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Promoção do PF com levantamentos dos aspectos sexuais e reprodutivos no

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.9 Exercício matricial

5.9.2 Contribuições da equipe de matriciamento para a resolução do caso clínico

5.9.2.2 Promoção do PF com levantamentos dos aspectos sexuais e reprodutivos no

No intuito de facilitar o reconhecimento da necessidade de PF de mulheres portadoras de transtorno mental, o grupo sugeriu que os aspectos sexuais e reprodutivos fossem abordados logo que essas mulheres cheguem ao serviço para atendimento, seja no CSF ou no CAPS. Destarte, o PF desse público estaria mais propenso a ser efetuado nos CSF, assim como a equipe do CAPS estaria mais vigilante a tais questões, o que defendeu a participante abaixo:

Podemos abordar na avaliação inicial as questões do PF. Se a paciente tem vida sexual ativa, se tem companheiro, se já teve gravidez indesejada. Eu já faço algum atendimento desse tipo na consulta de Enfermagem. Mas, na avaliação inicial, é interessante, porque dependendo da necessidade da mulher, o encaminhamento para o posto já seria feito (Enfermeira, 17 anos de atuação no CAPS).

O levantamento dos aspectos sexuais e reprodutivos na história clínica inicial favorece a proposta do Projeto Terapêutico Singular (PTS), preconizado pelo MS, que objetiva, por meio do diálogo entre as equipes, condutas terapêuticas articuladas. Desta maneira, o PTS é bastante desenvolvido em espaços de atenção à saúde mental como forma de propiciar uma atuação integrada da equipe, valorizando outros aspectos, além do diagnóstico biomédico e da medicação como forma de tratamento (BRASIL, 2007d).

O projeto terapêutico deve compor modelos assistenciais que rompam com as formas excludentes de tratamento ao portador de transtorno mental. Portanto, esse projeto precisa ter o caráter de reabilitação psicossocial, proporcionando o desenvolvimento do sujeito como ator principal de sua vida e de seu tratamento, com garantia de direitos sociais. Desta forma, o CAPS precisa ter o compromisso de inverter o modelo manicomial, asilar e excludente, e funcionar como um mediador de ações que possibilitem a reabilitação e inserção social dos sujeitos (MILHOMEM; OLIVEIRA, 2007).

Nessa perspectiva, a equipe do CAPS deve estar sensibilizada com o PF de mulheres portadoras de transtorno mental, de modo a inseri-lo, quando necessário, nos PTS, o que fomentará a reinserção social dessa população, uma vez que a realização do PF se faz nos CSF.

Por outro lado, as equipes dos CSF devem estar preparadas para atender, no serviço de PF, mulheres portadoras de transtorno mental com essa necessidade de cuidado. Entretanto, apesar dos avanços da Reforma Psiquiátrica, ainda há resistências dos

profissionais da atenção básica no atendimento desse público-alvo, seja por déficit de capacitação e/ou por questões de ordens pessoais, conforme reconhecido por participantes deste estudo.

A importância da configuração da rede de cuidados de saúde parte da premissa de que, de forma isolada e sem articulações entre si, os serviços de saúde são incapazes de reunir a totalidade dos recursos e competências necessários à solução dos problemas de saúde da população (CAÇAPAVA; COLVERO, 2008). No PF de mulheres portadoras de transtorno mental não seria diferente. A necessidade de articulação entre os CSF e os CAPS, na promoção do PF de mulheres portadoras de transtorno mental, vem sendo evidenciado nesse estudo. Desta forma, sendo os CSF responsáveis em prover tal cuidado e, levando-se em conta, a incipiência das ações de saúde mental nesse nível de atenção, competirá ao CAPS prover o suporte necessário para que mulheres portadoras de transtorno mental tenham acesso, sem discriminação, às ações de PF na atenção básica.

O PTS implica também no modo institucional de operação dos serviços, pois resulta de uma ação coletiva da equipe interdisciplinar, tendo como proposição o matriciamento. Na medida em que a equipe consegue perceber seus limites e suas dificuldades, esta pode solicitar apoio. Quando existe um interesse sobre determinado tema, a capacidade de aprendizado é maior. Portanto, este é potencialmente um excelente espaço de formação permanente. Por outro lado, é um espaço de troca e de aprendizado para os apoiadores matriciais, que também experimentarão aplicar seus saberes em uma condição complexa, com variáveis que nem sempre o recorte de uma especialidade está acostumado a lidar (FIGUEIREDO; FURLAN, 2008).

Nesse sentido, o matriciamento permitirá a junção de saberes da equipe dos CSF e do CAPS, promovendo discussões e decisões para a realização do PF de mulheres portadoras de transtorno mental, como a inclusão dos aspectos sexuais e reprodutivos no atendimento da história clínica inicial, proposta pelo grupo participante desta pesquisa.

A inclusão dos aspectos sexuais e reprodutivos na história clínica inicial desse público acarretará diagnóstico de possível necessidade de PF para tais mulheres, sendo imprescindíveis as condutas profissionais para tornar o caso resoluto. Neste sentido, no grupo não foi definido estes aspectos, logo a pesquisadora os sugeriu em um informe técnico de PF (apresentado no capítulo seguinte), almejando a uniformidade das condutas do CAPS e do CSF nessa área do cuidado. O mesmo encontra-se disposto à validação em estudos posteriores.

A inclusão do informe técnico de PF no atendimento de mulheres com transtorno mental superaria as ações de encaminhamento e/ou de medicalizações tão impetuosas na maioria dos CSF e do CAPS. Desta maneira, seria possível potencializar a capacidade das equipes para articular recursos comunitários, familiares e intersetoriais para o enfrentamento de questões que extrapolam os problemas biológicos referentes aos transtornos mentais, como o PF.

Ademais, o informe referido fomentaria a corresponsabilização e a prática interdisciplinar dos serviços, motivando o encaminhamento responsável, citado pelo grupo participante, como prática incomum nos serviços em questão, aspecto que será discutido a seguir.