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PRONERA: objetivos, princípios políticos-pedagógicos e orientações teórico-

CAPÍTULO 2 PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA REFORMA AGRÁRIA-

2.2. PRONERA: objetivos, princípios políticos-pedagógicos e orientações teórico-

O Pronera foi instituído como política pública de Educação do Campo, por meio do Decreto no 7.352, de 04 de novembro de 2010. Conforme a última versão do Manual de

Operações publicado em agosto de 2014, o programa tem os seguintes objetivos:

I. Oferecer educação formal aos jovens e adultos beneficiários do II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), no níveis de ensino básico, superior e pós-graduação, Residência Agrária, e áreas do conhecimento ofertados em regime de alternância e nas modalidades de jovens e adultos e Educação do Campo;

II. Assegurar as condições à educação pública aos integrantes do II PNRA; e

III. Proporcionar melhorias no desenvolvimento dos assentamentos rurais por meio da formação educacional e qualificação do público do PNRA e dos profissionais que desenvolvem atividades educacionais e técnicas nos assentamentos (BRASIL, 2014, p.12).

De acordo com Santos (2005) para atingir os objetivos do Pronera os movimentos sociais sugerem alguns princípios norteadores da educação, tais como: Filosófico – educação para a transformação social, para o trabalho e a cooperação, para as várias dimensões da pessoa humana, com/para valores humanistas e socialistas; e Pedagógico – unir a teoria e prática, superando a ideia de escola como um lugar apenas de conhecimentos teóricos, “nesse processo a prática social dos educandos é a base do seu processo formativo, o que se pretende é que o curso seja para o educando um lugar privilegiado de práticas que impliquem a sua ação e não passividade” (p.5-6).

O referido programa tem como princípio fundamental proporcionar uma melhor qualidade de vida para a população beneficiária, levando em consideração a relação indissociável da educação com o desenvolvimento territorial sustentável. Para tal, seguem os seguintes princípios básicos:

a) Democratização do acesso à educação: a cidadania dos jovens e adultos que vivem nas áreas de reforma agrária será assegurada, também, por meio da oferta de uma educação pública, democrática e de qualidade, sem discriminação e cuja responsabilidade central seja dos entes federados e suas instituições responsáveis e parceiras nesse processo.

b) Inclusão: a indicação das demandas educativas, a forma de participação e gestão, os fundamentos teóricos metodológicos dos projetos devem ampliar as condições do acesso à educação como um

direito social fundamental na construção da cidadania dos jovens e adultos que vivem nas áreas de reforma agrária.

c) Participação: a indicação das demandas educacionais é feita pelas comunidades das áreas de reforma agrária e suas organizações, que em conjunto com os demais parceiros decidirão sobre a elaboração, execução e acompanhamento dos projetos.

d) Interação: as ações desenvolvidas por meio de parcerias entre órgãos governamentais, instituições de ensino públicas e privadas sem fins lucrativos, comunidades assentadas nas áreas de reforma agrária e as suas organizações, no intuito de estabelecer uma interação permanente entre esses sujeitos sociais pela via da educação continuada e da profissionalização no campo.

e) Multiplicação: a educação dos assentados visa à ampliação não só do número de pessoas alfabetizadas e formadas em diferentes níveis de ensino, mas também garantir educadores, profissionais, técnicos, agentes mobilizadores e articuladores de políticas públicas para as áreas de reforma agrária.

f) Parceria: o PRONERA se desenvolve por meio de uma gestão participati- va, cujas responsabilidades são assumidas por todos em uma construção coletiva no acompanhamento e na avaliação dos projetos pedagógicos. A parceria é a condição para a realização das ações do PRONERA. Os principais parceiros são os movimentos sociais e sindicais do campo e as instituições de ensino públicas e privadas sem fins lucrativos e os governos municipais e estaduais. (BRASIL, 2014, p.9- 10).

Os pressupostos teórico-metodológicos do Pronera têm como base, nos diferentes níveis de ensino em que atua, a valorização da diversidade cultural e os processos de interação e transformação do campo. Dessa forma, as práticas educacionais são orientadas pelos princípios:

a) Princípio do Diálogo: uma dinâmica de aprendizagem-ensino que assegure o respeito à cultura do grupo, a valorização dos diferentes saberes e a produção coletiva do conhecimento.

b) Princípio da Práxis: um processo educativo que tenha por base o movimento ação-reflexão-ação e a perspectiva de transformação da realidade; uma dinâmica de aprendizagem-ensino que ao mesmo tempo valorize e provoque o envolvimento dos educandos, educadores e técnicos em ações sociais concretas, e ajude na interpretação crítica e no aprofundamento teórico necessário a uma atuação transformadora. c) Princípio da Transdisciplinaridade: um processo educativo que contribua para a articulação de todos os conteúdos e saberes locais, regionais e globais garantindo livre trânsito entre o campo de saber

formal e dos saberes oriundos da prática social do campesinato. É importante que nas práticas educativas os sujeitos identifiquem as suas necessidades e potencialidades e busquem estabelecer relações que contemplem a di versidade do campo em todos os seus aspectos valorativos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia e religioso.

d) Princípio da Equidade: o PRONERA poderá estabelecer diretrizes próprias para a articulação das suas demandas com as demais políticas públicas federais, estaduais e municipais e de parceiros reconhecidamente responsáveis por políticas sociais, que façam o diálogo entre educação, inclusão social, desenvolvimento e redução regional das desigualdades (BRASIL, 2014, p.10-11).

A relevância do Pronera é apontada em vários estudos realizados em comunidades rurais assentadas, se constituindo como alternativa pedagógica inovadora, de construção coletiva dos processos educativos, que contribui para a formação escolar e também para a formação humana. Sua proposta pedagógica inova na medida em que reconhece os trabalhadores assentados como portadores de um projeto político de luta pela terra e por transformações mais amplas da sociedade, configurando uma demanda diferenciada. As experiências desenvolvidas já constituem um conhecimento acumulado sobre a prática pedagógica, como a elevação da autoestima, o reconhecimento de sua identidade e a valorização de seu processo produtivo como sujeito histórico (REDIG, 2003).

Para que todos os princípios e práticas pedagógicas sejam atendidos de forma satisfatória, adaptando a educação escolar à realidade do trabalho camponês, o programa criou e utiliza estratégias metodológicas em regime de alternância, legitimando nos seus diversos cursos superiores e técnicos profissionalizantes, a formação de educadores. Conforme Amaral (2010) a metodologia da alternância consiste em dois tempos distribuídos da seguinte forma:

[...] o tempo escola, quando ocorrem as aulas presenciais, e o tempo comunidade, com atividades práticas e de pesquisa, desenvolvidas nas comunidades de origem dos educandos, sob orientação e supervisão, guardando coerência entre a proposta pedagógica e o perfil dos alunos (p.69).

O Pronera em termos gerais é considerado uma inovação pedagógica, permitindo vivenciar e aprender com as experiências das parcerias e com a construção conjunta de um projeto para o homem do campo. A liderança do MST também confere ao programa resultados positivos, em termos de aumento de escolaridade dos alunos trabalhadores e da

formação de novas lideranças, além de contribuir com experiências concretas na construção de uma política pública de educação do campo (Di PIERRO, 2000).

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