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Projetos educacionais

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Um olhar sobre a educação de hoje: da educação bancária à perspectiva dialógica

2.6 Projetos educacionais

Ao tratarmos de projetos educacionais, encontramos em Moura e Barbosa (2007, p. 27), cinco tipologias de projetos que, embora “apresentem pontos comuns, se distinguem, fundamentalmente, pelo fim principal a que se destina cada um deles”. Para pontuarmos as diferentes terminologias e suas concepções, organizamos, a partir dos referidos autores, e para fins didáticos, a tabela das tipologias de Projetos Educacionais que se segue.

Tipologia de Projetos Educacionais

OBJETIVOS

Projeto de intervenção Promover uma intervenção, através da introdução de

modificações na estrutura (organização) e/ou dinâmica (operação) do sistema ou organização.

Projeto de Pesquisa Obter conhecimentos sobre determinados problema,

questão ou assunto, com garantia de verificação experimental.

Projeto de desenvolvimento (produto)

Produzir ou implantar novas atividades, serviços ou

“produtos”.

Projetos de Ensino Melhorar o processo ensino-aprendizagem e dos

elementos de conteúdos relativos a uma ou mais disciplina. (Próprio da área educacional e refere-se ao exercício das funções do professor).

Projetos de Trabalho (de aprendizagem)

Proporcionar aprendizagem de conceitos e

desenvolvimentos de competências e habilidades específicas (executados pelos alunos sob a orientação do professor, visando aquisição de determinados conhecimentos, habilidades e valores).

Os cinco tipos de projetos citados não se constituem em propostas exclusivas ao ambiente escolar, podendo ocorrer, também, em outras instituições, organizações ou comunidades. Contudo, no espaço escolar os Projetos de Trabalho devem ser contemplados desde a organização do currículo escolar, por sua significatividade, conforme aponta Hernández e Ventura:

Definitivamente, a organização dos Projetos de Trabalho se baseia fundamentalmente numa concepção da globalização entendida como um processo muito mais interno do que externo, no qual as relações entre conteúdos e áreas do conhecimento têm lugar em função das necessidades que traz consigo o fato de resolver uma serie de problemas que subjazem na aprendizagem. [...] se baseia em sua significatividade [...] nas descobertas espontâneas dos alunos. (1998, p.63)

Destacamos, aqui, os projetos de trabalho, porque articulam atitudes favoráveis para que a aprendizagem seja conectada com os interesses e realidade dos educandos, bem como, porque possibilitam a aproximação entre complexidade do conhecimento escolar e necessidade de construção de sentido de vida, a partir das experiências vivenciadas no âmbito escolar. Concordamos com Hernández, quando afirma que uma das maneiras de entender os projetos está na atitude relacional que neles buscamos, pretendendo:

[...] dar um sentido ao conhecimento baseado na busca de relações entre fenômenos naturais, sociais e pessoais que nos ajude a compreender melhor a complexidade do mundo em que vivemos e planejar estratégias para abordar e pesquisar problemas que vão além da compartimentação disciplinar. (HERNÁNDEZ,1998, p. 73).

Com essa visão educativa do trabalho por projetos, somos convidados a repensar a natureza da escola e do trabalho escolar. Muitas escolas (em particular seus professores) reconhecem o valor do trabalho por projetos, embora ainda existam muitas limitações para a sua efetivação, sendo uma delas o entendimento e harmonização dos conceitos e ideais para aplicação desta proposta. O educador não reconhece, muitas vezes, nesta proposta, a possibilidade de desenvolver competências, tais como:

[...] promoção do trabalho cooperativo, articulação do trabalho em rede, estimulo ao empreendedorismo, realização de aprendizagem contextualizada e significativa, capacitação para identificar, equacionar e resolver problemas relevantes, estímulo a criatividade, comunicação, etc. (MOURA; BARBOSA, 2007, p. 31).

Outras vezes, o educador até reconhece as diversas possibilidades do trabalho por projetos, mas se depara com limitações pertinentes à própria estrutura escolar, conforme aponta um professor em seu relato sobre as limitações do trabalho por projetos:

A grande dificuldade no trabalho com projeto está no fato de que o mesmo pressupõe outra organização do tempo-espaço da unidade escolar, bem como outras relações entre os diferentes sujeitos da educação. A forma como a escola se mantém estruturada em horas-aulas segmentadas, a divisão em disciplinas muitas vezes estanques, bem como um distanciamento entre pesquisa e metodologia são sintomas desta dificuldade de se trabalhar com projetos38

.

Além das situações já citadas, pontuamos que a dificuldade em visualizar os resultados pretendidos, na fase de avaliação do processo, gera algumas frustrações no professor que ainda não se deu conta de que os resultados ligados aos valores atitudinais, mesmo não sendo resultados mensuráveis são, também, importantes. Esperar resultados imediatos, que possam ser observados como um produto a ser exposto, mensurado, avaliado objetivamente é possivelmente uma limitação no trabalho por projetos, porém nossa intenção é considerar esta realidade do cotidiano escolar, apostando, acima de tudo, nos benefícios desta proposta para superação das dificuldades específicas a esse trabalho.

A concepção de avaliação dos projetos, apresentada por Hernández e Ventura (1998, p. 80), reconhece que “a ordenação e apresentação final de todos os materiais reunidos ao longo de um Projeto vai além da intenção de uni-los e cobri-los com uma fachada para ostentar ante as famílias”. Assim, acreditamos que juntamente com os benefícios diretamente ligados aos resultados esperados, temos aqueles atrelados à construção do sentido de vida. As aprendizagens de conteúdos, o desenvolvimento de competências e habilidades, as possibilidades de sair do nível da informação e chegar a um nível de sabedoria revestida de ciência devem ser

apreciadas e avaliadas pelas famílias, professores, alunos e comunidade em geral. Porém, no processo do desenvolvimento, com certeza, encontram-se também aqueles que definitivamente fazem a diferença impactando, formando e significando a vida daqueles que se envolvem neste trabalho; mesmo não sendo muitas vezes observados, avaliados ou expostos como produto final.

No próximo capítulo, com a apresentação e análise da pesquisa de campo realizada com alunos e professores do Ensino Médio, aprofundamos a temática da construção do sentido de vida, a partir de algumas possibilidades e limitações do trabalho por projetos.

CAPÍTULO 3

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