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2 ESTUDOS CORRELATOS E PROBLEMATIZAÇÃO

2.1 ACESSIBILIDADE E PERMANÊNCIA

2.3.1 Programas e Projetos de Apoio e Permanência

Essa subcategoria surgiu a partir dos trabalhos de pesquisadores como Haiduke (2006), Pereira (2007), Oliveira (2009), Rocha (2011), Melo (2011), Martins (2012), Ferreira (2012), Ramalho (2012), Silva (2013a), Souza (2012), Silva (2013), Saraiva (2015) e Ciantelli (2015), que apontaram para a importância dos grupos de trabalhos (GTs), dos projetos, dos núcleos de acessibilidade e dos programas voltados para dar suportes táticos, dentro das Instituições de Educação Superior, aos estudantes com deficiência, e também na oferta de serviços pedagógicos e de orientação a professores e funcionários.

Entre esses serviços de apoio, tem-se o exemplo do trabalho desenvolvido pela Comissão Permanente de Apoio aos Estudantes com Necessidades Especiais (CAENE), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), analisado pelo trabalho de Melo (2011):

A criação do CAENE foi a proposta formal de apoio de maior relevância que observei durante o processo. Esse grupo vem desenvolvendo intervenções junto aos departamentos e cursos que tenham alunos com necessidades educacionais especiais. Ações tais como o oferecimento de cursos de formação de professores para professores da UFRN, como, por exemplo, o curso “Atendimento educacional de estudantes com deficiência visual no Ensino Superior”, com o objetivo de dar subsídios aos docentes para melhor atenderem a diversidade desse alunado. (MELO, 2011, p.126).

O trabalho de Saraiva (2015) procura fazer uma análise das ações dos núcleos de acessibilidade das universidades federais da região Nordeste do Brasil, pois, segundo a autora, tais núcleos são “[...] os responsáveis pelo cumprimento da legislação vigente e das orientações pedagógicas emanadas pela política de inclusão no ensino superior” (SARAIVA, 2015, p.26). No entanto, apesar dos avanços proporcionados pela existência dos núcleos, ao averiguar a realidade nas universidades, a pesquisadora constatou que muitas das ações que os núcleos deveriam realizar esbarram nos escassos recursos financeiros e humanos, na falta de formação profissional para atuar na área da inclusão, na falta de sensibilização da comunidade acadêmica e na inexistência de uma rede colaborativa entre os núcleos.

Os grupos, formados por professores, funcionários e alunos que se dedicam a fomentar as ações inclusivas dentro das Instituições de Educação Superior, além de se configurarem como um ponto estratégico para a instituição prestar assistência pedagógica aos alunos, também auxiliam os demais professores em suas atividades acadêmicas com relação ao aluno com deficiência, oferecendo subsídios para que o docente lide com as especificidades de cada caso.

Ciantelli (2015), em seu estudo sobre as contribuições da Psicologia para as ações dos núcleos de acessibilidade, observou que o aumento do número de matrículas de estudantes com deficiência na Educação Superior se deve “[...] às legislações criadas com medidas protetoras que visam à garantia do direito ao acesso e à permanência [...]” (CIANTELLI, 2015, p.176). Outro dado importante trazido pela autora com relação aos núcleos de acessibilidade se refere ao cumprimento da função para a qual foram designados:

Verificou-se com o estudo que os núcleos e/ou comitês de acessibilidade estão viabilizando ações em todos os âmbitos de acessibilidade (arquitetônica, comunicacional, instrumental, metodológica, programático e atitudinal). Esse dado é importante, pois um âmbito interfere no outro e, se somadas, essas diferentes barreiras podem impedir a acessibilidade em sua totalidade, refletindo na não participação no contexto universitário [...]. Assim a oferta de acessibilidade em todos os âmbitos pelos núcleos é necessária para uma efetiva participação do estudante com deficiência no Ensino Superior. (CIANTELLI, 2015, p.177).

De acordo com Haiduke (2006), Ramalho (2012), Silva (2013a) e Ciantelli (2015), a formação de equipes multiprofissionais no contexto educacional é de suma importância, não só para o estudante com deficiência, mas também para toda a comunidade acadêmica (docentes e funcionários), para que seja possível disponibilizar acompanhamento e desenvolver ações adequadas, que contribuam com a remoção do preconceito e do estigma de “incapaz” que historicamente acompanha essa população.

Conforme Souza (2012) e Ferreira (2012), as ações dos núcleos, dos projetos e dos programas (INCLUIR, REUNI, PNAES) voltados para o acesso e permanência do estudante com deficiência são complexas, requerendo das instituições medidas que devem ir além da simples construção de rampas e da aquisição de material; faz- se necessário o desenvolvimento de estratégias de enfretamento da discriminação e dos preconceitos cultural e social com relação ao estudante com deficiência e à sua capacidade de aprender e conviver com a comunidade acadêmica, como ficou explícito em um dos achados de Oliveira (2009, p.194) ao se reportar às suas análises:

Os depoimentos são, de modo geral, impregnados de vivências de invisibilidade, solidão, medo, impotência, isolamento, insegurança dentro da Universidade. Preconceito, estigma e falta de conhecimento geram invisibilidade e, por isso, são fatores que dificultam o processo de discussão sobre o portador de deficiência na educação superior.

Pereira (2007), ao fazer sua exposição sobre a discussão que há sobre o sistema de cotas nas universidades, aponta que, nesse debate, existe diferença ao se falar de cotas para negros e para deficientes. Conforme a autora:

É possível perceber como essa discussão tem sido associada ao preconceito e à discriminação, principalmente em torno do debate das cotas para alunos negros nas universidades. Parece que, em relação às pessoas com deficiência, isso passa a ter outra conotação, de compaixão, de pena ou de piedade. Podemos observar o quanto o preconceito está presente no cotidiano, manifestado não apenas naquilo que se diz, mas também, no silêncio, na não manifestação, na ignorância e, sobretudo, na diferença. (PEREIRA, 2007, p.69).

Rocha (2011), Martins (2012), Pereira (2007) e Silva (2013), ao avaliarem as políticas de cotas para o ingresso de pessoas com deficiência nas universidades públicas, demonstraram que elas são importantes para o processo de inclusão desses alunos, porque vão ao encontro da igualdade de oportunidades ressaltada no âmbito da Lei, pois “[...] o sistema de cotas é um mecanismo de ações afirmativas” (PEREIRA, 2007, p.68), que visa corrigir e reduzir as desigualdades sociais sofridas pelos grupos minoritários existentes no país. Além do mais, os autores defendem que não basta a adoção do sistema de cotas para essa população, sendo preciso garantir a sua permanência por meio de políticas públicas governamentais e institucionais.

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