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Programa de Tratamento com Agonista Opiáceo – Cloridrato de Metadona

No documento Relatório de estágio (páginas 110-116)

Agonista Opiáceo –

Cloridrato de Metadona

PROGRAMA DE TRATAMENTO AGONISTA OPIÁCEO

O principal âmbito de intervenção das Equipas de Tratamento (ET) é o tratamento e a redução de riscos e minimização de danos. Neste contexto, o Programa de Tratamento Agonista Opiáceo (PTAO) assume particular relevância.

Estes tipos de programas “visam que o uso ilícito de um opiáceo de rua ou outro opiáceo, por um doente dependente, seja substituído pela administração de um fármaco opióide de prescrição médica, agonista total ou parcial (por ex. Metadona ou Buprenorfina). Assim se poderá facilitar o abandono ou a redução do consumo ilícito e diminuir os riscos e danos associados ao consumo de risco” (Instituto Da Droga E Toxicodependência, Instituto Público,

2006: 6)

O PTAO tem como principais objectivos:

“- Suspender a dependência do opiáceo de rua ou o mau uso de outro opiáceo; - Reduzir os problemas psico-sócio-sanitários associados ao consumo;

- Melhorar a qualidade de vida dos utilizadores dos Programas; - Favorecer a integração sócio-familiar;

- Fomentar mudanças de estilos de vida;

- Facilitar a continuidade e permanência nos programas de tratamento e reinserção”

(Idem: pg.7).

Existem vários agonistas opiáceos, mas a Metadona assume-se como o mais vulgarmente utilizado. Em Portugal, os programas de substituição com Metadona iniciaram-se no Porto, em 1978.

O Cloridrato de Metadona (solução oral a 1%) é um opiáceo narcótico sintético de longa duração, que apresenta resultados satisfatórios no tratamento da toxicodependência, nomeadamente por heroína. Apesar das suas vantagens terapêuticas, esta substância pode causar tolerância e dependência física e psicológica, daí que seja fundamental um rigoroso controlo terapêutico. Pode ainda desencadear depressão respiratória, a depressão circulatória, o choque, entre outros. As reacções adversas mais frequentemente observadas incluem: tonturas, sedação, transpiração, náuseas e vómitos.

Para um utente integrar o PTAO é necessário que preencha um ”Contrato de Admissão no Programa de Substituição com Agonistas Opiáceos”, onde consente a administração da Metadona e se compromete a reunir um conjunto de condições e a cumprir algumas regras, entre elas:

“- Consulta médica periódica.

- Consulta de enfermagem periódica. - Acompanhamento sócio-familiar periódico.

- Consulta psicoterapêutica (individual / grupo) regular, no mínimo mensal. - Controlo analítico geral de 6 em 6 meses.

- E.C.G. e Rx Tórax anuais

- Pesquisa de metabolitos urinários sempre que a equipa técnica julgar necessário. - Avaliação médica e psicossocial cada 6 mês.

- Co-responsabilização de um familiar / tutor ao longo de todo o programa (inclui realização de avaliação semestral).

- Obrigatoriedade de o utente avisar, com pelo menos 5 dias úteis de antecedência, da deslocação para localidades fora do âmbito da ET onde se encontra inscrito” (Idem: 15).

As tomas do Cloridrato de Metadona podem ser presenciais (deslocação diária ao local de administração para as tomas, salvo situações justificadas e dependentes da decisão da equipa terapêutica) ou não presenciais [domiciliárias] (“depois de o tratamento estar estabilizado,

verificando-se a abstinência de drogas há pelo menos três meses e estando o utente a trabalhar, a equipa terapêutica pode autorizar que passe a levar doses para tomar em casa”,

vindo à ET uma ou duas vezes por semana). (Ibidem)

Consoante o grau de exigência, podem-se considerar três níveis diferentes de PTAO:

 O PTAO de Alto Limiar de Exigência:

“visa a abstinência de heroína e de outras substancias psicoactivas e está integrado num programa mais amplo de seguimento médico, psicológico e social. A admissão em programa implica um contrato terapêutico e a realização de análises toxicológicas periódicas; pode prever penalizações no caso de haver consumos de drogas” (Idem: pg.8), onde se inserem os utentes seguidos

na ET.

 O PTAO de Baixo Limiar: “promove o contacto regular com o utente através da

permanência deste no programa, procura que este contacte outros serviços sócio- sanitários e abandone as práticas de risco; quando mais estável deve transitar para outro tipo de intervenção mais estruturada” (Ibidem). Este nível de PTAO enquadra-se

numa intervenção no âmbito da Redução de Riscos e Minimização de Danos, como é o caso das Equipas de Rua.

 O PTAO de Objectivos Intermédios, “em que a prioridade se centra mais na

readaptação pessoal e social do utente do que na abstinência total; combina aspectos dos anteriores. Quando mais estável deve transitar para outro tipo de intervenção mais estruturada” (Ibidem).

O PTAO deve ter uma duração de 1 a 3 anos, mas este período pode ser ajustado conforme as características do utente. A dose administrada vai diminuindo progressivamente com

“periodicidade semanal, quinzenal ou mensal, até zero. A fase final pode ter lugar já durante o internamento numa comunidade terapêutica ou, quando houver premência, pode ser acelerada mediante um internamento de dez dias numa Unidade de Desabituação para terminar o agonista. É muito aconselhável que se mantenha o apoio e acompanhamento psicossocial após a alta do PTAO” (Idem: p.14).

Ao longo deste Estágio na ET de Braga tive a oportunidade de observar e participar no PTAO e constatei que este programa é, de facto, de grande importância, visto que a maioria do tratamento instituído na ET passa por ele.

Quando um utente inicia o PTAO realiza-se o acolhimento, que integra uma consulta de enfermagem programada, onde a equipa de enfermagem faz a observação do utente e o orienta relativamente ao tratamento de substituição.

Quando o utente inicia o tratamento na ET de Braga, realiza tomas diárias de Metadona na instituição e testes periódicos de detecção de metabolitos na urina. Se passados 3 meses desde o início do tratamento, o utente se mantiver abstémico e estiver a trabalhar é possível começar a levantar doses semanais para toma domiciliária, se tal for aceite após a apresentação do caso em reunião clínica, com todos os profissionais da equipa terapêutica.

A dispensa de Metadona é realizada através do programa informático Medidos®, que permite aceder aos dados e história clínica do doente, bem como às prescrições médicas. Neste programa são ainda registados dados importantes como as datas das consultas e os resultados dos testes à urina, entre outros. Daquilo que me foi possível experimentar neste programa, percebi que a sua utilização é relativamente fácil e que os dados ficam organizados, sendo bastante acessível a sua pesquisa.

Na minha perspectiva, para o PTAO ter resultados efectivos é necessário assentar numa base de confiança mútua e sinceridade, o utente deve confiar na equipa técnica e no seu tratamento e a equipa deve confiar no empenho do utente.

Durante o meu estágio observei algumas situações em que os utentes admitiam o consumo de forma franca e outras, em que apesar da confrontação com os resultados dos testes de detecção de metabolitos na urina, os utentes negavam os consumos. Alguns utentes tentam

física da sala de realização dos testes é possível ao Enfermeiro vigiar todo o processo, pelo que estas situações são detectadas e muitos dos doentes que são confrontados negam e ficam mais agressivos, tendo o Enfermeiro que gerir bem estas situações.

A alguns utentes que estão inscritos no PTAO são administrados antipsicóticos em solução juntamente com a Metadona sem estes terem conhecimento. Esta situação fez-me pensar sobre as questões éticas envolvidas nesta situação. Na minha perspectiva, muitos destes utentes iriam recusar-se à realizar esta medicação, pelo que só deste modo é possível controlar os sintomas psicóticos que alguns desenvolvem associados aos consumos e à comorbilidade que muitos deles apresentam. Assim, parece-me que aqui se aplica o princípio ético da beneficência.

Deste modo, com este estágio ficou notória para mim a importância do PTAO, junto da população toxicodependente.

BIBLIOGRAFIA

INSTITUTO DA DROGA E TOXICODEPENDÊNCIA – “Normas Orientadoras De Programas Terapêuticos Com Agonistas Opiáceos”. [Em linha]. Lisboa: Departamento de Tratamento, Redução de Danos e Reinserção, Outubro 2006. 42p. [Consultado em 29 de Abril de 2011]. Disponível em URL:http://www.idt.pt.

ANEXO IV – Artigo e

No documento Relatório de estágio (páginas 110-116)