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A imagem do índio na construção da “identidade nacional”

II. 2- Um projeto para o resto do Brasil

Sethe Garfield (2000, p.20) argumenta que durante a década de 1920 o modernista Oswald de Andrade se inspirou na cultura indígena para escrever o Manifesto Antropofágico

5 Embora se trate aqui de uma minoria, haja vista que o principal mecenas, á época era D. Pedro II e, o interesse principal que direcionava os incetivos a ABA estava carregado de ideológias que apontavam para uma unidade cultural além de querer apresentar um Brasil civilizado e progressista ao mundo

(1928), para censurar a maneira de copiar o estilo europeu na arte brasileira, e também estimulava a simbiose entre o nativo e o estrangeiro. Intelectuais do movimento de direita Verdeamarelo, escreveram textos no qual exaltavam um Brasil antes da chegada do europeu, ao mesmo tempo em que defendiam o estudo da língua Tupi e o índio como símbolo nacional. Posteriormente teremos Gilberto Freire enfatizando a presença do indígena na formação da cultura brasileira, e enaltecendo a formação de um Brasil mestiço.

Esse Brasil mestiço, todavia, não estava nos planos de Getúlio Vargas durante o período do Estado Novo (1937-1945), porém esse debate continuou, e os intelectuais da era Vargas se apropriam de “uma rica tradição brasileira de homenagem aos índios” (GARFIELD 2000, p.20), para continuar o antigo projeto de uma nacionalidade atrelada a imagem do indígena, trazendo novamente essa nova/antiga querela que agora encontra-se na forma de dominação do índio através de discursos e ações políticas e não apenas ancorado em estudos etnográficos, pinturas e literaturas a respeito do mesmo.

Para a formação do Estado, naquele momento, era necessário uma integração nacional brasileira mais efetiva segundo Garfield, “o Estado Novo representou a relação entre os índios e Estado Nação numa ótica romântica” (GARFIELD 2000, p.18). E em 1934, Vargas decretou o dia 19 de abril como o “Dia do Índio”6, promovendo, nos anos seguintes, sob assistência do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), inúmeros eventos culturais. Em 1939 é criado o Conselho Nacional de Proteção ao Índio (CNPI), sendo seu primeiro diretor o Marechal Rondon. A principal função desse conselho era conduzir uma conscientização pública sobre a cultura indígena e a política estatal, no sentido de estabilizar o domínio e redefinir o território nacional.

A sobrevivência do simbolismo indígena como parte da ideologia de uma identidade permaneceu após o fim do Estado Novo. Na figura 7 podemos ver um óleo sobre tela em aglomerado pintado em 1974, de João Câmara, que faz parte de uma série de quadros intitulada Cenas da vida brasileira, que fazem alusões aos anos de 1930 a 1954. É possível perceber quase ao centro do quadro uma clara referência a Vargas e a seu projeto “pró- indígena”.

6 A criação do Dia do Índio fez parte de um movimento continental de expansão e interesse pela cultura indígena e políticas indigenistas. Esse dia foi promovido pelo Congresso de Pátzcuaro em 1940, patrocinado pelo Governo do México para desenvolver a compreensão cultural dos povos indígenas para sua integração, encontrando adeptos no Brasil, principalmente em Vargas.

Imagem 7: Aluísio Magalhães, 1937(série cenas da vida brasileira), 1974, óleo sobre tela colada em

aglomerado, 240x240cm, Recife, MAM Aluísio Magalhães.

Na Figura 8 podemos ver uma cédula de cinco cruzeiros que esteve em circulação durante o início da ditadura militar, com uma efígie que faz forte referência a região amazônica, que mesmo após o fim da ditadura (1985), tanto a imagem do índio como a lembrança a era Vargas, ainda foi importante para a confecção de cédulas com referência à imagem de indígenas, como também podemos ver na figura 9, onde temos o anverso e o reverso de uma nota de mil cruzeiros de 1990 ou 1991, apresentando em um dos lados a estampa de dois índios e do outro o Marechal Rondom.

Na figura 10 temos moedas de um real que começaram a circular nos anos de 1998 e são utilizadas até hoje. As moeadas trazem no anel em torno da efígie da República e o número referente ao valor da moeda, desenhos estilizados marajoaras, como consta no site do Banco Central do Brasil essa inforamção. É a sobrevivência de uma ideologia, ainda fazendo referência a uma identidade nacional aportada na imagem criada ainda no II reinado sobre o ideal indígenista.

Figura 8: Cédula de Cinco Cruzeiros.

Fonte:Disponível in<http://www.bcb.gov.br/htms/museu- espacos/cedulas/TN_CM.asp?idpai=CASAMOEDA%20#CR500> Consultada em 23/01/2011

Imagem 9: Cédula de Cinco Cruzeiros

Fonte: Disponível in<http://www.bcb.gov.br/htms/museu- espacos/cedulas/TN_CM.asp?idpai=CASAMOEDA%20#CR500 Consultada em 23/01/2011 Reverso: Painel com vitória-régia, planta aquática da Amazônia, cujas folhas, grandes e redondas, medem até 2 metros de diâmetro Período de circulação 06.07.61 a 13.05.67

Imagem 10: Cédula de Mil Cruzeiros

Fonte: Disponível in<http://www.bcb.gov.br/htms/museu- espacos/cedulas/CR90.asp#(1)> Consultada em 23/01/2011

Imagem 11: Cédula de Mil Cruzeiros

Fonte: Disponível in<http://www.bcb.gov.br/htms/museu-espacos/cedulas/CR90.asp#(1)> Consultada em 23/01/2011 Anverso: Homenagem a Marechal Rondom. Reverso: Casal de índios carajás, ladeado pela representação de alimentos e de uma habitação nhambiquara.

Imagem: 12 Moeda de Um Real

Fonte Disponível in<site do Banco Central do Brasil http://www.bcb.gov.br/?MOEDAFAM2> Consultada em 23/01/2011

Anverso:

Efígie da República à direita do núcleo prateado (disco interno) e transpassando para o anel dourado (disco externo) há referência às raízes étnicas brasileiras, representada pelo grafismo encontrado em cerâmicas

indígenas de origem marajoara, e a legenda

Imagem 13: Moeda de Um Real

Fonte Disponível in<site do Banco Central do Brasil http://www.bcb.gov.br/?MOEDAFAM2X Consultada em 23/01/2011 Reverso: No anel dourado, a repetição do grafismo indígena marajoara..

O projeto nacional de se criar uma identidade em base a uma referência indígena ressoa até hoje, como vimos nas figuras de 8 a 13, que trazem em si fortes referencias a esse projeto indigenista, como emblemas nacionais os quais foram muito utilizados por artistas, intelectuais e literatos, mas atualmente já representam pouco a ideologia para o qual foram criadas, mesmo tendo confiado a um significante que já foi forte, a imagem nas cédulas passam desapercebidas, como o desenho do grafismo marajoara na moeda de um real que é quase imperceptível, mas que não está ali apenas para enfeitar, está para revigorar o significado de uma idéia que um dia já foi importante.

CAPÍTULO III: