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A presente seção dedicou-se à análise dos dados do crédito rural disponibilizados pelo Banco Central via Matriz de Crédito Rural, informações a partir do ano de 2013. A avaliação se dá com base no total veiculado ao custeio, investimento e comercialização para o interstício de 2013 a 2017.

Em específico, a tabela 6 apresenta a evolução de recursos destinados ao PRONAF. Percebe-se que o maior volume de contratos foi realizado na modalidade investimento,

52% 43% 5%

2000

Bancos Públicos Bancos Privados Cooperativa de Crédito 55% 30% 15%

2017

Bancos Públicos Bancos Privados Cooperativa de Crédito

seguido do custeio. Somente no ano de 2016 é que foram observados contratos na modalidade comercialização (no montante de R$ 9 milhões).

Tabela 6 - Evolução dos recursos do PRONAF – 2013/2017

Ano Quantidade em Custeio Valores em Custeio (R$) Quantidade em Investimento Valores em Investimento (R$) 2013 640.542 9.050.916.457,92 1.347.983 10.897.031.545,46 2014 613.174 10.142.850.882,75 1.205.124 14.541.381.674,84 2015 571.512 11.175.282.366,14 1.126.150 10.572.009.379,80 2016 529.274 11.535.848.882,14 1.088.288 10.302.140.108,85 2017 500.831 11.746.426.617,14 536.691 8.720.193.956,85 Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b).

Vale destacar que no período de cinco anos analisados, as quantidades de contratos em custeio e investimento do PRONAF apresentaram decréscimo de 21,8% e 60,2%, respectivamente. Contudo, os valores financeiros mobilizados para o custeio apresentaram crescimento de 29,75%, em detrimento da queda dos valores financeiros mobilizados em investimento (variação negativa de 9,2%, aproximadamente).

Da mesma forma, o estudo realizado por Grisa, Wesz Junior e Buchweitz (2014) aponta que, do período analisado de 1996 a 2012, houve crescimento nos valores mobilizados pelo PRONAF. O estudo demonstra também, que os maiores volumes de recursos financeiros foram destinados para o segmento mais capitalizado da agricultura familiar (atualmente intitulados de “Grupo Variável”), consequentemente, penalizando os demais grupos: “A” e “B”. Ademais, houve variação no número de contratos firmados neste período, indicando forte concentração, tanto no número de contratos como na destinação dos recursos financeiros. Desta forma, os autores afirmam que:

Esta concentração se mantém ao longo dos anos porque, assim como aconteceu no Grupo "B", houve importantes transformações institucionais no Pronaf que acabaram favorecendo este estrato de produtores, como a flexibilização das condições financeiras, aumento da renda para fins de enquadramento dos agricultores, a simplificação das condições de acesso, diversificação das fontes de

financiamento, renegociação de dívidas etc. (Grisa; Junior e Buchweitz, 2014, p. 332).

A figura 2 ilustra a queda no número de contratos totais do PRONAF neste período mais contemporâneo da análise. De 1.988.525 contratos firmados em 2013, passaram a realizar 1.037.522 em 2017. Entretanto, os mesmos mobilizaram R$ 19.947.948.003,38 em recursos em 2013 e R$ 20.466.620.574,43 em 2017.

Figura 2 - Contratos X Volume de recursos concedidos pelo PRONAF – Brasil

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b).

Tendo em vista o exposto, sugere-se que, embora o número de contratos tenha apresentado comportamento de queda no período analisado, o volume total de recursos financeiros mobilizados cresceu. Em síntese, observa-se uma concentração no tocante ao acesso aos recursos da referida política pública.

Bazotti e Coelho (2017, p. 3) destacam que, no tocante ao PRONAF,

[...] chama a atenção o crescente financiamento para a produção de commodities, incentivando esse segmento social a adotar modelos produtivos baseados na monocultura, com baixa capacidade de absorção de mão de obra e que exigem um alto grau de especialização e integração com os mercados globais.

Por conseguinte, a agricultura familiar estaria sendo condicionada à produção de commodities, desvirtuando-se de seu papel social como a grande responsável pela produção de alimentos.

Na atualidade, este se configura como um dos argumentos centrais da crítica acadêmica ao papel social exercido pelo crédito rural no Brasil. A despeito dos desafios ainda

0,00 5.000.000.000,00 10.000.000.000,00 15.000.000.000,00 20.000.000.000,00 25.000.000.000,00 30.000.000.000,00 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 2013 2014 2015 2016 2017 T ot al d e C on tr at os

Número de Contratos Volume de recursos

Período T ot al d e vo lu m e

a serem superados, Benatti (2018) destaca que a própria burocracia responsável por colocar em prática e acompanhar o PRONAF evoluiu de forma expressiva ao longo do tempo, como reflexo da evolução de capacidades do Estado em relação ao programa. Sendo assim, reafirma-se sua importância socioeconômica no movimento em prol do fortalecimento da agricultura familiar.

Ademais, vale ressaltar que a agricultura familiar representa 84% dos estabelecimentos rurais brasileiros, sendo responsável pela produção de mais de 50% dos alimentos da cesta básica brasileira. Nesse sentido, o Governo Federal publicou o Plano Safra da Agricultura Familiar 2017-2020 com intuito de reafirmar o seu compromisso com as famílias agricultoras garantindo crédito barato. Assim, o PRONAF traz taxa de juros de 2,5% a.a. para o custeio da produção de itens que compõem a cesta de alimentos, para a produção de base orgânica e agroecológica; como também para investimentos na implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção das unidades familiares. Já as demais atividades permanecem com a taxa de juros de 5,5% a.a., com exceção do microcrédito produtivo rural (grupo “B”), que segue com juros de 0,5% a.a. (SAF, 2018b).

Devido ao PRONAF atuar com taxas de juros baixíssimas, o programa consegue atingir um público alvo diferenciado. Notadamente, os maiores volumes de recursos são concedidos para beneficiário pessoa física, cujo ápice de concessão foi em 2014 com R$23.788.682.707,92. Em contrapartida, o volume de crédito para os beneficiários pessoa jurídica é significativamente inferior, mesmo que, ao longo dos anos, houve um crescimento no volume de crédito para estes beneficiários, cujo ápice de concessão foi em 2015 com R$929.457.224,26 conforme demonstra a tabela 7.

Tabela 7 - Volume de Crédito Concedido pelo PRONAF por Beneficiário

Beneficiário Volume de crédito concedido (Custeio + Investimento)

2013 2014 2015 2016 2017

Física 19.231.108.779,53 23.788.682.707,92 20.817.834.516,68 21.405.513.330,96 20.088.946.934,44 Jurídica 716.839.223,85 895.549.849,67 929.457.224,26 432.475.660,03 377.673.639,99

Total 19.947.948.003,38 24.684.232.557,59 21.747.291.740,94 21.837.988.990,99 20.466.620.574,43 Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b).

Nesse sentido, é de suma importância analisar o perfil de quem acessa o crédito rural disponibilizado pelo PRONAF. Assim, a tabela 8 salienta o volume de crédito rural concedido

na modalidade de custeio e investimento para os beneficiários pessoa física nas diferentes regiões do Brasil distinguido por gênero.

A grosso modo, os maiores volumes de crédito são concedidos para o sexo masculino e para região Sul do país, seguida da região Sudeste. Contudo, uma análise mais detalhada nos reflete alguns pontos positivos, tais como o volume de crédito considerável disponibilizado para o sexo feminino e a posição de destaque da região Nordeste frente à concessão de crédito para o sexo feminino.

Tabela 8 - Volume de Crédito Concedido pelo PRONAF por Gênero

Gênero Região Volume de crédito concedido (Custeio + Investimento)

2013 2014 2015 2016 2017 Masculino SUL 8.465.245.460,57 10.172.102.453,09 9.181.481.725,67 9.842.814.331,37 10.035.427.637,08 SUDESTE 3.570.263.747,14 4.457.619.836,83 3.526.556.855,64 3.523.943.331,45 3.238.237.554,47 NORDESTE 2.077.225.818,94 2.389.833.526,35 982.382.355,65 2.011.821.181,01 1.446.847.102,88 NORTE 1.110.532.184,79 1.612.808.155,46 1.263.436.974,39 1.264.567.863,18 1.199.387.400,80 CENTRO- OESTE 1.053.344.967,78 1.454.693.477,50 1.406.104.316,85 1.436.444.838,61 1.311.084.561,16 Feminino SUL 1.055.607.089,01 1.262.367.706,53 1.189.049.235,51 1.231.067.147,66 1.285.234.358,73 SUDESTE 545.401.460,83 719.106.512,46 594.825.428,15 524.320.207,69 438.719.355,52 NORDESTE 880.041.008,51 1.024.267.402,88 1.068.135.983,68 1.026.933.419,58 603.203.483,34 NORTE 274.245.069,80 408.278.809,29 312.302.335,70 267.457.969,22 274.233.099,03 CENTRO- OESTE 199.201.972,16 287.604.827,53 293.559.305,44 276.143.041,19 256.572.381,43

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b). Legenda:

1º Posição 2º Posição 3º Posição 4º Posição 5º Posição Esses números validam que as diferentes linhas de crédito do PRONAF conseguem atingir os diferentes públicos alvos. Especialmente, quando se analisa o público feminino que teve crescimento significativo entre os anos de 2014 a 2016 na região Nordeste, demonstra-se que a mulher está buscando o seu espaço no campo. Afinal, “a emancipação econômica da mulher pode contribuir para o desenvolvimento rural à medida em que a valorização econômica e simbólica de seu trabalho contribua para a sua autoestima e motivação para sua efetiva participação econômica, política e social no meio rural” (SILVA et al, 2016, p. 16)

Dando continuidade à análise do perfil dos produtores que acessam ao PRONAF, nota-se que a concessão de crédito rural é predominantemente para as faixas etárias entre 30 até 59 anos, com uma média de volume de recursos concedidos de 22,88% no período de 2013 a 2017. Contudo, percebe-se que o programa abrange desde os jovens agricultores até aos mais velhos, cujo ápice da concessão de crédito se concentra na faixa etária de 40 a 49 anos, conforme evidencia a tabela 9.

Tabela 9 - Percentual de volume de Crédito Concedido pelo PRONAF por Faixa Etária

Região Faixa Etária

Percentual do Volume de Crédito concedido (Custeio + Investimento) 2013 2014 2015 2016 2017 Brasil ATÉ 19 ANOS 0,95% 0,93% 0,90% 0,84% 0,72% 20 A 29 ANOS 13,49% 13,70% 13,47% 12,94% 12,01% 30 A 39 ANOS 20,57% 20,70% 21,00% 20,96% 20,71% 40 A 49 ANOS 25,87% 25,44% 24,91% 24,43% 24,11% 50 A 59 ANOS 22,07% 22,41% 22,67% 23,29% 24,08% 60 A 69 ANOS 12,05% 11,98% 12,08% 12,43% 13,01% 70 A 79 ANOS 4,30% 4,16% 4,27% 4,35% 4,57% 80 A 89 ANOS 0,67% 0,65% 0,69% 0,72% 0,76% 90 A 99 ANOS 0,03% 0,02% 0,03% 0,03% 0,03% MAIS DE 100 ANOS 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b).

Tendo exposto as condições do programa PRONAF e o perfil de quem acessa o crédito, é imprescindível analisar a destinação destes recursos nas diferentes regiões do país. Desta maneira, é possível analisar “[...] a exploração de mercados diferenciados, auxiliando assim a permanência das famílias no campo e permitindo a reprodução social da atividade” (JUNIOR; CASSUCE; CIRINO, 2017, p. 103).

A tabela 10 retrata que, em 2017, 57% dos recursos advindos do PRONAF foram destinados para a região Sul do país, seguidos de 18% para região Sudeste, 10% para o Nordeste, 7% para o Norte e 8% para a região Centro-Oeste (BACEN, 2018b).

É de suma importância ressaltar que há uma variação no volume de crédito concedido pelo PRONAF nas diferentes regiões do país, visto que, em 2013, foram destinados 51% dos recursos para a região Sul, seguidos de 21% para região Sudeste, 15% para o Nordeste, 7% para o Norte e 6% para a região Centro-Oeste (BACEN, 2018b).

Tabela 10 - Destinação dos Recursos do PRONAF nas Regiões Brasileiras – 2013/2017 Região Volume de crédito em R$ e % (Custeio + Investimento)

2013 2014 2015 2016 2017 SUL 10.151.403.155,18 51% 12.269.144.909,66 50% 11.224.533.356,48 52% 11.476.047.653,10 52% 11.672.961.030,74 57% SUDESTE 4.161.544.612,39 21% 5.221.435.653,92 21% 4.181.804.379,44 19% 4.083.598.910,50 19% 3.696.501.692,91 18% NORDESTE 2.957.615.827,45 15% 3.414.892.429,23 14% 3.051.226.339,33 14% 3.038.778.038,97 14% 2.049.262.587,07 10% NORTE 1.405.035.586,38 7% 2.035.131.259,75 8% 1.586.169.043,40 7% 1.534.816.320,85 7% 1.473.441.628,47 7% CENTRO- OESTE 1.272.348.821,98 6% 1.743.628.305,03 7% 1.703.558.622,29 8% 1.713.577.879,80 8% 1.572.156.942,52 8%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b). Legenda:

1º Posição 2º Posição 3º Posição 4º Posição 5º Posição Embora seja um programa nacional, nota-se que a região Sul do país mobiliza mais da metade dos recursos do PRONAF. Entretanto, essa concentração na destinação dos recursos advém desde o início do programa, por diversas razões:

Os agricultores familiares eram mais integrados aos mercados e dependiam da aquisição de insumos agrícolas para garantir a produção; a estrutura de divulgação e operacionalização montada pela assistência técnica oficial e pelo movimento sindical; a pressão do movimento sindical junto ao governos e aos bancos; a existência de uma rede bancária bem mais distribuída pelos munícipios em relação às demais regiões; a existência da assistência técnica pública na maioria dos municípios (Emater e Epagri); o surgimento do cooperativismo de crédito; a fonte de recursos (Tesouro Nacional) que garantia maior facilidade para operacionalizar os financiamentos e o fato das empresas integradoras de fumo (nos anos em que o PRONAF financiou essa atividade), avalizarem os financiamentos, facilitando as operações de crédito etc. (NUNES, 2007, p. 11).

Em contrapartida, há vários anos que “a região Centro-Oeste é considerada o celeiro de produção agropecuária, em virtude de sua aptidão agrícola e climática, tendo o estado de Mato Grosso maior expressão” (NINAUT; MATOS; CAIADO, 2009, p. 44). Porém, esta região é também caracterizada pela existência de grandes propriedades em que são implementadas as agriculturas empresariais. Por esta razão, apenas 8% dos recursos do PRONAF foram destinados para esta região até o ano de 2017.

Se de um lado a região Sul do Brasil ainda retém a maior parte dos recursos, de outro lado quando se avalia o número de contratos a região Nordeste é a mais relevante. Esta última firmou 3.792.883 contratos, o que simboliza 46% do total, contra 31% do Sul conforme exemplifica a tabela 11.

Tabela 11 - Contratos firmados pelo PRONAF nas Regiões do País – 2013 a 2017

Região Número de Contratos (Custeio + Investimento) Total %

2013 2014 2015 2016 2017 SUL 621.178 554.661 475.141 451.540 418.558 2.521.078 31% SUDESTE 290.492 292.280 246.753 221.738 151.065 1.202.328 15% NORDESTE 923.915 806.808 848.779 836.029 377.352 3.792.883 46% NORTE 97.760 102.010 72.905 58.568 48.708 379.951 5% CENTRO-OESTE 55.180 62.539 54.084 49.673 41.675 263.151 3% Total 1.988.525 1.818.298 1.697.662 1.617.548 1.037.358

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Matriz de Crédito Rural do Banco Central (2018b). Legenda:

1º Posição 2º Posição 3º Posição 4º Posição 5º Posição Apesar do PRONAF destinar apenas 10% do volume de seus recursos para a região Nordeste (2017), é de suma importância o avanço que o programa vem tomando com relação à sua abrangência neste período mais contemporâneo. A diferença significativa no número de contratos firmados revela que o crédito rural está se expandindo aos pequenos agricultores, especialmente entre as mulheres, mesmo que, em números gerais, a quantidade de contratos firmados reduziu e a concentração dos recursos aumentou.

Contudo, “a efetividade do PRONAF como programa de financiamento para a agricultura familiar demanda, além da oferta de crédito rural, ações mais abrangentes de assistência técnica e de capacitação administrativa” (JUNIOR; CASSUCE; CIRINO, 2017, p 113). Estas ações são imprescindíveis para que o alcance do programa seja para todos, inclusive os agricultores menos escolarizados e com menos acesso à informação.

Segundo Benatti (2018), a qualidade da assistência técnica é o principal gargalo do PRONAF, pois, de modo geral, compromete todas as políticas voltadas aos agricultores familiares. Nesse sentido, “os técnicos devem avaliar as atividades mais propícias às diferentes realidades e que possam gerar renda e garantir a segurança alimentar, além de buscar formas de inserção nos mercados locais e regionais, incluindo os mercados institucionais e o acesso a tecnologias” (BENATTI, 2018, p. 96). Portanto, aliar oferta de crédito a taxas diferenciadas com uma assistência técnica de qualidade irá propiciar que o programa PRONAF esteja ao alcance de todos os agricultores.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo das últimas décadas, o Estado brasileiro vem implementando uma série de políticas públicas, com o intuito de promover o desenvolvimento econômico e o bem-estar social. Dentre o conjunto de ações implementadas, cita-se a oferta de crédito rural e os múltiplos instrumentos de política agrícola.

De fato, o crédito rural é um instrumento que proporciona aos produtores rurais a oportunidade de se desenvolverem economicamente e, para isso, é necessário que sejam introduzidas inovações a fim de eliminar as ineficiências e aumentar os rendimentos. Nessa perspectiva, desde a estabilização macroeconômica, ocorrida em meados de 1990, o país vem direcionando volume expressivo para financiamento das atividades produtivas agropecuárias. As linhas de crédito diversificaram-se e especializaram-se ao longo do período mais contemporâneo. Em especial, foram fortalecidas as modalidades de custeio e investimento aos agricultores familiares.

No entanto, o fortalecimento e valorização da agricultura familiar dependem de um conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que devem ser instituídos conforme a dinâmica da realidade brasileira, onde, sem dúvidas, as atribuições do Estado e das políticas públicas cumprem um papel fundamental. Todavia, como a realidade se transforma muito rápido, é necessária maior eficácia de diagnóstico e do desenho da política para acompanhar as mudanças e poder aplicar de forma assertiva as ações públicas, dentre elas, o programa PRONAF.

Assim como é possível observar a expansão dos volumes de recursos financeiros destinados ao crédito rural e PRONAF, é também notória a concentração na destinação dos recursos. De fato, a queda no número de contratos nos últimos anos pode sinalizar uma mudança importante no direcionamento e finalidade da política agrícola brasileira.

De acordo com as análises realizadas, evidenciou-se que o PRONAF tem como principal instrumento o crédito para responder às necessidades dos beneficiários, que vão muito além do financiamento. Há muitos produtores rurais sem escolarização e sem acesso à informação que precisam de orientação para que o crédito tomado seja assertivo, bem como, que o programa consiga ser inclusivo e atender todos os grupos sociais, tais como: jovens, mulheres, pescadores, negros, indígenas, entre outros. Contudo, ainda há insuficiências na assistência técnica, o que restringe o acesso dos produtores rurais ao PRONAF, como também na qualidade da alocação do crédito concedido.

Ademais, o programa PRONAF precisa ampliar seus atendimentos, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde a adesão de agricultores ainda é menor, possivelmente por conta do não atendimento às exigências dos agentes financiadores ou por falta de informação acerca dos benefícios do programa. É necessário reduzir a concentração dos recursos para região Sul do país – não por meio da redução da oferta de crédito para esta região – mas sim através do aumento da oferta de crédito para as demais regiões e, principalmente, de uma atuação estruturada para auxiliar os agricultores neste processo de concessão de crédito.

Afinal, percebe-se que as transformações econômicas ocorridas neste período contemporâneo influenciam na concessão de crédito rural, especialmente quando há mudanças de Governo. De acordo com Cosme (2016), nos Governos Lula (2003-2010) houve um aumento substancial de recursos financeiros para o setor rural, mas cerca de 85% dos recursos foram destinados ao agronegócio, e não à agricultura familiar. Apesar disso, os recursos do PRONAF passaram de R$ 2,2 bilhões no governo FHC para R$ 16 bilhões no final do governo Lula. O governo Dilma seguiu a mesma tendência: 87% dos recursos do crédito rural foram destinados ao agronegócio (cerca de R$ 905 bilhões). A priorização de recursos ao agronegócio aponta uma contradição dos governos petistas, os quais reconhecem a agricultura familiar como uma área estratégica – em relação a importância do segmento na produção de alimentos consumidos, geração de renda agropecuária e mão de obra do campo.

Nota-se ainda que no primeiro ano de Governo do Michel Temer, 2017, houve um amento na destinação dos recursos para região Sul do país, processo que veio acompanhado da redução da oferta de crédito para as demais regiões do país. Regiões que, majoritariamente, sobrevivem da agricultura familiar, sendo o crédito a finalidade essencial para especializar sua produção e conseguir subsistir em um mercado competitivo, uma vez que, a partir do desenvolvimento econômico rural melhora-se a qualidade de vida e o bem-estar das famílias rurais.

Posto isso, ressalta-se que a presente pesquisa apresentou algumas limitações, especialmente no que tange a coleta de dados. Por exemplo, o Anuário Estatístico do Crédito Rural do Banco Central do Brasil dispõe de dados acerca do crédito rural e PRONAF de 1999 até 2012, mas há restrições quanto a seleção de dados específicos. Em razão disso, a presente pesquisa optou por abordar o PRONAF apenas a partir de 2013, através dos dados disponíveis na Matriz de Dados do Crédito Rural do Banco Central do Brasil.

Por fim, ressalta-se a relevância da realização de estudos que promovam o debate acerca da eficiência das políticas públicas brasileiras vis-à-vis aos objetivos a que se propõem.

Da mesma forma, o acompanhamento das ações estatais mostra-se pertinente, tendo em vista os desafios brasileiros no que concerne ao crescimento e desenvolvimento econômico.

REFERÊNCIAS

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BACEN. Anuário Estatístico do Crédito Rural. Banco Central do Brasil. Publicado em: 03 set. 2003. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/?RELRURAL>. Acesso em: 03 nov. 2018.

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