• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV: Filosofias e design focados no ambiente: comunidades intencionais e Permacultura

6- Projetos ecotópicos em Portugal

Nos últimos anos têm aparecido imensas iniciativas, umas mais ligadas às éticas da permacultura, outra que querem vir a ser comunidades e ecoaldeias, outras mais espirituais que trabalham com retiros e eventos de espiritualidade. Acho mesmo que foi semeada uma sementinha e que esta vontade de mudar e de conexão com a natureza está

191 a crescer. A verdade é que ainda somos poucos, mas mudar implica também aceitar que as mudanças são processos lentos, não é imediato (…) (J., Projeto Agroecológico do Soajo).

O campo morfogenético tem-se estendido também por Portugal. Temos recebido muitas visitas de pessoas que estão a fazer boas coisas, que estão a iniciar projetos e que muitas vezes nos procuram ou vêm aos nossos cursos porque nos veem como uma referência. Às vezes organizamos eventos também com estes portugueses empreendedores da transição como é o caso do projeto 1000 lagos para o Alentejo, que estamos a tentar criar com outros grupos portugueses para criar um modelo pioneiro que testasse a possibilidade de reverter o processo de desertificação que está a assombrar a Península Ibérica (Cl., Tamera).

Tenho tido conhecimento de muitas iniciativas também de economia alternativa que estão a surgir no Porto, em Coimbra e em Lisboa e noutros sítios também. Às vezes até estranho porque me falam de tantas novas iniciativas que eu não conheço (…) há uns 8 anos eram tão raros e agora estou a sentir mesmo muita movimentação de grupos que se dedicam a experimentar a transição e forma de viver diferente. Parece que esta nova geração tem mais consciência, e está mais disponível para abicar dos confortos e artificialidade, e então começam a mudar-se para o campo e para as aldeias ou então a juntar-se nas cidades a fazer coisas (FT., Tamera).

Partilho com os meus interlocutores esta perceção de que o número de projetos alternativos que pretende construir comunidades intencionais e ecoaldeias, que se dedicam a experimentar as éticas e ferramentas agrícolas, sociais e económicas propostas pela permacultura, ou que se dedicam ao cultivo de práticas espirituais e ambientais, está a aumentar em Portugal. De facto, eu própria sou adepta de retiros de meditação ou xamânicos, de encontros voltados para pensar e viver práticas de sustentabilidade ambiental, e fico sempre surpreendida com as várias pessoas que conheço e que me falam de novas comunidades ou novos projetos os quais ainda não ouvi falar. Já visitei e participei em eventos organizados por algumas comunidades, como é o caso do Awakened Life Project (localizado na Quinta da Mizarela, Benfeita) e da Avidanja (Montemor-o-Velho). Apesar de ambos os projetos terem um grande foco em práticas de desenvolvimento espiritual e crescimento pessoal (com retiros de meditação, alimentação consciente, grupos de mulheres e grupos de homens, etc.), partilham muitas das ideias e visões que encontro em Tamera e no projeto Agroecológico do Soajo. Ambos os projetos são comunidades onde residem várias pessoas, ambos se dedicam a práticas de permacultura como forma de produção dos seus hortícolas e frutas, compostagem e

192 reabilitação dos ecossistemas em volta, eco-construção, construção e comunidade, alimentação consciente, consumo consciente e economia solidária e alternativa, etc. Em ambas encontro também uma tentativa de mudarem intencionalmente os seus modos de vida, procurando o que consideram ser formas de viver mais simples, autênticas e livres. Esta tendência verifica-se também a nível urbano. No Porto, território que conheço mais aprofundadamente e onde tenho também acompanhado alguns projetos. Nos últimos anos têm vindo a emergir várias iniciativas alternativas e ecológicas que, pelas suas características, podem elas próprias ser consideradas ecotopias. No Porto existem comunidades intencionais urbanas, como é o caso do Rés-da-Rua71, comunidade

autogestionada, localizada num antigo casarão localizado no coração do Porto - na Rua Álvares Cabral onde residem 12 pessoas. Para além de ser um espaço habitacional é também um local onde se realizam várias atividades que pretendem discutir temas relacionados com ecologia, justiça social, paz, economia alternativa, etc. Têm também uma cantina onde disponibilizam refeições vegetarianas pagas por donativo, e aluga espaços a turistas na plataforma na plataforma de alojamento local Airbnb, que lhes permitem garantir a autossuficiência económica da comunidade. É também nesta comunidade que se encontram coletivos críticos da cidade como é o caso da Cicloficina – plataforma que defende o uso das bicicletas como meio de transporte, e ensina formas de manter e cuidar a bicicleta; a AMEP72 – Associação para a Manutenção de uma

Economia de Proximidade, que pretende aproximar produtores e consumidores de produtos artesanais e biológicos na cidade do Porto. Esta comunidade tem apenas 2 anos, surgiu no rescaldo do despejo, pela Câmara Municipal do Porto, e fragmentação do projeto Es.Col.A – Espaço Coletivo Autogestionado, que em 2011 ocupou a Escola da Fontinha com o objetivo de a devolver à comunidade local. Atualmente, o Rés-da-Rua é a comunidade intencional urbana mais organizada do Porto. No entanto existem outros projetos e comunidades mais pequenas e familiares no Porto e arredores como: a Quinta da Junceda73, localizada em Valongo e onde residem 5 pessoas de forma ecológica; as

Agitadoras de Alquimias, em Valbom, onde dois amigos estão há 5 anos a reabilitar, de forma totalmente ecológica uma casa, que já funciona e funcionará como local para criar

71 Website desta comunidade disponível online em: http://resdarua.weebly.com/

Página de facebook do projeto disponível online em: https://www.facebook.com/resdarua/

72 Projeto que descende da plataforma de economia solidária Ecosol – que criou uma moeda alternativa

para a cidade do Porto. A página da AMEP e uma descrição mais alargada está disponível online em: https://movingcause.org/projectos/amep-porto/

73 Website da Quinta da Junceda disponível online em:

Documentos relacionados