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3. O PROJETO SEPÉ TIARAJU

3.3 O projeto Sepé Tiaraju – parceria HABIS e famílias

3.3.1 O projeto arquitetônico

Num primeiro momento, para a criação do projeto arquitetônico das casas do Sepé foram feitas reuniões com cada núcleo separadamente e o objetivo principal era extrair dois modelos de projeto arquitetônico por núcleo, unir as características equivalentes entre os desenhos gerados pelos outros núcleos e posteriormente fundir as semelhanças gerando um número menor de tipologias com maior embasamento técnico.

Para se iniciar a conversa sobre como seria a casa dos sonhos das famílias do Sepé tornava-se necessário saber quais os usos que ela deveria ter. Considerando que cada família tinha suas próprias necessidades, a participação do maior número de famílias por reunião nos núcleos era sumariamente importante. Para isso, perguntas chaves estimularam essa participação:

“O que é morar na casa?”

“O que vocês esperam ter na casa?”

“O que vocês fazem na casa?”

“Pra que vocês usam a casa?”

Primeiramente, foi listado um programa de necessidades por meio das respostas das famílias às perguntas feitas pelos assessores técnicos nas reuniões com os núcleos. E através do método de cartelas e bloquinhos de mobiliário em planta feitos com cartolina e colados num papel Kraft, método que permite grande flexibilidade de criação, os assessores em conjunto com as famílias projetaram os espaços que comportavam os usos de cada ambiente citado no programa de necessidades já com os móveis e equipamentos necessários. No momento seguinte, delimitaram-se as dimensões a partir de condicionantes como o valor do financiamento e a escolha do material construtivo.

Figura 11: Núcleo Chico Mendes participando da criação dos primeiros desenhos da casa através do

método de cartelas e bloquinhos de mobiliário colados em papel Kraft. Fonte: Grupo Habis, 2006.

Figura 12: Núcleo Dandara participando da criação dos primeiros desenhos da casa através do

método de cartelas e bloquinhos de mobiliário colados em papel Kraft. Fonte: Grupo Habis, 2006.

Figura 13: Núcleo Paulo Freire participando da criação dos primeiros desenhos da casa através do

método de cartelas e bloquinhos de mobiliário colados em papel Kraft. Fonte: Grupo Habis, 2006.

Figura 14: Núcleo Zumbi participando da criação dos primeiros desenhos da casa através do método

Alguns pontos em comum foram extraídos das conversas com as famílias como a necessidade de um fogão à lenha, sendo que este ficaria do lado externo da casa para que não enchesse de fumaça e esquentasse internamente a moradia em épocas quentes. A varanda também é um espaço importante, é uma extensão da área de convívio, até mais que a sala; serve para receber visitas não muito íntimas, para guardar o carro, para estender a rede, entre outros usos. Mas uma das maiores preocupações levantadas pelas famílias era se a casa teria uma laje de concreto e para isso a estrutura deveria suportá-la. Quando perguntados sobre o porquê da necessidade de se ter uma laje, as famílias responderam que era por causa da presença de insetos (pernilongos), ventos e chuvas fortes e segurança estrutural.

A partir das primeiras impressões das famílias sobre como queriam que fossem suas casas, sistematizaram-se os desenhos criados no papel Kraft e observou-se que havia algumas semelhanças entre os desenhos feitos pelos diferentes núcleos. A estratégia seguinte foi a de acrescentar aos desenhos um pouco de rigor técnico e voltar ao assentamento para perguntar às famílias de cada núcleo o que achavam que tinha melhorado ou piorado do desenho anterior. Foram discutidas questões como uma ou duas águas de telhado, extensão do corredor, a quantidade de quartos, ter ou não varanda, ter ou não cozinha integrada, posicionamento do banheiro, altura do pé-direito, ter ou não despensa, entre outros pontos técnicos. O objetivo principal neste momento era definir as prioridades projetuais, de forma a entrar num consenso dos pontos comuns.

Com o levantamento dos pontos comuns defendidos pelas famílias de todo os núcleos, bem como com os desenhos gerados nas reuniões, pode-se analisar e sistematizar os dados e traçar uma proposta de tipologias finais a ser apresentada aos assentados em uma assembléia geral. Foram projetadas então três tipologias: uma planta de 2 quartos e outra de 3 quartos com material cerâmico e uma planta de 3 quartos com material alternativo, neste caso o adobe.

Na assembléia geral para escolha das tipologias foram colocadas lado a lado as plantas geradas pelas famílias e as três plantas propostas pela equipe de assessores técnicos do HABIS. Efetuou-se então uma votação família por família para saber qual das três tipologias elas queriam e se aceitariam o projeto com correções técnicas proposto pelos assessores a partir dos próprios desenhos criados por elas. De maneira geral as tipologias propostas pelos assessores tiveram

boa aceitação e ao final da assembléia definiu-se que seriam mesmo três tipologias finais e o número de famílias que havia escolhido cada uma delas.

Figura 15: Sistematização dos projetos gerados pelo núcleo Paulo Freire com acréscimo das

propostas feitas pela equipe técnica (1ª imagem) e painel de votação das tipologias finais família por família (2ª imagem). Fonte: Grupo Habis, 2006.

A próxima etapa agora consistia em escolher e aplicar o material construtivo no projeto arquitetônico das tipologias criadas para avaliar as dimensões possíveis a partir dos custos de diferentes sistemas construtivos limitados pelo valor liberado pelo financiamento.