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Esta secção trata da análise das respostas dos alunos licenciados da Universidade Aberta entre 2011 e 2013 relativamente aos seus projetos e perspectivas futuras. Algumas das respostas abrangem também alguns pontos de reflexão sobre o percurso e que convêm relacionar com as análises anteriores.

Para interpretar estas respostas, é importante perceber que as expectativas e os projetos foram recolhidas em meados de 2015 e abrange alunos que se diplomaram já depois do inicio da crise. Parte destes licenciados, cerca de 30%, tem continuado os estudos superiores, como veremos. De um total de 521 questionários respondidos, nesta primeira parte da análise desta secção, houve 67 não respostas e 454 respostas válidas. Se consideramos as respostas válidas, 316 alunos licenciados na UAB não seguiram estudos superiores, ou seja 70%, enquanto 30% continuaram a estudar no ensino superior de uma ou outra forma como vamos ver a seguir.

Gráfico 6.1. Inscrição no ensino superior após a licenciatura

Esta taxa de 30% de alunos (gráfico 6.2) que continuam no ensino superior é significativa e, como veremos, a maioria pensa em continuar na Universidade Aberta ou numa modalidade de ensino semelhante. É de realçar que o facto de estudar na instituição pode ser interpretado como um factor de motivação para prosseguir os estudos (como pode atestar algumas das respostas abertas dos alunos no final do questionário).

Um número significativo dos graduados exprimiram a sua vontade de continuar os estudos finda a licenciatura na UAb (mais de 130 conforme – oscilando entre 133 e 138 considerando as várias respostas tomadas em conta). Destes 138 alunos, responderam 133 com a seguinte distribuição de tipos de formação superior como figura no gráfico 6.2.

70% 30%

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Gráfico 6.2. Nível do curso que pretendem frequentar

Dos que continuam no ensino superior, a maioria quer aperfeiçoar-se, ir além de uma licenciatura, através de pós-graduação, mestrado ou, ainda, doutoramento. Apenas uma minoria quer continuar outra licenciatura (8% do total). Entre aqueles que já se encontram a estudar, 32% está a realizar uma pós-graduação ou uma formação complementar, 59% estão a realizar um mestrado e dois alunos estão inscritos em doutoramento (1%).

Destes mestrados, a maioria são realizados dentro da oferta da Universidade Aberta, como aliás podemos inferir pela proporção global no gráfico 6.3. Entre os licenciados que prosseguiram os seus estudos, 58% continuam a estudar na instituição e ainda uns 19 % em outras universidades portuguesas públicas. É de salientar, como referido anteriormente, o papel motivador no trajeto de parte dos alunos da Universidade Aberta em continuar os estudos, não só na mesma instituição (58%), mas também entrar noutras universidades (26%) e ou em institutos politécnicos (9%). Neste contexto, a instituição desempenha um papel de promoção da formação superior, especialmente para alunos que provavelmente não teriam feito a licenciatura se a UAb não existisse.

8% 59% 1% 32% Licenciatura Mestrado Doutoramento Outra (pósgraduação, formação complementar…)

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Gráfico 6.4. Repartição dos licenciados que prosseguiram os seus estudos, por tipo de instituição

Do total dos alunos que saem de uma licenciatura da Universidade Aberta, e ignorando algumas poucas respostas incompletas, 17% inscreveram-se noutra oferta formativa da instituição. Este número corresponde a mais de metade dos 30% dos 138 que figuram no gráfico 6.3.

Dos alunos licenciados, de um modo geral, e fora o caso da inscrição em cursos, a participação posterior em projetos e atividades da Universidade Aberta é relativamente baixa, como atestam os gráficos apresentados a seguir. Apenas 7% dos alunos participam pontualmente em projetos ou atividades da UAb.

Gráfico 6.5. Participação em projetos/atividades da UAb

Esta proporção passa para 12% quando se tratam de participação em reuniões ou convívios de antigos alunos, talvez por razões de uma proximidade geográfica ou profissional entre os alunos maior do que entre licenciados e docentes.

58% 9% 19% 3% 1% 3% 7% UAB Inst Politécnicos Univ Públicas Univ Privadas UCP U Estrangeiras Outras entidades 93% 7% Não

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Gráfico 6.6 - Participação reuniões/convívios de antigos alunos

Quase 60% dos alunos dizem receber informação electrónica da UAb. A diferença com as outras proporções é de explicação e interpretação simples, dado que muitos estudantes trabalham a tempo inteiro, têm responsabilidades familiares, encontrando-se territorialmente muito dispersos.

Gráfico 6.7. Receção de informação eletrónica da UAb

A percentagem de alunos de licenciatura que têm contacto com ex-professor ronda os 8%, um número baixo e que merecia mais atenção. O factor geográfico deve ser importante, tal como no ponto a seguir, os contactos com os colegas.

Gráfico 6.8. Contacto com ex-professores

Como previsto, o contacto com os ex-colegas é mais elevado, na ordem dos 25%. E aqui também devem entrar em considerações os factores geográficos, mas em sentido contrário do dos

88% 12% Não 41% 59% Não 92% 8% Não

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professores. Ao longo dos estudos e das avaliações, muitos estudantes vão conhecendo colegas da sua área de residência, de local de exame ou de trabalho.

Gráfico 6.9. Contacto com ex-colegas

Três quartos dos alunos não mantiveram contactos com a UAb, aspeto que merece uma reflexão, até por contrastar com as percepções genericamente positivas acerca da instituição e com os projetos de prossecução de percursos de formação ao longo da vida.

Gráfico 6.10. Contacto com UAb posterior à conclusão da licenciatura

Questionados sobre a possibilidade de voltar atrás, a grande maioria dos estudantes revela que teria feito a mesma licenciatura, na Universidade Aberta, reconhecendo assim os impactos positivos desta experiência. É ainda significativo que, entre os restantes, a maioria optaria por outra licenciatura, mas na mesma instituição.

75% 25% Não 75% 25% Não

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Gráfico 6.11. Se pudesse voltar atrás...

Em termos de perspectivas profissionais, podemos destacar três subgrupos. Um primeiro, mas reduzido, em que a perspectiva de mudança é importante, por necessidade ou por opção. Este primeiro grupo, que totaliza 11% dos inquiridos, é composto por quem está a procura de um emprego (5%) ou quem está a pensar abrir uma empresa ou iniciar um negócio por conta própria (6%).

O segundo grupo é constituído por quem está a pensar outra transformação, sair da organização em que se encontra (18%), mantendo (7%) ou mudando de profissão (11%), respectivamente. É interessante notar que estes últimos (os 11% do total) pensam não só mudar de organização como de profissão. Será isto relacionado com a perspectiva que adquiram sobre a sua organização e trabalho ao longo dos anos em que estudaram na Universidade Aberta? Está relacionado com o contexto de crise que vivemos desde 2009? Serão os da saída (exit), voz (voice) de Albert Hirschman? Algumas das respostas dos alunos apontam nestas direções que merecem ser aprofundadas em questionários futuros.

De qualquer modo, é de realçar que há um conjunto de alunos com perspectiva de mudar por várias razões e que totalizam 29% do total dos inquiridos. É uma proporção significativa, e até surpreendente, especialmente se tomamos em conta o perfil dos nossos alunos e sua distribuição etária (ver a primeira parte).

Estes dois primeiros grupos são os da perspectiva de mudança, mas existe ainda um terceiro subgrupo, dominante, o da prudência, com um total de 71% dos alunos, constituído por dois grupos que são os da continuidade, da lealdade (loyalty) ou apatia (apathy) na perspectiva de Hirschman. Não há neste grupo muita aposta no risco de mudança e podemos distinguir duas categorias: os que se conformam e os que esperam evoluir dentro de uma estabilidade garantida.

Deste modo, temos os que querem ou manter a situação em que se encontram ou reformar-se e representam cerca de um quarto do total (25%) e, segundo, os que querem dentro da organização em que se encontram mudar de posto ou ser promovido, e estes que esperam alguma mudança alcançam quase metade dos inquiridos (47%). É de notar que este subgrupo

1% 3%

83% 8%

5%

Não me teria inscrito no ensino superior Teria feito a mesma licenciatura, mas noutra universidade

Teria feito a mesma licenciatura, na UAb Teria feito outra licenciatura, na UAb

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representa quase dois terços do total e que há um quarto do total que não espera evoluir (25%) enquanto metade (47%) espera uma evolução estável.

Gráfico 6.12 Projetos/expetativas profissionais a 3 anos

Mais de metade dos alunos de licenciatura encaram no futuro realizar um curso de pós- graduação ou de segundo ou terceiro ciclo (57%) e apenas 27 % uma outra licenciatura. Estes dados são consistentes com os avançados anteriormente sobre nível de curso pretendido.

6% 5% 24% 11% 7% 47%

Abrir uma empresa ou iniciar um negócio por conta própria Conseguir emprego

Manter a situação em que me encontro / reformar-me Mudar de organização e de profissão

Mudar de organização, mas manter a mesma profissão

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Gráfico 6.13. Projetos formativos, nos próximos 3 anos

Será ainda de ressalvar que, no caso daqueles que têm projetos formativos para os próximos anos, a larga maioria coloca a possibilidade de fazê-lo na Universidade Aberta, distinguindo-se um segmento de 30% que não tem dúvidas quanto a essa questão e um outro, mais numeroso (62%), que colocaria essa possibilidade, caso encontre na instituição uma oferta formativa que se adeque aos seus interesses e/ou necessidades.

Gráfico 6.14. Ponderação da Universidade Aberta para concretizar dos projetos formativos

Quanto às áreas de formação que pretendem estudar, de um total de 350 respostas válidas para a primeira área de formação, as áreas para realizar formação futura que mais se destacam são a gestão (79 respostas), a educação (45), as ciências sociais (55, incluindo 24 da psicologia), as línguas e literatura (31), as bibliotecas e arquivos (25) e a história e património (19 respostas).

0 10 20 30 40 50 60

pós-gradução/mestrado/doutoramento outra licenciatura ação de formação curso livre sem projetos/expetativas formativas

8%

62% 30%

Não

Sim, consideraria essa hipótese, caso tivesse um curso que correspondesse aos meus interesses/necessidades Sim, sem dúvida

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Podemos constatar que há cada vez menos respostas que incluem as áreas de formação quando passamos da área privilegiada ou primeira escolha (350 respostas) para a segunda escolha (246 respostas) e a terceira escolha (155 respostas), surgindo alguns temas mais específicos, como o empreendedorismo. Tal como noutros, neste caso, será importante uma análise mais aprofundada, no seio de cada área científica, o que supera os objetivos deste primeiro relatório.

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7. Síntese e notas conclusivas

Nesta última secção, sintetizamos alguns dos principais resultados desta primeira análise do questionário aos percursos laborais e de vida dos licenciados da Universidade Aberta. Muitas questões ficaram ainda por explorar, numa análise mais aprofundada dos dados e em futuras recolhas de informação, mas estamos convictos que este primeiro levantamento já contém vários elementos que importa conhecer e refletir.

A análise do perfil dos licenciados à entrada para o curso aponta para uma população adulta, com o ensino secundário completo e a trabalhar a tempo inteiro, em empregos de qualificação intermédia nas áreas dos serviços (geralmente, na administração pública). Apesar de uma grande dispersão geográfica, a maioria vive nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Existe uma proporção significativa de licenciados que já possuíam um grau no ensino superior e outros que haviam frequentado, sem concluir o curso.

A grande maioria destes licenciados não procurou ingressar noutras instituições do ensino superior, preferindo a Universidade Aberta, pela possibilidade de estudar com flexibilidade, autonomia e sem realizar deslocações. Há uma acentuada diferença entre uma geração mais nova, cuja motivação central foi a melhoria das condições laborais, e uma geração mais velha, que apontaram o enriquecimento cultural e cognitivo como principal motivo de frequência do curso. A grande maioria utilizou a própria residência como local de estudo e concluiu a licenciatura com classificações entre 12 e 15 valores, em 3 ou 4 anos, o que correspondeu ao que haviam previsto. No entanto, a duração média de conclusão varia de forma significativa em função do curso.

Mais de 90% dos diplomados considera que as aprendizagens realizadas no curso corresponderam às expetativas. Os graus de satisfação com o curso são muito elevados, destacando-se o item das aprendizagens e dos planos de estudos, em que as taxas de insatisfação são residuais. A generalidade dos diplomados concorda que o ensino online é um excelente meio de aprendizagem e que se sentem confortáveis com a plataforma utilizada. Quanto às competências laborais desenvolvidas no curso, destacam-se a autonomia, cultura geral, sentido crítico, a capacidade de análise/síntese e de resolução de problemas. Além disso, o contributo da licenciatura para a auto-estima, o empoderamento e a participação cívica foi amplamente reconhecido. Por seu lado, o trabalho em grupo, o uso da tecnologia e o alargamento de redes são aspetos em que o impacto da licenciatura na UAb não é tão evidente. Como menos positivo, nota-se o facto de um terço dos licenciados afirmar que a licenciatura da Universidade Aberta é desvalorizada face a outras licenciaturas da mesma área.

Embora a situação mais frequente tenha sido a permanência na atividade profissional que já desempenhava quando ingressou no curso, um terço dos licenciados mudou a sua situação profissional e, na maior parte destas mudanças, as competências e habilitações adquiridas no curso revelaram-se fundamentais. É ainda importante realçar que quase 40% dos licenciados revela que a licenciatura teve um impacto positivo na sua posição/condição laboral, existindo uma proporção até um pouco maior que afirma que a licenciatura lhe permitiu desempenhar atividades laborais mais gratificantes. Estes valores são muito significativos, atendendo ao contexto de crise económica e financeira que afetou o país durante os últimos anos.

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Assinale-se ainda que 30% destes licenciados prosseguiu estudos superiores após a conclusão da licenciatura, a maioria dos quais ao nível de mestrados na própria Universidade Aberta. Além disso, cerca de metade dos licenciados revela vontade de realizar uma pós-graduação, mestrado ou doutoramento nos próximos anos. Contudo, é menos positivo o facto de três quartos dos alunos não terem mantido contacto com a UAb, após a conclusão do curso, até por contrastar com as percepções genericamente positivas acerca da instituição e com os projetos de formação ao longo da vida.

Os resultados do inquérito apontam para um quadro genericamente positivo, o que deve constituir um reconhecimento e um estímulo para os profissionais da instituição, assim como um contributo para a consolidação da instituição e do seu modelo pedagógico. Por seu lado, não deixou de se identificar também alguns aspetos que merecem reflexão, no sentido de alargar e aperfeiçoar os serviços e ofertas formativas da Universidade Aberta. Resta-nos dizer que estes resultados reportam-se aos estudantes que concluíram com êxito a licenciatura, sendo que devem ser ponderados também com a informação relativa aos seus colegas que, por diversos motivos, não completaram os seus estudos.

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