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Capítulo IV: Metodologia

IV. 2 2 Projecto RadioActive 101

Como vimos, o Projecto RadioActive, o segundo estudo de caso, é uma iniciativa desenvolvida a nível europeu. Este projecto, com a rádio online RadioActive 101, não só trabalha com comunidades com algum grau de exclusão, como também está ligado à educação para os media.

Em Portugal, o projecto está a ser desenvolvido em três centros do Programa Escolhas: dois deles são na cidade do Porto, o Metas (com experiências anteriores de rádio escolar) e o Catapulta (recente e sem qualquer experiência com a rádio); o terceiro é o Trampolim, onde alguns participantes têm experiência de projectos na web, em Coimbra (Brites, M., Jorge, A., Santos, S., Navio, C., em edição).

O estudo sobre o projecto RadioActive 101 divide-se em duas partes. A primeira incide na análise dos programas realizados nos dois centros do Porto e a segunda prende-se com a observação não participante de uma formação de dicção nos mesmos dois centros, de uma emissão em directo no centro Metas e de duas entrevistas realizadas com Renato, José e Jonas, três jovens que trabalham para o centro e para a comunidade e que desempenham papéis de relevo na implementação do projecto

RadioActive 101 no centro Metas.

A análise dos programas realizados tem como objectivo observar a estrutura do próprio programa e os elementos que o compõem seguindo a categorização desenvolvida por Balsebre (2005 cit. por Portela, 2006:26), apresentada no capítulo I a par da descrição da estrutura da rádio e dos elementos que constituem uma emissão. Este autor afirma que a linguagem radiofónica é “o conjunto construído pelos códigos simbólicos da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio”. Assim, foram constituídas grelhas em que foram dispostos os vários conteúdos seguindo a categorização acima referida. A análise destes programas, realizados anteriormente às deslocações, torna-se pertinente na medida em que permitiu perceber como eram estruturadas as emissões, quais os seus conteúdos programáticos, aferir sobre a escolha de músicas, sobre a dicção e a capacidade comunicativa das crianças e jovens participantes, entre outros. Todos estes factores possibilitaram um conhecimento da realidade que foi observada depois. Desta maneira, o trabalho de campo não é um contexto completamente desconhecido aos olhos do investigador.

Numa segunda fase, e depois de feita a análise dos programas, surgiu a possibilidade de entrevistar elementos de um dos centros (Metas), de observar as reacções a uma emissão em directo e ainda a formação de dicção, também no âmbito do trabalho com a rádio. A observação não participante aliada à elaboração de um diário de campo permite ao investigador testemunhar e documentar comportamentos, relações e atitudes que possam, de alguma forma, alterar ou complementar a investigação em questão e o contexto em que decorre. Como referem os autores Quivy e Campenhoudt (1995:83), “é importante não deixar de observar e anotar os fenómenos, acontecimentos e informações aparentemente anódinos, mas que, relacionados com outros, podem revelar-se de maior importância”. Entenda-se por observação não participante a observação em que o investigador “observa «do exterior» os comportamentos dos actores em questão” (Quivy & Campenhoudt, 1995:84).

As duas entrevistas realizadas no centro Metas aconteceram sem estarem previstas. Ainda que sem um guião pré-estabelecido, basearam-se num contacto directo entre três entrevistados e a investigadora de onde surgiu uma conversa sobre os temas da investigação e foram abordadas questões que já tinham sido discutidas nas entrevistas do outro projecto. Segundo Luísa Aires (2011:28-29), as entrevistas não estruturadas não pressupõem perguntas definidas a priori e são quase como uma conversa que flui entre os participantes: entrevistador e entrevistados e tornam-se úteis pois “o seu objectivo básico consiste na recolha e aprofundamento de informação sobre acontecimentos, dinâmicas, concepções detectadas, ou não, durante a observação. É importante referir ainda que a primeira entrevista realizada no âmbito do projecto

RadioActive 101 foi uma entrevista de grupo que contou com a participação de dois

jovens do projecto.

IV.3 – Entrevistas e análise

O Quadro I caracteriza os participantes entrevistados, em entrevistas individuais, colectivas e grupos de foco.

Quadro I: Participantes nos Projectos entrevistados

Projecto Rádio e TV nas Escolas Projecto

RadioActive 101 Entrevistas

Renato e José

(entrevista colectiva) - Centro Metas Jonas - Centro Metas Escola Secundária Ibn

Mucana

Rosário Valente- professora e coordenadora da TRIM Escola Secundária

Frei Gonçalo de Azevedo

João Pinto- aluno e coordenador da RTA

Geração C, Câmara

Municipal de Cascais

João e Sílvia- apoiam o desenvolvimento do projecto

Grupos de foco

Escola Secundária Ibn Mucana

GF1: Joana (17 anos), Rodrigo (15 anos, Raquel (15 anos).

GF2: Maria (15 anos), Mafalda (18 anos), Inês (18 anos), Bruno (17 anos). GF3: Joana (12 anos), Duarte (12 anos), Tiago (12 anos), Inês (12 anos), Miguel (12 anos), Margarida (12 anos), Matilde (12 anos).

Para a análise qualitativa dos documentos verbais recolhidos, foi utilizado o programa de análise de conteúdo MAXqda. A análise de conteúdo pode ser classificada, segundo Bardin (2006 cit. por Mozzato, A., Grzybovski, D., 2011:734), como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens. (...) A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não) ”. Posto isto, o mesmo autor define então as três fases em que se desenrola a análise de conteúdo sendo que a primeira é a pré-análise, a segunda a exploração do material e a terceira o tratamento dos resultados, inferência e interpretação (Bardin, 2006 cit. por Mozzato, A., Grzybovski, D., 2011:735).

A fase da pré-análise corresponde à organização do material para que este se torne operacional o suficiente sintetizando as ideias principais. Esta organização decorre em quatro etapas: leitura flutuante em que se toma contacto com os materiais provenientes da recolha de dados; escolha dos documentos que pressupõe uma selecção do que vai ser constituído como material de análise; formulação de hipóteses de estudo; elaboração dos indicadores com base na análise dos materiais recolhidos (Bardin 2006 cit. por Mozzato, A., Grzybovski, D., 2011:735).

A fase de exploração do material pressupõe a elaboração de categorias de análise (codificação), a identificação das diversas unidades de registo que constituem essas mesmas categorias e o contexto que a codificação ocupa nos materiais recolhidos (Bardin 2006 cit. por Mozzato, A., Grzybovski, D., 2011:735). A interpretação do material, neste ponto, torna-se crucial para construir uma árvore de categorias23 que seja espelho de todas as hipóteses exploratórias da investigação.

A terceira e última fase corresponde à etapa em que são “descodificados” os resultados da codificação até este ponto elaborada, ou seja, esta fase “é destinada ao tratamento dos resultados; ocorre nela a condensação e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais; é o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica (Bardin 2006 cit. por Mozzato, A., Grzybovski, D., 2011:735).

As dimensões da codificação e da categorização constituem um ponto crucial no desenvolvimento de toda a análise de conteúdo pois é através delas que se vai desenvolver todo o trabalho e parte da sua definição os resultados obtidos no final da análise.

O nosso estudo passou por estes passos analíticos. Depois de enumeradas as opções metodológicas que nortearam a realização do estudo, apresentamos nos capítulos seguintes, a análise dos resultados.

Capítulo V – Análise de resultados

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