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O Programa Municipal de Educação Fiscal no Município de Santa Maria como instrumento de participação popular

CAPÍTULO 3: A EDUCAÇÃO FISCAL COMO PASSAPORTE PARA A AMPLIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

3.2. O Programa Municipal de Educação Fiscal no Município de Santa Maria como instrumento de participação popular

A relação entre cidadão e o Estado arrecadador, ainda deixa muito a desejar para a qualidade e eficácia das políticas públicas no Brasil, pelo fato das prioridades estabelecidas pelos administradores públicos não coincidirem sempre com as prioridades da sociedade. Acrescenta-se ainda a este fator, que muitos dos tributos recolhidos já estão destinados a parcela para pagamento de dívida pública49, subtraindo- se assim recursos essenciais à realização das políticas públicas, comprometendo o atendimento das necessidades sociais, momento em que a sociedade não sente retorno desses recursos, os quais também deveriam suprir suas necessidades, já que são destinatárias nesse processo de arrecadação.

Observa-se que quanto maior a participação da sociedade organizada no controle democrático e na fiscalização do gasto público, maior será a transparência que combate a má administração do dinheiro público, possibilitando a eficiência da gestão pública. Para isso é justo entender que para alcançarmos tais objetivos, é fundamental que a destinação dos tributos seja revestida como instrumento de distribuição de qualidades primordiais ao cidadão.

No município de Santa Maria, o Programa Municipal de Educação Fiscal – PMEF trabalha para que essa participação popular seja cada vez mais ampliada para maior afirmação de um costume democrático. Desde 2002, o programa discute a questão fiscal em âmbito municipal, conscientizando sobre a função sócio-econômica do tributo, juntamente com as Secretarias de Município de Educação e Finanças, como exemplo para a boa prática da educação fiscal. Pois há de se ressalvar que apenas o fato de existir o PNEF, programa nacional, não é suficiente para consecução dos objetivos se não restar disseminada a conscientização atinente ao "grau de desenvolvimento e efetivação da democracia" (Modesto, 1995, p.57-62) em cada município, vez que os programas não bastam, por si só, para determinar a participação do povo, via de regra, acomodado e desinteressado das questões sociais, cabendo engajamento nessa questão

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Dívida pública é a dívida contraída pelo governo com entidades ou pessoas da sociedade para a)financiar parte de seus gastos que não são cobertos com a arrecadação de tributos ou b) alcançar alguns objetivos de gestão econômica, tais como controlar o nível de atividades, o crédito e o consumo ou, ainda para captar dólares no exterior.(<www.sefaz.al.gov.br/pef/curso_educação_fiscal>)

por parte de cada município de modo a chamar atenção dos seus munícipes para essa temática.

O PMEF de Santa Maria atua em 35 municípios vizinhos, que tem como público alvo os estudantes, crianças e adolescentes; essa participação envolve professores, alunos e indiretamente seus pais, que passam a fazer parte do assunto através de seus filhos, sensibilizando e informando com palestras, cursos e oficinas50. O programa obtém cada vez mais êxito à medida que, das 85 instituições públicas de ensino municipal, 65 já fazem parte do programa, além do fato de ter ganhado destaque em 2012 como vencedor do Prêmio Nacional de Educação Fiscal.

Atualmente, o PMEF atingiu todos os níveis de estudantes, desde a educação infantil até os universitários, envolvendo mais de 16 mil alunos51. O projeto pedagógico do programa gira em torno de questões como: “carga tributária”, “gestão dos recursos públicos”, “sonegação e corrupção”, isto é, a função sócio-econômica do tributo em si e o acompanhamento e aplicação dos recursos postos à disposição da Administração Pública.

É importante enfatizar que a participação é um direito tão nosso, que basta perceber a premissa básica que é do povo que emana o poder, contudo, não tem como ficar meramente de espectador com a coisa pública. É necessário que todos da sociedade se movimentem em pró do coletivo, como verdadeiro exercício de cidadania. Permitindo que a comunidade local conheça e compreenda as contas públicas nos assuntos referentes aos (altos) impostos pagos e qualidade dos serviços que o contribuinte recebe em troca no município em que vive, e assim tornando os cidadãos agentes de controle social local, papel este, fundamental para a prática democrática. É satisfatório perceber que é possível que os agentes de controle social alcancem conhecimento pertinente às metas fiscais e tão logo a sua fiscalização.

O PMEF em Santa Maria conta também com o apoio da Secretaria da Fazenda Estadual, da Receita Federal, da Câmara dos Vereadores de Santa Maria, e da Universidade Federal de Santa Maria, para que em um trabalho conjunto, despertem a cidadania nos alunos, transformando-os em adultos responsáveis e conscientes que

50 Entre os eventos que o Programa promove, está o “Festival Cid legal Canta e Dança, Educação Fiscal

em cena; Educação Fiscal na linha da cidadania” que é um projeto para levar conhecimento sobre a administração pública, a função sócio-econômica do tributo, o acompanhamento dos recursos públicos e a fiscalização dos gestores públicos, de forma criativa, pedagógica e divertida para despertar interesse pelo tema aos estudantes.

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colaborem para tornar o município em que vivem e o Estado, cada vez maior e melhor. Um dos assuntos destaques do Programa, por exemplo, é a emissão da nota fiscal, onde são disseminados que somente através da emissão da nota fiscal, o imposto pago pelo cidadão no momento da compra de um bem, poderá chegar aos cofres públicos para ser usado no atendimento das necessidades coletivas.

Por meio dessa importante ferramenta do processo democrático, é que a comunidade passa a entender e logo a se manifestar sobre a melhor forma de administração da coisa pública podendo principalmente acompanhar e controlar as ações de seus governantes através de prestação de contas e fiscalização da aplicação certa dos recursos. Previsão esta, expressa na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, onde diz que “a sociedade tem o direito de exigir contas a qualquer agente público da sua administração.”52

É através desse processo de amadurecimento da democracia que o cidadão aos poucos vai descobrindo a força que o tributo agrega, embora esse processo seja lento, se amadurece a cada dia, como em Santa Maria, que torna nossas instituições mais fortes e com estímulos para avançar de forma mais justa. Nada mais é do que compartilhar da administração local juntamente com os agentes públicos, uma forma de participar ativamente da condução dos assuntos públicos em pró não só de seu interesse, como também solidariamente em pró de toda a sua comunidade.

É relevante ressaltar que por se tratar de norma constitucional norteadora, a participação popular é de caráter obrigatório, assim como devemos nos nortear e zelar pela transparência e o controle popular na gestão fiscal. Buscando o exercício mais efetivo da cidadania e o respeito ao Princípio do devido processo legal em seu sentido substantivo, que tem por seus principais traços a oralidade e o debate efetivo sobre a matéria relevante, comportando sua realização sempre que estiver em jogo direitos coletivos em sentido amplo.

Em suma, o papel disseminador da Educação Fiscal como uma das ferramentas para despertar a conscientização social, funciona como veículo a fim de legitimar cada vez mais a cidadania, fazendo com que a participação dos particulares nos assuntos de interesse público, intimamente ligadas ao tema da moralidade administrativa e da gestão democrática, represente a democratização das relações do

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ALTAVILA. Ao mencionar em sua obra Origem dos direitos dos povos (1964, p. 218) a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Estado para com o cidadão, aqui considerado não mais o administrado, e sim agentes participativos que o são. Nesse ponto Medauar (2001, p.41) arrisca a dizer que “certo é que, mais efetivos se mostrassem os mecanismos de controle sobre a administração, menor seria o índice de corrupção”.

Com isso, objetivando a integração em busca de uma melhor administração pública que reflete diretamente na vida de cada um, relacionando a gestão fiscal, os gastos públicos e o controle popular por meio de uma transparência efetiva, além de pressupor que a sociedade estando politicamente preparada desde cedo, ativa e disposta a angariar causas da coletividade, exigirá mais dos seus dirigentes uma postura ética, sendo um mecanismo de proveito coletivo, provocando um caráter solidário e mais justo a todos. A fim de gerar diretrizes de um verdadeiro projeto nacional de desenvolvimento da responsabilidade fiscal, ESAF (2009), pois como já estudamos nas formas de participação popular o mais importante é fazer uso delas para garantir a concretização de seus direitos e de sua cidadania plena, com a consciência de o quanto importante é a participação do individuo na gerência das políticas públicas.

Após ter analisado nesse trabalho a importância da função social dos tributos, e o quanto importante é a sua arrecadação para financiar o Estado e consequentemente fazer garantir os direitos fundamentais, fica mais esclarecido o papel importante que os tributos tem e que todos somos contribuintes e acima disso cidadãos. Tendo o dever-direito de saber qual o montante dos tributos que está direcionado para cada coisa.

Sendo assim o PMEF tem relevante papel social, uma vez que, tendo a população local se manifestado e participado sobre o tema, o administrador toma conhecimento que a comunidade está engajada em fiscalizar a coisa pública, e dessa forma mais justa e transparente, ficaria mais prático não só para controlar os atos dos governantes, como também a beneficiar toda a sua comunidade de seus efeitos resultantes de ações dos próprios particulares.

Consequentemente usando a correta alocação dos recursos públicos, pautada pelo princípio ético e da busca estratégica de como instrumentalizar esse meio para o exercício do controle na gestão pública, isto é, do controle democrático no sentido correto da palavra, assegurando assim a missão do PNEF de conscientizar a sociedade com ações que buscam despertar no cidadão a vontade de acompanhar a aplicação dos recursos posto a disposição da Administração Pública, fiscalizando para que os tributos arrecadados sejam efetivamente aplicados conforme as prioridades de toda a população.