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Programas de Exercícios Propriocetivos

No documento PedroAleixo tese (páginas 71-75)

CAPÍTULO 1 Revisão da literatura

1. ARTRITE REUMATÓIDE

1.8. EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NA ARTRITE REUMATÓIDE

1.8.2. Programas de Exercícios Propriocetivos

A propriocetividade foi definida como a capacidade para estabelecer um sentido de posição no espaço (Arnheim & Prentice, 2000) e os mecanorecetores, presentes nas articulações, são responsáveis por manter o controlo motor e o sentido de posição da articulação (N. Silva et al., 2010). Desta forma, segundo N. Silva et al. (2010), os exercícios de coordenação e estabilidade foram definidos como exercícios propriocetivos.

Sherrington et al. (2008) conduziram uma revisão sistemática para avaliar os efeitos do exercício físico sobre a prevenção de quedas. Os resultados mostraram uma forte evidência de que os programas de exercício podem reduzir o risco de quedas em idosos, nomeadamente exercícios propriocetivos com uma frequência de pelo menos 2 vezes por semana. Outra revisão sistemática (Gillespie et al., 2012), que estudou os efeitos de várias intervenções desenhadas para reduzir a incidência de quedas em idosos, verificou que programas que contenham exercícios propriocetivos e de força, reduzem efetivamente as quedas. Um RCT (Kim & Lockhart, 2012) encontrou melhorias na estabilidade de idosos como resultado de um programa de exercícios propriocetivos. Por outro lado, foi reportada na literatura a melhoria de variáveis cinemáticas da marcha em idosos, como resultado de programas de exercícios

propriocetivos (Gatts & Woollacott, 2007; Shin & An, 2014). Duas investigações (Diracoglu, Aydin, Baskent, & Celik, 2005; Sekir & Gür, 2005) avaliaram a eficácia de exercícios propriocetivos em doentes com artrite e verificaram que um período curto de tempo (seis e oito semanas) permitiu melhorar a sua capacidade funcional.

Depois do exposto anteriormente, pensamos que seria importante conduzir investigações que avaliassem a eficácia e a segurança dos exercícios propriocetivos em doentes com AR, uma vez que estes doentes são um grupo de risco em relação às quedas e este tipo de exercícios pode ter um papel importante na sua prevenção, na estabilidade e na capacidade funcional. Os autores de uma revisão sistemática (N. Silva et al., 2010) que abordou este tema não encontraram nenhum RCT ou controlled clinical trial, concluindo que é necessária investigação nesta área. Posteriormente a esta revisão, nós também conduzimos uma revisão sistemática para avaliar a evidência clínica de investigações relativamente à segurança e eficácia dos exercícios propriocetivos na AR. A metodologia desta revisão sistemática será apresentada no Capítulo 5. As poucas investigações revistas nesta revisão sistemática (Kirsteins, Dietz, & Hwang, 1991; K. Silva et al., 2013; Uhlig, Fongen, Steen, Christie, & Ødegård, 2010; Uhlig, Larsson, Hjorth, Ødegård, & Kvien, 2005; Wang, 2008; Williams, Brand, Hill, Hunt, & Moran, 2010) apresentaram várias limitações. Em primeiro lugar, o tamanho da amostra foi pequeno na maioria delas. Em segundo lugar, várias investigações não apresentaram grupo de controlo. Em terceiro lugar, falta de randomização dos grupos (apenas foram revistos dois RCTs). Contudo, as investigações verificaram efeitos positivos dos exercícios propriocetivos sobre a capacidade funcional, a estabilidade e o risco de queda de doentes com AR. Por outro lado, estas investigações não encontraram efeitos negativos na atividade da doença.

As investigações incluídas nesta revisão sistemática usaram diversas variáveis para avaliar a atividade da doença, nomeadamente o número de articulações dolorosas, o número de articulações com edema e o DAS-28. O único RCT que avaliou a atividade da doença (Wang, 2008) apresentou melhorias no número de articulações dolorosas. As investigações não controladas e não randomizadas também encontraram melhorias depois da aplicação dos programas de exercícios, nomeadamente ao nível do DAS-28 (Uhlig et al., 2010) e do número de articulações com edema (Uhlig et al., 2010). Para além disso, nenhuma investigação registou qualquer aumento da atividade da doença como resultado do programa de exercícios. Estes resultados são consistentes com os resultados encontrados em três revisões sistemáticas (Baillet et al., 2011; Cairns & McVeigh, 2009; Hurkmans et al., 2009), as quais também não

encontraram efeitos negativos na atividade da doença como resultado de programas de exercícios aeróbios e/ou exercícios de força. Assim, existe alguma evidência que prova a segurança dos exercícios propriocetivos na AR.

K. Silva et al. (2013), no seu RCT, encontraram melhorias da capacidade funcional de doentes com AR após a aplicação de um programa de exercícios propriocetivos e verificaram diferenças entre o grupo de exercício e o grupo de controlo. Wang (2008), no seu RCT, também verificou uma melhoria da capacidade funcional como resultado do programa de exercícios. Contudo, não encontrou diferenças entre o grupo de exercício e o grupo de controlo, em relação a algumas variáveis relacionadas com a capacidade funcional (tempo necessário para percorrer 30 metros e o tempo necessário para levantar-se e sentar-se 10 vezes de uma cadeira). O grupo de controlo neste RCT realizava 20 minutos de exercícios de alongamento, 2 vezes por semana. Portanto, é possível considerar que um pequeno aumento de atividade física, como é o caso da intervenção realizada neste grupo de controlo, poderá conduzir a uma significativa melhoria da capacidade funcional.

Apenas uma investigação (Uhlig et al., 2005) não encontrou qualquer alteração da capacidade funcional dos doentes com AR, depois da aplicação do programa de exercícios propriocetivos. Analisando os parâmetros dos vários programas de exercícios, verificou-se que esta investigação teve a intervenção com duração mais curta, ou seja, esta investigação teve uma duração de oito semanas e as outras investigações tiveram durações de 10 semanas ou mais. Esta análise poderá indicar que 10 semanas serão a duração mínima que um programa de exercícios propriocetivos deve ter, para se verificarem alterações da capacidade funcional de doentes com AR. Embora investigações anteriores (Diracoglu et al., 2005; Sekir & Gür, 2005) tenham mostrado que 6 e 8 semanas de duração de um programa de exercícios, podem aumentar a capacidade funcional de sujeitos com artrite.

No que concerne à capacidade funcional, as variáveis mais sensíveis aos programas de exercícios propriocetivos foram o tempo necessário para percorrer 30 metros e o tempo necessário para levantar-se e sentar-se 10 vezes de uma cadeira. Todas as investigações que avaliaram estas variáveis encontraram melhorias após os programas de exercícios. A força de preensão foi a variável menos sensível aos programas de exercícios. A ausência de melhorias na força de preensão poderá ser o resultado do tipo de programas aplicados, isto é, programas de exercícios focados nos membros inferiores. Os dois RCTs (K. Silva et al., 2013; Wang, 2008) encontraram diferenças nos resultados do HAQ entre o pré e o pós programa de exercícios e também encontraram diferenças entre o grupo de exercício e o grupo de controlo.

De acordo com os dados da nossa revisão sistemática, existe alguma evidência de que os exercícios propriocetivos podem melhorar a capacidade funcional, no entanto, é necessária mais investigação para fortalecer esta evidência.

Segundo a literatura, os doentes com AR apresentam um risco acrescido de queda (Hayashibara et al., 2010; Stanmore et al., 2013a, 2013b). Para além disso, uma relação positiva entre os exercícios propriocetivos e a melhoria da estabilidade e do risco de queda, foi verificada em idosos (Gillespie et al., 2012; Sherrington et al., 2008). Apesar da falta de grupo de controlo e de randomização, a investigação conduzida por Williams et al. (2010) foi a única que avaliou o efeito de um programa de exercícios propriocetivos sobre o risco de queda de doentes com AR. Após os 4 meses de intervenção, foram encontradas melhorias nesta variável. A literatura aponta para algumas variáveis cinemáticas e dinâmicas da marcha relacionadas com o risco de queda (Barrett et al., 2010; Callisaya et al., 2011; L. Lee & Kerrigan, 1999; Winter, 1991a), no entanto, os efeitos dos exercícios propriocetivos nessas variáveis não foram avaliados em doentes com AR. Apesar disso, Williams et al. (2010) avaliaram algumas variáveis cinemáticas da marcha, encontrando, após o programa de exercícios, alterações no comprimento do passo mas não na velocidade de marcha.

A estabilidade foi melhorada, após o programa de exercícios propriocetivos, num dos dois RCTs (K. Silva et al., 2013), tendo sido encontradas também, diferenças entre o grupo de controlo e o grupo de exercício. Williams et al. (2010), no seu estudo não controlado, também avaliou a estabilidade, tendo encontrado melhorias nesta variável após o programa de exercícios.

Em suma, as investigações que abordaram a segurança e a eficácia dos exercícios propriocetivos em doentes com AR são escassas, principalmente em relação ao risco de queda e às variáveis cinemáticas e dinâmicas da marcha relacionadas com as quedas. Contudo, a investigação aponta para a sua segurança e eficácia em doentes com AR.

No documento PedroAleixo tese (páginas 71-75)

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