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Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB)

3 AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ENADE E

3.1 Evolução histórica da Avaliação do Ensino Superior no Brasil

3.1.2 Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB)

Para uma melhor compreensão do PAIUB, será abordado o que aqui se denomina de sua ‘Fase Intermediária’, a qual é reconhecida pela presença de dois importantes movimentos: Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (CNRES) e Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (GERES).

3.1.2.1 Fase intermediária: Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (CNRES) e Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (GERES)

O fim do Governo Militar para o início do Governo Civil, fez com que o PARU, que se iniciara em 1983, não tivesse espaço para prosseguir. Assim, em janeiro de 1985, com o advento da posse de José Sarney, o PARU mal tinha começado quando houve a mudança não apenas de Governo, mas de um Governo Militar para um Civil, apenas dois meses após posse de Sarney em janeiro 1985, estaria sendo feita a transição para uma nova política no Ensino Superior.

O Decreto n.º 91.177, de 29 de março de 1985, criou a Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (CNRES), a teve como objetivo oferecer subsídios à formulação de uma nova política para a educação superior brasileira (BRASIL, 1985a). De acordo com CNRES (BRASIL, 1985b), já em novembro deste mesmo ano, foi publicado o relatório final do trabalho da comissão, intitulado Uma nova política para a educação superior brasileira.

No que concerne ao conteúdo do relatório da CNRES, segundo Barreyro e Rothen (2008), observou-se a defesa em prol de maior autonomia universitária para a superação da crise na universidade brasileira e, para acompanhar este aumento de autonomia, o relatório sugeriu avaliações externas, baseadas no mérito acadêmico. Observa-se aqui a presença de elementos conceituais de Scriven estudados no item 2.1.2 deste trabalho, que defendeu que a atribuição do mérito do objeto avaliado se desse com base em uma lista de critérios.

Mesmo perante a defesa do aumento da autonomia universitária, o caráter controlador e regulatório que já se encontrava vinculado aos processos avaliativos das Instituições de Ensino Superior (IES), consoante o relatório da CNRES era incompatível com o aumento da autonomia universitária defendida. Foi privilegiada a semente dos aspectos controladores e regulatórios da avaliação externa e, em razão disso, o aumento da autonomia universitária acabou não sendo implementado.

Segundo Barreyro e Rothen (2008), do relatório do CNRES, podem ser extraídos sete princípios:

a) Responsabilidade do poder público: embora o documento reconheça que não cabe, necessariamente, ao Poder Público realizar, por si, as atividades inerentes ao sistema de educação superior, dada a relevância destas atividades, a ele compete financiar e zelar pela qualidade deste sistema;

b) Adequação à realidade do país: partia da premissa de que as IES não preparavam os alunos para o mercado e que as pesquisas acadêmicas tinham pouca utilidade social ou econômica;

c) Diversidade e pluralidade: tinha em vista que as IES deveriam ter modelos organizacionais e institucionais mais adequados aos objetivos e vocações das referidas instituições;

d) Autonomia e democracia interna: autonomia administrativa, didática e científica, em todos os níveis organizacionais das IES, e não apenas na Administração Superior. Autonomia não como um fim em si mesma, mas sim em prol do Ensino Superior. À IES, como retribuição desta autonomia, deveria apresentar um desempenho que atendesse às demandas sociais;

e) Democratização do acesso: em decorrência da melhoria da educação do primeiro e segundo graus (a partir de 2010, Ensino Fundamental e Médio, respectivamente) e pela criação de outras modalidades de ensino, em vez de uma expansão indiscriminada, consoante os modelos acadêmicos tradicionais; f) Valorização do desempenho: introdução do critério da meritocracia na

avaliação das IES, em substituição aos controles formais e burocráticos, até então vigentes; e

g) Eliminação dos aspectos corporativos e cartoriais: os Conselhos regulamentadores das profissões, cuja atuação dificultava a flexibilização dos currículos, passariam a desempenhar papéis menores, para não comprometer a autonomia das IES.

Em síntese, consoante o relatório da CNRES (BRASIL, 1985b) o desempenho das instituições seria o requisito para o aumento da autonomia, e o controle deste desempenho dar-se-ia pela avaliação efetiva de seus pares, com base no mérito, e consoante esta avaliação, a Educação Superior seria financiada.

Como consequência do relatório da CNRES, em 1986 foi instituído o Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (GERES), com membros do MEC,

com a função de elaborar uma Reforma Universitária. Este grupo tinha o propósito de analisar o Relatório da CNRES, separando o que poderia ser imediatamente implementável do que precisaria de mais ampla discussão com a comunidade ou de expedição de normas para se tornar factível. Entre estas propostas, encontrava-se a ideia de uma “Agência de Avaliação” como responsável pela avaliação da Educação Superior.

O GERES (BRASIL, 1986b) reconheceu que as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) sujeitam-se a legislações que escapam ao âmbito estritamente educacional, o que finda por comprometer a autonomia das IFES e, por conseguinte, seu potencial de desempenho e que, no caso das IES do setor privado, os recursos para sua manutenção e expansão depende do sucesso do seu produto, de forma que, neste caso, os processos educacionais destas IES já estariam, de certa forma, sendo regulados pelo mercado. Por essas razões, o GERES priorizou as IFES.

Sob este enfoque, o relatório do GERES (BRASIL, 1986b) terminou não propondo uma grande reformulação na legislação de diretrizes e bases do Ensino Superior, deixando que isso ficasse a cargo da Assembleia Nacional Constituinte que discutia o texto do que viria a ser a Constituição Federal Brasileira de 1988. Com isso, o relatório do GERES (BRASIL, 1986b) trouxe as seguintes propostas: i) Projeto de Lei: dispôs sobre a natureza jurídica, a organização e o funcionamento dos estabelecimentos federais de ensino superior, e alterações nas disposições do Decreto-Lei n.º 200, de 25 de fevereiro de 1967 e outras providências; e ii) Anteprojeto de Lei: dispôs sobre a reformulação do Conselho Federal de Educação, suas finalidades e competência e outras providências.

Considerando a proposta original do GERES, o Governo Sarney conseguiu aprovar apenas: i) em 1986, textos na área da administração governamental (Decreto-Lei n.º 2.299/86, que alterou dois artigos do Decreto-Lei n.º 200/67); e ii) em 1987, uma mudança maior (Lei n.º 7.596/87, que trouxe modificações no Decreto-Lei n.º 200/67) (BRASIL, 1986a, 1987).

No que diz respeito à autonomia universitária, o GERES (BRASIL, 1986b) defendeu que a autonomia universitária deveria ser didática, administrava e financeira. Mais tarde, esta ideia foi implementada pela Emenda Constitucional no. 11/95, aprovando alterações no texto constitucional, na forma do art. 207 da Constituição Federal Brasileira de 1988.

Segundo Dias Sobrinho (2003 apud LIMA, 2005, p. 86),

O relatório do GERES antecipou em 10 (dez) anos a proposta do Exame Nacional de Cursos (ENC) e a Análise das Condições de Oferta (ACO), e depois Análise das

Condições de Ensino (ACE), como sendo o núcleo do modelo de avaliação representativo dessa lógica da eficiência e do atrelamento da educação ao projeto neoliberal.

Inobstante ao avanço retromencionado, a pretendida Reforma Universitária que se esperava não veio nem com o GERES nem após a Constituição Federal Brasileira de 1988. A revogação da Lei da Reforma Universitária de 1968 só ocorreu oito anos mais tarde, em 1996, no Governo Fernando Henrique Cardoso, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996.

Em síntese, a concepção avaliativa do GERES foi o controle do desempenho das IES, principalmente as públicas, já que, no âmbito das IES privadas, o mercado regular-se-ia naturalmente. Sob este prisma, considerando os modelos avaliativos estudados no item 2.1 do capítulo 2 deste trabalho, pode-se afirmar que, no documento gerado pelo GERES, são encontrados traços do modelo preconizado por Scriven, ao se avaliar para determinar o mérito, e do modelo Tyleriano, consoante o qual o desempenho é medido pelo grau de alcance dos objetivos.

3.1.2.2 Vigência do PAIUB

Em julho de 1993, no Governo Itamar Franco, tendo em vista a necessidade de retomada do debate sobre avaliação da Universidade Brasileira, uma nova Comissão foi criada, por meio da Portaria MEC n.º 130/93, que criou a Comissão Nacional de Avaliação das Universidades Brasileiras (CN), com o objetivo de estabelecer diretrizes e viabilizar a implementação do processo de avaliação institucional nas universidades brasileiras.

Diferentemente das comissões anteriores, formada exclusivamente por especialistas, desta vez, a CN era formada por representantes das seguintes instituições: Secretaria de Educação Superior (SESu); Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES); Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB); Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP); Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (ABRUEM) e dos Fóruns Nacionais dos Pró-Reitores de Graduação, Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação e Planejamento. A participação de representantes da ANDIFES, garantiu legitimidade política aos resultados dos trabalhos da comissão, facilitando a aceitação por parte das Universidades. A participação de vários interessados nos processos avaliativos conferiu a esse documento traços da avaliação responsiva defendida por Stake no item 2.1.3 deste trabalho,

Conforme Polidori, Marinho-Araújo e Barreyro (2006), o resultado do trabalho da CN foi publicado em novembro de 1993, por meio do Documento Básico – Avaliação da Universidade Brasileira: uma Proposta Nacional. No mês seguinte foi criada a primeira tentativa de implantar um sistema nacional de avaliação institucional para a educação superior no Brasil, denominado Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB).

A concepção avaliativa do PAIUB possuía características da avaliação formativa, dado o foco para a melhoria dos processos educacionais, bem como emancipatória, dado o foco para a autoavaliação. Essa concepção do PAIUB fundava-se nos princípios mencionados por Ristoff (1995), mencionados no item 2.3 deste trabalho. São eles: i) Globalidade; ii) Comparabilidade; iii) Respeito à identidade institucional (avaliação de contextos); iv) Não premiação ou punição; v) Adesão Voluntária; vi) Legitimidade; e vii) Continuidade. A defesa pela avaliação de contexto remete à semente dessa ideia defendida por Cronbach, no capítulo anterior.

Assim, consoante a avaliação nos molde do PAIUB deveria abranger todas as suas instâncias, bem como processos educacionais (globalidade); seus resultados deveriam permitir a viabilidade de comparação de uma IES com outra, bem como uma análise longitudinal da própria IES (comparabilidade), uma vez que, quando os contextos são bem diferentes de uma IES para outra o estudo comparativo de seus resultados diz menos do que a comparação dos resultados da própria IES ao longo do tempo, (daí a necessidade do Respeito à identidade funcional das IES). A avaliação sem consequências de premiação ou punição deveria representar um estímulo à adesão voluntária das IES aos processos de avaliação institucional, favorecendo, assim, a implantação de uma cultura avaliativa, contribuindo, portanto, para a revelação de dados os mais próximos possíveis da realidade do objeto avaliado, já que os resultados não levariam a IES a nenhuma premiação ou punição. E, por fim, o foco da avaliação formativa, pressupõe a continuidade da avaliação, de forma que a mesma pudesse contribuir permanentemente para a melhoria dos processos educativos.

Tem-se em Polidori, Marinho-Araújo e Barreyro (2006) que, inobstante o PAIUB ter dado uma contribuição relevante à filosofia da avaliação, com a identificação dos princípios norteadores da avaliação, o PAIUB não prosperou, porque foi perdendo o apoio do MEC, com reduções graduais de recursos destinados ao referido programa. Mesmo com a gradual redução do apoio pelo MEC, o PAIUB adentrou o governo Fernando Henrique Cardoso e recebeu novas adesões, por meio de editais, até 1996. Sua extinção não se deu

oficialmente, mas pela falta de financiamento, com a introdução de novas políticas para a avaliação do ensino superior em 1996, a serem estudadas no item seguinte deste trabalho.