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4.1. Enquadramento geral

O Solvência I é o regime que regula o cálculo das garantias financeiras das empresas de seguros e resseguros que se encontra actualmente em vigor. Ainda que se tenha revelado eficiente ao longo dos anos, o método de cálculo da solvência é bastante simplificado, apresentando por isso algumas limitações, nomeadamente no que respeita aos diversos riscos a que as empresas se encontram expostas. A aplicação entre os Estados-Membros da União Europeia apresenta também algumas disparidades pelo que se tornou necessário a implementação de um novo regime, comum a todos os Estados-Membros e com uma maior sensibilidade aos riscos.

O projecto Solvência II surgiu assim no Plano de Acção para os Serviços Financeiros da União Europeia (1999-2005), tendo como principal propósito a revisão de garantias financeiras para o sector segurador, de modo reforçar a garantia e salvaguarda dos direitos dos segurados.

Em Abril de 2009, foi aprovada a Directiva Solvência II (Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho) que definiu as regras do novo regime (consideradas como medidas de nível 1), que se prevê que entre em vigor até Outubro de 2012. Encontram-se também para consulta

33 pública um conjunto de documentos que visam definir as medidas de nível 2 para implementação do projecto (CEIOPS Consultation Papers).

Em termos gerais, a implementação do projecto Solvência II implica um conjunto de importantes desafios a nível quantitativo, de governance e de reporting de informação, que foram definidos num modelo de três pilares.

Importa então salientar a relevância e o impacto que este novo regime trará em relação à matéria de securitização de riscos catastróficos.

Em primeiro lugar, conforme disposto no artigo 209.º da Directiva, passam a ser reguladas pelas entidades de supervisão locais as entidades instrumentais, estabelecidas em território dos Estados-Membros, que assumam riscos de empresas de seguros e resseguros e os transfiram para uma terceira parte, no caso, os investidores.

De facto, existe uma grande preocupação em regular estas entidades, principalmente depois dos problemas verificados na securitização de riscos associados ao crédito, pelo que se torna relevante a implementação de medidas que garantam uma protecção dos segurados e também, que evitem a ocorrência de um risco sistémico (no ponto 4.2 serão apresentadas as principais directrizes no que respeita a esta matéria).

Em segundo lugar, para efeitos de cálculo do rácio de solvência, passa a ser permitido a inclusão dos montantes recuperáveis das entidades instrumentais nos Elementos Elegíveis de Capital.

Vejamos então como se determina o rácio de solvência e qual a relevância deste facto na estruturação do Balanço de uma empresa de seguros, definido no Pilar I do projecto:

Figura 15 – Estrutura do Balanço

34 O rácio de solvência de uma empresa será obtido através do quociente entre as componentes de “Elementos Elegíveis de Capital” e “Requisitos de Capital Regulamentar”, na figura acima descrito como “Solvency capital requirement” (também designado por SCR).

Em relação à primeira componente, esta é obtida pela diferença entre os elementos activos e passivos do balanço. Note-se então que um montante recuperável de um SPV, entrará em balanço do lado do passivo, como uma responsabilidade para liquidar o sinistro aos segurados, constituindo-se por isso, uma provisão técnica e no lado do activo pelo montante a recuperar ao SPV para pagamento desse mesmo sinistro, não resultando assim qualquer impacto em resultados e em balanço9.

No entanto, para efeitos do apuramento do rácio de solvência, é de relevar que os montantes recuperáveis de um SPV que constam nas provisões técnicas, não são incluídos no cálculo das mesmas para o apuramento da melhor estimativa (ou best estimate), que é apurada bruta desses montantes (requisito este, que se encontra definido nas especificações técnicas do QIS 410 para apuramento da best estimate). Este facto resulta numa redução das provisões de balanço e, consequentemente, no aumento da componente de “Elementos Elegíveis de Capital”.

No entanto, apesar de contribuir positivamente para o rácio de solvência, encontra-se disposto no artigo 80.º da Directiva que o cálculo desses montantes recuperáveis “deve ser ajustado de forma a ter em conta as perdas esperadas por incumprimento da contraparte. Esse ajustamento deve basear-se numa avaliação da probabilidade de incumprimento da contraparte e do valor médio da perda daí resultante (loss-given-default)”. Ou seja, no apuramento dos elementos elegíveis de capital, o efeito é positivo, ainda que deva ser ajustado pelo risco de contraparte que estará naturalmente associado aos investimentos efectuados pelo SPV na Trust Account.

Apenas de referir que a segunda componente do rácio, o SCR, representa o nível de capital necessário para que uma seguradora possa absorver um significativo valor de perdas, dando assim razoável segurança aos segurados de que os pagamentos irão ocorrer conforme o vencimento. O SCR é determinado através de uma fórmula standard que mede o impacto de todos os riscos a que empresa se encontre exposta (p.e. riscos de mercado, crédito, operacional, vida, não vida, etc.) (para mais informação vide informação publicada pela APS).

9 Situação exemplificada no Consultation Paper n.º 36 – Anexo 33.

10 QIS 4 (Quantitative Impact Study 4), foi um exercício promovido pelo CEIOPS em 2008, para medir, entre

outros, o impacto que as novas especificações técnicas teriam no cálculo das provisões técnicas e na fórmula standard para apuramento do SCR.

35 4.2. A regulação das entidades instrumentais

Com a entrada em vigor da Directiva Solvência II, entrarão também em vigor as medidas de nível 2 para regulação das entidades instrumentais sediadas nos Estados-Membros.

Essas medidas encontram-se já definidas no Consultation Paper n.º 36, emitido em Março de 2009 pelo CEIOPS, e apresentam como principais objectivos definir:

(i) o âmbito de autorização;

(ii) as condições gerais nos contratos a emitir; (iii) os requisitos de governance;

(iv) os requisitos de reporte à supervisão; e (v) os requisitos de solvência.

Face às medidas apresentadas, é de destacar a relevância para sejam cumpridas as condições gerais referidas no ponto (ii) supra, já que delas deverão constar um conjunto de princípios que visam responder aos problemas que possam resultar destas transacções. Esses princípios estão essencialmente relacionados com o financiamento das entidades e a prudência que deverá estar associada à sua gestão, com os direitos e obrigações dos investidores, com o funcionamento da transacção, e também, com a documentação necessária.

Relativamente às entidades que se encontrem sediadas fora do território dos Estados-Membros, ainda não se encontra formalizado em que directrizes vão poder actuar, mas em princípio, deverão cumprir alguns dos requisitos que se encontrem definidos para as entidades sediadas nos Estados-Membros.

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