• Nenhum resultado encontrado

Inicialmente, os créditos existentes em relação a um convênio internacional, situação em que são firmados os SPI, tenderiam a ser os últimos a não serem cumpridos em virtude da característica de serem compromissos entre Estados. Esta consideração parecer ser aplicável se for levada em conta apenas a motivação financeira.

Como vimos, a influência política parece ser relevante e, neste caso, principalmente, por serem compromissos entre os Estados. Assim, a característica do relacionamento existente entre o Brasil e o país contraparte no SPI deve ser considerada na avaliação de risco ora debatida.

O risco soberano apresenta componentes adequados os quais podem ser indicativos para um eventual default. Não obstante, esta componente política contida no risco soberano – e que lhe é um fator determinante – segundo as interpretações que estão disponíveis no mercado não parece ser a mesma a que um Banco Central estaria submetido.

Uma análise da Tabela 5, que consolida as ocorrências de não realização de pagamentos de compensações no CCRe de direitos da dívida

29 púbica dos países relacionados, sugere a baixa correlação existente entre os dois tipos de evento de default. Enquanto as ocorrências de não liquidação das compensações quadrimestrais no CCR foram todas sucedidas na década de 1980, há exemplos de não pagamento de direitos da dívida pública nas duas décadas seguintes.

Como exemplo, em 2001 a Argentina, a despeito de sua condição de escassez financeira, não deixou de pagar suas obrigações no CCR. Direitos da dívida não pagos naquele ano se encontram, alguns, ainda em 2010 em default, mesmo não tendo havido nenhuma alteração da normalidade operacional do CCR em relação à Argentina, desde o terceiro quadrimestre de 2001.

No final de 2008, a observação das ações do Equador pode ressaltar a não existência de causalidade também no sentido inverso. Na oportunidade, aquele país fez disseminar diversas ameaças de que não iria proceder o pagamento de parte de seus débitos com o Brasil, em função da discordância com a conformidade dos serviços de infraestrutura prestados por uma empresa privada brasileira. O problema não era financeiro – ao menos não era a motivação deste ato. A questão era de política interna: a data das eleições presidenciais equatorianas se aproximava. Após sua realização, não houve a concretização das ameaças e o assunto deixou o cenário principal da operação do convênio de pagamentos.

Se a causalidade não pode ser empiricamente observada em nenhum dos dois sentidos, sobressai-se o questionamento de a qual “risco soberano” estaria o Banco Central sujeito. Não resta dúvida que, mesmo influenciado pela situação nacional de sua política, o “risco soberano entre bancos centrais” apresenta forte atrelamento às situações específicas a que cada par de instituições envolvidas no processo está submetida.

Destarte, mostra-se que, pela singularidade do relacionamento entre duas autoridades monetárias tal qual se processa, não é suficiente a observação do risco soberano divulgado pelas agências de classificação, sendo imperiosa a criteriosa observação do comportamento do relacionamento bilateral.

30 Observou-se, portanto, que a apreciação da avaliação de risco soberano de cada um dos países, divulgada pelas agências de classificação de risco, é indicativa para aqueles aos quais está o BCB submetido em relação a suas contrapartes em razão da componente política-governamental. Por outro lado, observou-se também que consideração desta informação compilada para o mercado não é suficiente para mensurar adequadamente este relacionamento internacional.

A percepção necessária ao satisfatório acompanhamento dos riscos a que o BCB está submetido em seus sistemas de pagamentos internacionais transcende os limites em que estão inclusas as informações que tiveram sua aplicabilidade avaliada neste trabalho. Conquanto seja um subsídio útil e relevante, deverá o “risco soberano” ser adequadamente ponderado por questões institucionais, econômicas e de relacionamento internacional as quais carecem de acompanhamento específico em função de suas especificidades e peculiaridades.

Desta forma, explicitam-se os dois principais fatores que tendem a causar influência na propensão ao pagamento pelos bancos centrais contrapartes: a liquidez financeira para fazer frente aos pagamentos devidos e a questão política.

O trabalho de avaliar a capacidade financeira parece ser menos complexo. A existência de extensa literatura nesta área, associada à existência da utilização costumeira de indicadores pelo mercado na avaliação de instituições, proporciona a disponibilização da avaliação de experiências reais em situações com elevado grau de semelhança. Notemos que a capacidade financeira se refere costumeiramente à possibilidade de cumprir os pagamentos devidos por um agente, o que não parece diferir em grau elevado entre a capacidade de pagamento de uma instituição privada ou de uma autoridade monetária, sendo relevante a identificação de quais são os ativos e os passivos a serem consolidados em cada caso.

O ano de 2004 foi o primeiro ano em que houve uma metodologia divulgada pelo FMI para avaliar a saúde financeira de estados soberanos (International Monetary Fund, 2006). A consolidação dos Indicadores de

31 Solidez Financeira (FSI) tornou-se referência para este ponto de avaliação. Não obstante, as classificações de risco divulgadas pelas agências de classificação de risco, conforme exposto anteriormente, já têm este fator embutido em sua nota de classificação total (FitchTraining, 2009).

Ressaltadas as limitações apresentadas, utilizaremos, neste trabalho, indicadores de avaliação de risco dos países envolvidos advindos das fontes disponíveis para o mercado financeiro. Além de estes serem os únicos indicadores existentes e disponíveis, foge do escopo deste trabalho elaborar uma nova metodologia de mensuração de riscos.

32

4 O MODELO

Feitas as considerações a respeito do estabelecimento das linhas de crédito, passamos a analisar as relações tidas no sistema a partir de um processo de otimização por parte do Banco Central. Mais especificamente, o modelo terá por base a minimização de uma função perda do banco central, cujos argumentos são uma medida de risco e uma medida de tratamento igualitário com os parceiros convenentes, sujeita a restrições estabelecidas.

Documentos relacionados