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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.2. Metodologia

3.2.6. Proposição de áreas para restauração ou aumento do

Como bem apontado por Engel e Parrotta (2008), apesar de a definição conceitual de restauração envolver também as dimensões sociais e econômicas, tem-se dado maior destaque e espaço apenas aos aspectos ecológicos e silviculturais. Questões associadas ao homem e a mulher que vivem na terra, como usos e manejos do solo, estrutura fundiária, aspectos culturais diversos, políticas públicas, entre outras, são de grande importância na composição de estratégias efetivas de restauração.

Nesta etapa da pesquisa, buscou-se entender, mesmo que brevemente, quem são os agricultores, atores que de fato vivem na área de estudo e conhecem os pormenores de suas propriedades, tem suas perspectivas de passado, presente e futuro e, perante seus desejos e andanças pela terra, imaginam (ou não) possíveis modificações em seus usos e cultivos.

Seleção das propriedades

Dentre as propriedades do Assentamento Veraneio e inseridas (totalmente ou parcialmente) na microbacia do Ribeirão Pingo de Ouro, optou- se por separá-las em dois grupos: i) propriedades que participaram do Projeto Sementes do Portal (Fases I e II); ii) propriedades que não participaram do Projeto Sementes do Portal.

A fim de evitar enviesamento dos resultados, adotou-se uma seleção aleatória das propriedades dentro de cada grupo, a partir da ferramenta de geoprocessamento vetorial Seleção aleatória, do QGIS® 2.18.18. Contudo, em

algumas propriedades não foi possível realizar a visita, sendo necessária sua substituição por outras próximas. Os motivos que impossibilitaram as visitas deram-se pela ausência dos moradores no local, seja pelas propriedades estarem desabitadas ou pelos moradores raramente estarem nela (morando na área urbana de Nova Canaã do Norte ou de outros municípios), além da livre opção de alguns agricultores em não participar da pesquisa.

Foram realizadas visitas a vinte e uma propriedades, sendo, posteriormente selecionadas apenas vinte entrevistas para desenvolvimento da pesquisa, correspondendo a dez de cada grupo (Figura 4). Optou-se por não integrar a entrevista realizada na segunda propriedade visitada por situar-se, em sua maior parte, em outra microbacia hidrográfica, incluindo os dois cursos d’água que a atravessam. Assim, as entrevistas estão enumeradas do número 1 ao 21, excluindo-se a entrevista de número 2.

Figura 4 – Localização dos imóveis visitados no PA Veraneio, Nova Canaã do Norte, MT, Brasil.

Visitas

Durante as visitas, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e caminhadas transversais pelas propriedades e construído um mapa da propriedade pelos agricultores, com base em imagens orbitais da mesma, sendo as três ferramentas integrantes do Diagnóstico Rural Participativo – DRP (VERDEJO, 2010).

A entrevista semi-estruturada deu-se com base em um roteiro elaborado previamente, abrangendo pontos como histórico do entrevistado, o histórico da propriedade e os usos do solo atuais e futuros, presença/ausência do componente florestal na propriedade e na comunidade/região. Ao início da entrevista, apresentou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar, sob o Parecer 2.956.330.

No caso do mapa da propriedade (Figura 5), solicitou-se aos agricultores a identificação e delimitação dos diferentes usos do solo atuais e, em um segundo mapa, se o entrevistado possui desejo ou intenção de alterar algum uso ou área da propriedade, sobretudo se destinaria mais áreas para o plantio arbóreo para diversos fins (restauração, silvipastoril, pomares, entre outras).

Durante a caminhada pela propriedade buscou-se complementar informações citadas ao longo da entrevista, além de reconhecer elementos descritos na etapa de mapeamento e levantar material fotográfico.

Análise das entrevistas

As informações obtidas a partir das entrevistas (anotações e áudios)

foram sistematizadas e organizadas, com emprego de estatística descritiva para análise de dados quantitativos.

Para citação das falas no texto, estas foram editadas parcialmente, de modo a suprimir vícios de linguagem (como “né”, “tá”, etc), sem distorcer seu sentido ou ideia. Sua apresentação se deu com base na NBR 10520 (ABNT, 2002), onde foram empregados os símbolos [...] para supressões, [ ] para acréscimos ou comentários pelo pesquisador e ... para pausas durante a fala ou interrupções por outras falas.

Digitalização dos mapas dos agricultores

Com base nas delimitações feitas pelos agricultores nas imagens orbitais impressas e, de maneira complementar, os relatos durante as entrevistas, observações durante as caminhadas pelas propriedades e em imagens orbitais, foram definidos os usos e cobertura do solo atuais e futuros nas propriedades. Ressalta-se que alguns entrevistados relataram não pensar em mudanças, seja para novos cultivos ou plantios arbóreos. Foram definidas vinte classes a partir das informações levantadas em campo, apresentadas e resumidamente descritas e ilustradas na Tabela 7.

Os mapas foram digitalizados e geoprocessados no QGIS® 2.18.18. As imagens foram georreferenciadas utilizando o modelo de transformação Suavizador em Lâminas Finas (Thin plate spline – TPS) e o método de reamostragem do vizinho mais próximo. Os erros médios (RMS) das imagens ficaram entre 10-7 e 10-8 pixel, sendo adotados quatro pontos de controle associados aos quatro cantos da imagem, tendo como referências elementos fixos na paisagem (árvores, estradas ou construções).

Tabela 7 – Classes de uso do solo nas propriedades visitadas.

Classe Descrição

Construções

Residência Residência da família Curral / Galpão / Resfriador

de Leite

Locais de uso geral voltados para a produção agropecuária Cobertura florestal

Mata (existente) (Fig. A) Cobertura florestal existente, geralmente em APP ou áreas com maior declividade

Área em regeneração natural (Fig. B)

Área atualmente destinada a regeneração natural, cercada ou não

Área em restauração com SAF implantado (Fig. C)

Áreas atuais com plantio de SAF multiestrato, porém em processo de estabelecimento

Mata (restauro convencional ou regeneração natural)

Áreas futuras onde espera-se que a regeneração natural ou conduzida tenha avançado

Mata (restauro com SAF) Áreas futuras onde houve desenvolvimento do SAF multiestrato em uma cobertura florestal

Juquira (Fig. D) Denominação genérica da vegetação de porte baixo ou em transição para capoeira, presente em áreas com pouco

uso/abandonadas.

Pastagem

Pastagem convencional (Fig. E)

Pastagem cultivada de maneira extensiva Pastagem com juquira (Fig.

F)

Pastagem cultivada de maneira extensiva com presença de vegetação de portes variados, em função do manejo Sistema Silvipastoril

simplificado (Fig. G)

Sistema silvipastoril com baixa diversidade de espécies arbóreas

Sistema Silvipastoril com SAF (Fig. H)

Sistema Silvipastoril com piqueteamento e plantio de linhas de SAF multiestrato entre piquetes (Modelo Projeto

Sementes do Portal) A

C

B

Tabela 7 (conclusão) – Classes de uso do solo nas propriedades visitadas.

Outros usos

Silagem (Fig. I) Plantios de cana-de-açúcar ou napiê/outras gramíneas para uso como silagem

Horta ou Roça convencional (Fig. J)

Cultivos de horta (hortaliças e legumes) ou de roça (feijão, mandioca, milho) de maneira convencional

Pomar convencional (Fig. K) Plantio de espécies frutíferas em geral, de maneira convencional

Roça / Pomar com SAF (SAF de produção) (Fig. L)

Plantio de SAF de produção (consórcios entre arbóreas frutíferas e cultivos anuais), no modelo do Projeto Sementes

do Portal

Pousio Área atual sem uso, com cobertura de gramíneas ou solo exposto.

Quintal (Fig. M) Área no entorno da residência com plantios diversos e para uso de lazer da família

Área degradada (Fig. N) Área com presença de processos erosivos, oriunda de escavação para mineração

E G F H I L J K M N

Apesar de os sistemas silvipastoris serem em si próprios classificados como tipos de sistemas agroflorestais, conforme May e Trovatto (2008), Miccolis et al (2016) e Nair (1984), as classes de sistemas silvipastoris simplificados e sistemas silvipastoris com SAF foram assim denominadas de forma a melhor expressar a configuração e composição destes sistemas no contexto estudado.

3.2.7. Paralelos entre áreas prioritárias à restauração via AMC e