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O Programa Escola Segura (PES)

No documento Dissertação António Ochoa 2016 (páginas 53-56)

Capítulo 2 – Modelo Integrado de Policiamento de Proximidade da PSP

2.4 O Programa Escola Segura (PES)

A preocupação com as crianças e jovens vem já desde o tempo dos Romanos, pois “«os Germanos, diz Tácito, «não expõem as suas crianças; e entre eles, os bons

40

Cfr. número I, alínea b) da DIROP

41 Idem, ponto 3, 4,5,6 e 7

42

Cfr. número III, alínea a), ponto 4 da DIROP

43 Cfr. número II, alínea b) da DIROP

44

Cfr. número III, alínea a), pontos 1 e 2 da DIROP 45

Cfr. número III, alínea d), ponto 2 da DIROP 46

António Ochoa

costumes têm mais força do que têm as boas leis noutros lugares». (…) Não se encontra nenhuma lei romana que permita expor as crianças” (Montesquieu, 2011, p. 615). O estado deve providenciar pela sedimentação de uma cultura séria e comprometida, inculcando nos cidadãos que devem levar a sério as questões da sua própria segurança. “Ora, esta cultura de segurança, que deve incutir-se desde os primeiros anos de idade, terá de constar nos programas escolares e deve envolver o público, aproveitando as novas tecnologias de comunicação e as redes sociais” (Fernandes J. , 2014, p. 27).

O direito ao ensino está consagrado na CRP no artigo 43.º n.º1 com epígrafe “Liberdade de aprender e de ensinar”. Tal artigo, fixa ao Estado, garantir todas as condições necessárias, inclusive de segurança, para que se cumpra tal direito. Em setembro de 1992 foi celebrado um protocolo entre o MAI e o ME. O protocolo visava uma maior presença e visibilidade policial nas portarias e no interior das escolas. “É de realçar que no início deste programa nem todas as escolas foram englobadas por este, apenas um número reduzido foi utilizado como projeto-piloto, vindo este número a ser aumentado com a sua consolidação (David, 2014, p. 39).

No ano letivo 1996/1997, foi implementado o PES, através do Despacho nº 50/96, de 30 de setembro do MAI, e é alargado a mais estabelecimentos de ensino, “em resposta a uma necessidade de segurança transmitida pelos alunos, associações de pais, professores e pessoal auxiliar” (Oliveira, 2006, p. 298). “ Um dos problemas que preocupavam as Polícias à época - e que o PES conseguiu controlar - foi o surgimento de confrontos entre grupos de alunos de diferentes escolas das mesmas localidades.”47 O

Despacho previa ainda “que os efectivos das Forças de Segurança até agora afectos à segurança das escolas serão, durante a legislatura, acrescidos anualmente com o correspondente a 10% dos novos efectivos admitidos; e que para além dos meios actualmente já empregues e das viaturas com que os Governos Civis contribuirão para o programa, as Forças de Segurança aumentassem anualmente o equipamento para essa finalidade, nomeadamente de transporte e comunicações”. ”Inicialmente, estes elementos não receberam qualquer formação específica para trabalhar neste tipo de programas, nem tão pouco foi criado qualquer plano de orientação estratégico ou operacional” (Marçal, 2008, p. 35).

Em 2000, após a avaliação do PES nos concelhos do Porto e Lisboa48, advieram

daí diversas críticas à organização e funcionamento do mesmo e que, segundo (Oliveira, 2006, p. 299) permitiu identificar algumas carências, nomeadamente o facto do PES não ter um modelo de intervenção estruturado; da não definição de objetivos claros e

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Entrevista C (concedida por Oficial Superior da PSP no âmbito deste estudo) 48

pela Inspeção-Geral da Administração Interna, da Inspeção-Geral das Finanças e da Inspeção-Geral da Educação

António Ochoa

mensuráveis, bem como dos recursos necessários para a concretização do programa; não calendarização das fases de implementação, do controlo, evolução e avaliação do PES; não serem ouvidos os atores sociais e possíveis parceiros, nomeadamente comunidades educativas e associações representativas, na fase de conceção e operacionalização do programa. Da enunciação dessas falhas surge o Grupo Coordenador do PES, que teve a missão de reestruturar e ajustar o programa, que tem atualmente a principal missão de planificação e coordenação do PES a nível nacional.49

Com o Despacho conjunto do MAI e ME nº 105-A/05 de 2005, todos os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, passam a estar abrangidos pelo programa, excluindo-se os do ensino superior universitário. “O Programa «Escola Segura» é, hoje em dia, uma iniciativa de sucesso que se encontra institucionalizada junto das forças de segurança e da sociedade civil” (Oliveira, 2006, p. 300).

Com intuito integrador e para consolidar o MIPP, a DE nº 10/2006, da DNPSP, agregou todos os programas especiais de proximidade, incluindo o PES. A DE criou as EPES que garantem a segurança e a visibilidade junto das escolas; a prevenção da delinquência juvenil; a deteção de cifras negras no seio das comunidades escolares, e propor ao escalão superior a realização de ações de sensibilização.50Após a criação

desta DE, e “considerando que foram detectadas algumas fragilidades na operacionalização do PES, definindo termos jurídico-formais em sede de Despacho conjunto nº 105-A/2005, de 2 de Fevereiro, importava redefinir a estrutura organizacional do PES.”51 Tais irregularidades têm fundamento na avaliação efetuada e no acumular da

experiência da aplicação do referido despacho, pelo que surgiu o Despacho 25650/2006, que ainda vigora e que tem em anexo o Regulamento PES. É intenção Governativa que nas escolas se consolide um, “policiamento orientado para a protecção dos cidadãos em geral e, em particular, das pessoas especialmente vulneráveis, como as crianças” (Programa do XVII Governo Constitucional 2005-2009).

Com a implementação do PES os cidadãos transferem para a polícia a proteção dos seus filhos, reconhecendo-se totalmente com esse serviço. Ao elemento afetivo alia- se a visibilidade e o policiamento pedagógico, pois “tanto beneficiários directos do projecto como também os restantes cidadãos pela identificação dos meios afectos ao programa, sentem-se solidários com a ideia e o sinal repressivo normalmente associado às polícias é compensado pela imagem de protecção às crianças” (Viegas, 2000, p. 128). O PES “ilustra a transversalidade das respostas à insegurança. Assenta numa parceria entre o comandante local da polícia e os directores das escolas. Definem,

49

Cfr. artigo 7º do Regulamento do PES, em anexo ao Despacho nº 25650/2006 50

Cfr. Nº 3, alínea b), ponto 3 da DE 51

António Ochoa

conjuntamente, os percursos escolares difíceis, garantindo que aí exista uma presença policial que proteja as crianças” (Machado P. , 2000, p. 167). É uma resposta conjunta da polícia e das escolas, como solução a uma necessidade e preocupação das famílias. As escolas não se preocupam apenas com o que se passa dentro do perímetro escolar e a polícia presta um novo e melhor serviço. O PES representa um modelo de intervenção proativo, “centrado nas escolas, visando garantir a segurança, prevenindo e reduzindo a violência, comportamentos de risco e incivilidades, assim como melhorar o sentimento de segurança no meio escolar e envolvente com a participação de toda a comunidade” (Oliveira, 2015, p. 425). “Pelas dinâmicas e rotinas que se criaram, seria muito difícil justificar perante a opinião pública a eventual extinção deste programa, desde logo pelo sentimento de insegurança que provocaria e pelo risco político de poder provocar um aumento da insegurança e da violência numa área tão sensível como o meio escolar.”52

“No ano lectivo 2014/15 a PSP teve à sua responsabilidade 3.388 escolas, 1,131.900 estudantes, 144.000 professores e auxiliares, com recurso a 397 agentes. Os agentes empreenderam 86.500 contactos individuais (média de 460/dia útil), 7.770 ações de sensibilização (média de 41/dia útil), 300 ações de demonstração e 530 visitas.”53

No documento Dissertação António Ochoa 2016 (páginas 53-56)

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