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5. R ESUL T A DOS E DISCUSSÃ O

5.2. As professoras e suas visões

5.2.4. Projetos e a formação das crianças

Durante todo o trabalho vem sido apresentado e discutido as possibilidades do trabalho com projetos na escola, aqui irei mostrar a avaliação das professoras sobre o projeto de Reisado com as crianças e suas experiências com projetos.

O trabalho com projetos precisa ter uma organização e planejamento desde a ideia inicial até a avaliação final; então, o professor que pensa em um projeto necessita pensar numa divisão que consiga o máximo de desenvolvimento para todos os integrantes do projeto (BARBOSA; HORN, 2008). Maria relata que o projeto de Reisado com as crianças no CEI teve uma ótima divisão e organização:

Eu achei que ele foi muito bem dividido, seu trabalho com as crianças primeiro o que ia acontecer, realmente o que tem que fazer, explicar o que vai acontecer. A questão de construir o figurino com elas foi super, super legal, porque tri-valorizou o que eles vão fazer, tipo “Eu faço parte, eu não só danço, eu faço parte daquilo também, eu construí aquilo dali.”, então eu acho que o processo que você fez foi muito bacana, conversar com os pais primeiro e depois com a criança, fazer a dança e fazer o figurino com eles foi um processo muito bacana mesmo. (MARIA, 2017)

Durante todo o desenvolvimento do projeto, as crianças geralmente estavam sabendo o que estávamos fazendo, porque elas ajudaram a concretizar a ideia apresentada por mim e que foi feita para todos; então, é interessante que todos estejam cientes do que está acontecendo no projeto. A confecção dos figurinos com as crianças foi um fator primordial para ajudar na construção da identidade cultural das crianças e do projeto (GABRIEL, 2008), porque como relata Maria a confecção dos figurinos “tri-valorizou” o trabalho das crianças e com isso

criou um sentimento de pertencimento e identidade com aquilo que elas estavam fazendo no projeto, constrói-se uma nova visão da manifestação cultural que é o Reisado (MORICONI, 2014).

No CEI nunca aconteceu um projeto de Reisado, então perguntei as professoras se o projeto auxiliou na formação das crianças, as professoras citaram diversas contribuições do projeto para o desenvolvimento, não só das crianças, mas também de toda a comunidade escolar:

Com certeza! Assim, principalmente pra desfazer aquela coisa que alguns pais tiveram “Ah que música estranha. Escutar até música de macumba.”, essa questão da limitação. Na apresentação, inclusive, quando foi na festinha deles muitos pais ficaram admirados com aquilo, acho que muitos pais pensaram “Puxa vida, porque eu não deixei meu filho participar?”, e as crianças que participaram se sentiram realmente bem, elas se sentiram reconhecidas dançando aquilo dali. Acho que foi um crescimento não só para elas, até pra própria comunidade escolar mesmo como um todo, eu digo até em relação à escola, algumas pessoas viram aquelas músicas estranhas, diferentes, mas aí quando viram na apresentação viu como ficou lindo. (MARIA, 2017)

Essa fala da Maria volta-se e confirma aquela questão da resistência e preconceito dos pais e responsáveis com o ensino das danças tradicionais, como já falei anteriormente, acredito que muitos pais não deixaram seus filhos participarem por conta do figurino e de toda a questão histórico-religiosa que envolve o Reisado. Por isso que eu fiz uma reunião com os pais e responsáveis antes de começar o projeto para poder explicar tudo direito sobre o que é o Reisado e diminuir as barreiras muitas vezes impostas por falta de conhecimento dos pais (CONCEIÇÃO; MOURA, 2013). Concordo também com o relato da Maria sobre ter sido um crescimento para toda a comunidade escolar, em conversas informais as outras professoras que estavam próximas, mas não estavam ligadas diretamente com o projeto falavam que queriam o projeto na turma delas também, mostrando a importância do projeto também para estas pessoas que estiveram indiretamente ligadas.

Olha, com certeza enriqueceu, eles tiveram uma experiência que eles nunca, tenho certeza, assim, conseguiram ter a experiência de uma dança diferente, dentro de um contexto histórico, com roupas diferentes, a criação do figurino, então assim dá um... eu digo sempre assim, sempre na tecla do contexto histórico, porque história pra mim é fascinante, e quando? Onde eles teriam essa experiência? Em casa? Na rua? Não tem mais, não dá, as mães nem conhecem e muitas delas às vezes até, talvez até proibiram por não conhecerem, então onde mais elas vão ter essa oportunidade de ter essa experiência? Enriqueceu de várias maneiras, enriqueceu a questão do movimento mesmo, de aprender movimentos novos, de interagir, de experimentar um som diferente do que elas estão acostumadas a ouvir, um ritmo diferente, aprender um pouco de história, viram a criação do figurino, então quantas coisas assim contribuiu para o crescimento e desenvolvimento deles. (ANTÔNIA, 2017)

Nesse trecho, Antônia relata que o projeto de Reisado enriqueceu a formação das crianças, pois nenhuma das crianças conheciam o Reisado de maneira aprofundada, como conheceram por meio do projeto e provavelmente não teriam essa possibilidade de experienciar o Reisado no seu cotidiano. Antônia cita que o Reisado tem uma variedade enorme de movimentos que podem ser ensinados para as crianças desde o mais simples até o mais complexo, cabendo ao professor entender e compreender o limite do grupo que se está trabalhando para aproveitar o máximo de cada um que participa do projeto. Essas atividades que trabalham o movimento juntamente com a música integram um conjunto de sensações, informações físicas e psíquicas, além de conhecimentos que ajudam muito no desenvolvimento integral das crianças (CAMARGO; FINCK, 2010).

Para além disso como apresentam Conceição e Moura (2013), as danças tradicionais são uma das formas de se aprender o folclore na escola por meio do corpo dançante e esse corpo que não só dança, mas também interpreta e canta a história de um povo conhece, compreende, aprende melhor essa história e se torna mais significativo para quem dança. Antônia se mostra surpresa com as grandes possibilidades que o trabalho com a dança, e consequentemente, com o Reisado podem ser produtivos:

Patrick: E essa questão [...] da teatralidade dos personagens, que além de trabalhar a dança o Reisado, ele também tem a questão do teatro, então além de ensinar aquele todo o contexto histórico de como, do que é, de onde é que veio as raízes do Reisado pras crianças, eu também ensinei alguns personagens para eles, mostrei os personagens, eles lembravam quando não lembravam o nome, lembravam as características dos personagens.

Antônia: [...] Então realmente essa questão da dança também tem essa questão da interpretação, isso trabalha tanto essa questão da timidez, eles se soltam, eles ficam mais... interagem e desenvolvem a linguagem, e conversam, e cantam. Nossa! As possibilidades são infinitas, tem muita coisa pra gente ver aí. (ANTÔNIA, 2017)

Antônia nesse trecho cita que a dança e a interpretação ajudam os alunos na questão da timidez, eles conseguem ficar mais desinibidos, assim como o relato de Francisca mostra que realmente o projeto ajudou alguns alunos na timidez:

Ajudou sim em vários aspectos, por exemplo não só a questão dele ter o conhecimento dessa dança e dele praticá-la, fazer esse experimento, ele foi importante porque você resgatou a história da humanidade, você resgatou uma atividade regional que ainda, graças à Deus ainda a gente vê no 6 de janeiro [...] E também abordou a questão de trazer para o aluno, aqueles alunos que não gostam muito de participar das atividades [...] Alguns queriam, outros não queriam ou outros pais não permitiram, porque são da igreja tal, da igreja tal que não se envolve com atividades dessa natureza de jeito nenhum, mas aí a gente, você deve ter percebido que quando alguns foram participar os outros já quiseram se inserir na atividade e aí eu percebi que alguns alunos, tipo o ‘Príncipe’, o ‘Príncipe’ ele é bem né tranquilo, mais calmo e eu percebi que ele se envolveu assim de uma forma tão espontânea, tão prazerosa, participou da atividade, vestiu as indumentárias, você trouxe as vestimenta, então foi uma atividade belíssima,

eu particularmente apoio, eu acho que a gente devia fazer isso sempre, não só com o Reisado, mas com outras danças que envolvem a nossa cultura. (FRANCISCA, 2017)

No meu olhar como professor-participante do projeto, pude ver o desenvolvimento de todas as crianças que participaram e realmente o ‘Príncipe’ sempre foi mais quieto, e durante o projeto ele foi se soltando mais, no final acabou se divertindo com tudo assim como as outras crianças, o trabalho com o corpo por meio da dança promove o conhecimento de si, dos outros e do mundo, auxiliando assim o desenvolvimento pessoal (CAMARGO; FINCK, 2010).

Perguntei a Maria sobre o que ela achava sobre os projetos de ensino na Educação Infantil:

Eu acho que tudo [...] que vier acrescentar no crescimento e conhecimento das crianças é bem-vindo. Eu sempre digo que eu gosto de receber estagiário, porque quando eu era estagiária eu levei muito não na cara e nem toda escola estar aberta pra isso. E eu acho que todo o povo que vem, vem para acrescentar, lógico que tem toda uma avaliação do que vai ser feito, um acompanhamento, então assim eu acho que as coisas que vem de fora, como elas são novas pra eles, como vem pessoas diferentes às vezes faz mais efeito, está acostumado com o dia a dia e tal, com os projetos da própria escola, mas eu acho que tudo o que vier pra crescimento das crianças muito bem-vindo. (MARIA, 2017)

Maria explica que se vier para acrescentar no desenvolvimento e no conhecimento das crianças é desejado, mas que sempre é necessária uma avaliação antes do que vai ser feito. Quando quem propõe o projeto é alguém de fora da escola é percebido que às vezes faz mais efeito, pois no CEI as crianças têm uma rotina base que se repete basicamente toda semana, então quando vêm algo de fora dessa rotina é mais efetivo, as crianças prestam mais atenção, elas ficam mais fascinadas com aquilo que está acontecendo, Barbosa e Horn (2008) afirmam que o trabalho com projetos na Educação Infantil auxiliam no desenvolvimento de muitos aspectos como a flexibilidade, organização, cooperação, aprendizagem coletiva e a inclusão de novos conhecimentos na rede pré-existentes de informações.

Analisando as falas das três professoras é possível perceber que existem pontos em comum, como a resistência dos pais, a importância da contextualização histórica, a melhora em alguns aspectos do desenvolvimento das crianças e a organização do projeto, que já foram discutidos amplamente durante todo o trabalho, entretanto é interessante observarmos que essas questões podem ou não aparecer em outros projetos com o mesmo tema, ou até o mesmo projeto sendo construído por outra turma, isso acontece porque nenhuma turma é igual a outra, todos nós somos seres diferentes, portanto, os resultados aqui discutidos são frutos dessa turma de crianças do Infantil-V durante o ano de 2017, se fosse fazer esse mesmo projeto com essas mesmas crianças nos próximos anos provavelmente será totalmente diferente. É interessante

nós professores ter essa visão de que nenhuma turma é igual a outra, portanto, é necessário um planejamento específico para cada turma que se trabalha (BARBOSA; HORN, 2008).

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