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PRONACAMPO: POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO OU UNIÃO DE

No documento PR VITOR DE MORAES (páginas 80-84)

Nesse capítulo, faz-se uma reflexão acerca do Pronacampo, seus eixos, público e suas especificidades. Num primeiro momento, apresenta o Estado brasileiro e a relação com a Educação do Campo. Em seguida, caracteriza-se o Pronacampo: Gestão e Práticas Pedagógicas, Formação de Professores, Educação de Jovens e Adultos, profissional e Tecnológica e Infraestrutura Física e tecnológica. Destaca-se o embate entre as forças antagônicas e a disputa do estado pelos camponeses, pequenos agricultores e pelos latifundiários e o agronegócio.

2.1.1 O Estado Brasileiro e a Relação com a Educação do Campo

Em 2012, o Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), foi lançado e respaldado pela Portaria nº 86, de 1º de fevereiro de 2013 (BRASIL/MEC, 2013). Ele consiste em um conjunto articulado de ações de apoio aos sistemas de ensino, para a implementação da política de Educação do Campo, conforme disposto no Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 (BRASIL/MEC Portaria nº 86, de 1º de fevereiro de 2013). De acordo com o governo, esta política pública oferece apoio técnico e financeiro aos projetos municipais, estaduais e federais. Tem o propósito de ampliar e qualificar a oferta de educação básica e superior, às populações do campo.

De acordo com o Decreto nº 7.352, de 2010, o público que supostamente seria beneficiado pelo programa compreende: agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados, acampados da Reforma Agrária, trabalhadores rirais assalariados, quilombolas, caiçaras, povos da floresta, caboclos e outros, que produzem suas condições materiais de existência, a partir do trabalho no meio rural.

O Art. 3º do Decreto nº 7.352, estabelece as bases pedagógicas e princípios da Educação do Campo e Quilombola, afirmando o respeito à diversidade do campo, em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de etnia. Seu objetivo é incentivar à formulação de projetos político-pedagógicos específicos para as escolas do campo. Assim como, estimular o desenvolvimento das unidades escolares do

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espaço público, as quais apresentem articulação de experiências e estudos direcionados para o desenvolvimento social, economicamente justo e ambientalmente sustentável, em articulação com o mundo do trabalho.

Em Brasil (2013), apresenta o Pronacampo e seu objetivo inicial,de apoiar tecnicamente e financeiramente os Estados, Distrito Federal e Municípios para a implementação da política de Educação do Campo. Tem como propósito à ampliação do acesso e a qualificação da oferta da educação básica e superior, por meio de ações para a melhoria da infraestrutura das redes públicas de ensino, formação inicial e continuada de professores, produção e a disponibilização de material específico aos estudantes do campo e quilombola, em todas as etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 2013).

Para Ribeiro (2013), o Pronacampo se insere em um momento de aprofundamento do capitalismo dependente, associado ao capital internacional unificado pelo capital financeiro (Banco Mundial; Organização Mundial do Comércio – OMC; Transnacionais da Agricultura - Monsanto, Syngenta, Stora Enzo...), com o suporte direto do próprio Estado brasileiro à produção de commodities. Tudo isso legitimado por leis (Código Florestal, lei dos transgênicos...), as quais facilitam o saque e a apropriação de recursos naturais (terra, água, minérios, ar, petróleo, biodiversidade) e recolonizam nosso território.

O Pronacampo se insere nesse momento de disputa ampla do Estado, para a efetivação de projetos distintos. De um lado as Agências Internacionais e a elite agrária lutando para sua hegemônica e de outro os MSPC, que no acirramento das contradições do modelo capitalista lutam por políticas, dentre elas as de educação.

Para Ribeiro (2013), existe uma necessidade urgente de construir e executar um projeto de Educação integrado ao projeto popular de sociedade. Essa vinculação precisa envolver trabalhadores rurais, urbanos, indígenas e quilombolas, como o intuito de garantir a articulação político-pedagógica entre escola e comunidade, a partir do acesso ao conhecimento científico e o planejamento e execução dos processos de ensino/aprendizagem a partir da realidade social, desenvolvendo condições de reprodução material dos educandos, conforme Portaria nº 86, de 1º de fevereiro de 2013 (BRASIL/MEC, 2013). Contempla ainda, a flexibilidade na organização escolar, a adequação do calendário letivo às fases do ciclo agrícola, às condições climáticas, o controle social da qualidade da educação escolar, mediante a efetiva participação da comunidade e dos movimentos sociais do campo (BRASIL, 2013).

A maioria das 80 mil unidades escolares está aquém do padrão mínimo de qualidade; muitas não têm água ou luz, a maioria não tem laboratório, biblioteca ou espaço de lazer. Há

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casos, segundo relatório do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), de escolas com teto de folhas de coqueiro. Além disso, a fragmentação das políticas públicas em programas para a Educação do Campo, por meio da União, estados e municípios, como é o caso do Pronacampo, fragiliza as ações pedagógicas a atingir os seus resultados (RIBEIRO, 2013).

Os MSPC têm pautado escola e Educação do Campo enquanto direito e vínculo da escola com a realidade camponesa. Arroyo (1999) justifica esta articulação entre os dois mundos, o do trabalho e o da educação, ao afirmar: “Escola sim, mas vinculada ao mundo do trabalho, da cultura, da produção, vinculada à luta pela terra, ao projeto popular de desenvolvimento do campo”.

Todo esse levantamento, de como a Educação do Campo vai sendo tensionada junto ao Estado permite perceber a correlação de forças presente na atual conjuntura do Estado brasileiro, presente no lançamento do Pronacampo. Para a Presidente Dilma Rousseff, essa política pública será a redenção dos pequenos agricultores camponeses e familiares. Supostamente, proporcionará aos estudantes do campo, acesso às mesmas oportunidades oferecidas aos filhos dos trabalhadores das cidades, como o acesso ao ensino profissionalizante e à educação superior (BRASIL, 2013).

O lançamento do Pronacampo, no dia 20 de março de 2012, contou com a presença da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, a qual elogiou o Pronacampo e afirmou que, “com todo esse investimento, nenhuma escola do campo vai mais fechar nesse país”. Para a presidente da CNA, “a educação no campo é da maior importância para fazer com que o agronegócio seja cada vez mais pujante. Não queremos um País de pobres e miseráveis, queremos que os produtores, independente do tamanho da propriedade, tenham terras produtivas para garantir lucro e dignidade para manter suas famílias” (BRASIL, 2013).

A Senadora Kátia Abreu, destacou a parceria do SENAR com o MEC, no âmbito do Pronatec, criado com o intuito de promover a inclusão social de jovens e trabalhadores no campo. Das 120 mil vagas disponibilizadas, 50 mil serão destinadas ao SENAR, que promoverá cursos de capacitação voltados principalmente ao empreendedorismo no meio rural (BRASIL, 2013).

Para os Movimentos Sociais do Campo, explicitado no documento do FONEC, deve- se agir taticamente, para não perder o plano estratégico, por isso ter atenção às contradições que estão na própria esfera da política pública, em cada período e que implicam em diferenças entre políticas e entre ações dentro de uma mesma política. Para a FONEC (2012), o

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Pronacampo é expressão da hegemonia do capital internacional e do agronegócio. Aceitá-lo passivamente é aceitar a inclusão de algumas demandas da agricultura familiar camponesa à agricultura capitalista, com o risco de ajudar a reproduzir a ideia de que a conciliação de modelos de agricultura é possível, negociável, exatamente o que tem impedido o avanço da luta e da formulação de um projeto alternativo para o campo. O desafio, para a FONEC (2012) é a proposição de alternativas a esse programa, considerando as experiências de educação que acontecem no próprio âmbito da Educação do Campo.

Diante do exposto é explícita à posição conciliadora do governo, visando atender ao agronegócio sem deixar de atender aos movimentos sociais, quanto ao projeto de campo, Educação do Campo e de política pública. Para os Movimentos Sociais do Campo, o Pronacampo é uma reivindicação histórica dos movimentos, que participaram ativamente da sua concepção. De acordo com a voz da senadora Kátia Abreu, ele é importante para tornar o agronegócio ainda mais forte. Para o governo, na voz da presidente Dilma, é a busca da conformidade para acalmar os ânimos, por isso seu destaque aos pequenos, aos agricultores familiares e aos assentados da Reforma Agrária (BRASIL, 2013).

Dentre o conjunto de ações do Pronacampo, que na perspectiva dos MSPC, mais parece um “amontoado de programas e projetos”, vale destacar o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD Campo), mais de três milhões de estudantes receberão material relacionado à realidade do campo. Outro é o Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE), que visa atender, professores e estudantes, ao oferecer obras, sobre “as especificidades do campo e das comunidades remanescentes de quilombos” (BRASIL, 2013).

O Programa Mais Educação, de apoio à educação integral, que segundo o MEC (2012), oferecerá atividades de acompanhamento pedagógico, práticas vinculadas à agroecologia, iniciação científica, direitos humanos, cultura, arte popular, esporte, lazer, memória e história das comunidades tradicionais, com a meta de atender dez mil escolas com educação integral até 2016.

O MEC (2012) salienta que o Pronacampo tem como oferta a formação inicial, continuada e pós-graduação para professores, gestores e coordenadores pedagógicos, que atuam na educação básica do campo. A formação é por meio de tecnologia da Educação à distância, ofertadas por instituições públicas de Ensino Superior como a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que expandirá 200 polos e serão destinados recursos de apoio à sua manutenção, por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola. Para a educação de jovens e adultos, educação profissional e tecnológica no campo. Para isso, será utilizado o PRONATEC Campo, com a oferta de cursos voltados ao desenvolvimento do campo nos

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institutos federais. Serão dedicadas cento e vinte mil bolsas de estudo.

Além da estrutura física, com a construção prevista de três mil escolas, obras de infraestrutura e a aquisição de oito mil ônibus escolares, o Pronacampo promoverá a educação digital e o uso pedagógico da informática nas escolas do campo e quilombolas, também está prevista a instalação de recursos digitais em vinte mil escolas até 2014 (BRASIL, 2013).

O programa visa ainda, formar agricultores em universidades e em cursos técnicos, com a intenção de que os mesmos possam aplicar os conhecimentos adquiridos, e dessa forma contribuir para melhorar a produtividade nas pequenas propriedades e garantir a distribuição de renda. O MEC (2012) afirma que essa política visa redimir as mazelas da Educação no Campo, onde 23,18% da população com mais de 15 anos é analfabeta e 50,95% não concluiu o ensino fundamental.

No documento PR VITOR DE MORAES (páginas 80-84)

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