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PRONAF: FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA E IMPACTO DO CRÉDITO

Importante programa de apoio ao agricultor familiar, o PRONAF oportuniza melhores condições de renda, qualidade de vida e a manutenção do homem no campo. Assim, buscou-se conhecer o funcionamento do programa no município sob a perspectiva do gestor e, também avaliá-lo, levando em consideração os depoimentos dos produtores sobre o mesmo.

Segundo o gestor, o programa funciona atualmente no município em parceria com a Prefeitura Municipal, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Associações. São ofertadas as seguintes linhas de crédito: PRONAF mulher, PRONAF jovem, PRONAF agroecologia, Agroamigo Sol, Agroamigo Mais e Agroamigo Crescer, sendo este último o mais solicitado pelos agricultores do município.

De acordo com o entrevistado, os agricultores são selecionados conforme o enquadramento na área de atuação, ou seja, se estes atendem aos requisitos da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que é categorizada nos principais grupos, que são: “Grupo A” ou “Grupo A/C”, “Grupo B” ou “Grupo V” (os grupos são diferenciados de acordo com o público alvo1, finalidade e limites de crédito). Com relação ao repasse do recurso,

o mesmo afirmou que ocorre a solicitação do crédito seguida de visita técnica in loco e, após burocracia existente nos procedimentos bancários, acontece a liberação do recurso.

Neste contexto de funcionamento do programa no município, buscou-se compreender a relação do agricultor com o programa, a forma como tomaram conhecimento do mesmo, as questões pertinentes ao financiamento, às dificuldades de acesso às informações necessárias sobre o programa e as encontradas para a solicitação, bem como, quais os motivos do financiamento. Por outro lado, sobre a produção investigou-se quais as dificuldades, os impactos após a inserção no programa e avaliação geral do programa. Ressalta-se que os resultados consideram o número de 14 agricultores que participam/participaram do programa.

No que concerne aos meios de conhecimento sobre a existência do programa, a maior parte dos entrevistados mencionaram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (50%), Secretaria de Agricultura (7,1%), TV (7,1%), companheiros/associação/cooperativa

1 Grupo A ou A/C: Assentados(as) pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e Beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF);

Grupo B: Agricultores(as) familiares com renda bruta anual familiar de até R$ 20.000,00 e mulheres integrantes de unidades familiares enquadradas nos Grupo A, AC e B do Pronaf.

Grupo V: Agricultores(as) que possuem renda variável e podem participar da linha de crédito do grupo B e das demais específicas como Pronaf Mulher, Pronaf Jovem, Pronaf Agroecologia (Banco Nordeste, 2016)

(7,1%). Também foram mencionados outros meios (64,3%) especificados como EMATER, Banco do Nordeste e Sebrae.

Observação semelhante foi realizada por Machado et al. (2017) onde constatou que o principal meio de conhecimento dos programas e projetos existente no município para com a classe dos agricultores familiares se dá por meio do sindicato e canais de comunicação como rádio e TV. Assim sendo, é possível verificar que a organização sindical e comunitária incentiva o fortalecimento como classe desses agricultores.

Nesta direção, Neumann e Fajardo (2017), destacaram que a importância do sindicalismo na agricultura familiar é histórica, desde a contribuição na consolidação do termo, até a atualidade na prestação de serviços e principalmente atuando com objetivo de representar e defender legalmente a categoria, desenvolvendo ações diretas de apoio ao agricultor familiar na busca por alternativas aos problemas locais e em outras escalas. No que diz respeito a avaliação da dificuldade de acesso as informações necessárias para participar do programa, a maior parte dos participantes (64,2%) relatou que foi fácil/muito fácil conseguir as informações necessárias para a inserção no mesmo, enquanto outros 35,7% atestaram que foi difícil pela burocracia, dificuldades com a documentação, falta de assistência técnica e por não ter conhecimento de como funcionava empréstimos bancários.

Os entrevistados também foram questionados quando às dificuldades para a solicitação de financiamento, 14% dos participantes relataram que não houve nenhuma dificuldade. Dentre as dificuldades, foram mencionados burocracia (35,7%), não saber como acessar (7,1%), falta de assistência para elaboração do projeto (7,1%), outros 28,6% participantes relataram outras dificuldades as exigências do banco e a espera na solicitação.

O apontamento da burocracia como dificuldade para a aquisição do financiamento fica clara na fala do agricultor apresentada abaixo, bem como foi corroborada com a declaração do gestor do programa quando questionado sobre em quais aspectos o programa deve ser melhorado:

“Tipo assim... você fica dando várias viagem e a pessoa sempre adiando, adiando, marcando prazo, aquele negócio todo que você sabe como é que é a burocracia em si, desse jeito que a gente enfrenta.” (Agricultor 3, 2018) “Sim, eu acredito que teria que ter um pouco mais de fiscalização e menos burocracia, só isso mesmo.” (Gestor Pronaf, 2018)

Um estudo realizado por Cerqueira e Rocha (2002) também verificou a grande burocracia enfrentada pelos participantes. Além disso, entre os fatores que dificultavam o acesso dos agricultores ao crédito estavam a formulação do projeto, considerada muito complicada, sendo necessário profissionais de assistência técnica especializados.

Segundo Coppetti (2008) a falta de assistência ou a baixa qualidade de assistência técnica, faz com que o agricultor não desenvolva seu projeto com sucesso. Por falta de assistência técnica, o agricultor passa a não alcançar os rendimentos previstos. Sendo assim, o programa deveria prever uma assistência técnica mais acessível e participativa, apoiando o desenvolvimento das atividades de acordo com os contextos produtivos locais, ou seja, com uma visão de sistema e não apenas burocrática.

Os motivos para a solicitação do financiamento, segundo os participantes, foram em maior prevalência para investimento (64,9%), seguido de custeio e investimento (28,6%) e outros (14,3%). Durante as entrevistas alguns agricultores especificaram a utilização do financiamento, a exemplo de perfuração de poços, comprar material de trabalho, construção de aviário.

“Sim, o Pronaf eu já fiz. Foi, o Pronaf eu fiz pra cavar um poço, em 2012. E entonce comprei uma terra pelo banco também, né. A minha terra foi comprada pelo banco.” (Agricultor 2, 2018)

“Pra cavar o poço e a construção de um galinheiro. E um aviário.” (Agricultor 4, 2018).

Nota-se que o investimento do crédito do programa, de forma significativa, é utilizado para atender às necessidades dos agricultores para a produção, viabilizando o enfrentamento das dificuldades encontradas para produzir, inclusive a que mais compromete a produção de alimentos no semiárido, a falta de acesso à água. Aproximado com os dados encontrados na presente pesquisa, um estudo realizado por Oliveira (2017) no Rio Grande do Norte, identificou o impacto da utilização do crédito do PRONAF na estrutura hídrica e na capacidade produtiva das famílias agricultoras pesquisas.

Ainda sobre as dificuldades para produzir, apenas 14,3% dos participantes relataram não ter nenhuma dificuldade. Dentre as dificuldades relatadas, o acesso a água obteve 35,7% dos relatos, falta de assistência técnica 21,4%, falta de recurso/crédito 21,3% e outras dificuldades 64,3%, especificadas como o clima, estradas degradadas, transporte, pragas e falta de irrigação. Algumas dessas dificuldades também foram enfatizadas pelo gestor do programa, que relatou conhecer a realidade do produtor através das visitas às propriedades dos mesmos:

“...visitamos todos os agricultores diariamente, então a gente sabe todas as dificuldades que também não depende deles as vezes é um... São vítimas da sociedade, de políticas não empregadas, de fatores externos que a gente não domina, tipo seca, intempéries de forma geral.” (Gestor do Pronaf, 2018).

Chama-se atenção para que, apesar da permanência de relatos com tais dificuldades, a maioria dos participantes (64,3%) não mencionaram o acesso a água como uma dificuldade para produção, o que pode estar relacionado com o uso do crédito para a perfuração de poços e construção de cisternas, como mencionado nas falas anteriores.

Além disso, 78,6% não mencionaram o apoio técnico como um problema para a produção. Sobre o apoio técnico, a maior parte dos participantes (71,4%) declarou que recebe ou já recebeu apoio técnico para produção. Desses, 35,7% receberam apoio técnico por meio da associação, 21,4% pela EMATER, 21,4% pela prefeitura e 42,9% disseram receber por meio de outras instituições, dentre as quais, foram mencionadas, SEBRAE, SENAI, Banco do Nordeste e Prosperar.

O número significativo de participantes que relataram receber assistência técnica, pode estar relacionado com o próprio funcionamento do programa, pois são os técnicos responsáveis pelas orientações necessárias para a execução do projeto, bem como o acompanhamento e a fiscalização dos empreendimentos financiados. (OLIVEIRA, 2014).

O gestor do programa no município também ressaltou sobre o apoio técnico e diálogo com os participantes para o acompanhamento do fluxo de produção, segundo ele, esta orientação acontece tanto por meio de reuniões como pessoalmente, na propriedade do agricultor.

Além da existência da assistência técnica, também foi investigada a frequência desta após a inserção do programa e verificado que a maioria dos entrevistados relatou que aumentou (42,9%), outros que não mudou (42,8%), enquanto 14,3% consideraram que diminuiu muito.

Com relação ao aumento na produção após a inserção no programa, 100% dos participantes afirmou que houve aumento. O aumento da produção foi verificado na análise de Mattei (2005) em um trabalho de pesquisa, cujo objetivo geral era identificar possíveis impactos do PRONAF sobre a economia dos municípios. Na sua análise foram selecionados os 100 municípios que mais contrataram crédito entre os anos de 2001 e 2004. Observou-se que dos 100 municípios brasileiros que mais receberam crédito, 86% aumentaram a sua produção total.

Esta relação positiva do aumento da produção alimentar dos municípios, similar aos dados encontrados nesta pesquisa, provavelmente estar atrelada às melhores condições de infraestrutura que a disponibilidade de recursos possibilita, principalmente para o enfrentamento das dificuldades, como o acesso a água para a produção.

No que diz respeito à diversificação da produção após a inserção no programa, 92,9% afirmou passar a produzir alimentos diversificados, enquanto apenas 7,1% declarou continuar produzindo os mesmos alimentos. A fala abaixo expressa claramente a importância do microcrédito para potencializar a produção.

“Aumentou, a gente planta bem muito maracujá, devido a água, né? Porque fez o empréstimo pra fazer o poço que não tinha! Aí sem água não agoa nada, né?” (Agricultor 5, 2018)

Em um contexto mais completo, os entrevistados foram instigados a fazer uma avaliação global da produção após a inserção no programa. Obteve-se que todos os entrevistados declararam que houve melhora na produção, sendo que, destes, 28,6% afirmou ter tido excelente melhora, 42,9% avaliou que melhorou muito e 28,6% dos participantes avaliaram que melhorou pouco. Nenhum dos entrevistados relatou que não melhorou nada.

“Devido a chance da gente poder né comprar e o tempo de pagar. Porque o PRONAF a gente compra e tem o tempo de aumentar a produção pra pagar.” (Agricultor 6, 2018)

No que diz respeito a avaliação do programa, foi possível observar uma avaliação bastante positiva pelos participantes, sendo que 64,3% avaliou o programa como ótimo, 28,6% avaliou como bom e 7,1% como regular. Nos discursos coletados também ficou evidente o impacto do programa na qualidade de vida dos agricultores, o incentivo financeiro aliado à valorização do produtor fazendo com que este se sinta capaz de aumentar a produção, além da vantagem do programa em relação as menores taxas de juros ofertadas ao pequeno produtor.

“Ajudou muito a desenvolver o sítio da gente, nos deu coragem pra seguir em frente pq precisava de muito dinheiro pra investir no tanto que a gente já subiu agora, coisa que nem todo mundo tem coragem, ah pq o empréstimo é alto, não, eles nos deram coragem pra gente enfrentar e nos deram tempo pra gente investir esse dinheiro que eles nos emprestam pra gente com por exemplo 3 anos a gente ter o dinheiro de pagar pela colheita o que a gente consegue com ele no investimento no próprio sítio.”(agricultor 7, 2018)

“A gente tira, por exemplo, a gente tira cinco mil paga com dois e quinhento, é uma boa alternativa pro agricultor, é como ele aonde ele mais... arruma uma coisinha é no Pronaf.” (Agricultor 1, 2018)

Estas vantagens também foram ressaltadas pelo gestor do programa que, inclusive, destacou a relevância deste para a quebra do ciclo da pobreza:

“Bom, a maior vantagem que eu creio além do financeiro é a própria crescimento individual da unidade familiar, como falei, evitar o êxodo rural, quebrar o ciclo da pobreza, que isso é um fator determinante pra o programa ter sucesso e receber cinco mil e pagar com três, o financeiro é muito importante.” (Gestor Pronaf, 2018)

Diante disso, percebe-se a relevância do crédito para a capacidade produtiva dos

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