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Projeto Político Pedagógico: Viabilizador do Conselho de Classe Participativo

À escola pública que atende a maioria da população brasileira caberia o compromisso de construir seu Projeto Político-Pedagógico refletindo sobre o papel social que lhe compete. Professores, pais, alunos e toda a comunidade escolar deveriam discutir se a escola desenvolve um projeto de inclusão ou exclusão social e a partir dessa discussão, elaborar e organizar sua proposta pedagógica (VEIGA 2005).

Veiga (2005, p.11) entende o Projeto Político-Pedagógico “como a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo.”

A palavra projeto10 passa a idéia de ações futuras, porém o projeto Político- Pedagógico, além de buscar novos rumos, é também construído no dia-a-dia. É por meio da avaliação do que se vive que se planeja e se organiza o trabalho pedagógico. Com isso, o projeto Político-Pedagógico tem uma dinâmica cíclica- constrói/vive/avalia/reconstrói- ao longo do ano letivo.

O projeto Político-Pedagógico é pedagógico pela ação educativa que desenvolve e é político porque o ato de educar é político, isto é, traz consigo uma intencionalidade e um compromisso social.

O projeto Político-Pedagógico, segundo Veiga (2005, p. 13), caracteriza-se por:

1. Buscar novos rumos – não é construído com a finalidade de atender um propósito da lei. A partir da avaliação da organização do trabalho pedagógico, ele vai sendo repensado, passando por modificações, reestruturando-se e adequando-se às novas situações. O projeto Político-Pedagógico é vivo porque envolve sujeitos no processo educativo.

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2. Apresentar uma intencionalidade – é imbuído de intenção, ao resolver problemas, abrir perspectivas, desenvolver ações e romper paradigmas.

3. Ser construído coletivamente – proporciona a participação de todos os envolvidos no processo educativo, rompendo com a competitividade e o individualismo.

4. Apresentar o princípio da democracia - permite a participação de todos, busca atender às necessidades da educação, do ensino e da escola, atendendo aos interesses da maioria da comunidade escolar. 5. Partir da realidade – por estar comprometido com os interesses da

comunidade, emerge da própria escola, de suas necessidades e interesses.

6. Buscar a autonomia e a qualidade – traduz a independência relativa que a escola possui para planejar, construir, discutir, executar e avaliar sua própria proposta pedagógica. É a descentralização do poder.

O projeto Político-Pedagógico é a organização da escola em sua totalidade, provendo o trabalho nos níveis da sala de aula e da escola como um todo. (VEIGA, 2005).

Os princípios que norteiam o projeto Político-Pedagógico, estabelecidos pela autora citada são:

1. Igualdade – de condições, de acesso e permanência. 2. Qualidade – para todos

3. Gestão democrática – que abrange as dimensões pedagógicas, administrativas e financeiras.

4. Liberdade – para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e o saber direcionados para uma intencionalidade definida coletivamente. 5. Valorização do Magistério – que proponha a melhoria da qualidade

da formação profissional e a valorização do trabalho pedagógico. É o princípio central da discussão do projeto Político-Pedagógico.

Quando se fala em qualidade para todos é necessário especificar que qualidade se deseja alcançar. Arroyo, citado por Rios (2001), explica-nos o sentido de qualidade para todos em educação. Para ele a idéia de qualidade é:

[...] sócio-cultural e passa pela construção de um espaço público, de reconhecimento de diferenças, dos direitos iguais nas diferenças, pela renovação dos conteúdos críticos e da consciência críticas dos profissionais, pela resistência a uma concepção mercantilizada e burocrática do conhecimento, alargando a função social e cultural da escola e a intervenção nas estruturas excludentes do velho e seletivo sistema escolar (p. 75).

Dessa forma, podemos entender que a qualidade tão desejada pela educação terá que ser construída com a participação da comunidade escolar na elaboração de um currículo que atenda às necessidades da comunidade, na adoção de práticas avaliativas não excludentes, no redimensionamento da função social e política da educação. A educação de qualidade é de e para todos de maneira a possibilitar a formação da consciência crítica, a autonomia e a liberdade de escolha política.

Assim, o projeto Político-Pedagógico pode ser construído de tal forma que se torne uma proposta viva de combate à fragmentação do trabalho e à centralização do poder autoritário que leve a escola a refletir sobre a intencionalidade educativa, compreendendo que a educação é responsabilidade de todos e está voltada para a inserção de todos.

Veiga (ibid, p.33) salienta a importância de entender “o projeto Político- Pedagógico como uma reflexão do cotidiano” pois essa reflexão leva à “[...] continuidade das ações, descentralização, democratização do processo de tomada de decisões e a instalação de um processo coletivo de avaliação.”

No projeto Político-Pedagógico, a avaliação que perpassa todo o processo, e deve possibilitar a reflexão sobre dois aspectos: os políticos/sociais e a escola. Para refletir sobre o primeiro implica-se levar em conta que a proposta pedagógica não se desvincula dos aspectos sociais e políticos da educação, e de serem percebidas as contradições e os conflitos que a escola vive em função do papel social que desempenha, por ser uma instância inserida em uma sociedade capitalista que propicia a perpetuação dos valores desse modo de produção que aprecia o

individualismo, o poder centralizado, de cima para baixo, a divisão de classe, a exclusão social.

Considerando o exposto acima, a avaliação assume um compromisso “mais amplo do que a mera eficiência e a eficácia das propostas conservadoras” (ibid., p. 32). Por isso a importância de se discutir no coletivo a qualidade e a intencionalidade da educação.

Para refletir sobre o segundo aspecto, ou seja, avaliação na escola, devemos pensar na avaliação do plano de ação e na avaliação da aprendizagem.

Avaliar o plano de ações da escola é avaliar o próprio projeto Político- Pedagógico, ou seja, é avaliar a organização do trabalho pedagógico em sua dimensão administrativa, social e política. Essa avaliação é fundamental para o desenvolvimento e a reorganização do projeto.

Veiga (2005) propõe que a avaliação ocorra de forma que todos os envolvidos no processo educativo possam participar a fim de reafirmar os objetivos estabelecidos na construção do projeto Político-Pedagógico, pois a avaliação é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto, além de apontar uma direção às ações.

É na prática da avaliação coletiva do trabalho pedagógico que se encontram soluções para as dificuldades e se dividem responsabilidades com o processo educativo.

No que concerne à avaliação da aprendizagem, a escola possui uma instância colegiada de avaliação – o Conselho de Classe – que analisa o desempenho dos alunos e toma as decisões necessárias. Com base nessa análise avalia-se também o trabalho pedagógico desenvolvido pela escola.

Por isso a organização das reuniões do Conselho de Classe leva em conta os objetivos pré-definidos no projeto Político-Pedagógico, porque é visando alcançar esses objetivos que a avaliação da aprendizagem se dará, levando em consideração os aspectos acima relacionados, isto é, os políticos/sociais e os escolares.

Nessa perspectiva e pensando nas características e princípios norteadores do projeto Político-Pedagógico, apresentados anteriormente, sendo este visto como o plano diretor da escola, é que o mesmo enfrenta quatro desafios:

• Garantir a realização do Conselho de Classe como momentos de reflexão sobre a aprendizagem, a atuação docente e o trabalho pedagógico, evitando que essas reuniões se tornem mera formalidade burocrática. O Conselho de Classe é muito mais que burocracia. Nesses momentos é que o professor avalia o seu fazer e o desenvolvimento do aluno como um todo. O conselho contribui para a reorganização do trabalho pedagógico.

• Garantir a qualidade do trabalho pedagógico, reorganizando o tempo pedagógico de forma que os professores tenham espaço nas reuniões do Conselho de Classe e nas coordenações pedagógicas para discutir, refletir, estudar e avaliar o fazer pedagógico, analisando os avanços ocorridos na aprendizagem a fim de que o trabalho seja redimensionado. A qualidade do trabalho pedagógico só será garantida se houver possibilidade e intenção de reorganizar o tempo.

• Garantir a participação de pais e alunos em momentos escolares anteriormente reservados à participação de professores. O projeto pedagógico construído coletivamente propõe a co-responsabilidade no processo educativo e o rompimento com as estruturas autoritárias de manutenção de poder, por isso necessita garantir a participação de

todos os envolvidos em todos os eventos que compõem o trabalho

pedagógico, garantindo voz e vez a todos.

• Garantir o desenvolvimento da avaliação comprometida com a aprendizagem do aluno e a sua inserção social crítica. Nessa perspectiva, a avaliação é voltada para a formação do aluno capaz de pensar e tomar decisões.

Um projeto Político-Pedagógico que tenha por meta atender aos desafios propostos e que seja construído tendo por base as características e os princípios

que norteiam sua elaboração, com vista à edificação de um projeto social construído a partir da escola.