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PROGRAMA MULHER DE VERDADE, REDE DE ATENÇÃO À

Este subcapítulo irá se deter a descrever um pouco sobre as políticas implantadas no Paraná, com foco no enfrentamento da violência contra mulheres. O

contexto nacional não será abordado, por ser esta pesquisa uma das etapas do projeto maior e já considerada na tese defendida em 2018 (MAFIOLETTI, 2018), na qual foi feita descrição detalhada de tal organização.

O Estado do Paraná conta com uma história na organização desses serviços e busca do atendimento qualificado, iniciado na década de noventa com a aprovação em 1999 da Resolução – nº 10/99, pelo Conselho Estadual de Saúde do Paraná, que assegura o atendimento pelos serviços ao aborto legalizado. Em 2001, foi apresentado, pela Comissão de Saúde da Mulher, um plano para organização de serviços de atendimento às mulheres que sofrem violência. A partir desse plano, dá- se início à organização da Rede de Serviços de Atendimento às Mulheres e à geração de duas resoluções do CES/PR, a nº 14/01 e a nº 15/01 (PARANÁ. Secretaria da Saúde, 2001a; PARANÁ. Secretaria da Saúde, 2001b; MAFIOLETTI, 2018).

Resoluções que contribuíram, respectivamente, para a estruturação dos serviços na forma de redes integradas, com participação de áreas da Saúde, Serviço Social, Justiça e Segurança Pública, entre outras. A resolução nº14/01 referiu-se à capacitação, fluxo de atendimento e acolhimento, e a nº 15/01 promoveu incentivo, implantação e acompanhamento das Redes Integradas. Outras estratégias foram recomendadas ao enfrentamento da violência como forma de gestão dos serviços, entre elas, em 2009, o plano estratégico para organização de redes intersetoriais de atenção às mulheres em situação de risco na violência de gênero (PARANÁ. Secretaria da Saúde, 2001a; PARANÁ. Secretaria da Saúde, 2001b; MAFIOLETTI, 2018).

O referido plano contou com proposta voltada a constituir Redes Intersetoriais, Interdisciplinares e Multiprofissionais de atenção às mulheres e definiu itens como: 1. Responsabilidade e atribuição institucional; 2. Responsabilidade e procedimentos comuns a todas as instituições componentes da rede; 3. Responsabilidade e procedimentos de acordo com a especificidade de atuação de cada área; e 4. Fluxograma de atendimento e encaminhamentos. Dentre seus principais objetivos, continha a sensibilização e capacitação como forma de promover o acolhimento voltado a um atendimento interligado, considerado item de desafio nessa construção (SANTOS et al., 2009).

Em 2002, o PMV e a RAMSVC foram constituídos pelo reconhecimento, no município de Curitiba, da importância de uma articulação entre os serviços, bem como a organização de uma estrutura com foco em um atendimento humanizado a essas

mulheres. Tais fatores envolveram a criação de protocolos e fluxos, além do envolvimento dos serviços no constante à realização de processos educativos para melhor direcionar os profissionais que fazem parte do PMV e RAMSVC. Principalmente o PMV com a organização de saúde, desde Unidades de Saúde aos Hospitais de Referência, no intuito tanto do atendimento, como na prevenção da violência. Para tanto, algumas competências entre os serviços foram traçadas, incluindo fluxos e protocolos de atendimento (CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde, 2008).

Outro fato desse programa foi a presença de serviços, além dos da saúde para compor a RAMSC, tais como: Centro de Referência e Atendimento à Mulher (CRAM); Casas-abrigo; Centro Regionais de Assistência Social (CRAS); Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; Defensoria Pública do Paraná; Ministério Público do Estado do Paraná (MPM); Polícia Militar do Paraná (PMP); Polícia Civil/Delegacia Especializada da Mulher de Curitiba e Distritos Policiais; Instituo Médico Legal (IML); Unidades de Ensino Fundamental e Médio; Universidade e Faculdades; Sociedades Científicas; Igrejas; Organizações não governamentais (ONGs); Conselhos Estadual e Municipais da Mulher/ Movimentos de Mulheres/ Direitos Humanos; Conselhos Comunitários e Associações: Conselhos Comunitários de Segurança, Conselhos de Saúde, Associações de Moradores, Associações de Pais e Mestres (CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde, 2008).

Em 2008, com a nova versão do PMV, tendo em vista sua implantação em 2002, um fato que marcou sua republicação foi a notificação compulsória, com sua ressignificação, na qual ela:

Passa também a ter um papel importante na garantia do acompanhamento dos casos pelo serviço de saúde próximo da residência da mulher, assim como pelo Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Para tanto, por ocasião do atendimento e da notificação, a mulher em situação de violência deve ser esclarecida sobre a importância do repasse das informações contidas na ficha de notificação para esses setores, visando o acompanhamento e a atenção integral do seu caso. As informações contidas nessa ficha são sigilosas e a sua disponibilização deve ser autorizada pela ofendida ou responsável (CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde, 2008, p. 43).

Fatos que tiveram o objetivo de promover acompanhamento às mulheres que residem ou não em Curitiba, ao ter sua notificação encaminhada para o serviço de saúde mais próximo de sua casa. Nos casos das residentes de Curitiba, favoreceu as

medidas protetivas de urgência. Porém, chama a atenção o fato de que, para que essas medidas possam estar em vigor, além do correto preenchimento, o profissional deve ter conhecimento quanto à detecção dos casos a serem notificados. Os mesmos são apreendidos por intermédio das capacitações que requeiram tal aprimoramento por parte dos profissionais (MAFIOLETTI, 2018; CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde, 2008).

O programa “Mulher, Viver sem Violência”, lançado em 2013, instituiu como uma de suas estratégias de ação ao enfrentamento à violência contra mulheres, a Casa da Mulher Brasileira (CMB). A CMB surgiu como forma de centralizar, em um espaço, serviços públicos direcionados na promoção de um acolhimento humanizado e integral. Além disso, ela promove direcionamentos que geram garantia de condições ao empoderamento e autonomia econômica dessas mulheres (BRASIL. Secretaria de enfrentamento à violência contra as mulheres, 2015). Para tanto, há a integração operacional do:

Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, trabalho e outras; visando à proteção integral e à autonomia das mulheres. Um espaço onde prevalece o respeito a todas as diferenças, sem discriminação de qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças pessoais. Todos esses órgãos e serviços atuam na busca de um atendimento integral das mulheres, a partir de uma percepção ampliada de seus contextos de vida, assim como de suas singularidades e de suas condições como sujeitos capazes e responsáveis por suas escolhas (BRASIL. Secretaria de enfrentamento à violência contra as mulheres, 2015, p. 5).

A CMB tem como concepção o atendimento com tópicos relacionados à: Integração dos serviços oferecidos às mulheres em situação de violência; Promoção da autonomia das mulheres; Humanização do Atendimento; Solidariedade; Empoderamento das mulheres; Liberdade de escolha das mulheres; Respeito; Prevenção da revitimização; inclusão/acessibilidade; Sigilo profissional; Agilidade e eficiência na resolução dos casos; Compromisso com a sistematização dos dados relativos à violência contra as mulheres e aos atendimentos prestados; Continuidade do atendimento (BRASIL. Secretaria de enfrentamento à violência contra as mulheres, 2015, p. 19-22). As mulheres podem fazer busca espontânea, ou serem encaminhadas pela RAMSVC. Abaixo, a figura 1 representa como os serviços devem ser oferecidos.

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DOS ATENDIMENTOS REALIZADOS NA CMB.

FONTE: Adaptado de BRASIL. Secretaria de enfrentamento à violência contra as mulheres(2015).

Em Curitiba, a CMB é uma das cinco em funcionamento no Brasil. Foi inaugurada em 15 de junho 2016, administrada pela Prefeitura Municipal de Curitiba, em parceria com o governo estadual e federal. Possui os serviços de acolhimento e apoio psicossocial (assistentes sociais); Delegacia da Mulher; Defensoria Pública, Juizado de Violência Doméstica e Familiar; Ministério Público; Patrulha Maria da Penha; Programas voltados à autonomia econômica das mulheres e brinquedoteca. Conta também com o apoio da Polícia Militar, que faz operações de busca dos pertences das vítimas, e da Patrulha Maria da Penha, que trabalha para que medidas

protetivas sejam respeitadas, por meio de visitas periódicas às residências

(CURITIBA. PREFEITURA MUNICIPAL DE, 2020).

A Patrulha Maria da Penha (PMP) iniciou suas atividades em 2014, mediante solicitação da Secretaria de Políticas para Mulheres, ao ser formalizada com boas práticas na atenção à gravidade do fenômeno da violência. Teve início no Rio Grande do Sul, seguida por Sergipe, Curitiba e Minas Gerais. A PMP é um serviço da Brigada

Compromisso com a sistematização dos dados e dos atendimentos prestados Agilidade e eficiência na resolução dos casos Sigilo profissional Inclusão/ acessibilidade Prevenção da revitimização Prevenção Liberdade de escolha das mulheres Empoderamento das mulheres Solidariedade Humanização do Atendimento Promoção da autonomia das mulheres Continuidade do atendimento Integração dos serviços Casa Da Mulher Brasileira

Militar que fiscaliza o cumprimento de medidas protetivas, a partir do envolvimento dos outros órgãos do Executivo e do Judiciário (BRASIL. Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, 2016).

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