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3.4.2 Questionários Iniciais

3.4.3. Programa de Intervenção

Concluída a fase inicial de avaliação de todas as educadoras e devolução dos protocolos, foi organizado junto com a coordenação das duas creches do grupo experimental o cronograma para realização do programa de intervenção. Trata-se de uma proposta voltada à formação teórica e prática das educadoras para adequado uso profissional da voz. O programa completo se encontra detalhado no Anexo 5.1. O princípio norteador foi a integração entre bem estar vocal e condições adequadas de trabalho.

O programa teve cinco encontros mensais que ocorreram nos cinco primeiros meses após o término dos procedimentos iniciais de avaliação.

O que se pôde estabelecer foi um encontro inicial mais extenso, com quatro horas de duração e quatro encontros mensais nos quatro meses seguintes, tendo cada um duração de duas horas, perfazendo total de 12 horas de trabalho.

A justificativa para este encontro inicial ser mais longo foi a necessidade de se abordar o conteúdo teórico mais geral, sendo este retomado mês a mês durante as práticas desenvolvidas. Além disso, pretendia-se aproveitar esse momento coletivo para rever a proposta de todo o trabalho e tirar as dúvidas das educadoras.

Para cada um dos quatro demais encontros, denominados encontros de seguimento, ficou estabelecida a quantidade de duas horas, por ser o máximo disponibilizado por uma das duas creches.

O número de encontros foi estabelecido de maneira que as avaliações iniciais e finais ocorressem em períodos de demandas semelhantes de trabalho. A partir desse critério, um número maior de encontros faria com que o acompanhamento ultrapassasse um ano, o que foi sinalizado pelas diretoras das duas creches conveniadas como algo preocupante devido à grande rotatividade de emprego dos funcionários. A saída de educadoras durante a pesquisa acarretaria uma indesejável perda de sujeitos, que poderia comprometer a análise dos dados do trabalho. Dessa maneira ficaram estabelecidos os cinco encontros mensais, o que possibilitou que a avaliação das educadoras ocorresse sempre em final de semestre.

A quantidade e distribuição das horas e a sistemática dos dias foram planejadas em conjunto com as equipes de coordenação das duas creches, a partir das suas rotinas e disponibilidades.

Os conteúdos abordados no programa foram selecionados com base em outros programas desenvolvidos (GRILLO, 2001; AOKI, 2002), assim como a partir dos achados iniciais deste próprio trabalho e do estudo anterior realizado com a mesma população (SIMÕES, 2001).

Os tópicos trabalhados nos encontros foram: processos de comunicação, produção da voz, psicodinâmica vocal, conceito de voz normal / voz adaptada / voz alterada, resistência e plasticidade vocal, comunicação não verbal / corpo e voz, importância do ouvir, principais distúrbios vocais que acometem os professores, possibilidades vocais / limites individuais, conceito de bem estar vocal / principais fatores positivos e negativos para a voz do professor, importância do espaço físico no uso adequado da voz, técnicas de favorecimento para projeção adequada da voz, vivências de exercícios de ressonância, respiração, articulação dos sons da fala, resistência vocal, vibração das pregas vocais e alongamento cervical.

Como mencionado, toda a parte teórica foi trabalhada principalmente no primeiro encontro e, depois, foram apenas retomados os conteúdos nos encontros de seguimento, sempre de maneira inter-relacionada à prática. Ao final de cada encontro, ficava combinado com as educadoras que estariam revendo suas práticas relacionadas ao uso da voz naquele mês, buscando torná-las mais positivas. Além disso, era solicitada a elas a prática diária dos exercícios trabalhados.

Em todos os encontros foram coletadas anotações das educadoras em relação ao tema que seria discutido ou de maneira a retomar tópicos trabalhados ou ainda para conhecer a opinião delas sobre determinado assunto que seria abordado no programa.

No primeiro encontro foi solicitado que escrevessem apenas uma palavra que pudesse representar sua expectativa quanto ao programa que se iniciava. Em seguida, deveriam escrever, usando no máximo dez palavras, a definição da voz ideal do educador. Não havia necessidade de se identificarem, pois o material foi explorado no mesmo momento em que entregaram. Ainda ao final desse mesmo encontro foi solicitado que escrevessem um compromisso de mudança, ou seja, que aspectos se comprometiam a mudar para melhorar o uso da voz no trabalho. Apenas nesse caso foi solicitado que se identificassem para que este material pudesse ser utilizado em outra situação.

No segundo encontro foi pedido que escrevessem que aspectos do encontro anterior gostariam de destacar e também quais práticas haviam tido para melhor uso da voz.

No terceiro encontro foram agrupadas em duplas e cada dupla deveria anotar o que fez de bom para sua voz no período.

No quarto encontro foram novamente solicitadas anotações quanto às práticas positivas para a voz no período.

No quinto e último encontro foi solicitado que as educadoras apresentassem verbalmente quais suas práticas positivas para o uso da voz no trabalho durante o último mês. Conforme elas iam falando, o assunto ia

sendo discutido e a pesquisadora fazia as devidas anotações. Em uma das creches puderam ser retomados os compromissos que estabeleceram no primeiro encontro e foi pedido a elas que sublinhassem o que realmente conseguiram mudar/praticar. Na outra creche essa atividade não pôde ser realizada por falta de tempo.

Nos encontros de seguimento, ou seja, do segundo ao quinto, foi solicitado às educadoras o preenchimento do protocolo de registro vocal (Anexo 5.2) o qual foi traduzido e adaptado de CHAN (1994).

Na proposta original, o registro do uso da voz foi diário na semana inicial e final de um programa realizado. As professoras que participaram do estudo anotaram o número de vezes em que catorze comportamentos relacionados ao uso da voz ocorreram, em três períodos distintos do dia (manhã, tarde e noite).

Caso fosse mantida no presente trabalho essa sistemática, haveria grande possibilidade de perda de dados, uma vez que o preenchimento diário, em três momentos distintos, poderia ser uma sobrecarga para as educadoras que têm uma rotina intensa, levando-as a não fazê-lo da maneira correta. Isso provavelmente comprometeria o resultado da pesquisa.

A adaptação realizada tornou o preenchimento mensal, no próprio dia do encontro, quando era solicitado que as anotações fossem feitas no protocolo como um recordatório daquela semana, indicando para cada comportamento: “não fiz”, “fiz um pouco” ou “fiz muito”. Após, era calculado para cada educadora, um escore geral e de cada comportamento, onde “não fiz”=0, “fiz um pouco”=1 e “fiz muito”=2, possibilitando uma variação de 0 a 28. A partir dos escores, foi feita comparação, utilizando-se o teste de Wilcoxon, entre os dados gerados mensalmente no programa de intervenção.

Foi mantido um diário dos encontros pela pesquisadora, com anotações feitas logo após o término de cada um deles. Essas anotações subsidiaram alguns comentários que aparecem no item 4.2 dos resultados (p.109), principalmente em relação ao cumprimento/descumprimento dos horários e motivação/desmotivação dos grupos. Em todos os encontros foram passadas listas de presença, para que a pesquisadora pudesse controlar a assiduidade das participantes.