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4. RESULTADOS

4.3 Resultado da etapa qualitativa

4.3.6 Projeto futuro e mercado de trabalho

Na última seção, foram abordadas questões de projeto futuro do profissional, bem como o olhar dos profissionais em relação ao mercado de trabalho para o médico a nível global.

• Mercado de trabalho

Os médicos foram perguntados sobre a percepção deles sobre o mercado de trabalho na região e de forma global.

Alguns profissionais acreditam que o mercado já está saturado e concorrido, outros acreditam que ainda não está, mas há uma tendência para tal. Para eles, o principal motivo da saturação é a abertura das novas escolas médicas e também a facilidade dos profissionais se formarem em instituições do exterior e atuarem no Brasil.

A atuação de profissionais estrangeiros no país também é algo que pode afetar o mercado de trabalho, tendendo à saturação.

“Concorrido, superconcorrido, né? Tem muitos profissionais, abriu muita faculdade de medicina, tem muitas pessoas fazendo medicina fora, no exterior, eu acho que é 60.000 mil estudantes no exterior. É muita coisa. Eu acho que a tendência é ficar cada vez pior o mercado, com todas as turmas” (ENTREVISTADA 4).

“Olha, tá saturando, tá..., mas ainda tem ramo, entendeu. Tem áreas ainda pra se investir, mas tá saturando até por causa do número de faculdades que tem” (ENTREVISTADA 10).

“No contexto político atual, ainda temos vagas para médicos. Mas há perspectivas instáveis. Há um projeto de lei que libera médicos formados fora do país sem o exame do Revalida para estrangeiros. Há também um excesso de cursos de medicina que na última década e o mercado não conseguiu absorver todos os profissionais podendo levar a uma saturação futura. Acho que o caminho dentro do escopo de atuação médica é a especialização para reduzir a possibilidade de saturação do mercado” (ENTREVISTADO 7).

O mercado também foi analisado sob a perspectiva das oportunidades atuais. O profissional vê que o mercado de trabalho para o médico está ficando mais informal, tendendo a não fixar vínculo trabalhista. Neste quesito, o concurso público é visto como uma tendência para os profissionais que procurarem estabilidade.

A saturação é avaliada como um dos motivos para redução dos salários dos médicos.

“Eu venho percebendo que ele tá piorando bastante, na questão de um trabalho mais informal, na questão de não fazerem contratos trabalhistas, né. Então acho que vem piorando bastante remuneração, né. [...] Então eu acho que o mercado da medicina tá sendo atacado mesmo, diminuindo nossos direitos, diminuindo preços, justamente porque tá um pouco saturado mesmo, principalmente aqui na região, que tem muitas faculdades, forma muita gente, então acaba saturando muito o mercado” (ENTREVISTADO 14).

“Acredito que daqui há um tempo o mercado de medicina irá saturar, e as pessoas tenderão a se apegar ao concurso visando à estabilidade. Às vezes será um profissional insatisfeito que trabalham muitas vezes só por questão de dinheiro. Temos que aprender a trabalhar com o recurso que temos.... né... e exercer a profissão com amor” (ENTREVISTADO 12).

Os médicos que estão há mais tempo no mercado de trabalho levantam a questão das especialidades, de que os profissionais buscam muito a especialização, não levando em conta que é necessária a figura do generalista.

As questões envolvendo a insatisfação profissional advinda de profissionais que realizam a medicina apenas por questões financeiras também são levadas em consideração.

“Não sei como é hoje em dia. Ainda as pessoas estão voltadas para a especialização, mas hoje em dia as pessoas devem pensar duas vezes antes de fazer medicina, pois teve uma época em que houve um índice de suicídio muito grande devido à decepção dessas pessoas com a medicina, pois não tiveram o retorno que esperavam” (ENTREVISTADO 12).

“Complicado, muito complicado, e acredito que vai ficar mais. Porque já na faculdade já tinha isso, e hoje muito mais, porque todo mundo quer fazer medicina por uma questão óbvia, aí todo mundo que tá lá dentro quer sair para fazer especialidade. O generalista já quase não existe, e se precisa do generalista para poder indicar é a pessoa que sabe um pouco de muitas coisas, o especialista sabe muito de um pouquinho, então às vezes a pessoa vai pra um local e hoje em dia não tem. [...] Então o mercado tá querendo só se especializar e não tem a base, entendeu... Então, tá cheio de gente, os preços tão baixando dos nossos proventos, mas a base não tem colega pra trabalhar (ENTREVISTADO 3).

• Perspectivas Futuras

Por fim, os entrevistados foram questionados sobre projetos futuros e também sobre sua permanência ou não no programa.

Os profissionais concursados têm uma expectativa maior de permanência, pela estabilidade, e por acreditar que na ESF os resultados vão sendo colhidos a longo prazo.

“Na verdade, eu possivelmente para o resto da vida. Concurso, né. Acho que isso é o fundamental. O povo fala que é difícil manter o médico na cidade, não é. Faz concurso. Médico quer estabilidade, se tiver estabilidade fica” (ENTREVISTADO 1). “Não sei te falar não..., mas por enquanto eu não penso em sair. Entendeu? Não sei o que vai acontecer lá na frente, mas por enquanto eu não penso em sair” (ENTREVISTADA 10).

“Estou vivendo um dia de cada vez, mas acredito que no mínimo uns 10 anos. Eu gosto muito da saúde pública. Eu gosto muito da Estratégia de Saúde da Família, já tenho 13 quase 14 anos de formado e o retorno demorou muito tempo, quase uma década, é uma sementinha que você vai plantando e vai insistindo, meus primeiros anos de ESF, se eu voltasse atrás, eu só daria plantão porque é só urgência, e financeiramente se fosse a estabilidade, mesmo que nesse tempo de crise, a instabilidade é muito relativa e muito flutuante. [...]” (ENTREVISTADO 12).

Há outros profissionais que demonstraram gosto em trabalhar na ESF e que não têm pretensão de sair, mesmo ainda não tendo o vínculo do concurso. No entanto, é apontado que a decisão de permanecer ou não, não depende só do profissional, envolvendo questões de gestão e também questões políticas.

“Por um tempo indeterminado. Não tenho pretensão de largar aqui por enquanto, mas pode ser que futuramente eu venha abrir um consultório particular” (ENTREVISTADO 11).

“Isso não depende de mim. Cada dia mais a gente tende a ser uma questão política, agora até em nível federal” (ENTREVISTADO 3).

A maioria dos profissionais tem a pretensão de sair do programa num período de no máximo dois anos. A justificativa recorrente é a necessidade que os profissionais veem da especialização.

“Bom sinceramente, eu não tenho um planejamento exato de por quanto tempo eu devo ficar não. Atualmente eu me inscrevi em provas de residência, especialização, e, dependendo de onde sair os resultados, eu tenho interesse em especializar, mas o período de tempo eu ainda não tenho exatamente, mas eu imagino que ficar por cerca de três anos no máximo [...]” (ENTREVISTADO 2).

“A minha vontade mesmo era até março do ano que vem, mas eu não sei se vai ser, sabe? Porque eu preciso primeiro fazer uma especialidade, eu preciso de um dinheiro guardado, então, vontade mesmo é até março do ano que vem” (ENTREVISTADA 4).

“Eu pretendo ficar provavelmente só até o ano que vem. Esse ano passei na residência. Passei em neurologia, nem queria neurologia. Mas eu não fui, falei, vou ficar mais na ESF, ver o que eu quero mesmo, qual o tipo de residência, de médico que eu quero me tornar. Não sei se eu quero continuar na Estratégia de Saúde da Família, mas no momento eu quero estudar mais, fazer uma residência, às vezes, talvez, depois voltar. Mas então, provavelmente até o ano que vem só” (ENTREVISTADO 9).

“Até eu passar na residência. Se for final desse ano, até final desse ano, se for ano que vem, até final do ano que vem” (ENTREVISTADA 5).

que o contrato é algo muito incerto, o que faz com que os profissionais busquem outras possibilidades; a ausência de possibilidade de carreira; o salário e as condições de trabalho, que poderiam ser melhores. Ele alerta para a questão de a própria gestão do município não ver a necessidade de manter a longitudinalidade dos médicos, não enxergando assim problema em realizar trocas de profissionais, em vez de melhorar os pontos citados.

“Não é uma coisa de longo prazo justamente por isso, por ser uma coisa incerteza, sempre tá mudando administração, não pode confiar… Se tivesse melhores condições, tanto do trabalho, se tivesse um salário melhor, principalmente aqui nesse município que realmente não tem, eu continuaria sim, sem problemas. Se tivesse um plano de carreira. O interesse médico para eles é questão de deteriorar o preço mesmo. Quanto mais vai aparecendo, mais, eles vão reduzindo o salário e vão trocando de médicos, eles não têm interesse na qualidade, é mais só tampar aquele buraco ali, eu vejo dessa forma, por isso eu não vejo a longo prazo uma carreira pra mim na medicina da família, justamente por esse ponto” (ENTREVISTADO 9).