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INDÍGENAS.

4.4 Projetos desenvolvidos pela AMIJK

Dentre os projetos aprovados e financiados desenvolvidos pela organização, assim como outros executados de forma autônoma, podemos destacar: Projeto Vaca Leiteira (2004); Cineclube Aldeia (2009); Mostra Indígena de Filmes Etnográficos (2015); Escola de Cinema Indígena – Um olhar etnográfico (2018) e a reforma na casa de farinha da aldeia (2018).

O Projeto Vaca Leiteira teve início em 2004 tendo sido incentivado pela FUNASA – Fundação Nacional de saúde – e pela FUNAI. Essas duas instâncias fizeram uma formação com o povo Jenipapo-Kanindé em que posteriormente foi elaborado um projeto de acordo com a necessidade mais emergente na aldeia no período. O principal problema no período era o crescente número de crianças desnutridas. Desta forma, como possibilidade para combater a desnutrição as lideranças propuseram como alternativa a criação de vacas para retirada de leite para alimentar as crianças.

O projeto foi escrito pelos técnicos da FUNASA e aprovado, seu recurso e execução foi destinado para a AMIJK. A AMJK ficou responsável de comprar as vacas e pagar alguém para trabalhar no manejo dos animais com o recurso do projeto, além disso, as famílias eram responsáveis de retirar o leite. O projeto ficou ativo por volta de 3 a 4 anos, depois foi suspenso por conta da falta de alimentação para as vacas, inclusive por conta disso, elas já não produziam tanto leite quanto antes e algumas acabaram morrendo. Entretanto, foi um projeto fundamental para o combate da desnutriçãodas crianças no período e também para a própria AMIJK que passou a mostrar seu potencial enquanto uma organização que poderia desenvolver e articular projetos para comunidade.

Em 2009 foi criado o Cineclube Aldeia e tendo sido realizado pela AMIJK com o apoio de produtores e pesquisadores, o qual, posteriormente foi comtemplado a partir do edital Ceará de Cinema e Vídeo (Secult-CE). Importante destacar que a partir desse projeto desencadeou a Mostra Indígena de Filmes Etnográficos e Escola de Cinema Indígena – Um olhar etnográfico. Nos momentos iniciais, antes de ser financiado, Cacique Juliana relata:

O projeto começou logo depois de montar o Museu Indígena Jenipapo- Kanindé. A gente escolhia um filme, passava, aí algumas pessoas da comunidade ofereciam batata, macaxeira, goma para poder fazer tapioca, peixe. Em uma noite do mês, uma noite de lua cheia, a gente fazia fogueira, montava toda a alimentação, escolhia um filme, sobre os povos indígenas no

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Brasil, convidava uma liderança tradicional do povo e aí fazia o momento lá no Museu e encerrava com o Toré. Então a gente fez isso por um ano. (Juliana Alves, janeiro de 2018)

Posteriormente, sentiu-se a necessidade da AMIJK de conseguir recursos para financiar o projeto com objetivo de envolver os jovens com as novas tecnologias audiovisuais, no sentido de se apropriar das mesmas para utilizá-las a favor da luta do povo Jenipapo- kanindé, como também dos povos indígenas do Ceará. De acordo como está no próprio projeto:

O Cineclube Aldeia tem como principal objetivo fortalecer a política de audiovisual cearense através do fomento à produção, formação e difusão de filmes com a temática indígena. Servindo como referência a outras comunidades indígenas. Além de contribuir com o fortalecimento das culturas indígenas e a defesa de seus direitos por meio do uso de novas tecnologias como ferramentas para expressar, transmitir e compartilhar conhecimentos, a partir de suas próprias visões de mundo. (PROJETO CINECLUBE ALDEIA, 2014/2015)

Desta forma, o projeto tem sido proposto para formar jovens cineastas indígenas para registrarem elementos da cultura e da luta Jenipapo-Kanindé, assim como de outros povos no sentido de fortalecer o movimento indígena a partir da produção e divulgações do que esses jovens têm produzido dentro da perspectiva dos próprios povos indígenas.

No projeto de manutenção do Cineclube Aldeia de 2014/2015, foi proposto oficinas para a continuação da formação desses jovens, como Oficina de Desenvolvimento Cine Clube, que buscou promover “a vivência cineclubista, como base para que todos os participantes reflitam sobre a sua importância do grupo dentro da organização da atividade cultural, valorizando a participação do público na formação estética e ideológica do cineclube” (PROJETO 2014/2015).

Oficina de Leitura e Expressão em Audiovisual que teve o objetivo de despertar o senso crítico dos jovens a partir da leitura de textos sobre a temática e Oficina de Áudio Visual para que os jovens aprendessem a utilizar os recursos audiovisuais e produzirem material para serem exibidos no Cineclube Aldeia.

No ano de 2015 ocorreu a primeira Mostra Indígena de Filmes Etnográficos, sendo também uma iniciativa da AMIJK articulado também com o projeto Cineclube Aldeia, financiado a partir do XI Edital Ceará de Cinema e Vídeo. A Mostra surge, principalmente, para fortalecer e dar destaque a produção audiovisual etnográfica e indígena do estado. Nesse sentido, a Mostra consistiu em reunir os demais povos indígenas do estado, como Tapeba, Tremembé, Anacé, Pitaguary e os próprios Jenipapo-Kanindé, no qual,

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núcleos de vivência, apresentações culturais e mostras paralelas de filmes etnográficos, como a Mostra Curumim, dedicada ao público infantil, e a Mostra Jenipapo-Kanindé, voltada à história e à cultura da etnia. O processo de curadoria e produção do evento é totalmente compartilhado com os membros da etnia. O evento pretende contribuir para a articulação entre comunidades indígenas no Ceará e dessas com outros agentes, fomentando a criação de redes de colaboração em cinema indígena e etnográfico.24

Em abril de 2017 ocorreu a segunda Mostra Indígena de Filmes Etnográficos, dessa fez foi contemplado pelo Edital de Apoio a Projetos Culturais de Demanda Espontânea 2016/Secult-CE. A partir das Mostras Indígenas de Filmes Etnográficos, a AMIJK tem pontuado a importância e a necessidade de formar os jovens da Aldeia para que “...eles mesmo sejam os protagonistas e registrem a história do povo Jenipapo-Kanindé” (CACIQUE JULIANA, Lagoa Encantada, 2018). Foi a partir disso que surgiu também o projeto Escola de Cinema indígena – Um olhar etnográfico. De com acordo com o Release da abertura elaborado pela Associação:

A "Escola de Cinema Indígena - Um olhar etnográfico" investe na formação e produção audiovisual etnia Jenipapo-kanindé e outros povos indígenas para que se expressem a partir de sua própria voz e olhar, passando de objetos a sujeitos do discurso. A metodologia foi totalmente inspirada no projeto "Vídeo nas Aldeias" uma atividade realizada pelo indigenista Vincent Carelli, antropólogo e documentarista franco-brasileiro (...) O projeto tem a proposta de apoiar as lutas dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais, por meio de recursos audiovisuais. Permitindo que crie um importante acervo de imagens sobre os povos indígenas do Ceará, com o objetivo de conhecer, valorizar, registrar e difundir o patrimônio e diversidade cultural e artística...

O projeto tem apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará – SECULT e comtempla quatro etnias, sendo realizado pela AMIJK. O projeto tem duração de 2 anos e meio, sendo dividido a formação por módulos com aulas gratuitas e quinzenais para os jovens dos quatro povos selecionados: Tapeba, Jenipapo-Kanindé, Kanindé e Pitaguary.

Desta forma, além de ter o objetivo de capacitar os jovens para utilizar o audiovisual como ferramenta de registro e expressão da própria cultura, também tem o objetivo de promover o intercâmbio cultural entre os povos do estado. Importante destacar que os jovens Jenipapo-kanindé que participaram da primeira formação e também do Cineclube Aldeia atuaram como monitores nas oficinas.

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Fonte: Emilly Jenipapo-Kanindé (2018)

Fonte: A autora (2019)

Figura 7. Mulheres Jenipapo-Kanindé organizando a aula inaugural do projeto Escola de Cinema indígena

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Fonte: A autora (2019)

Fonte: A autora (2019)

No projeto de escola de cinema indígena não só os jovens participam como podemos observar nas imagens, está aberto para qualquer pessoa do povo que queira participar, o próprio Pajé é um dos alunos. Os alunos do projeto já apresentaram alguns vídeos que elaboraram no decorrer do projeto, entre esses vídeos estive presente na exibição de um. O vídeo foi sobre a festa do Mocororó, registraram desde o momento de fazer a bebida até o momento da festa propriamente dita. Ao final da exibição do vídeo foi nítido a emoção dos alunos quando viam seu nome passar na tela e sua contribuição na elaboração do mesmo, para eles foi algo muito significativo, bem como para as lideranças, principalmente Cacique Pequena, que se encheu de orgulho ao falar no final que eles estavam indo por um bom caminho e que tinham feito um ótimo trabalho.

97 Além dos projetos citados, tem ainda o projeto São José aprovado recentemente no ano de 2018, no momento o projeto se encontra ainda em fase de conclusão. O projeto tem o objetivo de reformar a casa de farinha da aldeia. A casa de farinha é comunitária e bastante simbólica para o grupo, eles utilizam principalmente preparação de farinha, tapiocas, bejus, entre outros, para consumo diário e não para fins comerciais.

Fonte: A autora (2019)

Nesse caso, o projeto também tem contribuído para empregar alguns indígenas na aldeia que se encontram em maior situação de vulnerabilidade econômica como Cacique Irê relata:

Todos os projetos que a gente executa na aldeia, a gente dá prioridade para nossos indígenas que estão desempregados e que não tem nenhuma renda. No entanto, alguns a gente também tem que se adequar ao que é exigido no edital. Então como é que a gente faz? Por exemplo, o projeto da reforma da casa de farinha, foi uma empresa e teve licitação, só que aí a gente entra em concordância com a empresa de 50% ser de funcionários da empresa e 50% ser de funcionários da aldeia, ou seja, a empresa reaproveita o que a gente tem de mão de obra para que a gente possa dar oportunidade a essas pessoas que estão dentro da aldeia (Juliana Alves, janeiro de 2018).

Face ao explicitado, podemos constatar que AMIJK tem desenvolvido diversas ações desde sua criação e desempenhado um papel fundamental na aldeia no sentido de catalisar projetos e firmar parcerias com instâncias externas. Tais projetos têm sido pensados no sentido de beneficiar a comunidade como um todo.

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