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4.1 Análise do estado atual de algumas empresas portuguesas

4.1.4 Programa Indústria 4.0

O Programa Indústria 4.0 é a estratégia lançada pelo governo português para a i4.0. Esta estratégia começou a ser desenvolvida em Abril de 2016 com mais de 200 entidades e empresas em grupos de trabalho para diferentes sectores. Este grupo é constituído pelas maiores empresas dos diferentes setores, por PME e por startups que dominam e estão a desenvolver soluções baseadas nas tecnologias características da quarta revolução industrial. A missão deste grupo consistiu em produzir recomendações ambiciosas, mas exequíveis, para todos os envolvidos, com uma agenda adaptada às necessidades e potencial da indústria portuguesa. O resultado desta interação foi um conjunto de 60 medidas de iniciativa pública e privada que tinham como objetivo impactar sobre mais de 50000 empresas a operar em Portugal e, numa fase inicial, requalificar e formar mais de 20000 trabalhadores em competências digitais (Portugal 2017). Algumas das medidas mais emblemáticas foram:

• Financiamento:

o Mobilização de Fundos Europeus estruturais e de investimento até 2,26 mil

milhões de euros de incentivos, através do Portugal 2020, para a consciencialização, adoção e massificação de tecnologias associadas ao conceito de i4.0, nos 4 anos seguintes. Destaca-se um instrumento chamado Vale Indústria 4.0, destinado a apoiar a transformação digital através da adoção de tecnologias que permitem mudanças disruptivas nos modelos de negócio de PME.

• Programa de Competências Digitais:

o Promover o lançamento da iniciativa que permite capacitar, até 2020, mais de

20 mil pessoas em tecnologias da informação e comunicação face aos atuais níveis de formação. Esta medida destina-se a fazer face à carência de técnicos especializados nesta área e permite apoiar a reconversão profissional, criando novas oportunidades de inserção profissional através da obtenção de novas competências.

• Cursos técnicos Indústria 4.0:

o Revisão da carteira de cursos profissionais técnicos em linha com a procura de

novas competências por parte das empresas no âmbito da digitalização da economia.

No dia 9 de Abril de 2019 foi lançada, em Guimarães, a 2ª fase do programa, através da qual serão mobilizados, nos próximos dois anos, investimentos públicos e privados no valor de 600 milhões de euros para alargar a digitalização da economia e permitir às empresas a transição,

de forma inclusiva e com base em emprego qualificado. Esta fase do programa assenta em três linhas orientadoras (KPMG 2019):

1. Generalizar I4.0: Impulsionar a partilha de conhecimento, experiências e benefícios

como forma de estimular a transição massificada para a i4.0, através de diversos modelos de sensibilização;

2. Capacitar I4.0: Adequar os conhecimentos das pessoas para permitir às empresas a

transição para a i4.0. É importante obter melhorias, quer ao nível da utilização do talento já disponível por parte das PME, quer ao nível da formação de recursos humanos em competências digitais;

3. Assimilar I4.0: Promover, facilitar e financiar o acesso das empresas à

experimentação de métodos e tecnologias i4.0, bem como suportar a escalabilidade dos mesmos e transformação.

Generalizar I4.0

O conceito i4.0, ainda que recente, é um hot topic, atualmente, em Portugal. No entanto, apesar da familiaridade com a palavra, existem dúvidas nas empresas relativamente à forma como o conceito se aplica e, consequentemente, à forma como devem e podem beneficiar com a 4ª revolução. Esta desinformação relativa ao tema leva a que a adoção de competências e tecnologias seja reduzida, revelando um nível baixo de aproveitamento das vantagens inerentes à transformação, por parte das empresas. Desta forma, numa primeira fase do programa, realizaram-se um conjunto de iniciativas promotoras do tema i4.0, como open days ou eventos. Estas iniciativas permitiram alcançar uma primeira linha de empresas, que detém os recursos e competências suficientes à prossecução dos projetos de transformação. No entanto, empresas com menores níveis de maturidade e menores recursos humanos e financeiros não foram alcançadas. Assim, a segunda fase do programa tem como objetivo massificar junto destas PME o conhecimento sobre i4.0, definindo os benefícios que a transformação tem e os riscos de não a realizar. As principais recomendações são:

• Divulgar, junto das PME que não foram alcançadas, o conhecimento sobre a i4.0. Para tal, pretende-se recorrer a diferentes meios que levem ao seu envolvimento, como por exemplo associações ou clusters empresariais, bem como a diversas metodologias de sensibilização/disseminação/capacitação que podem ser aplicadas (ex: seminários, palestras, webinars, open days);

• Desenvolvimento de casos de estudo que sejam aplicáveis à maioria das empresas de cada setor.

Com este programa é pretendido, não só, que cerca de 2000 empresas por ano sejam envolvidas no projeto, como também a avaliação da maturidade i4.0, a identificação dos benefícios desta e a definição de um roadmap de transformação (KPMG 2019).

Capacitar I4.0

A digitalização requer, como necessidade básica, níveis adequados de competências digitais, sendo que os recursos humanos têm de ser flexíveis e adaptáveis neste contexto de evolução constante. Assim, para que a transformação tenha sucesso, é imperativo formar novos talentos e requalificar em competências digitais a população ativa. Não interessa uma empresa investir em tecnologias i4.0 se não possuir as competências capazes de operar e retirar resultados das mesmas. Desta forma, algumas das recomendações dadas nesta dimensão são:

transformação possa ocorrer. Assim, foram feitas algumas recomendações, como (KPMG 2019):

Desenvolvimento da rede Centros de Inovação Digital (Digital Innovation Hubs) com o objetivo de facilitar a experimentação de conceitos, reduzindo o risco associado a investimentos i4.0, suportando o processo de transformação;

• Motivar o desenvolvimento de ecossistemas colaborativos entre as PME e associações empresariais, clusters industriais e outras entidades, de modo a que o potencial de contágio com o conceito incremente;

• Sendo o financiamento um obstáculo à adoção da i4.0 por parte das PME, é necessário divulgar e facilitar o acesso a instrumentos de investimento que suportem as PME na adoção de conceitos 14.0 e no seu desenvolvimento;

• Adaptar os instrumentos existentes, orientando-os à experimentação tecnológica para reduzir o risco e desenvolver novos processos ou tecnologias, que sejam adequados aos diferentes setores.

Considerando as metas e recomendações estabelecidas, e de modo a que os recursos sejam aplicados eficientemente, existem ferramentas que permitem a aplicação destes. Estes programas têm como objetivo ajudar as PME na transição, de forma a que o risco associado seja o menor possível. No anexo B podem ser encontrados os vários instrumentos já existentes que podem levar à execução das recomendações (KPMG 2019).

Concluindo, há a clara tentativa, do Governo Português, de garantir que a transformação seja alcançada por todas as empresas. De facto, o primeiro-ministro António Costa afirmou, no lançamento da 2ª fase do programa, que esta é a primeira revolução industrial onde Portugal pode partir, efetivamente, na linha da frente (Portugal 2019). Desta forma, as condições de sensibilização e de financiamento estão reunidas, sendo que que os empresários têm de ser proactivos e aproveitá-las, porque as consequências de não embarcar na transformação poderão ter custos bem superiores ao investimento necessário para a realizar.

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