• Nenhum resultado encontrado

4.1 A Escola Viva: a tessitura da escola investigada

4.1.5 O Projeto Político-Pedagógico da escola

Por diversas vezes perguntei à Coordenadora Pedagógica e à Diretora quanto ao Projeto Político-Pedagógico. do corrente ano, mas a resposta era sempre a mesma:

“A gente está revisando o do ano passado, mas ainda não está pronto.”(Diretora)

Fiquei me perguntando o que direcionava, então, o trabalho realizado na “Escola Viva”, pois é o Projeto Político-Pedagógico que norteia o trabalho da escola, encaminhando ações futuras baseadas na realidade atual e na sua história. O projeto é um documento facilitador e organizador das atividades, sendo um fio condutor nas decisões, nas ações e na análise dos resultados, convertendo-se em um verdadeiro registro que permite à escola rever a sua historicidade e suas intencionalidades.

Isto explica, então, a fragmentação percebida no Conselho de Classe, pois não há uma intenção coletiva nas ações da escola, o que pode significar que o grupo não se organizou para a construção do projeto e, conseqüentemente, para as estratégias pedagógicas desenvolvidas. O Projeto Político-Pedagógico deve envolver ativamente os diversos segmentos escolares e a comunidade onde a escola está inserida, pois a sua dimensão político-pedagógica pressupõe uma construção participativa e coletiva, caso contrário ele perde seu efeito.

Veiga (2003, p.8) adverte que

O projeto é um meio de engajamento coletivo para integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho pedagógico-administrativo desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os protagonistas para a explicitação de objetivos comuns definindo o norte das ações a serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma coerência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza seus efeitos.

Minha presença na escola durante quase três bimestres possibilitou-me perceber que o Projeto Político-Pedagógico na “Escola Viva” era apenas para o cumprimento de uma formalidade, visto que este é exigido pela Diretoria Regional de Ensino. Mas surpeendeu-me o fato de que até o fim do primeiro semestre letivo ele ainda não havia sido cobrado pela DRE. Talvez por isso a escola não se mobilizou para organizar a sua construção com empenho e ligeireza.

Pimenta(1994, p. 6) afirma que:

Admitir um projeto significa ter consciência do que se quer, ou seja, se falo em projeto pedagógico tenho de ter, previamente, clareza de que estou me pautando em determinadas concepções de Educação e de ensino. Daí a necessidade do mesmo se pautar por alguns fundamentos epistemológicos e outros políticos.

Cabe ressaltar que a construção de um projeto traduz uma concepção de educação que se tem, daí a importância de os professores participarem efetivamente da elaboração do Projeto Político-Pedagógico e se comprometerem com seu desenvolvimento, trazendo para as discussões sua visão de educação e os rumos possíveis de serem tomados para melhorar a qualidade da educação na escola.

No início do segundo semestre de 2007 perguntei mais uma vez a respeito do Projeto Político-Pedagógico. A Diretora disse-me que procurasse a Vice-diretora que ela iria me mostrar, pois o projeto de 2007 já estava pronto. A Vice-diretora gravou o novo projeto em um diquete e falou que eu podia levar o diquete e ler o Projeto em casa. Diante disso, pude conhecer o projeto de 2007, intitulado “Projeto Educativo”38e observar que não havia no projeto um item específico para o BIA, ou melhor, ele sequer foi citado. O BIA só aparece no Projeto Político-Pedagógico da “Escola Viva” quando, no item “Ensino Fundamental Anos Iniciais”, é listada a distribuição das turmas nos turnos matutino e vespertino39.

A avaliação é central na escola organizada em ciclos ou em um bloco como é o caso do BIA e, especialmente, nos projetos. No Projeto Político-Pedagógico da “Escola Viva” o item avaliação aparece de forma bastante resumida, embora haja no projeto a intenção de uma avaliação “processual e contínua” (Projeto Político-Pedagógico, p. 32). Ela aparece no último item, vindo antes somente das referências bilbiográficas. A avaliação do Projeto Político- Pedagógico em si não é sequer mencionada.

Durante todo o semestre a escola tentou realizar atividades que mudassem a rotina e incrementassem a aprendizagem dos alunos. Uma delas foi a comemoração ao Dia do Livro Infantil. A coordenadora pedagógica se fantasiou de Emília - personagem de Lobato - e trouxe consigo sua “canastra” cheia de livros. Conversou com a turma e deixou sua canastra para que os alunos, durante 45 minutos, lessem os livros. Foi uma atividade simples, mas que movimentou a sala de aula. Os alunos gostaram!

Percebe-se, então, que na “Escola Viva” há o desejo de um trabalho significativo que movimente a aprendizagem das crianças. Nesse contexto, porém, não ficou evidente como a avaliação se relacionava com os objetivos da escola diante das estratégias pedagógicas organizadas. Torna-se necessário, pois, compreender a quais objetivos a avaliação se atrela.

38

Algumas observações poderiam ser feitas a partir do P.P.P. da “Escola Viva”, porém detive-me apenas às questões relacionadas à avaliação e ao BIA.

39

Percebi que o texto do P.P.P. ainda não estava adaptado à nova estrutura à qual a escola foi conduzida. As turmas ainda aparecem divididas entre os turnos matutino e vespertino, sendo que no 2º semestre a “Escola Viva” passou a funcionar a penas no matutino, cedendo o turno vespertino a outra escola da mesma R.A.

É indispensável a construção coletiva de um projeto pedagógico, no qual a avaliação seja encarada como “categoria do trabalho escolar que o inicia, o mantém no andamento desejável, por meio de contínuas revisões de percurso, e por oferecer elementos para análise do produto final“ (VILLAS BOAS, 1998, p. 180). Planejar uma ação para que outro a realize, inviabiliza a possibilidade de aqueles que executam a ação dominarem o processo e se comprometerem com ele e, principalmente, de sentirem prazer em realizá-lo.

Um projeto pedagógico não pode se constituir em um plano fechado e a avaliação deve ser, portanto, prática presente permanentemente para que este seja de fato flexível e em constante reconstrução. É assim que a avaliação mostra sua característica mais ampla e democrática, na qual os envolvidos estabelecem uma relação de confiança e se enxergam como sujeitos de avaliação e verdadeiramente envolvidos no processo educativo.

Esse pensamento acerca da coletividade na construção de uma proposta pedagógica pode ser facilmente relacionado à necessidade de reflexão teórico-metodológica - essencial a quaisquer discussões – para a formação de um grupo de profissionais docentes reflexivos e capazes de perceber a necessidade de a prática pedagógica ser objeto de reflexão contínua.