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Experiências da Educação Física na formação e na atuação no Sistema Único

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO

A formação profissional representa uma das principais priori- dades na agenda da saúde, sendo intensificados, nas últimas dé- cadas, os investimentos interministeriais acerca da qualificação dos recursos humanos e sua consonância com as necessidades emergentes do modelo de saúde do SUS. A integração entre en- sino e serviço e a prática interdisciplinar são apontadas como es- tratégias primordiais para a mudança na formação profissional e no alinhamento entre as expectativas e possibilidades de atuação

do profissional na área da saúde.

A participação da união na ordenação da formação de recursos humanos na área da saúde está regulamentada pela Constituição Federal do Brasil de 1988, em seu artigo 200 e, posteriormente, pela Lei nº 8.080/90 que regulamentam o SUS. Iniciativas con- juntas do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação vêm concretizando esta premissa com ações estratégicas implemen- tadas, tais como as Diretrizes Curriculares Nacionais (DNC), o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), o Unasus, Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS) e o PET-Saúde, com as finalidades de reorientar os processos formativos, a atenção à saúde e a produção de conhe- cimento em saúde no Brasil. Para concretizar estas estratégias necessita-se de uma articulação interinstitucional, nas diversas esferas de gestão de serviços e de formação em saúde (Brasil, 2005b).

Neste contexto, destacamos o Pró-Saúde, parceria entre o Mi- nistério da Saúde e o Ministério da Educação, visando à integra- ção ensino, serviço e comunidade, concernindo as Instituições de Ensino Superior, a reformulação da estrutura curricular dos cursos de graduação em saúde, enfatizando a APS e a abordagem integral da saúde como eixos primordiais na formação (Brasil, 2006).

A partir desta perspectiva, o acadêmico, já na formação inicial, terá oportunidade de adquirir competências fundamentais para a sua intervenção profissional, acrescentando, ao processo concei- tual e teórico, a vivência no campo de trabalho em APS. Baseado nessa concepção posteriormente foi implementado o Programa de Educação para o Trabalho pela Saúde / PET-Saúde, cujo pres- suposto concerne em desenvolver o processo educativo, a partir

da iniciação ao trabalho, por grupos de aprendizagem tutorial em áreas estratégicas do SUS (Brasil, 2008b). Esta oportunidade de aproximação entre os conhecimentos e sua aplicabilidade na realidade social, visa qualificar o serviço do profissional de saúde e aproximar a produção do conhecimento científico das necessi- dades dos serviços.

Os cursos de Educação Física encontram nesta proposta uma impulsão positiva para reorientação e qualificação da formação do profissional. A inserção da Educação Física na saúde tem sido crescente, via programas e políticas públicas, sendo assim, repensar a formação não seria meramente uma necessidade, mas uma prioridade, para garantir a valorização, permanência e ampliação das possibilidades de inclusão da categoria na saúde coletiva e, consequentemente, a qualificação da atenção à saúde.

Em Florianópolis, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vêm estabele- cendo aliança e diálogos coletivos acerca da formação em saúde desde a década de 1970, a partir dos cursos de Enfermagem e Medicina, devido ao fomento de atividades de experiência práti- ca em comunidades e serviços de saúde do Município. Em 1983, esta relação foi fortalecida pela criação do Programa de Articu- lação Docente Assistencial (PDA), organizado com Colegiado Gestor e Colegiado Técnico, formalizado em convênio entre as instâncias.

A partir de 2005, diante da relevância da questão que envolve a formação de recursos humanos para a saúde, estabelecere-se me- tas para trabalhar as especificidades relacionadas à organização do PDA. Em 2006, institui-se uma comissão interinstitucional SMS/UFSC para reorganizar o processo de integração ensino serviço. Por conseguinte, é constituída a Rede Docente Assisten-

cial (RDA), com diretrizes estabelecidas através de um regimento interno. Rede no sentido de envolver todas as unidades de saúde municipais como potenciais campos de prática para formação dos estudantes e residentes. Visando a ampliação e afirmação do caráter interdisciplinar desta proposta, garantiu-se a represen- tatividade de todos os cursos da área da saúde interessados em participar e promover a integração ensino-serviço no Município (Florianópolis, 2012).

Esta proposta articula formação e atenção à saúde, consolida e estimula o desenvolvimento de modelos de ensino-aprendiza- gem, contribui para a melhoria da qualidade da assistência ao usuário e comunidade, além de aproximar a pesquisa em saúde da realidade social e da prática cotidiana dos serviços. A concre- tização deste trabalho em conjunto criou um espaço cultural iné- dito, em que se defende a real integração ensino-serviço capaz de promover a qualificação em serviço dos profissionais de saúde, formar de acordo com as necessidades e perfil descrito nas DCN, vincular produção científica, projetos de extensão e serviços de saúde às estratégias essenciais de consolidação do SUS (Reibnitz et al., 2012).

O curso de Educação Física integrou-se à RDA em 2008, pelo Projeto Pró-Saúde II, “Centro de Referência de formação para o SUS” - UFSC/SMS, sendo o mesmo período em que se incluíram as demais profissões da saúde a proposta, que antes era restrita aos cursos de medicina, enfermagem e odontologia. Em 2010, amplia sua participação a partir da inclusão no Pet-Saúde, que contava inicialmente com a presença de 19 participantes da Edu- cação Física, sendo seis alunos bolsistas e nove voluntários, uma tutora acadêmica e três preceptores do serviço. As disciplinas vinculadas ao ensino-serviço foram o Estágio Supervisionado

em Atividade Física e Saúde, e as disciplinas Envelhecimento e Atividade Física e Saúde. Em 2011, foi aprovada a inclusão de uma nova disciplina optativa de Estudos Avançados em Ativida- de Física e Saúde, no curso de Bacharelado em Educação Física, cuja ementa enfatiza as políticas públicas de saúde para promo- ção da atividade física.

Os acadêmicos vivenciaram atividades da Atenção Básica com as equipes de referência - equipe de saúde da família - e as equipes de apoio - NASF - com destaque para a participação no Programa Floripa Ativa, que desenvolve atividades de avaliação, orientação e promoção da atividade física e reabilitação para ido- sos em situação de risco à saúde. Na academia, atividades foram desenvolvidas para estimular o discente a conhecer e integrar-se ao Pet-Saúde, por meio de Seminários de Pesquisa e Extensão da UFSC e da Semana Acadêmica da Educação Física, nos quais os estudantes vinculados ao Pet-Saúde publicaram trabalhos cientí- ficos e compuseram um stand específico para abordar o Sistema Único de Saúde e a educação tutorial.

Estas atividades indicam a importância dos programas in- dutores aos acadêmicos, para aproximar o campo de atuação profissional e a formação em saúde, e sensibilizar todos os ato- res envolvidos com a formação e a importância em aprimorar a estrutura curricular do curso de graduação em Educação Física. Divulgar esta proposta é oportunizar diálogos, estimular uma integração ativa onde todos se completam e participam da or- ganização do trabalho e dos currículos, planejando juntos, num processo de cogestão e coresponsabilização.

Cabe ressaltar que a realidade nos apresenta alguns desafios, como trabalhar frente às diferenças que se apresentam em rela- ção às estruturas curriculares do curso da Educação Física e das

demais áreas da saúde; promover ações integradoras entre a pro- fissão, sem desconsiderar as especificidades presentes da área; e trabalhar em equipe multiprofissional que envolva gestores, pro- fessores, profissionais e estudantes, favorecendo a integração das ações de saúde e atividades didático-pedagógicas e pactuações interinstitucionais. O processo de integração da Educação Física com a equipe Pet-Saúde, os profissionais de saúde e a população é uma experiência valiosa que concretiza ações multidisciplina- res, destaca a importância de não se restringir à transmissão de saberes, mas de participar do processo de trabalho, problema- tizando-o e reconhecendo o protagonismo dos serviços como fonte de produção de conhecimento.