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3 POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: O GOVERNO LULA E A ESTRATÉGIA SUL-SUL – PROGRAMAS FEDERAIS DE INCENTIVO À COOPERAÇÃO

3.2 PROGRAMAS E PROJETOS DO GOVERNO FEDERAL VOLTADOS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR

3.2.1 Programa de Mobilidade Acadêmica Regional para Cursos Acreditados

O Programa de Mobilidade Acadêmica Regional para Cursos Acreditados – MARCA - foi desenvolvido pelo setor educacional do Mercosul. Ainda que não tenha sido criado pelo Governo Brasileiro, sua implementação foi resultado da intensificação das relações políticas, comerciais e sociais do bloco regional. É um programa voltado para os membros e associados do Mercosul, criado em 2007, e tem média semestral de duração. O Marca é voltado apenas para os cursos creditados pelo Sistema de Acreditação Regional de Cursos Universitários do Mercosul e Estados associados (ARCU-SUL), que é um esquema comum de acreditação baseado em critérios de qualidade previamente acordados entre especialistas acadêmicos dos países que participam do Programa no Brasil, o ponto focal do Programa é gerenciado pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC, e contempla algo em torno de 27 Universidades.16 Assim como o Mercosul trata de assuntos políticos gerais, a educação no bloco sul do continente americano também tem direcionamentos que favorecem o intercâmbio de conhecimentos entre os países membros, bem como o estreitamento das relações sociais entre seus povos.

No âmbito do Sistema ARCU-SUL, acreditação é o resultado do processo de avaliação por meio do qual é certificada a qualidade acadêmica dos cursos de graduação, estabelecendo os critérios de qualidade previamente aprovados no âmbito regional para cada diploma. Importante salientar dois pontos: o respeito às legislações nacionais de cada Estado e a dificuldade de trânsito dos profissionais mesmo após o reconhecimento qualitativo da formação. Ainda que se reconheça a importância do respeito às Leis de cada Estado, não é possível continuar com a restrição de mobilidade profissional. Se existe acreditação, que ela seja o motor propulsor da integração efetiva. Isso é uma contradição no programa que reconhece a qualidade do ensino, mas não viabiliza a atuação profissional dos alunos ali inseridos.

Sem entrar no mérito político e social dos entraves do Mercosul, cabe apresentar o programa levando em consideração a dificuldade de continuidade dessas iniciativas. Esse programa não é muito divulgado, e muitos alunos e professores desconhecem as possibilidades de atuação acadêmica e científica entre os países do Mercosul, dentro e fora das salas de aula. Além 16 http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=13454:acr Acesso em: 04 ago. 2015.

disso, é fundamental compreender que um acordo que não viabiliza a atuação profissional do estudante no país após a sua formação não está focado, em sua plenitude, nas três funções sociais da Universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão. Afinal, como imaginar a academia desconectada da atuação profissional dos alunos? Se existe um interesse de aproximação entre os Estados, que seja criada uma alternativa para que ele seja efetivo e coerente com a educação comum que está se propondo para os seus cidadãos. De acordo com o Ministério da Educação e Cultura, o termo

“Acreditação” aqui é utilizado especificamente no âmbito do Mercosul e diferenciado dos termos “credenciamento”, que se refere a procedimento de autorização de funcionamento de instituição de educação superior no sistema brasileiro e “reconhecimento de curso” que se refere a um procedimento legal também do sistema nacional. Através do ato de acreditação, Estados membros e associados do Mercosul reconhecem mutuamente a qualidade acadêmica dos títulos ou diplomas outorgados por Instituições Universitárias, cujos cursos de graduação tenham sido acreditados conforme o Sistema ARCU-SUL, durante o prazo de vigência que estabelece o documento emitido pela respectiva Agência Nacional. O reconhecimento da qualidade acadêmica dos títulos ou diplomas de grau universitário que venha a ser outorgado em decorrência dos procedimentos ARCU-SUL não outorga, em si, direito ao exercício da profissão nos demais países.17

Com base nesses princípios e visando a articulação democrática entre os países, o Sistema ARCU-SUL na estrutura do Setor Educacional do Mercosul funciona da seguinte forma: as Agências Nacionais de Acreditação, órgãos executivos do Sistema ARCU-SUL, organizam-se como uma Rede que cria suas próprias regras de funcionamento e adota decisões por consenso. A Rede de Agências Nacionais de Acreditação (RANA), dentro do Setor Educacional do Mercosul, está ligada diretamente à Comissão Regional Coordenadora de Educação Superior, como se descreve na Figura 1.

Figura 1 – Estrutura ARCU-SUL

17 http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=13454:acr

Reunião de Ministros da Educação (RME)

CCR Educação Básica CCR Educação Tecnológica Comissão Regional Coordenadora de Educação Superior RANA Rede de Agências Nacionais de Educação CCR Formação Comitê Coordenador Regional (CCR)

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Fonte: http://arcusul.mec.gov.br/index.php/pt-br/estrutura

Ainda que tenha como alternativa os programas de dupla diplomação, o Programa Marca enfrenta também alguns problemas na área de revalidação, o que o impede de ampliar suas atividades com maior efetividade. Isso se deve a divergência das grades curriculares, e ao fato de que não existir algo, sequer parecido, com o Protocolo de Bolonha na América do Sul. A Declaração de Bolonha é um documento conjunto acordado pelos Ministros da Educação dos países europeus que estabelece, desde 1999, políticas comuns e equivalências curriculares nos sistemas de ensino dos Estados da União Europeia. As dificuldades enfrentadas pela inexistência de efetiva integração acadêmica na América do Sul não apenas dificultam como atrasam os processos de evolução socioeconômica para os países que fazem parte do Bloco.18 Por ser um programa de mobilidade, entende-se que ele é interessante por ampliar as possibilidades de intercâmbios entre alunos, professores, pesquisadores e coordenadores dos países do Mercosul. Entretanto, para o que se entende como promoção efetiva de integração, ainda está longe de ser eficaz. É necessário algo mais amplo e mais unificador para isso. O Marca pode ser um dos caminhos, mas ainda precisa de outros elementos para que seja considerado um elo real para a integração acadêmica sul americana.