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PROIBIÇÕES E PENALIDADES

2. A ORIGEM DA PROFISSÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA

3.2 PROIBIÇÕES E PENALIDADES

Os Oficias de Justiça são servidores com grandes responsabilidades, devendo respeitar a supremacia do interesse público e os princípios constitucionais que regem a administração, quais sejam: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Por suas mãos passam, diariamente, a execução de ordens essenciais ao andamento da justiça e à solução de litígios. Por essa razão, não podem eles se furtarem a determinadas regras de conduta, inerentes ao correto exercício do seu ofício, absolutamente necessárias para salvaguarda a credibilidade de seus atos e a sua prerrogativa de fé pública.

Está, pois, condicionada à função do Oficial de Justiça, idoneidade, ética e moral, sendo-lhe vedado qualquer ato que atente contra esses valores. Veado (1997, p. 183) adverte que: “[…] Será sempre necessário recordar e registrar, que a atividade forense é extremamente exigente no tocante aos princípios da Moral e no que diz respeito à atitude ética dos que a integram”.

Tem-se, de saída, que o Oficial de Justiça deve estar imbuído de retidão de caráter, tendo, de antemão, que se resguardar de atos que manchem a imagem da categoria, primando pela austeridade, qualidade essencial para o exercício de qualquer função pública.

Veado (1997, p. 188) explica que: “Na sociedade, o Oficial de Justiça haverá de ter comportamento exemplar e ilibado. Evitar o uso de bebida alcoólica é

de extrema importância”. Assim sendo, mesmo aquilo que não lhe é expressamente proibido, mas que se relaciona à moralidade, deve ser seguido como princípio norteador de sua postura profissional.

Veado (1997, p. 192) põe em evidência que os valores morais são:

Atitudes dignas dos Oficiais de Justiça reveladas na prática de sua atividade, de extrema importância nos ordenamentos judiciais e judiciários da comarca, é que configuram nesse prestimoso Auxiliar da Justiça a qualificação da HONESTIDADE, da INTEGRIDADE, da RETIDÃO e da DIGNIDADE e outros mais valores morais que ornam sua personalidade. Essas qualidades são atributos de sua personalidade inatingível, são moldura do seu caráter inatacável. O artigo 346 do Código de Divisão e Organização Judiciária de Santa Catarina prevê os casos em que os serventuários da Justiça deverão ser afastados de suas funções, nos seguintes termos:

I - por efeito de sentença condenatória recorrível, salvo se condenado por crime de que se livre solto;

II - em virtude de pronúncia.

Parágrafo único - Poderá também o serventuário ser afastado

durante o respectivo processo, quando acusado de fato que constitua delito punível com pena privativa de liberdade, superior a um ano, por decisão do juiz de direito, com recurso voluntário para o Tribunal de Justiça.

Por outro lado, o Oficial de Justiça exerce função representando os interesses de terceiro, ou seja, do próprio Estado, que detém a tutela do direito, buscando manter ou restabelecer a ordem e a paz social. Por esse motivo, o Estado tem a incumbência de organizar as funções administrativas e regulamentar as atribuições, direitos, deveres, proibições e penalidades do seu corpo funcional, o qual é responsável por operacionalizar as demandas da máquina estatal.

Nesse diapasão, é lícito lembrar que o artigo 144 do Código de Processo Civil prevê: “O escrivão e o Oficial de Justiça são civilmente responsáveis: I – quando, sem justo motivo, se recusarem a cumprir, dentro do prazo os atos que lhes impõe a lei, ou os que o juiz, a que estão subordinados, lhes comete; II – quando praticarem ato nulo com dolo ou culpa”.

Soares (2007, p. 20) alerta para o fato de que: “[...] a Lei Processual Penal, no disposto do art. 655, impõe multa, entre outros, ao Oficial de Justiça que causar embaraço ou procrastinação na expedição ou cumprimento da ordem de

hábeas corpus”.

O Código Civil (2002), em seu artigo 186, dispõe sobre as penalidades impostas nos casos de responsabilidade civil, em função de atos ilícitos praticados, com a seguinte dicção: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

O mesmo código (2002, Artigo 927, parágrafo único) obriga a aquele que causar dano a outrem, por ato ilícito a repará-lo, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quanto a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Levenhagen (1995) frisa que, o Oficial de Justiça e o escrivão têm a obrigação de cumprir com o que é designado pela lei ou pelo juiz dentro do devido prazo. Ao causar danos ou prejuízos, qualquer uma das partes do processo: “[...]

deve ser por eles indenizada, desde, porém, que não tenha havido um motivo justo para a recusa. Se a recusa se deu por motivo justificado, ainda que tenha causado prejuízo, não haverá responsabilidade pelo ressarcimento”. (LEVENHAGEN, 1995, p. 162).

A indenização ou punição é imposta ao serventuário que tenha agido com dolo, culpa, má fé ou fraude. Levenhagen ratifica que (1995, p. 163). “Será imprescindível, portanto, que o serventuário tenha praticado o ato nulo e danoso com a intenção de praticá-lo de forma ilegal ou que tenha agido com negligência ou imprudência”.

Com relação a sua conduta profissional, o Oficial de Justiça deve acatar os princípios contidos no Código de ética profissional, devendo se resguardar de indiscrição na sua linguagem falada ou escrita, de onde se conclui que, precisa evitar referir-se de modo pejorativo nas informações, pareceres ou despachos. Seu comportamento necessita estar pautado pelo respeito às autoridades e aos atos da administração pública.

Nary (1994, p. 23) ventila que o Oficial de Justiça: “[…] Não deve retardar o cumprimento de mandados, sem motivo justificado […]”, ressaltando, igualmente, que lhe é exigido impessoalidade no cumprimento do seu dever, estando obrigado a atender ao público sem preferências pessoais. Por serem agentes públicos, devem

atuar com a mesma impessoalidade que cabe ao juiz, uma vez que é público o serviço prestado e, quando no exercício de suas funções, é o Estado quem atua através deles.

Dentre as proibições que tangem seu mister, cabe ressaltar que, não pode ele retirar qualquer documento ou objeto da repartição sem autorização da autoridade competente e nem valer-se do cargo para galgar proveito pessoal em detrimento da dignidade da função.

A má conduta ou irregularidade cometida pelo Oficial de Justiça deverá ser apurada pelo Juiz de Direito ou Diretor do Fórum que designarão funcionários para averiguar a veracidade e procedência da denúncia, instaurando sindicância, sumária e sigilosa. No prazo improrrogável de trinta dias a comissão sindicante deverá apresentar o relatório, indicando, ou não, a abertura do processo disciplinar.

Nos casos em que se instaure o processo disciplinar, a comissão deverá ser formada por três funcionários estáveis, indicados pela autoridade competente. Dentre eles, haverá um designado para presidente, devendo dirigir os trabalhos e outro será indicado para secretariá-los.

O prazo para instauração da comissão é de três dias, a contar da data da designação dos membros da comissão, devendo ser concluída no prazo máximo de sessenta dias, salvo por força maior, caso em que a autoridade competente poderá prorrogar o final dos trabalhos pelo prazo máximo de trinta dias.

Os Oficiais de Justiça estão proibidos de participar de gerência ou administração de empresa comercial ou industrial, exercer comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como acionista, quotista ou comandatário.

É vedado, também, que trabalhem sob ordens de parentes, até segundo grau, salvo quando se tratar de função de imediata confiança e de livre nomeação; receber propinas, comissões, presentes, vantagens de qualquer natureza; praticar usura em qualquer de suas formas; pleitear como procurador ou intermediário junto às repartições públicas, salvo quando se tratar de percepção de vencimentos e vantagens de parente até segundo grau.

O Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado de Santa Catarina regulamenta que os Oficiais de Justiça do Estado estão sujeitos as seguintes penalidades: repreensão, multa, suspensão, perda da delegação e

demissão. Considera-se, para a aplicação da penalidade, a gravidade da infração cometida e os danos que dela provierem ao serviço público. “As penas serão impostas pelo juízo competente, independentemente da ordem de gradação, conforme a gravidade do fato”. (CDOJSC - Código de Divisão e Organização Judiciária de Santa Catarina, 1979, art. 34).

O Código de Divisão e Organização Judiciária de Santa Catarina (1979, art. 35) regulamenta as circunstâncias que ocasionarão a penalidade da perda da delegação, afirmando que esta dependerá:

Art. 35. A perda da delegação dependerá: I - de sentença judicial transitada em julgado; ou

II - de decisão decorrente de processo administrativo instaurado pelo juízo competente, assegurado amplo direito de defesa.

§ 1º Quando o caso configurar a perda da delegação, o juízo competente suspenderá o notário ou oficial de registro, até a decisão final, e designará interventor, observando-se o disposto no art. 36. O servidor somente poderá ser punido com demissão ou destituição da função mediante a conclusão do processo administrativo, no qual sempre lhe será garantido o direito da ampla defesa e do contraditório, bem como, vistas ao processo. Na conclusão do inquérito poderão ser aplicadas somente, como penalidades, a repreensão, multa ou a suspensão, dado que este é simples preliminar do processo administrativo.

A pena de repreensão será aplicada por escrito, devendo ser registrada na ficha de cadastro funcional do Oficial de Justiça e, em princípio, corresponderá às faltas de cumprimento de deveres e às transgressões consideradas de natureza leve. As penas de suspensão deverão ser aplicadas quando se constatar a existência de dolo ou má fé, nas faltas consideradas graves, não podendo exceder de noventa dias.

O funcionário suspenso perderá todas as vantagens e direitos decorrentes do exercício do cargo. Essa penalidade poderá ser convertida em multa pela autoridade competente, na base de cinquenta por cento por dia de vencimento ou remuneração, sendo o servidor, neste caso, obrigado a permanecer no serviço.

Ainda com relação ao Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado de Santa Catarina (1979, art. 363) é lícito contemplar quais são as

finalidades da disciplina judiciária e quem a exerce:

A disciplina judiciária tem a finalidade de zelar pela exata observância das leis e regulamentos que interessam à administração da Justiça, será exercida:

I - pelo Tribunal Pleno e Câmaras;

II - pelo Conselho Disciplinar da Magistratura; III - pela Corregedoria Geral da Justiça; IV - pelos Diretores do Foro;

V - pelos Juízes;

VI - pelo Juiz-auditor da Justiça Militar. (Item VI com redação determinada pelo art. 20 da Lei n. 6.899, de 05 de dezembro de 1986.)

O Código de ética profissional dos Oficiais de Justiça menciona outras proibições que os Oficiais de Justiça devem observar e acatar para honrar a profissão, exercendo-a com seriedade, competência e austeridade. Dentre estas é válido citar: Não exercer atividades incompatíveis com a função de Oficial de Justiça; não se portar de modo inconveniente em solenidades ou reuniões sociais; não praticar violência no exercício da função; não frequentar lugares que, pela localização, frequência, finalidade ou práticas habituais possam comprometer a austeridade das funções e o renome da classe; não frequentar casas suspeitas, cabarés, prostíbulos, clubes de carteado, salões de bilhar ou de jogos semelhantes; não se exceder no uso de bebidas alcoólicas; não esquivar-se de satisfazer compromissos pecuniários ou de ordem moral; andar decente e discretamente trajado; não manter relações de amizades com pessoas notoriamente suspeitas ou de baixa reputação; não praticar, na vida privada, qualquer ato que provoque escândalo público. (NARY, 1994, p. 22)

Os Oficias de Justiça tem uma participação de grande relevância na tutela jurisdicional do Estado, o que lhe obsta afastar-se dos ditames da lei, devendo ter consciência da sua responsabilidade e importância profissional, pois representam a longa manus do juiz. Por tal prerrogativa, tem de estar em condições morais para servir como tal, no desempenho da manus que tem por outorga legal.

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