• Nenhum resultado encontrado

2.2 AGENDA 21, DO COMPROMISSO GLOBAL À ESCOLA LOCAL

2.2.3 Programa Construindo a Agenda 21 Escolar

O programa Construindo a Agenda 21 Escolar (PARANÁ, 2006), objeto desta pesquisa, foi elaborado no âmbito do Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas. Resulta de termo de cooperação técnica-financeira celebrado em 2004 entre a Secretaria de Estado da Educação do Paraná e a Companhia de Saneamento do Paraná. Entre os objetivos do termo de cooperação (SILVEIRA, 2010, p. 14) constam:

Qualificar professores da rede estadual de educação para o desenvolvimento de programas e projetos alinhados aos objetivos da Agenda 21 Global, focados na participação e controle social como ferramenta para mudança da realidade local, em especial dos recursos hídricos. [...] Incentivar as escolas da rede estadual de ensino a produzirem suas próprias Agendas 21 escolar, para nortearem as ações locais relacionadas a microbacia onde a escola está inserida [...].

A elaboração e implementação das Agendas 21 Escolares no Paraná ocorreu de forma concomitante à realização dos cursos de formação para os profissionais da educação, em três etapas (PARANÁ, 2006, p. 11) como segue.

A primeira etapa foi realizada em 2005, na modalidade presencial, e contou com 40 horas de carga horária. Participaram 1.019 profissionais da educação (professores, pedagogos e diretores) indicados pelos seus respectivos estabelecimentos de ensino, 89 técnicos da Companhia de Saneamento do Paraná e mais de 1.000 alunos. Esta etapa teve como objetivo o aprofundamento teórico sobre a temática envolvida.

Realizada em 2005 e 2006, a segunda etapa contou com 40 horas na modalidade à distância. Estiveram envolvidos 927 profissionais da educação – preferencialmente os que haviam participado da primeira etapa – com objetivo de elaborar a Agenda 21 Escolar dos seus respectivos estabelecimentos de ensino.

A terceira e última etapa foi realizada em 2006 com 40 horas presenciais, não tendo sido divulgado o número de participantes. Além de aprofundamento teórico, nesta etapa foi realizada a troca de experiências entre os profissionais da educação que participaram do processo de construção das Agendas 21 Escolares.

Em 2007 ocorreram eventos denominados Construindo e/ou Implementando

com carga horária de 16 horas, tendo como objetivo realizar aprofundamento teórico sobre a temática. Tais eventos ocorreram nas cidades-pólo de Apucarana, Dois Vizinhos, Curitiba, Ibaiti, Irati e Umuarama, totalizando 654 participantes. Novamente estes participantes foram indicados pelos estabelecimentos de ensino, não sendo necessariamente os mesmos que haviam participado da capacitação inicial, entre 2005 e 2006.

O programa Construindo a Agenda 21 Escolar resultou, de acordo com documento da Companhia de Saneamento do Paraná (SILVEIRA, 2010, p. 15), na elaboração de 546 Agendas 21 Escolares em estabelecimentos de ensino de todo o estado.

A definição de Agenda 21 Escolar adotada neste programa (PARANÁ, 2006, p. 9) não difere daquelas já observadas, sendo esta considerada “um processo em que a comunidade escolar procura o consenso na preparação de um Plano de Ação para melhorar a qualidade de vida do meio escolar”.

Quanto à fundamentação teórica, o documento de referência do programa

Construindo a Agenda 21 Escolar (PARANÁ, 2006), elaborado pela Coordenação de

Estudos e Pesquisas Educacionais da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, cita a Rio 92, as Agendas 21 Global, Brasileira, Paraná – à época em processo de construção – e a Local, além do modelo de Desenvolvimento Sustentável.

No entanto, o mesmo (PARANÁ, 2006, p. 10-11, grifo do autor) informa que: Apesar da Agenda 21 Global ter sido elaborada em meio à ascensão do neoliberalismo no Brasil, não é com essa concepção que a Agenda 21 Escolar está sendo implantada no estado do Paraná, e sim com a finalidade de reunir os vários atores que compõem a escola (professores, alunos, direção, equipe pedagógica, pais, funcionários e moradores das imediações da escola), reconhecendo que a escola tem papel, numa sociedade

solidária e justa, de formar um cidadão crítico, participativo e transformador.

Assim, embora o programa tenha assumido os postulados do Desenvolvimento Sustentável – um modelo que, como visto, não promoveu as mudanças ambientais, sociais e econômicas para as quais foi proposto – reconhece a escola como elemento de transformação da sociedade, através da ação dos cidadãos nela formados.

Quanto à área de abrangência da Agenda 21 Escolar, ocorre uma divergência nos documentos dos órgãos parceiros. Enquanto para a Secretaria de

Estado da Educação esta corresponde aos “meios de influência da escola, tanto nos seus próprios recintos quanto no meio familiar e social, onde tal influência é exercida” (PARANÁ, 2006, p. 9), para a Companhia de Saneamento do Paraná esta é delimitada à microbacia na qual a escola está localizada (SILVEIRA, 2010). Esta divergência pode ter como causa a perspectiva de cada órgão, decorrente de seu campo de atuação.

O documento da Secretaria de Estado da Educação (PARANÁ, 2006, p. 11) indica temas que podem ser abordados pela Agenda 21 Escolar. Na esfera pedagógica, a aquisição de conhecimento e a redução da evasão; na esfera ambiental, a diminuição da geração de resíduos e do desperdício de água, alimentos e material de consumo, além do esgoto sanitário.

Para a elaboração da Agenda 21 Escolar são indicados cinco passos (PARANÁ, 2006, p. 15), a saber: criação do fórum da Agenda 21 Escolar com membros da comunidade escolar, poder público e moradores das imediações da escola; busca da participação pública nas reuniões do fórum; realização de diagnóstico para identificação de problemas; elaboração de plano de ação com soluções para os problemas diagnosticados; implementação do plano de ação.

O documento de referência do programa Construindo a Agenda 21 Escolar (PARANÁ, 2006, p. 16-20) apresenta um formulário-modelo, que serve como guia para o processo de elaboração da Agenda 21 Escolar, organizado em 13 ítens que podem ser reunidos em três grupos.

O primeiro é integrado pela identificação do estabelecimento de ensino, a quantificação dos participantes por área de atuação (professores, alunos, equipes técnico-pedagógica e administrativa, serviços gerais, pais e sociedade civil organizada) e o registro das reuniões realizadas.

O segundo grupo serve à realização de diagnóstico da comunidade, onde são levantados dados relativos aos recursos naturais, população ou recursos humanos, recursos econômicos, segurança pública, saúde, recursos da educação, prestação de serviços públicos, demanda socioeducativa (demanda de transporte, recursos financeiros etc) e os problemas do entorno da escola e sua influência na mesma. A partir desses dados deve ser elaborada uma caracterização da situação real da comunidade e outra, considerada ideal. Ao confrontar estas situações,

devem ser identificados os fatores que impedem que a situação ideal seja alcançada.

Constam do terceiro grupo a apresentação da problemática diagnosticada em sua relação com a Educação Ambiental, os objetivos geral e específicos, o plano de trabalho (atividades, metodologia e cronograma), o orçamento, as possibilidades de cooperação e a avaliação.

Algumas questões colocadas no final do documento (PARANÁ, 2006, p. 20) indicam a necessidade de vincular a Agenda 21 Escolar à prática pedagógica: “Como será a inserção da Agenda 21 Escolar no Projeto Político-Pedagógico da escola? [...] O conteúdo abordado contempla as DCEs [Diretrizes Curriculares Estaduais]?”.

Em 2009 foi iniciada uma experiência piloto, denominada Agenda 21 Escolar

Paraná, no município de Luiziânia (PARANÁ. Secretaria..., 2009b). Esta experiência

teve como objetivo a implementação da Agenda 21 Escolar como ação integrante do

Programa de Gestão Ambiental Integrada em Microbacias (PARANÁ, 2009).

Este programa, promovido pelo governo do estado do Paraná a partir de 2008, objetiva:

Melhorar a qualidade das águas no Paraná por meio da gestão ambiental integrada, incluindo o uso, manejo e conservação adequada do solo, da água e das florestas nos ambientes urbano e rural, promovendo a utilização correta das terras, conservação da biodiversidade, sustentabilidade dos meios produtivos e a melhoria da qualidade de vida (PARANÁ, 2009, p. 5). Para que tal ocorra, o referido programa busca integrar os diversos programas e projetos promovidos por diversos órgãos da administração estadual, tendo como foco principal a “melhoria da qualidade da água e solo e aumento da disponibilidade de água das bacias hidrográficas do Paraná” (PARANÁ, 2009, p. 8).

A implementação do programa é composta pelas seguintes ações:

Promoção/divulgação; organização das instâncias executivas e deliberativas; habilitação dos municípios e microbacias; diagnóstico; planejamento das microbacias; implementação propriamente dita dos trabalhos, acompanhamento e assistência técnica aos beneficiários; monitoramento e avaliação (PARANÁ, 2009, p. 14).

A microbacia, adotada como unidade de planejamento, tem seu tamanho delimitado entre 5.000 e 10.000 hectares e é definida como:

[...] uma área que contém uma porção de terras drenadas por uma rede de drenagem, a qual pode se constituir de um córrego ou rio principal e seus afluente. Esta unidade geográfica é limitada por divisores topográficos ou

divisores de água, os quais são as cristas das elevações do terreno que separam a água da chuva precipitada entre duas bacias adjacentes (PARANÁ, 2009, p. 20).

O programa estabelece como meta, até 2011, a implementação em 500 microbacias, prioritariamente aquelas que contribuem para mananciais de captação de água. Até 2022 deverão ser atendidas 3.600 microbacias, abrangendo então todo território paranaense.

A Educação Ambiental consta como etapa no plano de implementação do Programa de Gestão Ambiental Integrada em Microbacias, além de possuir um grupo de trabalho específico.

Em 2010, a partir da experiência realizada em Luiziânia, foram realizados encontros descentralizados denominados Implementação e Construção da Agenda

21 Escolar Paraná. Estes eventos ocorreram nas cidades pólos de Foz do Iguaçu,

Maringá e Curitiba, envolvendo representantes de 738 estabelecimentos de ensino, entre professores, alunos, agentes educacionais (funcionários das escolas) e membros das comunidades escolares, além de agentes ambientais municipais (CAPACITAÇÃO, 2009).

Nesta versão, a definição de Agenda 21 Escolar também não é diferente das já observadas:

[...] um instrumento de planejamento que requer o envolvimento da comunidade escolar em um processo de construção coletiva calcado no princípio de gestão democrática. Suas ações podem ser problematizadas a partir de diagnósticos que levem em consideração o cotidiano escolar, a estrutura da própria escola e do seu entorno (PARANÁ, 2010, grifos do autor).

Embora nesta definição os diagnósticos sejam elaborados a partir da a escola e seu entorno, mais adiante a área de abrangência da Agenda 21 Escolar é estabelecida como “a microbacia hidrográfica na qual a escola está inserida e gera

impacto” (PARANÁ, 2010, grifos do autor).

A fundamentação teórica cita as conferências da Organização das Nações Unidas em Estocolmo (1972), Rio de Janeiro (1992) e Johannesburgo (2002), o relatório Nosso Futuro Comum e o modelo de Desenvolvimento Sustentável, além das Agendas 21 Global, Brasileira, Paraná e Local.

Para a elaboração e implementação da Agenda 21 Escolar são apontados cinco passos: mobilização (motivação e reflexão); criação do Fórum Permanente de

Discussões; diagnóstico; Plano de Ações; Avaliação/Acompanhamento/(Re)visão. (PARANÁ, 2010).

O roteiro para pré-diagnóstico, adaptado do Programa de Gestão Ambiental Integrada em Microbacias, apresenta seis ítens (PARANÁ, 2010). O primeiro é a identificação da microbacia com sua denominação, município de localização e rio principal.

No segundo ítem é feita a caracterização do meio antrópico, com dados relativos à ocupação histórica (etnia), população por faixa etária, saúde (doenças existentes), educação (escolaridade) e estruturas viária, comerical e industrial.

A caracterização dos meios físico e biológico é realizada no terceiro e no quarto ítens: clima, geomorfologia, geologia, pedologia, hidrogeologia, cobertura vegetal original e atual, remanescentes florestais, áreas de preservação permanente e reserva legal, fauna original e atual. O quinto ítem é destinado ao uso do solo, se urbano, agrícola ou outro.

No sexto ítem é feita a caracterização escolar, através da análise da estrutura da escola: iluminação, espaços, banheiros, laboratórios, adaptabilidade e acessibilidade e espaços verdes, entre outros.

Ainda no diagnóstico, é apontada a necessidade de que os temas tratados pela Agenda 21 Escolar estejam presentes nos Planos de Trabalho Docente – elaborados pelos professores para organizar e nortear o trabalho pedagógico –, através dos conteúdos a serem desenvolvidos.

Documentos relacionados