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PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) objetiva estimular a geração de renda das famílias e melhorar seu sistema produtivo através do financiamento de atividades e serviços rurais agrícolas e/ou pecuários e/ou não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou nas áreas comunitárias próximas (BANCO CENTRAL, 2017). Criado em 1996 por meio do Decreto 1.946 e da Lei 11.326, o PRONAF é considerado a principal ação pública com foco no agricultor familiar no Brasil (SCHNEIDER; MATTEI; CAZELLA, 2004). Complementando, para Schneider et al. (2004, p. 21), o PRONAF representa “o reconhecimento e a legitimação do Estado em relação às especificidades de uma nova categoria social que até então era designada por termos como pequenos produtores, produtores familiares, produtores de baixa renda, ou agricultura de subsistência”.

Ainda conforme destacam Bonal e Maluf, (2007), o PRONAF tornou-se a política pública setorial mais importante e direcionada à agricultura familiar no Brasil, que estimula a valorização do homem no campo, a produção de alimentos, a redução da pobreza rural e a segurança alimentar e nutricional, amparada na participação social através de conselhos em todas as esferas de governo. Dessa forma, o PRONAF busca adaptar as políticas públicas à realidade da agricultura familiar e melhorar o desempenho produtivo através da construção de infraestrutura rural adequada às necessidades produtivas. Também busca melhorar a qualidade de vida da população do campo com a

extensão rural e a novos padrões tecnológicos e gerenciais, visando maior competitividade e acesso aos mercados com base em uma dinâmica inclusiva da produção (MATTEI, 2012).

Os benefícios do PRONAF são concedidos aos agricultores familiares que comprovem seu enquadramento mediante apresentação da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP)25 ativa, em Grupos e Linhas de Crédito PRONAF, conforme o Quadro Resumo PRONAF (Plano Safra 2019/2020) em Anexo 01, que apresenta as 14 linhas de crédito do programa, Pronaf Grupo A, Pronaf Grupo A/C, Pronaf Grupo B, Pronaf Mulher, Pronaf Mais Alimentos, Pronaf Agroindústria, Pronaf Jovem, Pronaf Industrialização para Agroindústria Familiar, Pronaf Semiárido, Pronaf Custeio, Pronaf Agroecologia, Pronaf Floresta, Pronaf ECO, Pronaf Microcrédito Produtivo Grupo A, e, Pronaf Produtivo Orientado.

Esses grupos atendem à diversidade e à complexidade da agricultura familiar no Brasil, ofertando crédito com taxas de juros e prazos diferenciados para compra de insumos, investimento em maquinários, veículos agrícolas e assistência técnica, de acordo com o zoneamento de produção para cada região, o que garante o seguro agrícola da produção. Considerando o amplo contingente de beneficiados de acordo com os cinco grupos, os créditos podem ser destinados a quatro modalidades. São elas: custeio, investimento, integralização de cotas-partes pelos beneficiários nas cooperativas de produção e industrialização. O crédito para Custeio é destinado ao financiamento de atividades agropecuárias e não agropecuárias mediante projeto específico ou proposta de financiamento. O crédito para Investimento proporciona financiamento para implementação, ampliação e/ou modernização da estrutura produtiva, bem como o beneficiamento, a industrialização em estabelecimentos rurais familiares ou áreas comunitárias próximas. Já o crédito para Integralização de Cotas-Parte pelos beneficiários nas cooperativas de

25 A Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) ativa, nos termos estabelecidos pela Secretaria

Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), deve ser emitida por agentes credenciados pelo SEAD, observado, ainda, que: A) é exigida para a concessão de financiamento no âmbito do Pronaf; B) deve ser elaborada para a unidade familiar de produção, prevalecendo para todos os membros da família que compõem o estabelecimento rural e explorem as mesmas áreas de terra; e, C) pode ser diferenciada para atender a características específicas dos beneficiários do Pronaf.

produção é disponibilizado para financiar a capitalização de cooperativas de produção agropecuárias formadas por beneficiários do Pronaf. Por último, o crédito para a Industrialização objetiva financiar as atividades agropecuárias, da produção própria ou de terceiros enquadrados no Pronaf, de acordo com projetos específicos ou propostas de financiamento (BANCO CENTRAL, 2017). O crédito para Custeio e Investimento são as duas modalidades utilizadas pelo público-alvo da pesquisa, conforme apresentado no próximo capítulo.

Bianchini (2015) constatou, ao estudar os vinte anos do PRONAF, no período de 1995 a 2015, que a política disseminou-se em todas as regiões do Brasil, estando presente em todos os municípios. Está presente com uma política de crédito abrangendo mais de dois milhões de contratos e um montante de R$56 bilhões aplicados, destacando-se como política agrícola de ampla capilaridade e movimentação financeira entre os agricultores familiares. Apesar da importância da política, de acordo com o Ministério da Economia (2019), foram disponibilizados para a Safra 2018/2019 cerca de R$ 216,4 bilhões, sendo direcionados R$ 189,6 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 26,8 bilhões para a agricultura familiar. Portanto, verifica-se que, do montante de recursos destinado à agricultura brasileira, total de 216,4 bilhões, apenas 12% é destinado para o PRONAF, conforme gráfico 4.

FINANCEIROS - VALORES NOMINAIS E CONSTANTES

Fonte: Banco Central (2018).

O PRONAF não é apenas uma política pública setorial, mas contempla uma complexidade de interesses, de acordo com a composição das cadeias produtivas. Além disso, trata-se de um mecanismo de fomento à produção competitiva da agricultura familiar em sua inserção no mercado integrado de commodities, também em mercados de circuito curto, em vista da necessidade de aumento de renda e poder de compra dos agricultores familiares.

O PRONAF afirma não apenas as necessidades sociais, mas, e ao mesmo tempo, a viabilidade econômica de unidades produtivas cujo tamanho esteja ao alcance da capacidade de trabalho de uma família. Para um país de tradição latifundiária e escravista, formado por radicais formas de dissociação entre trabalho e propriedade, e trabalho e conhecimento, afirmar a consistência econômica da unidade entre esses termos que a História separou não é trivial. A novidade do Pronaf estava em sua intenção explícita de propiciar aumento da geração de renda dos agricultores por meio de seu acesso ao crédito bancário (ABRAMOVAY; PIKETTI, 2005, p. 58).

Portanto, apesar de o PRONAF, em seus objetivos e linhas de financiamento, tentar atender um número expressivo de agricultores familiares, muitas atividades produtivas com baixa dependência de insumos externos não são atendidas pelo programa. As culturas que necessitam de insumos externos, como a soja, o milho ou a pecuária leiteira e suinocultura, que são integrados aos mercados, são mais beneficiadas pelas regras do programas, quando comparadas a cultivos de alimentos para o consumo familiar e/ou alimentos produzidos sem o uso de agroquímicos e a compra de sementes.

As políticas públicas, em especial o crédito rural do PRONAF, configuram-se em mais um fator a influenciar as mudanças produtivas na agricultura familiar, através do suporte para custeio e investimento. Ao acessar o Pronaf custeio agrícola, por exemplo, o agricultor está limitado a financiar atividades produtivas que estão contempladas no zoneamento agrícola. Logo, vai produzir segundo as necessidades mercantis às quais está vinculada a liquidação dos empréstimos contratados. Já o PRONAF Investimento é utilizado para a modernização, mecanização ou implementação de uma atividade conectada com o mercado, pois, assim como no custeio, irá pagar posteriormente o financiamento recebido. Ainda sobre o PRONAF, segundo Bazotti e Coelho (2017, p. 3),

chama a atenção o crescente financiamento para a produção de

commodities, incentivando esse segmento social a adotar modelos

produtivos baseados na monocultura, com baixa capacidade de absorção de mão de obra e que exigem um alto grau de especialização e integração com os mercados globais.

Diferentemente de outras políticas, como o PAA e o PNAE, que promovem a diversificação da produção de alimentos, conforme discutido nas próximas subseções, no caso do PRONAF há um estímulo implícito que fortalece atividades produtivas não necessariamente alinhadas com as necessidades da agricultura familiar, do ponto de vista da diversidade produtiva e da segurança alimentar.