3.1 PROGRAMAS PÚBLICOS DE INTRODUÇÃO DAS TIC NA ESCOLA
3.1.2 Programa Um Computador por Aluno – PROUCA
O Programa Um Computador por Aluno teve início durante o Fórum
Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em 2005. De acordo com o documento
divulgado pela Câmara dos Deputados (BRASIL, 2008), na ocasião, o pesquisador
americano Nicholas Negroponte propôs dotar as crianças dos países em
desenvolvimento de computadores portáteis de baixo custo, a fim de que fossem
utilizados como ferramenta educativa. Para tal, a organização apresentou o laptop
XO (conhecido como laptop de 100 dólares), desenvolvido pelo Massachussets
Institute of Technology (MIT). A alternativa proposta visava à universalização do
acesso às tecnologias da informação e da comunicação a partir da meta de garantir
a todas as crianças o direito ao seu próprio computador, tomando como lema a ideia
de um laptop para cada criança (One Laptop per Child – OLPC).
De acordo com a OLPC, a concepção do projeto está fundamentada nas
ideias de Negroponte e de Seymour Papert
7, o qual é considerado uma referência na
discussão sobre o uso do computador como ferramenta educativa. A proposta
baseia-se em cinco premissas:
I) a posse do laptop é do aluno – a fim de garantir que ele (e sua família) possa levar o laptop para casa e se beneficiar de um maior tempo de uso; II) foco nas crianças de 6 a 12 anos, ou seja, a faixa etária da primeira etapa da educação básica em muitos países;
III) saturação digital – alcançada por meio da total disseminação do laptop numa determinada escala, que pode ser um país, um município etc., onde cada criança tem o seu;
IV) conectividade – o XO foi desenhado para utilizar a rede mesh, na qual os laptops se conectam um ao outro numa rede sem fio; se um estiver conectado à Internet, os outros também estarão;
V) software livre e aberto – oportunidade para que cada país use a ferramenta, adaptando-a às necessidades específicas, sob o argumento de que a transparência é indutora do desenvolvimento autóctone de soluções tecnológicas. Essas características visam ainda permitir alterações conforme as demandas de conteúdo, aplicativos e recursos que vão surgir com o crescimento e fluência digital das crianças. (BRASIL, 2008, p. 42-43).
Em junho daquele mesmo ano, Negroponte e Seymour Papert estiveram em
Brasília e o então presidente Luís Inácio Lula da Silva manifestou interesse em
testar os equipamentos doados em algumas escolas públicas. De acordo com
documento divulgado pela Câmara dos Deputados
8, as empresas Intel e Encore
também cederam laptops para testes ao governo brasileiro e assim, no ano de 2007,
foram implantados experimentos em cinco escolas públicas: Porto Alegre (RS), Piraí
(RJ), São Paulo (SP), Palmas (TO) e Brasília (DF).
Nascia então o projeto “Um Computador por Aluno” (UCA), o qual propunha
o uso individual de laptops educacionais, explorando a mobilidade e possibilitando a
imersão digital de alunos e professores, além de, na área econômica, objetivar a
7
Seymour Papert é um dos teóricos mais influentes na área de informática educativa, cujas ideias fundamentaram a concepção do projeto One Laptop per Child, do Massachussets Institute of Technology (MIT). Cunhou o termo construcionismo como um desdobramento do construtivismo de Piaget, cuja base é a percepção do aluno como sujeito ativo, construtor de seu próprio conhecimento. O construcionismo defende a contextualização, o trabalho coletivo e o computador utilizado como ferramenta educacional para apoiar esse processo. Ele também foi um dos pioneiros na área de inteligência artificial e desenvolveu o Logo, a primeira linguagem de programação escrita especialmente para crianças. O Logo é também uma metodologia de ensino baseada no computador, com vistas a explorar aspectos do processo de aprendizagem. As crianças usam uma tartaruga para executar os comandos do Logo.
8
Um Computador por Aluno: a experiência brasileira. - Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2008. 193 p. - (Série avaliação de políticas públicas; n.1).
inserção da cadeia produtiva brasileira no processo de fabricação e manutenção dos
equipamentos (BRASIL, 2008).
XO CLASSMATE MOBILIS
QUADRO 3 - MODELOS DE COMPUTADORES EDUCACIONAIS PORTÁTEIS FONTE: INTERNET9
Os experimentos da Fase 1 foram convencionalmente chamados de
pré-piloto e cada escola foi orientada e trabalhou em colaboração com uma equipe de
especialistas de diferentes universidades e secretarias de educação.
A Fase 2 representa o projeto piloto propriamente dito, no qual se pretendia
comprar 150 mil laptops educacionais para serem distribuídos a 300 escolas
públicas de até 500 alunos cada, no entanto, de acordo com dados divulgados no
site oficial do UCA, o histórico de implantação
10apresenta apenas 136 escolas com
o programa implantado.
No Estado do Paraná o município de Santa Cecília do Pavão foi
contemplado com o UCA Total, onde todas as escolas foram atendidas pelo projeto.
Os municípios de Almirante Tamandaré, Apucarana, Boa Ventura de São Roque,
Campo Largo, Cerro Azul, Curitiba, Engenheiro Beltrão, Reserva e São Jerônimo da
Serra também tiveram escolas contempladas, somatizando um total de treze
unidades atendidas
11.
É importante ressaltar que a distribuição dos equipamentos era feita pelo
Governo Federal, mas as benfeitorias estruturais necessárias em cada escola para o
bom funcionamento do programa, como rede elétrica, armários para armazenamento
9
Disponível em: http://www.notebookcheck.net/OLPC-will-unveil-the-XO-3-Tablet-at-CES.68502.0. html; http://www.metasys.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=370%3Ametasys-o-sistema-operacional-do-projeto-uca&catid=1%3Anoticiaspt&Itemid=50&lang=pt; http://www.cabana gemdigital. net/2008_12_01_archive.html. Acesso em: 08/04/2013.
10
Disponível em: http://www.uca.gov.br/institucional/escolasProjetoImplantado.jsp. Acesso em 01/03/2013.
dos equipamentos, recursos de segurança, entre outros, ficavam a cargo dos
estados e municípios cujas escolas fossem beneficiadas.
Em junho de 2010, o Ministério da Educação em parceria com o Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), aprovou a Resolução Número
17
12para que os Municípios, os Estados e o Distrito Federal se habilitassem ao
Programa Um Computador por Aluno – PROUCA. De acordo com o referido
documento, a aquisição dos computadores portáteis poderá ser feita por meio de
financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) ou com recursos próprios ou de outras fontes, mediante a adesão à ata de
registros de preços realizada pelo FNDE, em conformidade com as normas
estabelecidas pela resolução.
Com a criação do PROUCA, o equipamento adotado pelo programa passou
a ser o Mobo S7:
MOBO S7
QUADRO 4 – LAPTOP ADOTADO PELO GOVERNO FEDERAL PARA O PROUCA FONTE: INTERNET13
O PROUCA está “[...] apoiado na ideia de que a disseminação do laptop
educacional com acesso à Internet pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão
digital e melhoria da qualidade da educação” (BRASIL, 2008, p.13), mas sabe-se
que a ferramenta, por si só, não é garantia de melhoria no ensino. Dessa forma, o
tópico a seguir irá abordar a questão da formação continuada de professores para o
uso da tecnologia na educação, condição precípua para que as TIC se efetivem com
qualidade e se traduzam em possibilidades de aprendizagem nas escolas.
12
Disponível em: http://www.uca.gov.br/institucional/downloads/res017_10062010.pdf. Acesso em 18/09/2011.
13
Disponível em: http://www.i9diretodafabrica.com.br/produtos/sgrd/202326.jpg. Acesso em: 08/04/2013.