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Propagação do incêndio pelo exterior do edifício

Parte I – Analise do fenómeno – O fogo em edifícios

2.4 Propagação do incêndio pelo exterior do edifício

A propagação dum incêndio no exterior dum edifício pode-se dar consoante vários mecanismos, sendo estes, a propagação do fogo em coberturas, a propagação a edifícios adjacentes e a propagação através dos sistemas de revestimento exterior a outras zonas do edifício. Os dois primeiros mecanismos serão analisados de um modo sucinto ainda neste capítulo, sendo o terceiro ponto o foco central deste trabalho em que se pretende caracterizar a propagação dum incêndio pelo meio exterior do edifício, bem como analisar a contribuição de sistemas de fachadas não tradicionais no desenvolvimento dum incêndio. Este tema será analisado na segunda parte deste trabalho.

2.4.1 Propagação do incêndio em coberturas

As coberturas são zonas dum edifício onde, de um modo geral, não se deflagra um incêndio mas podem ser um meio por onde este se propague.

Um fogo que se encontre num compartimento no último piso dum edifício, pode quebrar a barreira de resistência ao fogo imposta pelos revestimentos de tecto e atingir a cobertura. Assim sendo, as coberturas devem ser construídas de modo a apresentarem um bom comportamento ao fogo, bem como qualquer estrutura de suporte da cobertura que possa existir tem de estar devidamente protegida com uma adequada resistência ao fogo. Isto para prevenir qualquer eventual colapso que possa ocorrer devido à acção do fogo e que possa pôr em risco quer a vida dos ocupantes, quer a estabilidade de outros elementos construtivos. Um incêndio pode também alcançar a cobertura dum edifício através duma propagação exterior pelos elementos de fachada. Mais uma vez os materiais de revestimento da cobertura têm um papel preponderante no eventual desenvolvimento deste. Não sendo uma área habitável, a propagação pela cobertura não afecta directamente a segurança da vida das pessoas; contudo, os revestimentos devem ter características pouco inflamáveis, sobretudo pelo facto de, por vezes, ser pela cobertura que se efectuam os caminhos de evacuação em caso de um incêndio.

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2.4.2 Propagação do incêndio a edifícios adjacentes

Quanto à propagação do fogo a edifícios vizinhos, isso fica-se a dever a processos de transmissão de calor por condução ou pela passagem das chamas através da parede que separa dois edifícios adjacentes, por radiação pelas janelas e portas existentes ou pela parte opaca da fachada do edifício em chamas, por projecção de brasas incandescentes ou pela acção directa da projecção das chamas para além do espaço que possa existir entre edifícios.

Neste caso, o risco de propagação por radiação é bastante elevado, sendo o principal factor para este meio de propagação. Foram realizados diversos estudos experimentais com o sentido de avaliar o risco de propagação por radiação, estudos esses que permitiram estabelecer distâncias mínimas entre edifícios, assim como as características dos revestimentos e elementos de cerramento dos vãos das fachadas desses edifícios [1].

Assim, a distância entre fachadas adjacentes é um factor que contribui para a escolha dos materiais que revestem o edifício em estudo, podendo potenciar o risco de propagação ao edifício vizinho, no caso de serem de características combustíveis ou facilmente inflamáveis. Contudo, quer sejam aplicadas restrições ao tipo de revestimento ou se especifiquem classes de comportamento deste, este tipo de propagação é governado pela probabilidade de ignição por radiação, sendo determinante a dimensão do edifício em chamas e a respectiva carga de incêndio, a distância entre as fachadas em confronto, a natureza dos revestimentos de fachada e de cobertura, as caixilharias e os restantes elementos de cerramento de vãos do edifício adjacente [1].

Assim, o Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndio em Edifícios estipula exigências mínimas de resistência ao fogo para elementos construtivos de paredes exteriores consoante a altura do edifício em causa e a distância ao edifício adjacente.

Estas classes de resistência mínimas são obtidas através de ensaios e apreciação técnica dos elementos construtivos por parte dos órgãos acreditados, com o principal objectivo de limitar a transmissão de calor por radiação entre edifícios.

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3 Classificação do comportamento ao fogo dos elementos e produtos de

construção

O Decreto-Lei n.º 220/2008 [20] define o Regime Jurídico da Segurança Contra Incêndios em Edifícios (RJSCIE) e a Portaria nº 1532/2008 emitida posteriormente aprova o novo Regulamento de Técnico de Segurança Contra Incêndio em Edifícios (RTSCIE) [19]. Este regulamento, ao contrário da regulamentação antiga, aplica-se a todos os edifícios e recintos itinerantes ou ao ar livre, consoante doze utilizações-tipo. Além da subdivisão consoante o tipo de utilização e respectivos locais e categorias de risco, o regulamento apresenta um conjunto de critérios de segurança a impor a diversos níveis desde a concepção dos espaços interiores dos edifícios, as classes de resistência ao fogo de elementos construtivos e as classes de reacção ao fogo mínimas dos materiais de construção e até implicações de natureza urbanística. A título de exemplo, contém exigências para disposições gerais e fiscalização, caracterização do risco de incêndio, condições exteriores, condições de comportamento ao fogo, isolamento e protecção, condições de evacuação, condições para protecção das instalações técnicas, condições para instalação de equipamento e sistemas de segurança, entre outras.

A contribuição dos materiais e dos elementos da construção que possam estar na origem e desenvolvimento dum incêndio é um factor de extrema importância na avaliação dos riscos em caso de incêndio.

Os elementos construtivos e os materiais estão assim sujeitos a uma classificação consoante o seu comportamento ao fogo, classificação essa que é feita de acordo com as normas comunitárias. Para uma posterior percepção dos riscos inerentes ao uso de certos materiais em soluções construtivas que serão apresentadas, tem todo o interesse perceber a origem da classificação de comportamento ao fogo dos produtos de construção e elementos construtivos.