• Nenhum resultado encontrado

PROGRESSÃO CONTINUADA, SARESP E AVALIAÇÃO ESCOLAR: O QUE

COORDENADORES?

Neste capítulo são apresentados os elementos que caracterizam a pesquisa de campo e os dados que foram coletados. A coleta de dados ocorreu em dois momentos, primeiro por meio de um questionário aplicado aos professores coordenadores que atuam nas escolas de Ensino Fundamental e depois por meio de entrevistas com 11 professores coordenadores.

Os procedimentos utilizados na coleta de dados foram apresentados na introdução deste estudo. Retomaremos aqui alguns elementos que são importantes para situarmos o contexto em que se desenvolveu essa pesquisa.

Ao pensar em como obter respostas para as questões propostas nesta pesquisa, vimos nos professores coordenadores os profissionais que, por sua função na escola, seriam os mais indicados para dar pistas de como a progressão continuada e o SARESP vêm incidindo sobre a avaliação. Os professores coordenadores são os profissionais que têm por função acompanhar e orientar o trabalho pedagógico e proporcionar aos professores formação para atuarem frente às inovações pedagógicas e as mudanças propostas pela política educacional.

Nesse sentido, cabe a eles estabelecer o vínculo entre a sala de aula, por meio de sua atuação junto aos professores e alunos, e os órgãos gestores do sistema. Apesar do diretor da escola ser o responsável pela implementação da política educacional, ainda recai sobre ele muito mais questões administrativas que pedagógicas. As questões de caráter pedagógico ficam ao encargo do professor coordenador, tornando, esse profissional, importante figura na organização do trabalho escolar.

Na rede estadual o professor coordenador não é considerado cargo, não integrando a estrutura da carreira. Vale lembrar que na rede estadual são cargos apenas os de professor, diretor de escola e supervisor de ensino. As demais atividades realizadas por profissionais da educação são consideradas como funções e são exercidas por pessoas que ocupam um dos três cargos da carreira.

É na condição de função que atuam os professores coordenadores. Portanto, quem ocupa a função de professor coordenador é um docente. Para ter o direito de exercer a função

de professor coordenador a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo estabeleceu um processo seletivo, por meio do qual os professores ganham o direito de pleitear uma coordenação.

Historicamente, a necessidade de um profissional que estivesse fora da sala de aula, acompanhando e orientando o trabalho pedagógico, foi vista como forma de possibilitar a melhoria da qualidade do ensino. Esse profissional faria a articulação do trabalho pedagógico e apoiaria os professores nas ações desenvolvidas no cotidiano escolar. Além disso, seria responsável pela busca de informações, teorias, propostas que, apresentadas aos professores, poderiam auxiliá-los no encaminhamento das dificuldades de aprendizagem dos alunos. Orsolon (2001) ressalta a importância do trabalho do professor coordenador articulando o coletivo da escola:

O coordenador é apenas um dos atores que compõem o coletivo da escola. Para coordenar, direcionando suas ações para a transformação, precisa estar consciente de que seu trabalho não se dá isoladamente, mas nesse coletivo, mediante a articulação dos diferentes atores escolares, no sentido da construção de um projeto político-pedagógico transformador (p.19).

Na rede estadual a figura do professor coordenador surgiu na década de 1980 para atuar junto ao ciclo básico de alfabetização e depois, na década de 1990, para atuar na Escola Padrão19. Na primeira gestão de Rose Neubauer (1995-1998) houve a extinção da Escola Padrão e a figura do professor coordenador, a partir de 1996, passou a compor o quadro de todas as escolas da rede. Naquela ocasião a escola poderia contar com um professor coordenador por período, atuando o do diurno por 40 horas/semanais e o do noturno por 24

19 Segundo Garita, a Escola-Padrão foi um dos fatores marcantes do Governo Fleury (1991-1995). Tinha como objetivos a recuperação da qualidade do ensino público, a ampliação da participação da sociedade e a melhoria da utilização dos recursos. A Escola-Padrão pareceu ser um avanço na política educacional, pois ofereceu a estas escolas uma autonomia administrativa e pedagógica. A equipe escolar poderia participar da construção de sua própria história e, conseqüentemente, de sua própria escola. O planejamento nas escolas-padrão deveria ser o ponto principal para as decisões coletivas, ou seja, delinear o ideal a ser atingido e tomar decisões para a proximidade desse ideal. A proposta pedagógica implicaria a necessidade de se rever o conceito de currículo e nesta proposta, os objetivos, a seleção dos conteúdos e a metodologia usadas não poderiam ser pensados separadamente da avaliação. As Escolas-Padrão foram extintas na gestão Rose Neubauer em 1995-96. Disponível em: http://www.ime.unicamp.br/erpm2005/anais/c9.pdf. Acesso em: 03 de novembro de 2008.

horas/semanais20. Apenas o professor coordenador do noturno, devido a uma carga horária menor de trabalho na coordenação, poderia, em outro período, continuar exercer a docência.

Conforme a Resolução SE nº 35/00, no seu artigo 2º, o docente designado para atuar como professor coordenador deveria:

I- Assessorar a direção da escola na articulação das ações pedagógicas desenvolvidas pela unidade [...];

II- Auxiliar a direção da escola na articulação dos diferentes projetos, inclusive os de reforço da aprendizagem;

III- Assessorar a direção da escola na relação escola/comunidade;

IV- Subsidiar os professores no desenvolvimento de suas atividades docentes;

V- Potencializar e garantir o trabalho coletivo na escola, organizando e participando das HTPCs;

VI- Executar, acompanhar e avaliar as ações previstas no projeto pedagógico da escola.

De acordo com os itens explicitados fica bastante evidente que a função do professor coordenador vinculava-se, diretamente, as ações do ensino e da aprendizagem, apoiando os professores e procurando garantir a aprendizagem de todos os alunos.

Para pleitear uma coordenação de escola, a mesma Resolução SE nº 35/00, em seu artigo 3º, definia os seguintes requisitos: ser portador de licenciatura plena, contar com, no mínimo, três anos de experiência como professor e estar vinculado à rede estadual como docente. Não havia na legislação exigência em relação a uma formação específica para atuar na função, como no caso de redes municipais, como a de São Paulo, onde é exigido que tenha concluído o curso de Pedagogia, sendo a coordenação cargo e não uma função.

Preenchendo os requisitos legais, o candidato a professor coordenador deveria submeter-se a uma prova para credenciamento junto a Diretoria Regional de Ensino. O candidato elaborava uma proposta de atuação e apresentava na escola em que gostaria de exercer a função. A indicação do candidato selecionado era feita pelo Conselho de Escola.

20 O tempo de trabalho do professor coordenador do noturno era contabilizado levando em consideração o período das aulas mais o horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC), ou seja, as reuniões semanais que deveriam ocorrer sob sua coordenação.

Também ficava ao encargo do Conselho de Escola, mediante uma avaliação do trabalho desenvolvido, a cessação da designação do professor coordenador.

Em outubro de 2006, a Secretaria de Educação publicou nova resolução que tratava da designação de professores para atuar na função de professor coordenador. A Resolução SE nº 66/06 não alterava as orientações da resolução anterior, apenas detalhava alguns aspectos e orientava nos procedimentos para designação dos interessados. Entretanto, é importante dizer que explicitava, nas considerações iniciais da resolução, a atuação do professor coordenador na formação continuada dos docentes, aspecto que estava apenas subentendido na resolução anterior.

Além de enfatizar o papel de formador do professor coordenador, a resolução, em seu artigo 2º, item VI, explicitava, como atribuição do professor coordenador:

[...] proceder, juntamente com os professores, a análise dos resultados da avaliação do desempenho escolar, através de seus indicadores, registrando e divulgando avanços e estratégias bem sucedidas, bem como identificando as dificuldades a serem superadas e propondo alternativas de otimização dos resultados.

Ao prever essa atribuição ao professor coordenador a Secretaria de Educação revela a importância dada a esse profissional no acompanhamento da avaliação da aprendizagem e na articulação com os resultados da avaliação externa, principalmente o SARESP. De algum modo, essas atribuições do professor coordenador justificam a escolha deste profissional como sujeito da pesquisa que fizemos.

No decorrer da pesquisa a SEE promoveu uma modificação na legislação em relação aos professores coordenadores. Essa modificação foi justificada pela SEE como necessária devido à importância que esse profissional passou a ter para a implementação da política educacional, como explicitado na Resolução SE 88/07: “a coordenação pedagógica se constitui em um dos pilares estruturais da atual política de melhoria da qualidade de ensino e os Professores Coordenadores atuam como gestores implementadores dessa política”.

A Resolução nº 88/07 trouxe uma mudança, qual seja, a designação dos coordenadores por segmento e não mais por período. Dessa forma, os professores coordenadores passaram a trabalhar com um foco mais direcionado para as questões colocadas por cada segmento de ensino. Além disso, algumas escolas, devido ao número de turmas existentes, passaram a ter direito a mais de um professor coordenador por segmento, diminuindo, mais ainda, a sobrecarga de trabalho antes imposta aos coordenadores.

Vale ressaltar também outras mudanças realizadas pela SEE. Uma delas foi o pagamento de um adicional pelo exercício da função de coordenação pedagógica, o que antes não ocorria. A outra foi no processo de escolha e seleção, apesar da manutenção da prova de credenciamento, houve a exclusão do Conselho de Escola no processo, ficando a responsabilidade apenas ao diretor e ao supervisor de ensino. Perdeu-se, portanto, com essa medida, a participação de professores, alunos, funcionários e pais na seleção, escolha e avaliação do trabalho do professor coordenador.

Devido às mudanças propostas pela SEE, todos os professores coordenadores que estavam atuando até o final de 2007 foram cessados da função no início de 2008, aqueles que pretendiam voltar para a coordenação deveriam se submeter a novo credenciamento e processo seletivo. Por isso, decidimos estruturar a pesquisa restringindo o recorte temporal ao ano de 2007. Essa decisão foi tomada porque, independente da permanência ou não do entrevistado na coordenação, ele falaria sobre o tempo em que permaneceu na função. Também não faria sentido entrevistar professores coordenadores que estivessem ingressando na função a partir de 2008, pois não teriam a vivência esperada da progressão continuada e do SARESP enquanto coordenadores.

Na Diretoria Regional de Ensino (DRE) onde foi realizada a pesquisa boa parte dos professores coordenadores conseguiu retornar para a função, mas houve mudanças de escolas e aumento no número de coordenadores, o que promoveu o ingresso de vários professores que ainda não apresentavam experiência nessa função.

3.1.Manifestaçõesbregistradasbnobquestionáriob

Neste item apresentamos e analisamos as manifestações dos professores coordenadores registradas no questionário. Foram aplicados questionários para 57 professores coordenadores pedagógicos que exerciam a coordenação em escolas localizadas em dois municípios da região metropolitana de São Paulo. Essas escolas estão subordinadas a uma mesma DRE.

Foi solicitado aos respondentes que identificassem o nome da escola para que pudéssemos fazer um contato posterior com alguns deles para a realização das entrevistas.

Apenas um respondente não quis registrar o nome da escola em que exerce a função de professor coordenador.

O questionário foi respondido pelos professores coordenadores no mês de novembro de 2007, durante reunião com os assistentes técnicos pedagógicos, na DRE. A responsável pela reunião informou aos professores coordenadores que eles iriam responder a um questionário ao final da mesma.

Alguns professores coordenadores ficaram relutantes em responder prontamente ao questionário. Vários solicitaram levar o instrumento para responder posteriormente, devolvendo-o para a DRE que faria o encaminhamento do mesmo ao pesquisador. Mas, solicitamos que entregassem naquele momento mesmo, pois queríamos saber o que eles pensavam sobre as questões, sem que precisassem levantar dados na escola ou consultar o diretor.

Após as orientações e esclarecimentos, os professores coordenadores responderam ao questionário. Pudemos perceber que a maioria respondeu com interesse, não havendo problemas durante aplicação.

O questionário (ver Anexo I) é composto de duas partes. A primeira contém um

Documentos relacionados