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O projeto “Social Environment and Physiologic Adaptation”, denominado SEPA, foi desenvolvido em Ribeirão Preto, no Brasil, no período de 1991 a 1994 e teve financiamento da National Sciense Foundation. Seu investigador principal foi William W. Dressler e o co- investigador José Ernesto dos Santos.

Empregou-se uma amostra maior e mais representativa (n=304) do que no primeiro projeto. Utilizaram-se na amostragem, ao invés de grupos ocupacionais, áreas da cidade avaliadas como representativas de diferentes níveis socioeconômicos, incluindo uma favela,

um conjunto habitacional, um bairro de classe média tradicional e um bairro de classe média alta. Para aprimorar algumas das imperfeições conceituais e metodológicas do primeiro estudo, utilizaram-se inovações em teoria e método antropológicos. Em formulações originais do modelo de estresse, o conceito de cultura era essencialmente ignorado. Assumia-se que os estímulos importantes que geram a resposta de estresse e os importantes recursos que são usados para enfrentar aqueles estímulos, são todos definidos (ou percebidos como importantes) pelos indivíduos. Todavia, a pesquisa antropológica mostra claramente que a maior parte do que é realmente valorizado pelas pessoas é valorizado por causa de seu significado coletivo ou compartilhado, isto é, seu significado cultural. Portanto, os mais importantes agentes estressantes que afetam as pessoas, assim como os recursos mais importantes para lidar com esses agentes, devem ser aqueles que envolvem fatores que são convencionalmente ou culturalmente definidos como importantes.

Esta perspectiva ajudou a interpretar os achados do primeiro estudo. As dificuldades em atingir e manter um particular estilo de vida são importantes porque um estilo de vida em particular é culturalmente definido como um desejado modo de vida. Semelhantemente, apoio de tipos particulares de pessoas pode ser especificamente importante para lidar com os estresses porque aquelas pessoas são culturalmente definidas como importantes.

Por consegüinte, examinou-se especificamente essas questões empregando o modelo de consenso cultural. Este procedimento é uma maneira metodologicamente rigorosa de testar se as pessoas compartilham a mesma compreensão e as mesmas idéias a respeito de algum fenômeno. Utilizou-se a análise de consenso cultural para explicitamente testar modelos culturais compartilhados de “estilo de vida” e de “suporte social”. Nesses modelos culturais (estilo de vida e suporte social) foi explicitamente testada a diversidade intracultural e foi encontrado um consenso cultural que se estendia pelos quatro grupos socioeconômicos amostrados (DRESSLER; DOS SANTOS; BALIEIRO, 1996).

A consonância cultural foi calculada com uma amostra de 250 indivíduos. “Consonância cultural no estilo de vida” e “consonância cultural em suporte social” foram mensuradas através do cálculo da similaridade entre os auto-relatos dos indivíduos da amostra e as respostas culturalmente apropriadas derivadas da análise de consenso cultural. Essas medidas de consonância cultural foram então examinadas em associação com medidas do resultado adaptativo, incluindo pressão arterial e sintomas de depressão. Foi verificado que aqueles indivíduos que estão mais próximos dos modelos culturais de cada domínio mediante seu próprio relato de seu comportamento também apresentaram uma pressão sangüínea menor e relataram menos sintomas de depressão. Essas associações foram estatisticamente independentes de uma grande variedade de covariantes, incluindo idade, sexo, obesidade, dieta, status socioeconômico e estressores psicológicos.

O modelo de estilo de vida, ao contrário do que se esperava, foi o de um modesto conforto doméstico, em oposição ao consumo exagerado. O modelo de suporte social enfatizou o suporte recebido da família como o mais importante, seguido pelo apoio dos amigos e vizinhos (o que é consistente com análises antropológicas da sociedade brasileira).

Foram encontrados efeitos de interação significante entre consonância cultural no estilo de vida e estresse percebido (DRESSLER; SANTOS, 2000) e entre consonância cultural no estilo de vida e cor de pele (DRESSLER; BALIEIRO; SANTOS, 1999) em relação à pressão sangüínea. Desse modo, uma baixa consonância cultural aumenta a magnitude da associação entre estresse percebido e pressão sangüínea, assim como cor de pele e pressão sangüínea; inversamente essas associações são moderadas sob condições de uma alta consonância cultural. A magnitude dessas associações, após o controle de variáveis relevantes é substancial. Uma alta consonância cultural em suporte social é associada com uma pressão sangüínea sistólica média de quase 10 mm Hg abaixo do que com pessoas com uma baixa consonância cultural em suporte social. Brasileiros de pele escura com alta

consonância cultural no estilo de vida (definido como + 1 desvio-padrão) tem a média de pressão sangüínea sistólica de 16 mm Hg mais baixa do que brasileiros de pele escura com baixa (- 1 desvio-padrão) consonância cultural em estilo de vida, a diferença correspondente para brasileiros de pele clara é 6 mm Hg. Baixa consonância cultural em suporte social é associada com o aumento de 13% de sintomas depressivos e com uma pressão sangüínea média de quase 10 mm Hg mais alta do que em pessoas com alta consonância cultural.

O estudo de Dressler e Bindon (2000) mostrou que a consonância cultural é importante na associação com os resultados adaptativos. Descobriu-se que a competência cultural num domínio cultural específico per se, não está relacionada a resultados psicológicos e fisiológicos.

Os resultados globais desta pesquisa podem ser resumidos da seguinte maneira: quanto maior a proximidade do comportamento de cada indivíduo com as expectativas compartilhadas dos indivíduos locais desses domínios culturais, melhor será sua adaptação física e psicológica.

Esses resultados sugerem que no mínimo parte da associação da posição social e do resultado adaptativo é mediada pela habilidade relativa dos indivíduos em agir sobre as expectativas compartilhadas de sua cultura a respeito dessas posições.

E mais, a consonância cultural modera a associação dos fatores sociais e psicológicos do indivíduo com a adaptação individual. Essas associações não são afetadas quando se ajustam covariantes potenciais (como dieta, composição corporal e variáveis demográficas).