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Projeção e delineamento da ação educativa

Parte II – Estudo Empírico

Capítulo 3 – Questões e objetivos de pesquisa

4.5. Projeção e delineamento da ação educativa

O delineamento da ação educativa foi feito com base no documento orientador dos educadores de infância: as OCEPE (Orientações Curriculares para a Educação Pré- escolar).

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Considerando a criança como um ser holístico e complexo, a qual se desenvolve por meio de diferentes linguagens, uma vez que “não há uma personalidade constituída pela associação de diferentes fatores, como se fosse uma manta de retalhos, mas um todo único, indissociável” (Sousa, 2009, p. 11) e acreditando que a criança, tal como nós adultos, possui “múltiplos canais para comunicar as [suas] verdades, os [seus] planos e os [seus] sonhos” (Gomes-Pedro, 1989, p.64), planeei a minha abordagem na perspetiva da interdisciplinaridade. Acreditando que, deste modo, vou ao encontro da criança na sua plenitude, respeitando a sua individualidade e essência.

Como tal, pretendi dar lugar de destaque às expressões, não só por as considerar fundamentais no desenvolvimento da criança, mas por se tratarem também de um veículo de comunicação entre nós (crianças e adultos) e as nossas emoções. Lowenfeld, citado por Farinha (2016), acreditava que a expressão livre das crianças era “condição necessária para o seu crescimento saudável e equilibrado” (p. 120), considerando-a “um meio de desenvolvimento da criatividade e sensibilidade que o indivíduo deveria depois aplicar nos diversos aspetos da sua vida” (Farinha, 2016, p. 121).

Na visão de Godinho e Brito (2010) é fundamental que o contato com as expressões artísticas seja estimulado desde cedo, uma vez que “pressupõe a experiência sensorial (observar, escutar, tatear…) e a experiência emotiva que resulta do confronto entre as obras e os sentimentos imediatos ou as memórias de vivências anteriores” (p.99). Toda a minha intencionalidade e intervenção educativa desenvolveu-se, também, por meio de um contexto de afetividade e segurança, pois “um ambiente suficientemente securizante promove o desenvolvimento das crianças. Com efeito, é o fato de a criança se sentir segura que vai fazer com que ela possa explorar o mundo à sua volta (…), a conhecer-se a si própria, quer dizer, a tomar sentido das suas capacidades e limitações” (Farinha, 2016, p. 60).

No que diz respeito à intervenção propriamente dita, esta desenrolou-se através de uma linha condutora, a qual dá sentido às aprendizagens e onde o aspeto lúdico se enlaça como ferramenta indispensável para aprender.

Como Winnicott, citado por Farinha (2016), refere, “a atividade lúdica cria um “espaço transitivo” de experimentação de si próprio, dos outros, do mundo físico, área na qual a criança tenta exteriorizar a sua realidade interna e interiorizar a realidade externa” (p.165).

Assim, “adotar uma pedagogia organizada e estruturada não significa introduzir na educação pré-escolar certas práticas "tradicionais" sem sentido para as crianças, nem

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menosprezar o carácter lúdico de que se revestem muitas aprendizagens” (Ministério da Educação, 1997, p. 18). O caráter lúdico deverá, portanto, ser presença assídua na ação do educador.

Desta forma, considerando a inteligência emocional como a capacidade em identificar e gerir as próprias emoções, bem como as dos outros, tomei como indicadores no delineamento das minhas ações para exploração das emoções (alegria, tristeza, raiva e calma), os seguintes:

1. No que concerne ao autoconhecimento emocional

 Identifica e nomeia as próprias emoções;

 Exterioriza através de diferentes linguagens/expressões (oral, facial, corporal, musical, plástica) as suas emoções;

2. No que concerne ao autocontrolo e regulação das emoções

 Atribui causas/motivos para as suas emoções;

 Procura soluções para a gestão das próprias emoções;

3. No que concerne à capacidade de empatia

 Identifica e nomeia as emoções dos outros e/ou das personagens;

 Demonstra respeito e validação pelas emoções dos outros;

 Atribui causas/motivos para as emoções dos outros e/ou das personagens;

Partindo do pressuposto de que a inteligência emocional engloba não só a relação que o sujeito tem consigo mesmo, mas também, a relação que tem com os outros, fez-me sentido trabalhar as emoções com as crianças de dentro para fora, ou seja, começando por levá-las a olhar para si próprias, passando depois para a relação com os outros e com o mundo.

Assim sendo, numa primeira fase, pretendi explorar com as crianças as emoções perspetivando-se o autoconhecimento emocional (olhar para si próprias, descobrindo-se e validando-se).

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Depois, após esse reconhecimento, levá-las a encontrar estratégias para lidarem com o seu interior, autorregulando-se (buscar soluções para contornar dificuldades e/ou emoções menos positivas).

Por fim, numa última abordagem, possibilitar-lhes a descoberta das mesmas emoções nos outros (criando uma ponte entre si), promovendo a sua capacidade de empatia que, apesar de ser considerada inexistente em crianças pertencentes ao estádio de desenvolvimento onde este grupo de crianças pertence (o pré-operatório), acredito haver a possibilidade de a desenvolver mesmo a partir de tenra idade pelos simples fato de acreditar que as crianças são intrinsecamente boas.

Se pensarmos numa situação, a qual a maioria de nós adultos já devemos ter presenciado, onde uma criança pequena responde automaticamente ao choro ou aflição de um indivíduo que lhe é próximo (abraçando-o, acariciando-o ou proferindo-lhe algumas palavras, na tentativa de o reconfortar), é porque, de alguma forma, conseguimos ver efetivamente que a criança entende o sofrimento alheio de uma forma real e em perspetiva com o seu próprio sofrimento (quando também chora ou está aflita), pois é capaz de reproduzir um comportamento que, muito possivelmente, alguém teve com ela no passado, mediante uma situação idêntica.

Como tal, podemos concluir que uma criança que tem esta e outras reações similares, apresenta um certo grau de desenvolvimento e envolvência emocional com as suas emoções e com a dos outros. Isto porque, primeiramente, reconhece as emoções, pois identifica-as no outro. Depois, demonstra uma capacidade empática e relacional, na medida em que transfere a noção que tem daquela emoção que já experienciou, sendo capaz de a projetar e rever noutra pessoa, relacionando-se com o que o outro está a sentir e, por fim, serve-se da sua memória afetiva – e esta é a razão pela qual é tão importante a criança crescer num ambiente onde é valorizada, cuidada e amada – para perceber qual o comportamento mais adequado a ter no momento, de acordo com o que anteriormente, em situações parecidas, outros tiveram com ela.

Acredito, portanto, que a criança dá o que recebe. Cabe-nos, por isso, oferecer-lhe o nosso melhor.

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