A degradação e a redução de áreas alagáveis é um fenômeno mundial, amplamente documentado na literatura específica. Entretanto, o valor de tais ambientes é reconhecido, cada vez mais, por conta dos inúmeros serviços ambientais prestados.
O objetivo da proposição conceitual da rede causal e de indicadores é possibilitar a geração de conhecimento inicial - enfoque de primeira aproximação – de ambientes que contemplem áreas alagáveis tropicais, possibilitando a análise das alterações na estrutura e funções desses ambientes, decorrentes da intensificação da ação antrópica.
A construção da rede causal seguiu as etapas do modelo DPSIR (Driving force - forças motrizes,
Pressure – pressão, State – estado, Impact – impacto, Response - resposta), adaptado de
Niemeijer e de Groot (2008).
A partir da identificação das forças-motrizes (D), foi estabelecida a rede causal identificando as pressões (P) que tais forças exercem, qual é o estado (S) das variáveis nas quais as pressões são exercidas, quais os impactos (I) resultantes e os mecanismos de resposta (R) desenvolvidos. A Figura 1 apresenta a rede causal proposta, contendo os campos de análise (identificados por códigos), de acordo com os modelos de Niemeijer e de Groot (2008) e Bernardes et al. (2004).
Para cada elo da rede causal (D, P, S, I, R), foram identificados campos de análise. Estes campos são compostos por diversos indicadores, sendo que o código dos mesmos foi determinado de acordo com o código do campo de análise correspondente; tal método de organização dos indicadores foi baseado no modelo desenvolvido por Bernardes et al. (2004).
CRESCIMENTO POPULACIONAL (D1) DESENVOLVIMENTO NÃO SUSTENTÁVEL (D2) Implicam em SUPORTE (I3) PRODUÇÃO (I2) REGULAÇÃO (I1) INFORMAÇÃO (I4) Modificam Estimulam a adoção de Minimizam os efeitos
USO E OCUPAÇÃO DESORDENADA DO SOLO (P1)
DEMANDA CRESCENTE POR ATIVIDADES PRODUTIVAS (P2)
CONSUMO EXCESSIVO DOS RECURSOS ENERGÉTICOS (P3) CARACTERÍSTICAS ABIÓTICAS (S1) COMPONENTES BIOLÓGICOS (S2) FLUXOS DE ENERGIA E CICLAGEM DE MATERIAIS (S3) MÉTRICAS DA PAISAGEM (S4) PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS (R1) MANEJO RACIONAL (R2) AÇÕES EDUCATIVAS (R4) LEGISLAÇÃO (R3) Comprometem as funções de
Figura 1 - Rede causal proposta para áreas alagáveis tropicais, de acordo com o modelo DPSIR, adaptado de Niemeijer e de Groot (2008).
Os indicadores de Forças Motrizes, Pressão e Resposta foram descritos em conjunto, por serem indicadores de uso consagrado e não diretamente relacionados às áreas alagáveis.
Os indicadores selecionados de Estado e Impacto foram descritos, individualmente, quanto aos seguintes tópicos:
Justificativa – características que definem o indicador e sua relevância para o estabelecimento das relações causais;
Obtenção dos dados – indica como os dados podem ser obtidos indiretamente, são dados secundários. Apesar de reconhecer que a obtenção de dados primários (por meio de medidas diretas em campo, por exemplo) seja de importância fundamental, devido à complexidade do ecossistema de áreas alagáveis e de acesso a tais ambientes, muitas vezes a obtenção dos mesmos se torna inviável para um levantamento inicial.
Categorias de análise – apresenta as variáveis quanto à análise dos dados.
Como fonte de informações, foram consultadas diversas pesquisas que abordam o ecossistema de áreas alagáveis, sobretudo quanto à dinâmica de tais ambientes e as modificações decorrentes da intensificação da ação antrópica; devem ser destacados, como referências principais, os documentos da Convenção Ramsar35 e a publicação “Ecosystems and human well-being:
wetlands and water synthesis” (Millenium, 2005).
Alguns indicadores propostos foram extraídos de órgãos governamentais, tais como o banco de dados do IBGE36 e a publicação “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável” (BRASIL, 2010).
A abrangência dos indicadores propostos pode variar de acordo com a natureza da informação, ou seja, a escala para obtenção do dado pode ser por município, por estado ou para o país (divisão político-administrativa) ou por bacia hidrográfica.
As tabelas 1, 2, 3, 4 e 5 contêm os campos de análise da rede causal e a identificação dos indicadores para as Forças Motrizes, Pressão, Estado, Impacto e Resposta, respectivamente.
►Para avaliar, de forma qualitativa, a adequação dos indicadores propostos, solicita-se ao especialista que atribua um conceito, para cada indicador (CE, na última coluna da tabela), de acordo com o Quadro 1, a seguir:
Quadro 1– Conceitos utilizados para avaliação dos indicadores
CONCEITO SIGNIFICADO
A Forte adequação
B Média adequação
C Fraca adequação
N Não adequado
Ao final de cada tabela, há um espaço para considerações que o especialista achar necessárias.
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Tratado intergovernamental, reconhecido por governos e organizações não-governamentais, cuja missão é o uso racional de wetlands através de ações locais, regionais e nacionais e cooperação internacional, numa contribuição para alcançar o desenvolvimento sustentável dessas áreas. São 155 países signatários, existem 1700 sítios Ramsar em todo o planeta, cobrindo mais de 150 milhões de hectares, até o ano de 2010.
Tabela 1 - Indicadores propostos para os campos de análise de Forças Motrizes (D)
CAMPOS DE ANÁLISE INDICADORES
CE*
Código Denominação Código Denominação
D1 Crescimento
populacional
D1.1 Taxa de crescimento da população D1.2 Densidade demográfica
D1.3 Distribuição da população em áreas urbanas e rurais
D2 Desenvolvimento
não sustentável
D2.1 Produto interno bruto per capita
D2.2 Índice Gini de distribuição do rendimento D2.3 Índice de desenvolvimento humano D2.4 Adequação da moradia
D2.5 Escolaridade da população
D2.6 Oferta de serviços básicos de saúde D2.7 Acesso a serviços de coleta de lixo
D2.8 Acesso a sistemas de abastecimento de água D2.9 Acesso a esgotamento sanitário
D2.10 Oferta de fontes renováveis de energia D2.11 Percentual de reciclagem dos resíduos D2.12 Ratificação de acordos globais
D2.13 Existência de conselhos ambientais
D2.14 Investimentos em pesquisa e desenvolvimento
*Atribuir: A = forte adequação; B = média adequação; C = fraca adequação; N = não adequado.
DESCRIÇÃO
Os indicadores de forças-motrizes descrevem o desenvolvimento social, demográfico e econômico nas sociedades e as mudanças correspondentes nos padrões de produção e consumo que causam impactos na sustentabilidade do sistema (Magalhães Júnior, 2007).
O crescimento populacional e o desenvolvimento de forma não sustentável são as forças-motrizes que provocam a intensificação no uso do solo e o aumento da demanda por recursos ambientais, exercendo pressão sobre os ecossistemas; no caso específico, as áreas alagáveis.
Os indicadores de crescimento populacional podem ser obtidos junto aos órgãos governamentais. Embora o Censo Nacional seja realizado a cada 10 anos, os municípios disponibilizam dados populacionais para intervalos de tempo mais curto, geralmente anuais.
No campo de análise denominado desenvolvimento não sustentável são propostos 14 indicadores que também variam quanto às escalas espaciais e temporais. O esforço para obtenção de tais dados, em nível regional, permitiria uma análise precisa das ameaças que as áreas alagáveis estão sujeitas.