decreto estabelece o programa Bolsa Verde com o objetivo de " transferir recursos financeiros a famílias em situação de extrema pobreza que desenvolvem atividades de conservação de recursos naturais no meio rural ".

Tabela 10 - Características do programa Bolsa Verde

Lei No 12.512 de 14 otubro de 2011 e Decreto 7.472 28 setembro de 2011 Beneficiário

A QUEM

Famílias em situação de extrema pobreza que desenvolvam atividades de conservação ambiental nas seguintes áreas:

I- Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas Federais e Reservas de Desenvolvimento Sustentável Federais;

II- Projetos de Assentamento Florestal, Projetos de Desenvolvimento Sustentável ou Projetos de Assentamento Agroextrativista instituídos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA; e

III- Outras áreas rurais indicadas pelo Comitê Gestor do Programa Bolsa Verde e definidas pelo Ministério do Meio Ambiente.

Benefício O QUE

Transferência de recursos financeiros do Programa Bolsa Verde será realizada mediante repasses trimestrais no valor de R$ 300,00 (trezentos reais) por família.

Pagador QUEM PAGA

Correrão à conta de dotações orçamentárias do Ministério do Meio Ambiente e estarão condicionadas às disponibilidadees orçamentárias e financeiras.

TEMPO A transferência dos recursos de que trata o caput será realizada por um prazo de até dois anos, podendo ser renovada.

PORQUE PAGA

A manutenção da cobertura vegetal identificada pelo diagnóstico ambiental da área onde a família está inserida; e

II- o uso sustentável, nos termos do inciso XI do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000.

Parágrafo único. As atividades de conservação previstas no caput devem estar em consonância com o previsto nos instrumentos de gestão e regularização das unidades territoriais alcançadas pelo Programa Bolsa Verde, quando houver, ou em acordos ou demais instrumentos comunitários reconhecidos pelos órgãos gestores das áreas em questão.

Seguimento O acompanhamento de atividades e resultados do Programa Bolsa Verde deverá contemplar as informações contidas em seu cadastro, mantido pelo Ministério do Meio Ambiente e a implementação das ações previstas nos Termos de Adesão relativas às famílias beneficiárias, áreas e atividades de conservação ambiental, sendo feito por meio de:

I- Monitoramento da cobertura vegetal das áreas objeto do Programa, com frequência mínima anual, por meio de laudo emitido por órgão competente;

II- Fiscalização, por meio da análise de dados e relatórios disponíveis no sistema de monitoramento do Programa Bolsa Verde ou verificação in loco, usando critérios de amostragem; e.

III- Demais critérios e procedimentos de monitoramento e avaliação estabelecidos pelo Comitê Gestor do Programa Bolsa Verde não sejam atendidas as condições definidas na Medida Provisória no 535, de 2011 e as condições definidas neste Decreto;

II- A família beneficiária seja habilitado em outros programas ou ações federais de incentivo à conservação ambiental; e

III- As atividades de conservação ambiental previstas no Termo de Adesão e monitoradas nos termos deste Decreto sejam descumpridas pela família beneficiária.

Parágrafo único. A metodologia de apuração do descumprimento das atividades de conservação em áreas coletivas será definida pelo Comitê Gestor do Programa Bolsa Verde.

Requerimentos Encontrar-se em situação de extrema pobreza (a família com renda per capita mensal de até R$ 70,00 (setenta reais), nos termos do parágrafo único do art. 2o do Decreto no 7.492, de 2 de junho de 2011, que institui o Plano Brasil Sem Miséria)

II - estar inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal; e III - desenvolver atividades de conservação nas áreas previstas no art. 3º.

Art. 5º Para receber os recursos financeiros do Programa de Apoio à Conservação Ambiental, a família beneficiária deverá:

I - estar inscrita em cadastro a ser mantido pelo Ministério do Meio Ambiente, contendo informações sobre as atividades de conservação ambiental; e

II - aderir ao Programa de Apoio à Conservação Ambiental por meio da assinatura de termo de adesão por parte do responsável pela família beneficiária, no qual serão especificadas as atividades de conservação a serem desenvolvidas

Fonte: Elaboração própria.

Operacionalmente, o programa Bolsa Verde é administrado por um comitê gestor composto por representantes do "Ministério do Meio Ambiente, Civil Casa da Presidencia da República, Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome, Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão "(art. 13, Decreto 7.572). Segundo a lei, os gerentes locais são nomeados pelo Ministério do Meio Ambiente e são responsáveis pela adição de novos beneficiários para o programa através da assinatura de um termo de adesão pelas famílias beneficiárias definidos pelo Ministério. Da mesma forma, eles serão responsáveis pelo treinamento técnico e entrega de material educacional sobre a conservação dos recursos naturais e melhores práticas. Nem a lei nem o decreto regulamentar estabelece que os gestores locais, mas infere que são o ICMBio em unidades de conservação, o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA) em diferentes assentamentos ea Secretaria do Patrimônio da União (SPU) para a população riberinha.

disposições da ferramenta de gestão ou regularização da unidade, pois é nesta ferramenta de planejamento, em que são estabelecidas as regras de uso dos recursos naturais, a convivência e ocupação. Uma lacuna identificada é que os gestores locais não têm influência direta sobre a formulação do termo, mas o MMA é responsável por organizá-lo e enviá-lo aos gestores (BRASIL, 2012). Isso implica que atividades pontuais não podem ser estabelecidas, como mencionado na articulação do instrumento: "nenhum sentido será especificado como atividades de conservação a serem desenvolvidas". Esta contradição deve ser resolvida para melhorar o desenvolvimento do programa.

Os monitoramento é feito pelo Gerente do Centro e Sistema Operacional fazer Proteção da Amazônia (Censipam, SIPAM / MD) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), informando sobre as áreas florestais do país. Este aspecto pode ser visto como um fracasso para outros ecossistemas das unidades, como é o caso da RESEX - PCV, cujo ecossistema prioritário a ser monitorado, tanto no mar quanto nas áreas de praia. Por fim, para a gestão financeira do Bolsa Verde existe a Caixa Econômica Federal, em que se faz o uso do cartão existente do Bolsa Família, ao qual é adicionado um adesivo para identificar a inclusão no programa.

A Medida Provisória 535, de 02 de junho de 2011, antes de ser convertida em Lei teve 77 emendas na comissão da Câmara, das quais se ressalta, por um lado, a necesidade de maior inclusão da população, através de áreas estaduais, reservas legais nas propriedades e outras comunidades tradicionais no Brasil. Como também, a necessidade de incluir não somente a conservação, mas a sua restauração. Resalta-se, também, a ênfase que alguns congresistas queriam propor, no sentido do pagamento por serviços ambientais, para evitar o desmatamento. Como por exemplo na emenda No 2 "art.1 institui o Programa de assistência aos povos da floresta - Programa renda Verde- destinado a compensar os serviços e produtos ambientais prestados pelos povos da floresta" e mais adiante o art. 2, item 3 “serão definidos em regulamento o valor dos serviços ambientais prestados”. Também com a criação de um “Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável” constituído por recursos públicos e privados para participar do programa. Outra enmenda a No 3, na mesma direçao apunta: “promover o pagamento por seviços ambientais em areas de preservaçao permanete e/ou reserva legal, com ate cuatro modulos fiscais” justificada na definiçao dos serviços ambientas na forma do MEA, 2005, e procurando o mesmo da Costa Rica, quem “implementa a cobrança de uma taxa sobre a gasolina destinando recursos para a proteçao das florestas daquele pais”. Segundo Viana, (2014, p.39) o “Bolsa Verde tem potencial para ser um

relevante programa de retribuição por serviços de conservação em âmbito federal no país, com o objetivo de incluir até 2014 cerca de 73 mil famílias melhorando suas condições sociais ao mesmo tempo em que mantém as florestas em pé.”

A primeira fase do programa foi em 2011, incluindo 17.000 famílias dos nove estados que compõem a Amazônia brasileira (33 unidades de conservação e 140 projetos ambientalmente diferenciados na Amazônia, que tem uma área total de 11,3 milhões hectares). A segunda etapa começou em 2012 e incluiu outras áreas do país. Segundo Viana (2014), entre outubro de 2011 e setembro de 2013, o valor total desembolsado pelo programa atingiu R $ 69.047.700 e impactou 44.388 famílias. O maior número de beneficiários é nas áreas geridas pelo INCRA (assentamentos), com 23.398, seguido pelo ICMBio (unidades de Conservação de uso sustentável) com 19.875, e, finalmente, o SPU (riberinhas famílias), com 4.860 beneficiários. Em relação ao tipo de bioma, existem 51 áreas florestais com 17.550.809 ha, comparadas a 19 nas narinas com 885.657,15 ha.

Especificamente no estado do Ceará existem 100 beneficiários na RESEX do Batoque e 57 na RESEX Prainha do Canto Verde; pequeno número comparado com os beneficiários na Amazônia brasileira. Como mostra a Tabela 11, metade dos beneficiários tinha apenas dois anos de incentivo, devido a verificações em relação à receita recebida e cruzamento com outros incentivos governamentais.

Tabela 11. Participação na Bolsa Verde na RESEX - PCV

RESEX Prainha do Canto Verde 2012 2013 2015 2016 SALIERON 100 44 10 2 50 Fonte: ICMbio, 2017

6.2.1.2 Bolsa Verde na RESEX Prainha do Canto Verde

Pode-se dizer que o incentivo do Bolsa Verde atua efetivamente na valorização das atividades tradicionais da RESEX Prainha do Canto Verde. Com relação a isso, os resultados do questionário realizado na comunidade nos levam a duas conclusões. A primeira é que o valor concedido (R $ 300 a cada três meses), embora seja pouco, significou um incentivo para aceitar as novas regras e o novo ator institucional que ingressou com a formação em reserva extrativista. No mesmo sentido, foi um apoio contra a nova associação, que, como discutido no capítulo 1, procurou desestabilizar a Associação de moradores,

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