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Mais do que descrever o léxico brasileiro dos primeiros anos dos oitocentos, com

certeza, o Diccionario da Lingua Brasileira do goiano Luiz Maria da Silva Pinto, tinha como

objetivo ser prescritivista, conduta bastante comum nessa época.

Publicado dez anos depois da Independência do Brasil, o dicionário, nesse

contexto, constitui-se como um instrumento de divulgação da nova nação e da posição

política de seu editor diante dos acontecimentos históricos. Como homem respeitado na

sociedade local, em um período em que o Brasil acabava de ser tornar independente de

Portugal, Silva Pinto se preocupava com os rumos que a língua portuguesa poderia tomar e,

como editor, colocou-se como “protetor” do português lusitano, “bem falado” em terras

brasileiras.

A imagem que apresentamos, a seguir, destaca a página do dicionário que trata

das abreviaturas da obra, com a inserção de várias terminologias, dentre elas, a terminologia

náutica, objeto de análise desta Pesquisa.

IMAGEM 1: Lista de abreviaturas, proposta pelo Diccionario da Lingua Brasileira.

Dada a estreita relação entre cultura e léxico, abordaremos no próximo capítulo as

grandes navegações, destacando a navegação portuguesa em terras brasileiras

.

Capítulo 2 – Contextualização histórica

2.1. As grandes navegações

A aventura marítima portuguesa não foi um marco isolado. Ela se fez no contexto

de uma das maiores aventuras expansionistas empreendidas pelo homem e se tornou

conhecida como grandes navegações. De costas para Castela e de frente para o mar, a única

forma de Portugal expandir seus domínios era enfrentar as águas desconhecidas.

Desde 1385, com a ascensão de D. João I ao trono após a Revolução de Avis,

antes de qualquer outro país europeu, Portugal já possuía um Estado centralizado, apoiado por

uma burguesia mercantil forte e disposta a investir na expansão, a fim de ampliar suas

possibilidades de lucros. Construíram caravelas, principal meio de transporte marítimo e

comercial do período, desenvolvidas com qualidade superior às de outras nações. Neste país

também houve a preocupação com os estudos náuticos, pois os portugueses chegaram a criar

até mesmo um centro de estudos: a Escola de Sagres. Nesse centro, o Infante Dom Henrique,

filho do Rei Dom João I, reuniu numerosos pilotos, cartógrafos e astrônomos, cujos trabalhos

favoreceram o avanço da arte de navegar e impulsionaram a expansão marítima portuguesa.A

partir daí com o aprimoramento da cartografia – em especial com o desenvolvimento das

cartas náuticas – e com o avanço das técnicas de navegação, recorrendo ao que havia de mais

novo no campo científico, tais como a ampliação dos conhecimentos sobre correntes

marítimas, o uso do astrolábio e da bússola que permitia navegações mais seguras;

privilegiando a situação geográfica de seu país, os portugueses partiram para as grandes

expedições marítimas.

Entre os grandes obstáculos vencidos para que fossem além do conhecido mar

Mediterrâneo, estavam o medo e várias pré-concepções. Foi necessário um longo processo de

mudanças para que o povo europeu apostasse na teoria da esfericidade da Terra e se

“convencesse” de que havia alguma possibilidade de ir além das águas já navegadas desde

muito tempo.

Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente portugueses e

espanhóis, lançaram-se nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico com dois objetivos

principais: descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. Este

período ficou conhecido como a Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos.

O início da expansão portuguesa deu-se em 1415, com a conquista da cidade de

Ceuta, no norte da África, na costa do atual Marrocos, importante centro comercial da época –

ponto de convergência de caravanas de comerciantes árabes. Depois de Ceuta, os portugueses

continuaram suas conquistas, contornando a África, em um trajeto conhecido como périplo

africano. A expansão portuguesa incluiu a ilha da Madeira, os Açores, Cabo Verde, a

ultrapassagem do Cabo Bojador (grande obstáculo para a continuação da viagem e muito

temido pelos navegadores por causa das fortes ondas e dos nevoeiros comuns na região)

Senegal e Serra Leoa.

Durante o périplo africano, os portugueses desenvolveram a caravela, um tipo de

barco adaptado à navegação em mar aberto, e começaram a esboçar o audacioso plano de

contornar o sul da África e chegar às Índias.

MAPA 1: As grandes navegações26

A chegada dos portugueses ao litoral da América em 1500 foi, portanto, uma

consequência da expansão ultramarina, anteriormente realizada em vários cantos do mundo.

As grandes navegações transformaram Portugal em um império respeitado em

toda à Europa: o interesse despertado pelas viagens transoceânicas não só permitiu a expansão

dos conhecimentos náuticos, com o desenvolvimento da bússola, do astrolábio, das

embarcações e de mapas rudimentares denominados portulanos; mas, também, por ser o

primeiro país europeu a iniciar a expansão ultramarina, teve seu comércio ampliado, dominou

povos e terras, impôs um sistema de colonização, imprimindo aí sua soberania, religião,

cultura e língua.

O desenvolvimento do comércio europeu, nos séculos XV, XVI e XVII,

favorecido pelas práticas mercantilistas das monarquias absolutistas, foi também chamado de

"revolução comercial". A revolução comercial caracterizou-se pela integração da América,

África e Ásia à economia europeia, através da navegação pelo Oceano Atlântico; pelo

aumento da circulação de mercadorias e de moedas; pela criação de novos métodos de

produção de manufaturas; pela ampliação dos bancos, dos sistemas de crédito, seguros e

demais operações financeiras. O crescimento da agricultura, da mineração, da metalurgia, da

navegação, da divisão do trabalho, do comércio colonial promoveu uma grande acumulação

de capital preparando a Europa para avanços importantes na produção o corridos a partir do

século XVIII.

2.2. As navegações na época do Brasil Colônia

A primeira exploração do litoral do território descoberto foi feita pela própria

esquadra de Cabral, que seguiu paralelamente à costa em direção norte, procurando um porto

onde os navios ficassem abrigados. A partir daí, nos primeiros trinta anos, o contato com as

terras brasileiras ficou limitado ao envio de algumas expedições de reconhecimento e defesa

do litoral e outras, com o objetivo de explorar o pau-brasil, único artigo que poderia ser

convertido em lucros para Portugal.

Em 1530, Dom João III enviou ao Brasil a expedição de Martim Afonso de Sousa,

cujos principais objetivos eram verificar a existência de metais preciosos, explorar e patrulhar

o litoral e estabelecer os fundamentos da colonização do Brasil. Martim Afonso percorreu

quase todo o litoral brasileiro: de Pernambuco, enviou dois barcos para explorar o litoral

norte; organizou expedições rumo ao sertão, partindo de Cabo Frio e de Cananeia; chegou até

a foz do rio da Prata e depois retornou ao litoral paulista, onde fundou a vila de São Vicente

(1532). Ali se organizaram alguns povoados, iniciou-se o plantio da cana e foram construídos

os primeiros engenhos da colônia. Começava assim a colonização efetiva do Brasil, apoiada,

inicialmente, na produção de açúcar para o mercado externo.

O aproveitamento sistemático dos recursos da terra brasileira em benefício da

metrópole portuguesa permitiu a fixação de populações europeias na região, o que contribuiu

para a incorporação dos modelos sociais, culturais e religiosos europeus no Novo Mundo.

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